Corrida
armamentista chega ao Golfo
Pedro J. Bondaczuk
Os
mais eficazes remédios, se não usados na dosagem e na indicação corretas,
tendem a se tornar letais venenos. Por mais lógico que isso pareça, nem sempre
o fato é tido em conta. Principalmente no que se refere à fantástica energia
que pode ser liberada por um mísero átomo.
Bem
canalizada e tomadas as devidas cautelas para se evitar acidentes, ela se
constitui numa inesgotável fonte de recursos para a humanidade. Todavia, se
usada para destruir, tem a capacidade de mandar pelos ares todo o Planeta, com
tudo o que ele possui, principalmente o homem.
Quanto
mais se fala hoje em não-proliferação, maiores são as ameaças de que os
terríveis armamentos atômicos venham a proliferar cada vez mais, principalmente
entre povos que mostraram não ter tirocínio suficiente para entender o
potencial catastrófico que eles possuem.
Aumentam
as suspeitas, por exemplo 000 que ficam cada vez mais evidenciadas --- de que a
recente guerra do Golfo Pérsico não demoveu o presidente iraquiano, Saddam
Hussein, de desenvolver a "arma do Apocalipse". Tanto é que, conforme
o jornal The Los Angeles Times noticiou, ontem, a Casa Branca já estaria
pensando num ataque preventivo contra instalações nucleares do Iraque, ou pelo
menos contra suas possíveis reservas de materiais dessa natureza.
Outro
fato inquietador neste campo foi a revelação feita num artigo publicado na
quarta-feira pelo The Washington Post. Nele, o articulista fala em
transferência de tecnologia, no campo das armas atômicas, da China, não
signatária do Tratado de Não-Proliferação de Tlateloco, para o Irã.
Ou
seja, a se acreditar nos alertas --- e não há razões para não se crer na
integridade e veracidade dos jornalistas que os fizeram --- a corrida
armamentista nuclear parece estar chegando com tudo à sensibilíssima área do
Golfo Pérsico. Imagine o leitor um Iraque, de Saddam Hussein, e um Irã, dos
fundamentalistas xiitas, tendo em suas mãos um instrumento de extermínio em
massa como este, por menor que seja o artefato! A perspectiva chega a ser
arrepiante!
Até
porque, depois do desastre ecológico produzido no Kuwait, com o incêndio de
mais de 500 campos de petróleo e o vazamento de milhões de litros de óleo cru
no mar, não há nenhuma razão para se crer no bom senso e no equilíbrio do
presidente iraquiano.
Certamente,
líder ocidental nenhum duvida que, se esse delirante megalomaníaco possuir um
instrumento decisivo desse tipo em suas mãos, não medirá conseqüências e
certamente o usará para os seus propósitos, que talvez nem ele saiba exatamente
quais sejam.
Quem
criou as armas nucleares raciocinou como se cada país fosse um planeta
diferente, um compartimento estanque, isolado dos demais. Esqueceu-se que os
danos causados em qualquer parte do mundo afetam fatalmente a Terra inteira,
que é literalmente uma nave cósmica viajando no espaço para um rumo que
cientista algum tem a capacidade de determinar.
Por
isso, a menos que a humanidade esteja dominada pelo instinto tânico, o de
destruição, tais engenhocas deverão, fatalmente, mais cedo ou mais tarde, ser
banidas de vez, e por completo. A mais elementar das lógicas deixa claro que ou
os homens destróem a totalidade dos armamentos atômicos, e para sempre, ou
serão destruídos por eles. Neste caso inexiste o meio-termo.
(Artigo
publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 29 de junho de
1991).
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