Tuesday, May 12, 2015

O fenômeno Elvis Presley

Pedro J. Bondaczuk

O rock, possivelmente, não seria o que foi (e o que é), nesses quase 60 anos (oficiais) de existência, sem uma figura excepcional, carismática, que se tornou símbolo, ícone, mito da cultura pop – tanto que quase 38 anos após sua morte, esta ainda é negada por bilhões de fãs ao redor do mundo que juram que ele ainda está vivo, e de certa forma está mesmo – consensualmente aceito como seu único e legítimo “rei”. Refiro-me, óbvio, ao fenômeno Elvis Aaron Presley. Sua vida e trajetória artística são para lá de conhecidas, dada a existência de milhares de biografias. Portanto, torna-se dispensável, da minha parte, tratar desse aspecto, dada a impossibilidade, até, de trazer novidades a propósito. A única coisa original de que posso me valer é a impressão que ele me causou (e ainda me causa). Afinal, foi dos poucos ídolos da minha juventude e, como todo adolescente da segunda metade dos anos 50 do século XX, também procurei imitá-lo, sobretudo na aparência, com seu cabelo cheio, sempre bem penteado e suas vastas costeletas.

Embora não tenha gravado somente composições de rock, Elvis foi, sem dúvida, seu grande divulgador. E não apenas em discos, mas em shows, programas de televisão e em vários filmes que estrelou. Era dotado de uma voz privilegiadíssima e rara. Tinha alcance vocal muito acima da média. Especialistas dizem que alcançava notas musicais de dificílimo alcance para cantores populares. Mas sua característica mais notável, a que ajudou a torná-lo popular com a velocidade da luz, era sua maneira exótica, extravagante e peculiar de dançar, o que lhe valeu o apelido de “Elvis The Pelvis”. Foi, certamente, o que mais chamou a atenção do público e conquistou tantos fãs desde sua estréia em televisão, nos Estados Unidos, em 1956.

Naquela oportunidade (e foge-me o canal em que isso se deu) tão logo começou a cantar, com seu vozeirão característico e sua rigorosa afinação, a composição “Hearthbreak Hotel”, contorcendo-se da cabeça aos pés, numa demonstração inequívoca de que o então tido e havido como novo ritmo não era só para se ouvir, mas principalmente para se dançar, e de forma vigorosa e frenética, a platéia entrou em transe, em delírio, enlouqueceu de entusiasmo. E mais: milhões de telespectadores norte-americanos, país afora, imitaram-no na dança, em suas casas. Os telefones da emissora não pararam de tocar, com milhares e milhares de pessoas querendo saber mais a respeito do artista. Ele já era relativamente popular no rádio e nos show, limitados e locais, em que se apresentava. Sua aparição na TV, todavia, foi a consagração. Em questão de poucos dias, “Hearthbreak Hotel” saltou para o primeiro lugar das principais paradas de sucesso norte-americanas. Foram vendidas milhares e milhares, na verdade vários milhões de cópias dessa gravação. O rock estava consagrado, de vez, na preferência do público.

Há quem considere que, em termos de popularidade, os Beatles superaram Elvis Presley. Isso pode, até, ter ocorrido no auge do sucesso dos cabeludos de Liverpool. Todavia, comparando ambas carreiras, o roqueiro norte-americano é imbatível nesse aspecto. Basta dizer que seus discos e filmes continuam vendendo em quantidades “macro”, “hiper”, “mega”, ou seja, incalculáveis, mundo afora, como se ele estivesse vivo e fosse se apresentar amanhã em algum show. Já os Beatles vão ficando, cada vez mais, à medida que o tempo passa, só na lembrança de saudosistas de sua geração, quando estavam no auge do sucesso.

Confesso (para admiração de alguns e decepção de outros tantos dos meus amigos) que nunca fui, propriamente, um “beatlemaníaco”. Não que não apreciasse o conjunto de Liverpool. Mas este, em momento algum de minha vida, me empolgou e esteve entre meus preferidos. Já Elvis Presley... continuo ouvindo suas gravações com o mesmo entusiasmo e idêntica empolgação que tinha em 1956, quando estava com treze anos de idade e buscava “copiar” sua aparência. Meu gosto musical evoluiu muito desde então. Sou cultor dos clássicos, de Bach, Beethoven, Mozart, Bellini, Verdi, Chopin, Carlos Gomes e de centenas de outros. O rock está longe, muito distante de ser meu ritmo predileto. Mas há uma exceção, uma única: Elvis Presley.

É certo que vez ou outra ainda ouço gravações de roqueiros da segunda metade da década de 50 e aprecio. São os casos, por exemplo, do canadense Paul Anka (“Love letters in the sand”), de Neil Sedaka (“Teenie Weennie Yellow Polkadot Bikini”), de Little Eddie (“The Frankenstein Rock”), de Pat Boone e da então menininha Brenda Lee com sua empolgante interpretação de “Jambalaya” (que somente muitos anos depois vim a saber que se tratava de um prato típico da culinária de Nova Orleans). Todavia, nenhum desses cantores e nenhuma dessas gravações me empolgam tanto quanto os rocks interpretados pelo seu eterno “rei””. Isso tem tudo a ver com minha trajetória de vida, principalmente, com as várias etapas do meu processo de amadurecimento.

Quando Elvis despontou para o estrelato, eu era adolescente, de treze anos, cheio de sonhos e de vida e, principalmente, de energia, que brotava por todos os poros. Os hormônios prevaleciam, pois, sobre os neurônios. Já os Beatles surgiram na época da minha maturidade. Nesse período, meus gostos e conhecimentos mudaram, transformaram-se, evoluíram. Foi na ocasião em que já cursava a universidade e começava a esboçar meus primeiros “rabiscos” literários, com a pretensão de um dia tornar-me escritor. Hoje, no entanto, já setentão, ainda sou um dos bilhões de fãs, mundo afora, para os quais “Elvis não morreu”. Não morrerá jamais!


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