Revolução moderna não tem
barricadas
Pedro J. Bondaczuk
O
terrorismo há muito deixou de ser uma ação que pudesse ser considerada, mesmo
distorcidamente, como de caráter político. Não passa de crime comum, e da pior
espécie, posto que, premeditadamente, os seus autores assassinam, fria e
conscientemente, pessoas inocentes, na maioria das vezes alheias às
controvérsias ideológicas que dominam o nosso tempo. A eles não importa a
identidade de suas vítimas.
Há
quem argumente que diversos grupos guerrilheiros ascenderam ao poder através
desse expediente, principalmente na África. Em Moçambique, por exemplo, a
Frelimo era dedicada a praticar terrorismo e hoje é o partido único do país. O
mesmo verificou-se em Angola, no Zimbabwe e na Nicarágua, com a Frente Sandinista.
Coincidentemente,
contudo, todas essas sociedades vivem, há anos, sangrentas guerras civis. É
óbvio que ódio gera ódio, violência gera violência e quem promove tudo isso,
fatalmente, acaba sendo colhido por uma reação idêntica e contrária.
Mesmo
a prática política tendo demonstrado a inutilidade desse expediente como forma
de se fazer uma revolução, muita gente continua ainda lançando mão de tal meio.
Outros líderes, mais pragmáticos, contudo, que antes tinham no terror seu
instrumento de contestação, estão abandonando tal estratégia, como é o caso
típico de Yasser Arafat, da Organização para a Libertação da Palestina.
O
terrorismo hoje possui duas vertentes. A primeira é a dos fanáticos
desesperados, que atingem a tudo e a todos, sem que tenham uma noção clara da
razão de seus atos. A segunda, está se manifestando mais agudamente de uns dois
anos para cá. Trata-se da união da guerrilha com o narcotráfico, com fins
nitidamente "comerciais".
O
futurólogo alemão, Robert Jungk, fez uma afirmação bastante sensata sobre como
lutar contra injustiças que poderia ser aproveitada pelos contestadores que
possuam massa cinzenta: "...Creio que na sociedade desenvolvida, a
revolução nos velhos moldes, com barricadas, arrisca a destruir mais do que
construir". E para um autêntico revolucionário, de nada interessa a
destruição.
Ele
não deseja a derrubada de um sistema para a imposição do caos. Sonha em
construir algo melhor. Por isso, o poeta Jorge Luís Borges sugeriu uma outra
forma de ação, levando em conta o estabelecimento de uma nova ética. O escritor
argentino, céptico com a democracia e com a prática política, pregou "uma
revolução no peito de cada homem", que nos "devolvesse a honra".
Terrorismo,
portanto, nada tem a ver com idéias tão requintadas quanto as necessárias para
as grandes transformações da sociedade. Os que lançam mão dele são criminosos
comuns, feras perigosas e é assim que devem ser sempre tratados.
(Artigo
publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 28 de setembro de
1988)
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