Já
não se fazem mais estadistas como antes
Pedro J. Bondaczuk
A violência e o terrorismo, embora constituam o
dia-a-dia mundial nestes últimos tempos, recrudesceram, de sábado para cá, em
diversas partes, especialmente naquelas áreas já tradicionais de conflito ao
longo dos anos.
A Irlanda do Norte, por exemplo, mais
especificamente Belfast, volta às manchetes, após os incidentes de domingo, em
que o jovem Sean Downes morreu, atingido por uma bala de plástico, disparada, a
curta distância, durante um tumultuado comício. Anteontem, a batalha ocorreu
num campo de futebol, na partida em que o Celtic, de Glasgow, realizou na
cidade. Mais 47 pessoas foram vítimas da violência.
No Chile, mais uma vez, os populosos bairros da
periferia de Santiago voltaram a se incendiar. E novamente a juventude, pelo
seu arrojo e ideal, acaba levando a pior. Um garoto de 17 anos foi baleado e
morreu, enquanto mais de 50 pessoas, a maioria adolescentes, tiveram que ser
atendidas, com ferimentos.
No Sri Lanka, prosseguem os combates entre os
separatistas da etnia tamil, no norte daquela ilha, quatro vezes menor do que o
Estado de São Paulo, e os cingaleses e as estatísticas registram números cada
vez maiores de vítimas.
O aniversário da Índia também acabou marcado por
violência e pancadaria em pelo menos três Estados: Cachemira, Nadu e Punjab.
Isso, sem mencionar a tragédia, evitada a tempo, no centro de Jerusalém,
quando, por pouco, uma potente bomba, que trazia a inscrição “Sabra e Chatila”,
destruía todo um quarteirão (dado o seu imenso potencial) e ceifava um número
certamente enorme de vidas.
Conflitos, passeatas, greves, manifestações e
repressão: é a dura rotina de um mundo que assiste ao final de uma época, de um
perigoso período de transição. O que virá, de tudo isso, ninguém tem condições
de sequer imaginar.
Para que se tenha uma idéia, as pequenas guerras têm
sido tantas, e em tão variadas partes do mundo, que não há espaço nos
noticiários para noticiar todas. Apenas em 1983, aconteceram mais de 40 delas.
Menos da metade, contudo, chegaram ao conhecimento público, por falta de
recursos para a cobertura de todas.
Num mundo com problemas tão sérios, a desafiarem a
inteligência e a boa vontade dos líderes internacionais, o presidente da maior
nação do Planeta encontra tempo, e disposição, para gracinhas, envolvendo o
destino de, no mínimo, 200 milhões de pessoas.
Estamos ou não estamos vivendo uma era de
decadência, o fim de um período de determinado tipo de vida? É, como diriam os
saudosistas, “já não se fazem mais estadistas como antigamente...”
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do
Correio Popular, em 16 de agosto de
1984)
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