Friday, May 29, 2015

Loucura e genialidade

Pedro J. Bondaczuk

A mente humana – entre tantos e tantos e tantos e insondáveis mistérios que caracterizam nossa vida; entre a tentativa de entendimento do  lugar em que estamos; entre o grandioso universo que me parece infinito e eterno embora o conceito de algo que não tenha começo e nem fim extrapole minha compreensão; enfim, entre a natureza de matéria e energia, de frio e calor, de luz e de trevas etc.etc.etc. –  é um dos que mais me intrigam e fascinam. O que a faz funcionar? É somente o cérebro ou é todo o conjunto de órgãos, tecidos e células, em uma interação em que o mau funcionamento de uma única peça dessa magnífica máquina de carne e osso compromete a normalidade do todo? O que é a inteligência? O que é a racionalidade, que nos faz tão diferentes dos demais animais? O que é genialidade? O que é loucura? Mistérios!! Profundos e insondáveis mistérios!

Tudo o que se refere à inteligência sempre me intrigou, fascinou e abismou. Houve um tempo, em minha adolescência, em que cheguei a cogitar a ser médico e quase consegui. E, mais especificamente, sonhei ser psiquiatra, para passar minha vida inteira estudando a mente humana, tanto sua excelência, quanto seus desarranjos. E, principalmente, para aprender a como identificar de verdade estes últimos e tratá-los, devolvendo sanidade aos insanos. Não consegui, infelizmente, ser nem uma coisa e nem outra, embora tenha chegado perto. Nem por isso, perdi o fascínio e o interesse por este “centro de comando” do organismo humano.

Os dois extremos da mente foram os aspectos que mais me intrigaram e fascinaram em particular: a genialidade e a loucura. Confesso que ainda me intrigam e fascinam mais do que nunca. Ambos estão fora do padrão do que é tido e havido como de “normalidade”. Todavia, o que é normal? De acordo com os dicionários é “o que não é diferente”. É “o que é igual à maioria que está ao nosso redor”.Em suma, é “o que não se destaca”, “o que é comum”.  Acho paupérrima essa caracterização, mas por não me ocorrer outra melhor, que seja isso. O parâmetro para a “normalidade”, portanto, é o comportamento da maioria. Não pode, contudo, ocorrer que esta tenha problemas e que apenas uma minoria não seja doentia ou aberrativa? Deixo a pergunta no ar.

Alguns escritores consideram a genialidade como  forma de loucura, por fugir do padrão de normalidade consensualmente estabelecido como parâmetro de aferição. Citam como prova alguns comportamentos bizarros e exóticos de personalidades tidas e havidas como “gênios”, tais como o matemático norte-americano John Nash; o fundador da Microsoft, Bil Gates; o compositor alemão Amadeus Wolfgang Mozart; o pintor holandês Vincent van Gogh; o escritor francês, Gustave Flaubert, o físico alemão Albert Einstein e vai por aí afora, passando pelo romancista russo Fedor Dostoievsky e pelo nosso “Bruxo do Cosme Velho”, Machado de Assis. Todos foram brilhantes em suas atividades. Todos, porém, agiam de maneira bizarra, com suas manias e obsessões, de forma além do padrão de normalidade. Foram loucos? Ora, ora, ora...

Pitoresca é esta observação de Fernando Pessoa – ele, também, genial em seu “métier”, mas exótico no comportamento: “A loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição normal humana. Não ter consciência dela, e ela não ser grande, é ser homem normal. Não ter consciência dela e ela ser grande, é ser louco. Ter consciência dela e ela ser pequena é ser desiludido. Ter consciência dela e ela ser grande é ser gênio”. Em suma, conforme a opinião de Fernando Pessoa, loucura é que é a “normalidade”, variando, somente, em intensidade e formas de manifestação. É, mais ou menos, a conclusão que extraímos do magnífico e intrigante conto de Machado de Assis, “O alienista”. Fossem, todos os tidos por loucos, confinados e segregados do convívio social, o mundo seria enorme hospício. Será? Tenho lá minhas dúvidas.

Estou mais propenso a concordar com a opinião do romancista norte-americano William Faulkner, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1949, que opinou a propósito, num texto intitulado “Na minha morte”: “Às vezes não tenho tanto a certeza de quem tem o direito de dizer quando um homem é louco e quando não é. Às vezes penso que não há ninguém completamente louco tal como não há ninguém completamente são até a opinião geral o considerar assim ou assado. É como se não fosse tanto o que um tipo faz, mas o modo como a maioria das pessoas o encara quando o faz”.

Há quem vá mais longe e garanta que todo escritor é, de certa forma, “louco”. Por que? Por fugir do padrão de normalidade estatuído. Os que pensam assim asseguram que a Literatura não passa de fruto de um tipo de esquizofrenia, de uma espécie de válvula de escape para a “loucura” desses criadores de pessoas que não existem e de cenários e circunstâncias totalmente inventados. Para mim, isso é demais! Prefiro considerá-los “gênios”, posto que com graus diferentes de genialidade, porquanto, ao contrário dos insanos, não fogem da realidade. Mergulham de cabeça nela e vão além, de tal sorte, que criam até uma “hiperrealidade”. O tema, como se vê, é vasto e polêmico e apresenta muitos ângulos, por isso, proponho-me a voltar a ele oportunamente.


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