O peso da corrupção num ano eleitoral
Pedro J.
Bondaczuk
O assunto corrupção, no âmbito de governo, é muito
sensível em qualquer país e período, pois, presume-se, que o homem público, que
se oferece para exercer função dessa natureza, tenha um mínimo de probidade.
Ninguém é convocado para cargos governamentais compulsoriamente. Muito pelo
contrário, os políticos investem o que têm, e muitas vezes até o que não têm,
para obter um mandato.
Mas quando o tema é levantado nos
Estados Unidos, e num ano eleitoral, a coisa fica muito pior. É o que vem
acontecendo, infelizmente, nos últimos tempos, na Casa Branca. Alguns dos
ex-auxiliares do presidente Ronald Reagan, de menor escalão, já foram punidos,
e até com prisão. Outros, todavia, conseguem esquivar-se, a despeito de
abundarem acusações contra eles.
Uma das questões desse tipo, que
vêm se arrastando há dois longos anos, é a investigação que apura supostas
fraudes em contratos feitos com o Pentágono. Antes mesmo do caso vir à baila,
em nível oficial, ainda em 1985, a imprensa vinha denunciando que fornecedores
do Departamento de Defesa estavam cobrando preços exorbitantes pelos seus
produtos que, ademais, estavam isentos de impostos, muito acima daquilo que
cobravam dos seus clientes civis.
Por exemplo, nesse mesmo ano, a
Força Aérea dos Estados Unidos chegou a pedir, a duas empresas, a devolução de
US$ 208 milhões em lucros excessivos que seriam indevidos. Mencionou-se, na
época, a título de exemplo, o caso do fornecimento de simples cinzeiros (que
estão muito longe de ser materiais estratégicos que envolvam a segurança
nacional).
Enquanto esses recipientes para
colher cinzas de cigarros eram negociados, em qualquer lugar, por US$ 1 (ou o
equivalente), e isto os de melhor qualidade, o Departamento de Defesa estava
pagando cerca de US$ 20 a unidade. Falou-se muito sobre este, e outros casos e,
de repente, tudo acabou abafado.
Agora é o próprio presidente
Reagan que quer as coisas em pratos limpos. Aliás, comenta-se que o motivo real
da demissão apresentada, anteontem, pelo chefe da Casa Civil da Casa Branca,
Howard Baker, não seria exatamente aquele que ele mencionou em seu pedido: a
doença da sua esposa Joy.
Ele estaria, na verdade, querendo
a cabeça do secretário de Justiça, Edwin Meese, envolvido em diversos casos não
muito bem explicados. Ocorre que esse auxiliar da presidência é mais do que um
simples colega de governo ou mero subordinado. É amigo pessoal de Reagan.
Vai daí que os democratas vão ter
pratos muito cheios durante a campanha presidencial, cujsa reta final deve
começar a ser percorrida em agosto próximo. E a permanência dos republicanos na
Casa Branca pode se tornar um conto da carochinha.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 16
de junho de 1988).
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