Loucura e genialidade
Pedro
J. Bondaczuk
A mente humana – entre
tantos e tantos e tantos e insondáveis mistérios que caracterizam nossa vida;
entre a tentativa de entendimento do
lugar em que estamos; entre o grandioso universo que me parece infinito
e eterno embora o conceito de algo que não tenha começo e nem fim extrapole
minha compreensão; enfim, entre a natureza de matéria e energia, de frio e
calor, de luz e de trevas etc.etc.etc. –
é um dos que mais me intrigam e fascinam. O que a faz funcionar? É
somente o cérebro ou é todo o conjunto de órgãos, tecidos e células, em uma
interação em que o mau funcionamento de uma única peça dessa magnífica máquina
de carne e osso compromete a normalidade do todo? O que é a inteligência? O que
é a racionalidade, que nos faz tão diferentes dos demais animais? O que é
genialidade? O que é loucura? Mistérios!! Profundos e insondáveis mistérios!
Tudo o que se refere à
inteligência sempre me intrigou, fascinou e abismou. Houve um tempo, em minha
adolescência, em que cheguei a cogitar a ser médico e quase consegui. E, mais
especificamente, sonhei ser psiquiatra, para passar minha vida inteira
estudando a mente humana, tanto sua excelência, quanto seus desarranjos. E,
principalmente, para aprender a como identificar de verdade estes últimos e
tratá-los, devolvendo sanidade aos insanos. Não consegui, infelizmente, ser nem
uma coisa e nem outra, embora tenha chegado perto. Nem por isso, perdi o
fascínio e o interesse por este “centro de comando” do organismo humano.
Os dois extremos da
mente foram os aspectos que mais me intrigaram e fascinaram em particular: a
genialidade e a loucura. Confesso que ainda me intrigam e fascinam mais do que
nunca. Ambos estão fora do padrão do que é tido e havido como de “normalidade”.
Todavia, o que é normal? De acordo com os dicionários é “o que não é
diferente”. É “o que é igual à maioria que está ao nosso redor”.Em suma, é “o
que não se destaca”, “o que é comum”.
Acho paupérrima essa caracterização, mas por não me ocorrer outra
melhor, que seja isso. O parâmetro para a “normalidade”, portanto, é o
comportamento da maioria. Não pode, contudo, ocorrer que esta tenha problemas e
que apenas uma minoria não seja doentia ou aberrativa? Deixo a pergunta no ar.
Alguns escritores
consideram a genialidade como forma de
loucura, por fugir do padrão de normalidade consensualmente estabelecido como
parâmetro de aferição. Citam como prova alguns comportamentos bizarros e
exóticos de personalidades tidas e havidas como “gênios”, tais como o
matemático norte-americano John Nash; o fundador da Microsoft, Bil Gates; o
compositor alemão Amadeus Wolfgang Mozart; o pintor holandês Vincent van Gogh;
o escritor francês, Gustave Flaubert, o físico alemão Albert Einstein e vai por
aí afora, passando pelo romancista russo Fedor Dostoievsky e pelo nosso “Bruxo
do Cosme Velho”, Machado de Assis. Todos foram brilhantes em suas atividades.
Todos, porém, agiam de maneira bizarra, com suas manias e obsessões, de forma
além do padrão de normalidade. Foram loucos? Ora, ora, ora...
Pitoresca é esta
observação de Fernando Pessoa – ele, também, genial em seu “métier”, mas
exótico no comportamento: “A loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição
normal humana. Não ter consciência dela, e ela não ser grande, é ser homem normal.
Não ter consciência dela e ela ser grande, é ser louco. Ter consciência dela e
ela ser pequena é ser desiludido. Ter consciência dela e ela ser grande é ser
gênio”. Em suma, conforme a opinião de Fernando Pessoa, loucura é que é a
“normalidade”, variando, somente, em intensidade e formas de manifestação. É,
mais ou menos, a conclusão que extraímos do magnífico e intrigante conto de
Machado de Assis, “O alienista”. Fossem, todos os tidos por loucos, confinados
e segregados do convívio social, o mundo seria enorme hospício. Será? Tenho lá
minhas dúvidas.
Estou mais propenso a
concordar com a opinião do romancista norte-americano William Faulkner,
ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1949, que opinou a propósito, num
texto intitulado “Na minha morte”: “Às vezes não tenho tanto a certeza de quem
tem o direito de dizer quando um homem é louco e quando não é. Às vezes penso
que não há ninguém completamente louco tal como não há ninguém completamente
são até a opinião geral o considerar assim ou assado. É como se não fosse tanto
o que um tipo faz, mas o modo como a maioria das pessoas o encara quando o
faz”.
Há quem vá mais longe e
garanta que todo escritor é, de certa forma, “louco”. Por que? Por fugir do
padrão de normalidade estatuído. Os que pensam assim asseguram que a Literatura
não passa de fruto de um tipo de esquizofrenia, de uma espécie de válvula de
escape para a “loucura” desses criadores de pessoas que não existem e de
cenários e circunstâncias totalmente inventados. Para mim, isso é demais! Prefiro
considerá-los “gênios”, posto que com graus diferentes de genialidade,
porquanto, ao contrário dos insanos, não fogem da realidade. Mergulham de
cabeça nela e vão além, de tal sorte, que criam até uma “hiperrealidade”. O
tema, como se vê, é vasto e polêmico e apresenta muitos ângulos, por isso,
proponho-me a voltar a ele oportunamente.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment