Thursday, May 21, 2015

Corrida armamentista chega ao Golfo



Pedro J. Bondaczuk


Os mais eficazes remédios, se não usados na dosagem e na indicação corretas, tendem a se tornar letais venenos. Por mais lógico que isso pareça, nem sempre o fato é tido em conta. Principalmente no que se refere à fantástica energia que pode ser liberada por um mísero átomo.

Bem canalizada e tomadas as devidas cautelas para se evitar acidentes, ela se constitui numa inesgotável fonte de recursos para a humanidade. Todavia, se usada para destruir, tem a capacidade de mandar pelos ares todo o Planeta, com tudo o que ele possui, principalmente o homem.

Quanto mais se fala hoje em não-proliferação, maiores são as ameaças de que os terríveis armamentos atômicos venham a proliferar cada vez mais, principalmente entre povos que mostraram não ter tirocínio suficiente para entender o potencial catastrófico que eles possuem.

Aumentam as suspeitas, por exemplo 000 que ficam cada vez mais evidenciadas --- de que a recente guerra do Golfo Pérsico não demoveu o presidente iraquiano, Saddam Hussein, de desenvolver a "arma do Apocalipse". Tanto é que, conforme o jornal The Los Angeles Times noticiou, ontem, a Casa Branca já estaria pensando num ataque preventivo contra instalações nucleares do Iraque, ou pelo menos contra suas possíveis reservas de materiais dessa natureza.

Outro fato inquietador neste campo foi a revelação feita num artigo publicado na quarta-feira pelo The Washington Post. Nele, o articulista fala em transferência de tecnologia, no campo das armas atômicas, da China, não signatária do Tratado de Não-Proliferação de Tlateloco, para o Irã.

Ou seja, a se acreditar nos alertas --- e não há razões para não se crer na integridade e veracidade dos jornalistas que os fizeram --- a corrida armamentista nuclear parece estar chegando com tudo à sensibilíssima área do Golfo Pérsico. Imagine o leitor um Iraque, de Saddam Hussein, e um Irã, dos fundamentalistas xiitas, tendo em suas mãos um instrumento de extermínio em massa como este, por menor que seja o artefato! A perspectiva chega a ser arrepiante!

Até porque, depois do desastre ecológico produzido no Kuwait, com o incêndio de mais de 500 campos de petróleo e o vazamento de milhões de litros de óleo cru no mar, não há nenhuma razão para se crer no bom senso e no equilíbrio do presidente iraquiano.

Certamente, líder ocidental nenhum duvida que, se esse delirante megalomaníaco possuir um instrumento decisivo desse tipo em suas mãos, não medirá conseqüências e certamente o usará para os seus propósitos, que talvez nem ele saiba exatamente quais sejam.

Quem criou as armas nucleares raciocinou como se cada país fosse um planeta diferente, um compartimento estanque, isolado dos demais. Esqueceu-se que os danos causados em qualquer parte do mundo afetam fatalmente a Terra inteira, que é literalmente uma nave cósmica viajando no espaço para um rumo que cientista algum tem a capacidade de determinar.

Por isso, a menos que a humanidade esteja dominada pelo instinto tânico, o de destruição, tais engenhocas deverão, fatalmente, mais cedo ou mais tarde, ser banidas de vez, e por completo. A mais elementar das lógicas deixa claro que ou os homens destróem a totalidade dos armamentos atômicos, e para sempre, ou serão destruídos por eles. Neste caso inexiste o meio-termo.

(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 29 de junho de 1991).


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