Saturday, May 16, 2015

Reflexões sobre personalidade

Por Pedro J. Bondaczuk

O escritor, jornalista e crítico literário francês do século XVIII, Jean-Baptiste Alphonse Karr, escreveu, em um dos tantos textos que nos legou: “Cada homem possui três personalidades: a que exibe, a que tem e a que pensa que tem”. Muitos concordam com tal avaliação, outros tantos discordam, sem que haja consenso a propósito. Da minha parte (embora leigo na matéria), por observação, e mais que isso, por intuição, concordo com essa conclusão. Nem sempre (ou quase nunca), o que mostramos em público, ou mesmo o que pensamos a nosso próprio respeito, condiz com o que somos.

O tema, por dizer respeito a coisas tão relevantes a propósito de nossa identidade psicológica, merece reflexão. Mas antes é preciso definir, mesmo que superficialmente, esse conceito. O que vem a ser, afinal, a personalidade? É o conjunto de características psicológicas que determinam nossos padrões de pensar, sentir e agir. Em suma, é nossa individualidade: pessoal e social. Sua formação é um processo gradual que pode durar uma vida inteira. Todavia, tende a ser complexo e único para cada indivíduo.

O termo é usado em linguagem comum com sentido mais genérico. Ou seja, como "conjunto das características marcantes de uma pessoa", de forma que se pode dizer que alguém "não tem personalidade". Claro que  esse uso é, cientificamente, inadequado. Não leva em consideração as características peculiares que todos temos, que nos diferenciam e identificam, mesmo que essas diferenças aparentem ser ínfimas. Nunca são. Não há, no mundo, duas pessoas com personalidades “iguais”. Há, sim, e muitas, “semelhantes”. E semelhança não é igualdade.

O psicólogo e psicanalista suíço Carl Gustav Jung realizou profundos estudos a respeito e estabeleceu teoria original que serve de base, até hoje, aos profissionais e estudiosos da matéria. Concluiu que o comportamento humano não é aleatório, como muitos pensavam (e vários ainda pensam). Pode ser medido, previsto e classificado. Ou seja, é possível estabelecer “tipos de personalidade”. Isso não quer dizer que as pessoas que se enquadrem em cada um deles sejam “iguais”. Não são. São “semelhantes”. Destaque-se que no livro ”Tipos Psicológicos”,  lançado no ano de 1927 na Europa, Jung afirmava que a personalidade pode ser composta por diversos fatores. E que é a combinação deles que constitui a maneira de agir e de pensar de cada grupo.

As conclusões do psicanalista suíço formaram a base, reitero, da psicologia contemporânea, apesaqr de conter diversas lacunas, preenchidas por outros estudiosos. Nos anos 50 do século XX, por exemplo, a norte-americana Katherine Briggs Myers e sua filha Isabel Briggs Myers, que eram diretoras de uma pequena fábrica nos Estados Unidos, resolveram aplicar as teorias de Jung para selecionar  com melhor critério funcionários para a empresa a que serviam. Tudo teria começado como uma “brincadeira”. Como os resultados positivos começaram a aparecer, no entanto, e os empregados selecionados se mostraram melhores, mais produtivos e confiáveis do que antes, mãe e filha passaram a observar seriamente os candidatos que pretendiam contratar com base nesses critérios.

A partir desta observação prática, todavia, as duas mulheres concluíram que o livro de Jung, mesmo sendo muito bem escrito e convincente deixava várias lacunas. Perceberam, entrevistando candidatos, que havia mais fatores em jogo para determinar os tipos de personalidade do que os propostos pelo ilustre psicanalista suíço. Os critérios originais de Jung para definir tipos de personalidade eram apenas dois. A eles, Katherine e Isabel acrescentaram outros dois. Com isso, criaram um indicador, o “Myers Briggs Type Indicator” (Indicador Myers Brigs dos Tipos de Personalidade). E este é, até hoje, o principal referencial utilizado por psicólogos e psiquiatras do mundo inteiro para determinar os tipos de personalidade existentes.

A classificação leva em conta quatro etapas. A primeira leva em conta a maneira com que interagimos com o mundo. Por esse critério, podemos ser “Extrovertidos” ou “Introvertidos”: As pessoas que têm o primeiro desses tipos de personalidade são extremamente sociáveis. Gostam de conversar e interagir com outras. Não temem expor opiniões e são muito comunicativas. Concentram sua energia no mundo real. Já os “Introvertidos”, em geral, sentem-se mais confortáveis sozinhos. São menos sociáveis e interagem pouco. Portanto,, não se abrem facilmente. Concentram sua energia no mundo interior, no dos pensamentos.

A segunda classificação leva em conta o modo com que observamos e absorvemos as informações do mundo. Estão nesse caso os “Sensoriais” e os “Intuitivos”. Os primeiros são mais materialistas. Colhem as informações pela observação de fatos e de detalhes concretos. São pessoas realistas e práticas. Os “Intuitivos”, por seu turno, têm perfil mais imaginativo. Optam por observar e tirar conclusões finais a partir dos próprios pensamentos e crenças. São mais criativos, posto que, também, mais complexos.

A terceira classificação dos tipos de personalidade diz respeito à maneira com que julgamos ações alheias, mas também ao modo com que tomamos decisões. Neste caso, surgem, também, dois tipos de personalidade: o dos “Pensadores” e o dos “Sentimentais”. Os primeiros tomam decisões e julgam os outros sempre com base na lógica. Pesam os prós e contras da situação. Tendem a ser objetivos e justos. Quase nunca deixam sentimentos influenciarem decisões. Valorizam a lógica, a justiça e a igualdade. Os “Sentimentais” fazem julgamentos e tomam decisões movidos pelos instintos e sentimentos. Decidem baseados no que estiverem sentindo no momento. Valorizam a harmonia, a empatia e não seguem regras rígidas. Aceitam bem as exceções.

Finalmente a quarta classificação tem relação com o modo com que preferimos viver. Ou seja, se nossa preferência recai na ação espontânea ou se optamos por pensar bem antes de agir. Os dois tipos identificados por este critério são os “Julgadores” e  os “Perceptivos”. Os próprios rótulos definem como ambos são. Os “Julgadores” satisfazem-se depois que as decisões foram tomadas. Decidem rapidamente. Ficam angustiados se deixarem problemas se acumularem. Não pensam muito antes de agir. Preferem se arrepender caso venham a errar. Os “Perceptivos” são o oposto. Ficam mais satisfeitos em tomar decisões bem pensadas e mais acertadas. E demoram para agir. Detestam decidir rapidamente. Pensam bastante antes de agir, porquanto temem se arrepender.

E você, paciente leitor, em qual dessas categorias se enquadra? Qual tipo de personalidade tem? Tem um único, ou os três sugeridos por Jean-Baptiste Alphonse Karr? Exibe uma, tem outra e pensa que tem uma terceira ou é linear nesse aspecto? Está aí um bom tema para reflexão, por induzir à busca do tão necessário autoconhecimento.


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