Thursday, May 28, 2015

Já não se fazem mais estadistas como antes



Pedro J. Bondaczuk


A violência e o terrorismo, embora constituam o dia-a-dia mundial nestes últimos tempos, recrudesceram, de sábado para cá, em diversas partes, especialmente naquelas áreas já tradicionais de conflito ao longo dos anos.

A Irlanda do Norte, por exemplo, mais especificamente Belfast, volta às manchetes, após os incidentes de domingo, em que o jovem Sean Downes morreu, atingido por uma bala de plástico, disparada, a curta distância, durante um tumultuado comício. Anteontem, a batalha ocorreu num campo de futebol, na partida em que o Celtic, de Glasgow, realizou na cidade. Mais 47 pessoas foram vítimas da violência. 

No Chile, mais uma vez, os populosos bairros da periferia de Santiago voltaram a se incendiar. E novamente a juventude, pelo seu arrojo e ideal, acaba levando a pior. Um garoto de 17 anos foi baleado e morreu, enquanto mais de 50 pessoas, a maioria adolescentes, tiveram que ser atendidas, com ferimentos.

No Sri Lanka, prosseguem os combates entre os separatistas da etnia tamil, no norte daquela ilha, quatro vezes menor do que o Estado de São Paulo, e os cingaleses e as estatísticas registram números cada vez maiores de vítimas.

O aniversário da Índia também acabou marcado por violência e pancadaria em pelo menos três Estados: Cachemira, Nadu e Punjab. Isso, sem mencionar a tragédia, evitada a tempo, no centro de Jerusalém, quando, por pouco, uma potente bomba, que trazia a inscrição “Sabra e Chatila”, destruía todo um quarteirão (dado o seu imenso potencial) e ceifava um número certamente enorme de vidas.

Conflitos, passeatas, greves, manifestações e repressão: é a dura rotina de um mundo que assiste ao final de uma época, de um perigoso período de transição. O que virá, de tudo isso, ninguém tem condições de sequer imaginar.

Para que se tenha uma idéia, as pequenas guerras têm sido tantas, e em tão variadas partes do mundo, que não há espaço nos noticiários para noticiar todas. Apenas em 1983, aconteceram mais de 40 delas. Menos da metade, contudo, chegaram ao conhecimento público, por falta de recursos para a cobertura de todas.

Num mundo com problemas tão sérios, a desafiarem a inteligência e a boa vontade dos líderes internacionais, o presidente da maior nação do Planeta encontra tempo, e disposição, para gracinhas, envolvendo o destino de, no mínimo, 200 milhões de pessoas.
Estamos ou não estamos vivendo uma era de decadência, o fim de um período de determinado tipo de vida? É, como diriam os saudosistas, “já não se fazem mais estadistas como antigamente...”   

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 16 de agosto de 1984)


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