Saturday, May 30, 2015

Temores improcedentes



Pedro J. Bondaczuk


A resolução aprovada, ontem, no Parlamento da Alemanha Ocidental, reconhecendo como invioláveis as atuais fronteiras polonesas, demarcadas pelos rios Oder e Neisse, foi mais um obstáculo removido no processo de reunificação germânica. É verdade que existe ainda uma grande barreira, que deverá gerar ácidas discussões, e que se refere à adesão do novo país unificado à Organização do Tratado do Atlântico Norte, Otan.

Para o presidente soviético, Mikhail Gorbachev, que prefere a neutralidade desse Estado fortalecido, sua entrada na aliança ocidental é intolerável. Seu colega norte-americano, George Bush, tem um pensamento diametralmente contrário. Entende que a Alemanha reunificada só pode mesmo é integrar a Otan.

Mas mesmo em Bonn existem sérias divergências a esse respeito. O chanceler Helmut Kohl, que no calor do entusiasmo andou falando pelos cotovelos nas últimas semanas e acabou tendo que se retratar de suas declarações, principalmente atinentes à Polônia, sequer admite a idéia de um Estado germânico único que seja neutro. Para "adoçar" sua posição, assegura que no lado oriental nenhuma tropa deverá ser postada. Já o seu ministro de Relações Exteriores, Hans-Dietrich Gensher, não acha que essa seja a melhor solução. Tem dado a entender, inclusive, que não se oporia à neutralidade, conforme Gorbachev deseja.

Mas este não é um obstáculo irremovível no processo, que ao nosso ver, é irreversível. De novembro de 1989, quando a questão foi levantada publicamente pela primeira vez, até agora, já se caminhou bastante nessa direção, em tão pouco tempo. Os avanços foram, portanto, surpreendentemente rápidos. Há, é claro, um temor muito grande, ostensivo ou disfarçado, em especial na Europa Central, sobre os eventuais riscos que uma Alemanha poderosa possa vir a representar para o equilíbrio e segurança europeus. Todavia, esse medo não procede.

Os alemães são, hoje, um povo sumamente amadurecido. A maioria nesse país está consciente do que quer. À exceção de uns poucos radicais, que não significam praticamente nada em relação ao grosso da população, ninguém por ali sonha com essa baboseira de império mundial. O próprio chanceler Kohl disse, na semana passada, que seus vizinhos não precisam se preocupar. Que a Alemanha não cogita instituir um eventual "IV Reich". Até porque as condições atuais são muito diferentes das existentes na primeira metade deste século. As comunicações instantâneas "encolheram" o mundo. E nenhum alemão iria arriscar a prosperidade de que goza atualmente para embarcar numa aventura absurda, que a própria história já mostrou ser irresponsável.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 9 de março de 1990)


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