Temores improcedentes
Pedro J. Bondaczuk
A resolução aprovada, ontem, no Parlamento da
Alemanha Ocidental, reconhecendo como invioláveis as atuais fronteiras
polonesas, demarcadas pelos rios Oder e Neisse, foi mais um obstáculo removido
no processo de reunificação germânica. É verdade que existe ainda uma grande
barreira, que deverá gerar ácidas discussões, e que se refere à adesão do novo
país unificado à Organização do Tratado do Atlântico Norte, Otan.
Para o presidente soviético, Mikhail Gorbachev, que
prefere a neutralidade desse Estado fortalecido, sua entrada na aliança
ocidental é intolerável. Seu colega norte-americano, George Bush, tem um
pensamento diametralmente contrário. Entende que a Alemanha reunificada só pode
mesmo é integrar a Otan.
Mas mesmo em Bonn existem sérias divergências a esse
respeito. O chanceler Helmut Kohl, que no calor do entusiasmo andou falando
pelos cotovelos nas últimas semanas e acabou tendo que se retratar de suas
declarações, principalmente atinentes à Polônia, sequer admite a idéia de um
Estado germânico único que seja neutro. Para "adoçar" sua posição,
assegura que no lado oriental nenhuma tropa deverá ser postada. Já o seu
ministro de Relações Exteriores, Hans-Dietrich Gensher, não acha que essa seja
a melhor solução. Tem dado a entender, inclusive, que não se oporia à
neutralidade, conforme Gorbachev deseja.
Mas este não é um obstáculo irremovível no processo,
que ao nosso ver, é irreversível. De novembro de 1989, quando a questão foi
levantada publicamente pela primeira vez, até agora, já se caminhou bastante
nessa direção, em tão pouco tempo. Os avanços foram, portanto,
surpreendentemente rápidos. Há, é claro, um temor muito grande, ostensivo ou
disfarçado, em especial na Europa Central, sobre os eventuais riscos que uma
Alemanha poderosa possa vir a representar para o equilíbrio e segurança
europeus. Todavia, esse medo não procede.
Os alemães são, hoje, um povo sumamente amadurecido.
A maioria nesse país está consciente do que quer. À exceção de uns poucos radicais,
que não significam praticamente nada em relação ao grosso da população, ninguém
por ali sonha com essa baboseira de império mundial. O próprio chanceler Kohl
disse, na semana passada, que seus vizinhos não precisam se preocupar. Que a
Alemanha não cogita instituir um eventual "IV Reich". Até porque as
condições atuais são muito diferentes das existentes na primeira metade deste
século. As comunicações instantâneas "encolheram" o mundo. E nenhum
alemão iria arriscar a prosperidade de que goza atualmente para embarcar numa
aventura absurda, que a própria história já mostrou ser irresponsável.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do
Correio Popular, em 9 de março de 1990)
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