Por
um pacto social autêntico
Pedro J. Bondaczuk
O propalado pacto social que se busca obter (e deve
ser conseguido, para o bem de todos nós) vem sendo chamado de forma inadequada.
Na verdade, este, que está sendo negociado, é, meramente, de caráter econômico.
O País precisa, todavia, de um acordo nacional mais
amplo para proteger, por exemplo, cerca de 36 milhões de crianças abandonadas
ou carentes. E, principalmente, para evitar que cerca de sete milhões de
meninos, meninas e adolescentes brasileiros continuem vivendo nas ruas,
revolvendo lixeiras, esmolando ou trabalhando como vendedores ambulantes,
quando não empregados por perversos traficantes de drogas, na qualidade de
entregadores, ou explorados por calejados bandidos para a prática de pequenos delitos,
como roubo de bolsas.
A Anistia Internacional acaba de divulgar um
relatório chocante a esse respeito. E, dada a seriedade de postura dessa
organização de defesa dos direitos humanos, com sede em Londres, não há porque
duvidar de suas denúncias. Até porque elas são perfeitamente constatáveis.
Basta que se abram bem os olhos e que se deixe um pouco de lado esse nosso
individualismo pernicioso, que descamba para o puro egoísmo.
A entidade relatou que centenas de crianças vêm
sendo assassinadas por esquadrões da morte em cidades brasileiras, sob a
alegação dos bandos de extermínio de que estão cometendo esse hediondo crime
para que “as ruas possam ficar limpas”. A sociedade é que precisa ficar limpa
de elementos doentios, que se arrogam ao direito de vida e morte sobre seus
semelhantes, à margem da ética e da lei.
Torna-se urgente, urgentíssima uma política
consistente, que impeça que o País continue a jogar o seu futuro pelo ralo.
Trata-se de uma tarefa que não pode mais esperar coisa alguma, nem vitórias
sobre a inflação, nem que trabalhadores e empresários cheguem a eventuais
entendimentos, nem o equacionamento da dívida externa (ou eterna?), nem coisa
alguma.
Afinal, são vidas que estão em jogo. Para complicar,
o tempo atua contra essas pessoas, absolutamente abandonadas e largadas ao Deus
dará. O relatório da Anistia faz, em certo trecho, esta constatação, sumamente
vexatória, ao afirmar, literalmente: “As crianças pobres no Brasil são tratadas
com desprezo pelas autoridades e arriscam a vida pelo simples fato de sair às
ruas”.
Que venha, pois, um genuíno pacto social, para não
acontecer no País o que foi descrito pelo poeta francês, Leconte de Lisle, no
poema “Sonhos Mortos”: “Mas o gênio, a esperança, a força, a mocidade/ei-los
mortos na espuma e no sangue da luta”.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 7 de setembro de 1990)
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