O fenômeno Elvis
Presley
Pedro
J. Bondaczuk
O rock, possivelmente,
não seria o que foi (e o que é), nesses quase 60 anos (oficiais) de existência,
sem uma figura excepcional, carismática, que se tornou símbolo, ícone, mito da
cultura pop – tanto que quase 38 anos após sua morte, esta ainda é negada por
bilhões de fãs ao redor do mundo que juram que ele ainda está vivo, e de certa
forma está mesmo – consensualmente aceito como seu único e legítimo “rei”.
Refiro-me, óbvio, ao fenômeno Elvis Aaron Presley. Sua vida e trajetória
artística são para lá de conhecidas, dada a existência de milhares de
biografias. Portanto, torna-se dispensável, da minha parte, tratar desse
aspecto, dada a impossibilidade, até, de trazer novidades a propósito. A única
coisa original de que posso me valer é a impressão que ele me causou (e ainda
me causa). Afinal, foi dos poucos ídolos da minha juventude e, como todo
adolescente da segunda metade dos anos 50 do século XX, também procurei
imitá-lo, sobretudo na aparência, com seu cabelo cheio, sempre bem penteado e
suas vastas costeletas.
Embora não tenha
gravado somente composições de rock, Elvis foi, sem dúvida, seu grande
divulgador. E não apenas em discos, mas em shows, programas de televisão e em
vários filmes que estrelou. Era dotado de uma voz privilegiadíssima e rara. Tinha
alcance vocal muito acima da média. Especialistas dizem que alcançava notas
musicais de dificílimo alcance para cantores populares. Mas sua característica
mais notável, a que ajudou a torná-lo popular com a velocidade da luz, era sua
maneira exótica, extravagante e peculiar de dançar, o que lhe valeu o apelido
de “Elvis The Pelvis”. Foi, certamente, o que mais chamou a atenção do público
e conquistou tantos fãs desde sua estréia em televisão, nos Estados Unidos, em
1956.
Naquela oportunidade (e
foge-me o canal em que isso se deu) tão logo começou a cantar, com seu vozeirão
característico e sua rigorosa afinação, a composição “Hearthbreak Hotel”,
contorcendo-se da cabeça aos pés, numa demonstração inequívoca de que o então
tido e havido como novo ritmo não era só para se ouvir, mas principalmente para
se dançar, e de forma vigorosa e frenética, a platéia entrou em transe, em
delírio, enlouqueceu de entusiasmo. E mais: milhões de telespectadores
norte-americanos, país afora, imitaram-no na dança, em suas casas. Os telefones
da emissora não pararam de tocar, com milhares e milhares de pessoas querendo
saber mais a respeito do artista. Ele já era relativamente popular no rádio e
nos show, limitados e locais, em que se apresentava. Sua aparição na TV,
todavia, foi a consagração. Em questão de poucos dias, “Hearthbreak Hotel”
saltou para o primeiro lugar das principais paradas de sucesso
norte-americanas. Foram vendidas milhares e milhares, na verdade vários milhões
de cópias dessa gravação. O rock estava consagrado, de vez, na preferência do
público.
Há quem considere que,
em termos de popularidade, os Beatles superaram Elvis Presley. Isso pode, até,
ter ocorrido no auge do sucesso dos cabeludos de Liverpool. Todavia, comparando
ambas carreiras, o roqueiro norte-americano é imbatível nesse aspecto. Basta
dizer que seus discos e filmes continuam vendendo em quantidades “macro”,
“hiper”, “mega”, ou seja, incalculáveis, mundo afora, como se ele estivesse
vivo e fosse se apresentar amanhã em algum show. Já os Beatles vão ficando,
cada vez mais, à medida que o tempo passa, só na lembrança de saudosistas de
sua geração, quando estavam no auge do sucesso.
Confesso (para
admiração de alguns e decepção de outros tantos dos meus amigos) que nunca fui,
propriamente, um “beatlemaníaco”. Não que não apreciasse o conjunto de
Liverpool. Mas este, em momento algum de minha vida, me empolgou e esteve entre
meus preferidos. Já Elvis Presley... continuo ouvindo suas gravações com o
mesmo entusiasmo e idêntica empolgação que tinha em 1956, quando estava com
treze anos de idade e buscava “copiar” sua aparência. Meu gosto musical evoluiu
muito desde então. Sou cultor dos clássicos, de Bach, Beethoven, Mozart,
Bellini, Verdi, Chopin, Carlos Gomes e de centenas de outros. O rock está longe,
muito distante de ser meu ritmo predileto. Mas há uma exceção, uma única: Elvis
Presley.
É certo que vez ou
outra ainda ouço gravações de roqueiros da segunda metade da década de 50 e
aprecio. São os casos, por exemplo, do canadense Paul Anka (“Love letters in
the sand”), de Neil Sedaka (“Teenie Weennie Yellow Polkadot Bikini”), de Little
Eddie (“The Frankenstein Rock”), de Pat Boone e da então menininha Brenda Lee
com sua empolgante interpretação de “Jambalaya” (que somente muitos anos depois
vim a saber que se tratava de um prato típico da culinária de Nova Orleans).
Todavia, nenhum desses cantores e nenhuma dessas gravações me empolgam tanto
quanto os rocks interpretados pelo seu eterno “rei””. Isso tem tudo a ver com
minha trajetória de vida, principalmente, com as várias etapas do meu processo
de amadurecimento.
Quando Elvis despontou
para o estrelato, eu era adolescente, de treze anos, cheio de sonhos e de vida
e, principalmente, de energia, que brotava por todos os poros. Os hormônios
prevaleciam, pois, sobre os neurônios. Já os Beatles surgiram na época da minha
maturidade. Nesse período, meus gostos e conhecimentos mudaram,
transformaram-se, evoluíram. Foi na ocasião em que já cursava a universidade e
começava a esboçar meus primeiros “rabiscos” literários, com a pretensão de um
dia tornar-me escritor. Hoje, no entanto, já setentão, ainda sou um dos bilhões
de fãs, mundo afora, para os quais “Elvis não morreu”. Não morrerá jamais!
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