Falta
de líderes
Pedro J. Bondaczuk
O mundo comemora, nestes próximos dias, os 50 anos
do fim da Segunda Guerra Mundial, responsável pela morte estimada de 50 milhões
de pessoas e por uma destruição como jamais se viu antes e depois desse trágico
momento da História.
Todavia, a realidade contemporânea demonstra que a
humanidade não aprendeu nada com esta tragédia e repete os mesmos erros que a
conduziram ao conflito. Por exemplo, na ex-Iugoslávia, volta-se a falar em
limpeza étnica, termo hediondo por aquilo que significa, numa prova de que o
bárbaro e absurdo Holocausto, que eliminou, em série, numa insana indústria da
morte, pelo menos seis milhões de judeus, sem falar nos ciganos, russos ou
deficientes que não pertenciam a nenhum desses povos, muitos dos quais próprios
alemães, exterminados sem chance de defesa, não deixou nenhuma lição.
Causam arrepios acontecimentos como o atentado de 19
de abril passado, com carro-bomba, contra o edifício federal Alfred P. Murrah,
em Oklahoma City, nos Estados Unidos, que matou um número estimado de 180
pessoas, inclusive crianças de uma creche que funcionava no prédio.
É aterrorizante pensar que a explosão,
provavelmente, foi obra de um grupo neonazista norte-americano, que prega a
ideologia do ódio e do preconceito racial. A maldita ideologia do ódio deixou
sementes que continuam germinando.
Não menos chocante foi o ataque com gás sarim, no
metrô de Tóquio, que causou 12 mortes e deixou mais de 5.500 passageiros
intoxicados, ação atribuída a uma seita de fanáticos, a Verdade Suprema de Aum,
liderada por um guru paranóico, Shoko Asahara.
Violência, intolerância étnica, política e religiosa
e injustiça social são as características deste século. Aliás, se consultarmos
a História, concluiremos que são comportamentos que sempre acompanharam os
homens e as nações ao longo dos tempos. A situação atual, no entanto, é mais
perigosa por uma série de razões.
Um desses motivos é a simples existência de armas
que podem destruir em minutos dezenas de planetas do porte do nosso, extinguindo
todas as formas de vida que nele habitam. O fim da Guerra Fria, que mantinha o
mundo permanentemente na corda-bamba, diante da possibilidade de uma guerra
nuclear entre as superpotências, trouxe inegável alívio para a humanidade. No
entanto, ao contrário do que pode parecer, a situação agora é muito mais
perigosa do que antes da extinção da União Soviética.
Recente informe do Instituto Internacional de
Estudos Estratégicos, com sede em Londres, revela que há um vazio de poder
mundial. Os Estados Unidos, sob a gestão de presidente Bill Clinton, não vêm
exercendo a mesma liderança que exerceram no período pós-guerra.
A União Européia mostrou-se incompetente para fazer
as vezes dos norte-americanos nesse papel. O mundo carece de líderes, de acordo
com esse relatório. Aliás, podemos contar os remanescentes, aqueles de grande
projeção internacional, nos dedos, talvez, de uma única das mãos.
Sem levar em conta sua ideologia e se a sua
liderança é positiva ou não, vêm à mente, apenas, os nomes do cubano Fidel
Castro, às voltas com a terrível crise em seu país; de Saddam Hussein, no
Iraque, talvez um dos homens mais odiados no mundo hoje (e provavelmente,
também, dos mais temidos); Nelson Mandela, na África do Sul, fator de
equilíbrio na integração racial sul-africana; Yasser Arafat, chefe da
Autoridade Palestina Autônoma; além de um decrépito, e talvez moribundo, Deng
Xiaoping, na China, e um François Mitterrand, em fins de mandato, e corroído
por um câncer na próstata. Os demais não passam de burocratas, sem talento
algum para mobilizar as massas ou mudar as tendências.
As Nações Unidas mostram-se impotentes para arbitrar
e solucionar os inúmeros conflitos que se multiplicam. Ao completar 50 anos, a
ONU não passa de simples fórum de debates, embora em termos sociais tenha sua
importância graças a alguns de seus órgãos, como o Unicef, a Unesco, a FAO, a
OIT e a Organização Mundial de Saúde.
Enquanto o mundo se mostra carente de lideranças, o
crime organizado, em todas as suas formas, principalmente o narcotráfico, o
fanatismo religioso, o nacionalismo extremado (provavelmente oportunista e
aventureiro) e o racismo seguem fazendo estragos em países como a Colômbia, a
Itália, a Argélia, a Chechênia, a ex-Iugoslávia, Ruanda, Burundi e vai por aí
afora.
As comemorações do fim da Segunda Guerra Mundial
são, portanto, uma oportunidade para que as pessoas com capacidade de decisão
reflitam sobre os rumos que estamos tomando, para evitar uma terceira e última
conflagração que, com toda a certeza, pulverizaria o Planeta.
Como Adolf Hitler surgiu do ostracismo, numa época
de vazio de lideranças como agora, há o perigo de estarem se desenvolvendo, nas
provetas do ódio e da intolerância, como monstruosos embriões, um, dois, dez
ditadores homicidas como ele. Um único já bastaria para selar nosso
destino.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, da Folha do
Taquaral, em 6 de maio de 1995)
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