Onde mora o perigo...
Pedro
J. Bondaczuk
“A ciência fez de nós
deuses antes mesmo de merecermos ser homens”. Essa afirmação é do filósofo e
historiador francês, Jean Rostand, que, como tantos e tantos pensadores do seu
tempo (e do nosso) preocupava-se com a aplicação das mais relevantes
descobertas científicas exclusivamente para construir um mundo melhor, como
seria de se esperar, e tornar a vida das pessoas mais amena ou menos árdua.
Vários dos segredos da natureza, desvendados por hábeis pesquisadores, todavia,
são terríveis ameaças, inclusive à sobrevivência da espécie, quando usados sem
critério e sem juízo. Exemplo? A energia nuclear.
Caso o fantástico
potencial energético contido no simples núcleo de um átomo seja usado, única e
exclusivamente, para mover máquinas e iluminar cidades, é capaz de resolver,
adotadas as devidas cautelas, de uma vez por todas, o problema de energia, cada
vez mais necessária, posto que as fontes mais utilizadas atualmente sejam
escassas e finitas. Ocorre que seu uso não se restringe a esse aspecto. Estão
aí as armas nucleares, com potencial destrutivo absolutamente catastrófico e em
quantidades fantasticamente exageradas. Uma só dessas bombas pode destruir
países inteiros e lançar a humanidade, literalmente, na idade das trevas.
Sabe-se, porém, que os arsenais das potências atômicas tem poder destrutivo
tamanho que, se explodidas simultaneamente, podem destruir mais de uma centena
de planetas Terra!!! Ora, destruída uma, não haverá outras noventa e nove para
serem aniquiladas. E não se trata de fantasia. É a mais inquietante e pavorosa
realidade.
Os detentores desses
absurdos arsenais asseguram que sua existência tem caráter meramente
“dissuasório”. Ou seja, que nenhum país os atacará sabendo que possuem esse
absurdamente invencível meio de “defesa”. Defesa? Só mesmo na cabeça desses
malucos que detêm poder político, com a complacência e alienação dos que lhes
delegaram essa posição. Quem pode garantir que essas bombas nunca serão usadas?
Afinal, duas delas, e de potência ínfima comparadas com as de hoje, já foram
utilizadas para destruir, em minutos, as cidades japonesas de Hiroshima e
Nagasaki!!! Houve, portanto, um precedente
Ademais, quem é capaz de assegurar que jamais venha a ocorrer alguma
explosão acidental? Ou que alguma dessas bombas não caia, por uma dessas
desgraças impensáveis, mas não impossíveis, em mãos de algum grupo terrorista,
de indivíduos tão fanatizados que sua última preocupação é com a vida alheia e
inclusive com a própria? Claro que não há garantia alguma. E sequer citei
acidentes na utilização da energia nuclear para fins pacíficos, como ocorreu
com as usinas de Three Mile Island, nos EUA, em 1979; Fukushima, no Japão, em
2011 e, principalmente, Chernobyll, na Ucrânia, em 1986. Antes, portanto, a ciência
sequer descobrisse esse segredo da natureza.
E o que dizer das armas
bacteriológicas? Como classificar a ação de determinados pesquisadores que, em
vez de conhecerem os segredos dos vírus e bactérias para eliminá-los e
erradicar doenças que nos ameaçam há milênios, fortalecem-nos e os transformam
em equipamentos de guerra? Há descobertas e mais descobertas científicas que,
se empregadas com juízo e construtivamente, tendem a tornar nossas vidas muito
mais longas, seguras e agradáveis. Todavia, se mal utilizadas... podem tornar
este planeta estéril, vazio e inabitável. Não sou e nem poderia ser contrário
aos avanços científicos. Só entendo que as descobertas têm que vir acompanhadas
da devida cautela, ditada pela ética. Infelizmente, nem sempre são.
A afirmação de Jean
Rostand, embora soe, a muitos, como mera retórica, como simples frase de
efeito, não é. É a pura expressão da verdade. “A ciência fez de nós deuses
antes mesmo de merecermos ser homens”. E não fez? E ele pôde afirmar o que
afirmou com pleno conhecimento de causa. Afinal, além de filósofo e de
historiador, foi, também, ilustre biólogo> Portanto, foi um cientista; O
dramaturgo irlandês, ganhador de um Prêmio Nobel de Literatura, George Bernard
Shaw, afirmou: “A ciência nunca resolve um problema sem criar pelo menos outros
dez”. Embora sua afirmação tenha o defeito da generalização, não deixa de
conter certo fundo de verdade. Talvez uma determinada descoberta científica,
que solucione problema específico, não crie outros dez, como ele afirmou. Em
alguns casos, contudo, pode gerar muito mais do que só uma dezena. Como pode,
também, não produzir nenhum.
Estas ligeiras
considerações, observo, não são manifestações de pessimismo, como pode parecer
aos desavisados. São frutos de observação da realidade, como compete a qualquer
escritor que acredite num futuro melhor e que, por isso, não seja alienado. Não
se pode fazer da ciência uma espécie de “caixa de Pandora” que, se aberta,
libere todos os males que existem. Mas, para que isso aconteça, é preciso que o
conhecimento ande de mãos dadas com a sabedoria. Que o homem não se sinta o
deus, que não é, e que cultive o que deveria caracterizá-lo: “a humanidade”,
fundamentada na razão. Até porque, como observou Isaac Asimov – gênio tanto
como escritor, quanto por se tratar de um dos mais lúcidos cientistas do século
XX: “O aspecto mais triste da vida de hoje é que a ciência ganha em
conhecimento mais rapidamente que a sociedade em sabedoria”. É aí que mora o
perigo.
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