Omissão
das superpotências
Pedro J. Bondaczuk
A
atitude das duas superpotências, que virtualmente são as únicas a dispor de
capacidade efetiva de decisão em conflitos que ocorram além de suas próprias
fronteiras, tem sido decepcionante diante da carnificina que se desenrola no
Líbano, mais especificamente em Beirute. Preocupados com seus próprios
problemas, Estados Unidos e União Soviética virtualmente fazem vistas grossas à
sangria desatada que se desenvolve nesse atribulado país do Oriente Médio.
Alguns
observadores poderiam argumentar que Washington e Moscou estariam de mãos
atadas para atuar em território libanês. Os norte-americanos, por terem ali
sete cidadãos cativos em mãos de extremistas muçulmanos. Moscou, por ser o
maior aliado de uma das partes envolvidas diretamente no conflito, a Síria.
Entendemos,
porém, que exatamente por tais circunstâncias os dois lados são os que têm as
maiores condições (e interesse) de atuar, isoladamente ou em conjunto, para a
pacificação libanesa. Um Líbano isento de lutas encarniçadas poderia conferir
melhores condições para se obter a libertação dos reféns ocidentais
aprisionados.
Por
outro lado, a União Soviética, na qualidade de "amiga" dos sírios,
teria possibilidades de influir na liderança de Damasco se quisesse agir assim
para que fizesse, de fato, o que se comprometeu a fazer quando recebeu, em
1976, um mandado da Liga Árabe para atuar em território libanês. Ou seja,
assumisse o papel de mediadora na guerra civil e não o de sua principal
protagonista.
Justiça
deve ser feita, por outro lado, em relação ao governo francês e principalmente
ao papa João Paulo II nesta questão. O primeiro, já tentou de todas as formas
prestar auxílio humanitário a essa sofrida população. Mandou combustível para
Beirute, mesmo tendo o navio tanque que remeteu para lá recebido a bala, numa
operação de enorme perigo. Enviou também alimentos, médicos e até uma
embarcação hospital, para socorrer os milhares de feridos nessa carnificina.
O
Pontífice, por seu turno, do alto da sua enorme autoridade moral, vem fazendo
sucessivos alertas à comunidade internacional sobre a destruição do Líbano e
apelos às partes em conflito, para que deponham as armas e discutam suas
pendências de forma civilizada, ao redor de uma mesa.
Além
das superpotências, outra omissão que se observa é a da Grã-Bretanha, apenas
para mencionar as posturas dos quatro grandes do mundo. Destes, somente a
França parece ter tomado consciência real da sua responsabilidade pelo que
ocorre no Planeta, que é de todos nós e de ninguém em particular. O barco é um
só e não adianta ele ser um transatlântico de luxo, se houver um bomba-relógio
em seus porões...
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 16 de agosto de
1989).
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