Friday, May 22, 2015

Omissão das superpotências


Pedro J. Bondaczuk


A atitude das duas superpotências, que virtualmente são as únicas a dispor de capacidade efetiva de decisão em conflitos que ocorram além de suas próprias fronteiras, tem sido decepcionante diante da carnificina que se desenrola no Líbano, mais especificamente em Beirute. Preocupados com seus próprios problemas, Estados Unidos e União Soviética virtualmente fazem vistas grossas à sangria desatada que se desenvolve nesse atribulado país do Oriente Médio.

Alguns observadores poderiam argumentar que Washington e Moscou estariam de mãos atadas para atuar em território libanês. Os norte-americanos, por terem ali sete cidadãos cativos em mãos de extremistas muçulmanos. Moscou, por ser o maior aliado de uma das partes envolvidas diretamente no conflito, a Síria.

Entendemos, porém, que exatamente por tais circunstâncias os dois lados são os que têm as maiores condições (e interesse) de atuar, isoladamente ou em conjunto, para a pacificação libanesa. Um Líbano isento de lutas encarniçadas poderia conferir melhores condições para se obter a libertação dos reféns ocidentais aprisionados.

Por outro lado, a União Soviética, na qualidade de "amiga" dos sírios, teria possibilidades de influir na liderança de Damasco se quisesse agir assim para que fizesse, de fato, o que se comprometeu a fazer quando recebeu, em 1976, um mandado da Liga Árabe para atuar em território libanês. Ou seja, assumisse o papel de mediadora na guerra civil e não o de sua principal protagonista.

Justiça deve ser feita, por outro lado, em relação ao governo francês e principalmente ao papa João Paulo II nesta questão. O primeiro, já tentou de todas as formas prestar auxílio humanitário a essa sofrida população. Mandou combustível para Beirute, mesmo tendo o navio tanque que remeteu para lá recebido a bala, numa operação de enorme perigo. Enviou também alimentos, médicos e até uma embarcação hospital, para socorrer os milhares de feridos nessa carnificina.

O Pontífice, por seu turno, do alto da sua enorme autoridade moral, vem fazendo sucessivos alertas à comunidade internacional sobre a destruição do Líbano e apelos às partes em conflito, para que deponham as armas e discutam suas pendências de forma civilizada, ao redor de uma mesa.

Além das superpotências, outra omissão que se observa é a da Grã-Bretanha, apenas para mencionar as posturas dos quatro grandes do mundo. Destes, somente a França parece ter tomado consciência real da sua responsabilidade pelo que ocorre no Planeta, que é de todos nós e de ninguém em particular. O barco é um só e não adianta ele ser um transatlântico de luxo, se houver um bomba-relógio em seus porões...

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 16 de agosto de 1989).


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