Sunday, May 31, 2015

Determinados conceitos e até formas de expressão de nossos escritores favoritos são captados pelo subconsciente e, quando nos damos conta, emergem ao consciente, não raro literalmente. E por que isso acontece? Entendo que ocorra em virtude da afinidade que descobrimos ter com tais autores. Isso reforça ainda mais minha tese de que “leitura é ato de fé”. Absorvemos dela as idéias, conceitos, valores, experiências etc. que de alguma forma têm algo (em geral muito) a ver com nossa vida e as várias circunstâncias que nos afetam. Trata-se de reverência, de respeito intelectual, de gratidão por eles terem existido e sido o que foram e, sobretudo, de afinidade (literária e espiritual). Reputo isso como bênção! É fruto, reitero, de um “ato de fé”.


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Hiperinflação vence o teimoso Alfonsin


Pedro J. Bondaczuk


O presidente argentino, Raul Alfonsin, que superou três tentativas de golpe de Estado, sem que para isso precisasse lançar mão de expedientes violentos e nem perseguir os que o tentaram depor; que esteve às voltas com ataques terroristas; que teve a coragem de levar às barras dos tribunais aqueles que cometeram um dos maiores genocídios que já se registraram na América do Sul, que foram os “desaparecimentos” de cerca de 9 mil pessoas durante o regime militar; depois de lutar contra crises políticas de toda a espécie e vencer, uma a uma, com sabedoria e ponderação, finalmente teve que se dar por vencido. Na segunda-feira passada, visivelmente abatido, anunciou ao país que iria renunciar ao seu cargo no dia 30 próximo.

O motivo? A maior crise econômica já vivida por seu país, outrora um celeiro alimentar do mundo, às voltas agora com um perverso e incontrolável processo inflacionário. Mas seria mesmo algo fora de controle essa espiral das taxas de inflação, conforme se apregoa, amiúde, no Terceiro Mundo?

Esse fenômeno seria, por acaso, como uma força doida e ingovernável, que os governos lutariam tenazmente para conter, em geral sem muito sucesso? Esta, pelo menos, é a imagem que governantes populistas tentam passar do problema.

Na verdade, porém, suas raízes são perfeitamente detectáveis e o mal tem solução. É verdade que esta costuma ser dolorosa. Em geral, são os remédios amargos aqueles que curam as doenças mais perniciosas e não os saborosos. O segredo todo reside numa palavrinha: austeridade.

A inflação, na verdade, poderia ser definida como sendo “desperdício”. Sempre que alguém gasta muito mais do que ganha, para honrar seus compromissos, precisará se endividar crescentemente. O mesmo vale para os governos. Estes têm, no entanto, um recurso que não está ao alcance do cidadão comum. Dispõem da prerrogativa de emitir papel-moeda, posto que sem o correspondente lastro na produção. Ou seja, “infla” o dinheiro, enche-o de vento, daí o termo “inflação”.

Ela, portanto, vem a ser uma espécie de imposto que o Estado cobra de toda a população, sem a necessidade de qualquer lei específica para tal tributação extra. Tudo o mais que se diga a esse respeito não passa de retórica de políticos populistas.

Tabelamentos, congelamentos e outras providências do gênero apenas prolongam a doença. O remédio é a austeridade. A mesma que nenhum governo latino-americano, à exceção da Bolívia, vem adotando. Daí todos eles estarem terminando melancolicamente, um a um, suas gestões, como acontece com Raul Alfonsin.

(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 15 de junho de 1989).


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A verdadeira normalidade

Pedro J. Bondaczuk

O gênio, o crime e a loucura provêm, por igual, de uma anormalidade. Representam, de diferentes maneiras, uma inadaptabilidade ao meio”. O autor dessa declaração é o poeta português Fernando Pessoa. E, convenhamos, ele pode ter sido tudo, menos “normal”, pelos padrões de comportamento aceitos no seu tempo que, ademais, são os mesmos vigentes ainda hoje. Ostentou essa condição, sobretudo, por seu perfil psicológico. Não estou afirmando que a “anormalidade” do escritor fosse qualquer psicopatologia, embora apresentasse determinados procedimentos que possibilitavam esse tipo de suspeita, senão conclusão. Tinha, sim, um que de “loucura”, mas no sentido metafórico, no popular, no de quem age de forma diferente da maioria.

Prefiro caracterizar a personalidade e as ações de Fernando Pessoa como manifestações de “genialidade”. Sua obra e sua inventividade (sobretudo a criação dos heterônimos, cada qual com seu estilo distinto, como se fossem “muitos” poetas, em vez de um único, ou seja, ele) permitem que seja classificado como “gênio”, que de fato foi. Não se tratou de algo normal. Aliás, põe anormalidade nisso!!! Não conheço nenhum escritor que sequer se aproximasse desse seu procedimento. Há quem veja na criação dos heterônimos sintomas de dupla personalidade. Tolice! Foi genialidade pura! Foi sacada inigualável! Aliás, se tivesse, mesmo, esse desvio psicológico, ele não poderia ser chamado de “dupla personalidade”, já que os heterônimos que criou foram pelo menos doze (suspeita-se que tenham chegado ou se aproximado dos vinte).

A “normalidade” que aqui se questiona, esclareço, não é a da sanidade mental e comportamental. É a do conformismo. É a da falta de iniciativa. É a do comodismo e da recusa de tentar coisas novas, com receio de fracassar. É a de pensar e agir rigorosamente como a sociedade espera e prevê, mesmo que incorrendo em erros que caracteriza a imensa maioria das pessoas. Para mim, isto nem é normal. Mas é o padrão geralmente aceito no meio social. Que seja! É a essa “normalidade” (que deve ser grafada, sempre, entre aspas) que me oponho e que tanta gente muito mais habilitada do que eu se opõe.

O psicólogo austríaco, Alfred Adler, fundador da “psicologia do desenvolvimento”, por exemplo, põe em dúvida que ela sequer exista. Pincei, entre seus escritos, esta declaração: “As únicas pessoas normais são aquelas que você não conhece bem”. Ou seja, no seu entender (e no meu), basta conhecê-las para detectar nelas qualquer tipo de anormalidade. O escritor Aldous Huxley segue nessa mesma linha. O autor de “Admirável mundo novo” escreveu: “A normalidade é tão somente questão de estatística”. Já o psiquiatra e psicoterapeuta suíço, Carl Gustav Jung, vê, no sujeito “normal” (pelos critérios que citei acima) um fracassado. Vislumbra alguém sem coragem e disposição em se arriscar na luta por alguma causa justa e nobre, por razões que sequer conseguiria explicar. Afirmou: “Ser ‘normal’ é o ideal dos que não têm êxito, de todos os que se encontram abaixo do nível geral de adaptação”.

Mas não foram, apenas, especialistas no estudo da mente humana que se manifestaram contrários a esse tipo de “normalidade”, que, no meu critério de avaliação, é o suprassumo da anormalidade. O ex-Beatle John Lennon (anormalíssimo em seu comportamento, quer no sentido positivo, da rebeldia e de criatividade, quer no negativo, sobretudo por sua apologia às drogas), manifestou-se desta forma a propósito: “Eu tenho um grande medo dessa coisa de ser ‘normal’”. Já o poeta português, Miguel Torga, escreveu: “Até que ponto é o artista um anormal, não sei nem quero saber. A anormalidade nunca me meteu medo, se é criadora. Agora até que ponto o homem normal combate o artista e o quer destruir, já me interessa. A normalidade causou-me sempre um grande pavor, exatamente porque é destruidora”. A do tipo que citei, também me apavora.

Caso nossos remotos ancestrais fossem todos conformados com o ambiente hostil em que viviam nos primórdios da pré-história, se fossem acomodados à espera que a natureza provesse todas suas necessidades, se não houvesse rebeldes criativos e inconformados entre eles que tentassem, com seus próprios meios, aprender a fazer fogo, construir habitações seguras e confortáveis, domesticar e criar animais, cultivar a terra para produzir plantas comestíveis para garantir a alimentação, o homem ainda estaria nas cavernas, exclusivamente á mercê do Deus dará. Defendo a normalidade, sim, mas a notoriamente positiva (e óbvia). A do respeito irrestrito às leis (se justas e universais, válidas rigorosamente para todos, sem exceções) e às normas da boa convivência, sadia e harmoniosa. A da moral e da ética, não fazendo ao próximo o que não queremos que nos façam. A da bondade, do respeito, da solidariedade e da justiça. Isto, para mim, é ser normal e virtuoso de fato. O mais...


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Saturday, May 30, 2015

A memória costuma nos pregar peças incríveis. Fatos de que nos “lembramos” ter ocorrido de determinada maneira, ocorreram na verdade de outra, com inúmeros detalhes esquecidos e outros tantos acrescentados por nossa própria conta, pela imaginação e, portanto, diferentes dos realmente acontecidos. E não é só isso. Em determinados momentos em que ela não poderia nos falhar, falha. E nos causa, na melhor das hipóteses, alguns constrangimentos, logicamente desagradáveis que, na verdade, são bastante chatos. E nem é necessária a presença de alguma patologia para que a memória nos dê mancada. Lúcidos e sadios, passamos por essa frustração. Todos têm tais lapsos em algum momento da vida. Trata-se, no meu entender, de “mistura de fichas”, de desorganização em nosso arquivo cerebral. Por isso, não é de bom alvitre confiar cegamente na memória, por maior que seja a nossa fama de a termos privilegiada. Convém, nesses casos, ter à mão uma providencial “cola”

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Temores improcedentes



Pedro J. Bondaczuk


A resolução aprovada, ontem, no Parlamento da Alemanha Ocidental, reconhecendo como invioláveis as atuais fronteiras polonesas, demarcadas pelos rios Oder e Neisse, foi mais um obstáculo removido no processo de reunificação germânica. É verdade que existe ainda uma grande barreira, que deverá gerar ácidas discussões, e que se refere à adesão do novo país unificado à Organização do Tratado do Atlântico Norte, Otan.

Para o presidente soviético, Mikhail Gorbachev, que prefere a neutralidade desse Estado fortalecido, sua entrada na aliança ocidental é intolerável. Seu colega norte-americano, George Bush, tem um pensamento diametralmente contrário. Entende que a Alemanha reunificada só pode mesmo é integrar a Otan.

Mas mesmo em Bonn existem sérias divergências a esse respeito. O chanceler Helmut Kohl, que no calor do entusiasmo andou falando pelos cotovelos nas últimas semanas e acabou tendo que se retratar de suas declarações, principalmente atinentes à Polônia, sequer admite a idéia de um Estado germânico único que seja neutro. Para "adoçar" sua posição, assegura que no lado oriental nenhuma tropa deverá ser postada. Já o seu ministro de Relações Exteriores, Hans-Dietrich Gensher, não acha que essa seja a melhor solução. Tem dado a entender, inclusive, que não se oporia à neutralidade, conforme Gorbachev deseja.

Mas este não é um obstáculo irremovível no processo, que ao nosso ver, é irreversível. De novembro de 1989, quando a questão foi levantada publicamente pela primeira vez, até agora, já se caminhou bastante nessa direção, em tão pouco tempo. Os avanços foram, portanto, surpreendentemente rápidos. Há, é claro, um temor muito grande, ostensivo ou disfarçado, em especial na Europa Central, sobre os eventuais riscos que uma Alemanha poderosa possa vir a representar para o equilíbrio e segurança europeus. Todavia, esse medo não procede.

Os alemães são, hoje, um povo sumamente amadurecido. A maioria nesse país está consciente do que quer. À exceção de uns poucos radicais, que não significam praticamente nada em relação ao grosso da população, ninguém por ali sonha com essa baboseira de império mundial. O próprio chanceler Kohl disse, na semana passada, que seus vizinhos não precisam se preocupar. Que a Alemanha não cogita instituir um eventual "IV Reich". Até porque as condições atuais são muito diferentes das existentes na primeira metade deste século. As comunicações instantâneas "encolheram" o mundo. E nenhum alemão iria arriscar a prosperidade de que goza atualmente para embarcar numa aventura absurda, que a própria história já mostrou ser irresponsável.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 9 de março de 1990)


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Loucura metafórica e psicopatologias

Pedro J. Bondaczuk

O que se passa na cabeça de um louco? É possível saber? Respondo, sem titubear, baseado exclusivamente na lógica: não!!!! E em circunstância alguma! Ninguém, em lugar e tempo algum, conseguiu, mesmo que remotamente, “ler” pensamentos alheios. Aliás, não dá para se saber nem o que se passa na mente não só do indivíduo que se comprove (sem dúvidas) que seja insano, como na de ninguém, quer do tido e havido como rigorosamente “normal”, quer do que é classificado como gênio.

Nenhum de nós sabe o que se passa em nossos substratos inferiores, no âmago do que é genericamente definido como “alma”. Ou seja, no subconsciente e no inconsciente. Ademais, se faz indispensável definir e delimitar com precisão a designação “loucura”. Há a meramente “metafórica” – a que não passa de um conjunto de pensamentos e de atitudes considerados exóticos pela sociedade, mas que estão longe de ser doentios. E há os verdadeiros e comprovados desarranjos mentais. O termo é genérico demais. Tanto que nem é mais usado pelos especialistas: psicólogos, psicanalistas e psiquiatras. As verdadeiras doenças mentais, caracterizadas por delírios, alucinações e outras tantas formas de distorção ou de fuga da realidade, recebem nomes específicos, como psicoses, esquizofrenias, paranóias etc. ou o mais genérico: psicopatologias.

O termo “louco” (que em determinados contextos e circunstâncias é utilizado como forma de xingamento), não é mais usado, pois, pelos especialistas, para doenças mentais, a não ser pelos leigos que, ademais, não têm o mais remoto conhecimento para determinar quem é sadio mentalmente e quem não é. Aliás, essa “loucura”, digamos, metafórica, de quem pensa, fala, escreve e faz o que não é usual na sociedade, que caracteriza, não raro, a rebeldia, é até defendida por escritores ilustres. É o caso, por exemplo, do polêmico filósofo, filólogo, poeta e compositor alemão, Friedrich Wilhelm Nietzsche. Para ele, “há sempre um pouco de razão na loucura”. E não há?!

Outro que opinou a respeito foi o escritor francês, Marcel Proust. Num dos volumes de sua extensa obra memorialística que leva o título geral de “Em busca do tempo perdido”, defendeu: “Para tornar a realidade suportável, todos temos de cultivar em nós certas pequenas loucuras”. E não temos?!!! Entendo que sim! Até porque, se não o fizermos, é possível que venhamos a ser atingidos pela verdadeira loucura. Não a figurada, a metafórica, mas a patológica. O escritor norte-americano Jack Kerouac, ídolo dos antecessores dos hippies (os beatniks), assim se expressou a propósito: “As únicas pessoas que me agradam são as que estão loucas: loucas por viver, loucas por falar, loucas por salvarem-se”.

Claro que a “loucura”, reitero, que estes escritores – e centenas de outros mais que poderia citar – defenderam, e até com paixão, não é a doença, o desarranjo, a patologia. É, sim, a fuga da “mesmice”, da acomodação, da bovina conformidade, do lugar comum. É a rebeldia, posto que com causa e, portanto, sadia. É a imposição da nossa personalidade, da nossa característica individual, daquilo que nos distingue dos demais no dia a dia. Aliás, um dos livros clássicos do “pai da psicanálise”, Sigmund Freud – que recomendo a todos, mesmo que não se interessem tanto pelo assunto – é “Psicopatologia da vida cotidiana”. Para nós, escritores, esse clássico da literatura psicanalítica é uma espécie de “cartilha” a nos orientar na elaboração do perfil psicológico, mental e comportamental de nossos personagens.

O filósofo alemão, Georg Wilhelm Friedrich Hegel, defendeu a tese de que o desarranjo mental não implicaria em  perda da razão – que nos torna inteligentes e com capacidade de identificar a realidade e de nos situar nela. Foi mais longe e até deu a entender que a loucura é pertinente e necessária a todos, por ser inerente à dimensão humana. Caso se referisse à que cunhei informalmente de “metafórica” (à referida pelos escritores que citei) até que estaria correto. Ocorre que se referiu, de fato, à insanidade patológica (expressão que me parece redundante, mas que uso como superlativo). E, nesse caso... “pisou na bola”. Até porque, embora fosse um dos mais notáveis e respeitados filósofos do seu tempo (posto que polêmico), entendia de psicopatologias tanto quanto eu, você, seu vizinho, seu amigo, etc. etc.etc. Ou seja, nada!

A poetisa portuguesa Florbela Espanca, ao tentar justificar algumas de suas atitudes consideradas por seus desafetos como atos de loucura, escreveu, em uma carta, a uma amiga (texto este que consta do livro “Correspondências”): “Afinal, quem é que tem a pretensão de não ser louca? Loucos somos todos!!!. E livre-me Deus dos verdadeiros ajuizados, que esses são piores que o diabo!”. Claro que se referia (faço questão de frisar e de reiterar), à loucura no sentido figurado, no metafórico, na acepção popular. Seu desabafo tinha por alvo os que os adolescentes chamam de “caretas”. Estes, convenhamos, são de amargar! São, como Florbela Espanca considerou, de forma até desaforada, mas compreensível, “piores que o diabo!”. E não são?!


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Friday, May 29, 2015

Convicção e paixão são as principais estratégias dos vencedores. É verdade que nem todos se apaixonam pelo que lhes seja adequado, conveniente, útil ou mesmo lógico. E nem mesmo pelo que estão convictos que lhe seja benéfico ou que, pelo menos, não lhe cause danos. Há quem nutra, por exemplo, fanática paixão por clubes de futebol e fazem dela a razão de ser de suas vidas. Exagero, claro. Respeito quem pense assim, mas quem age dessa maneira não está sendo, digamos, prático. Afinal, não vão usufruir nenhuma vantagem desse fanático apego. É uma espécie de fuga da realidade o que não acho prudente e nem desejável. Há, ainda, quem se apaixone por mulheres que nem sabem que esses indivíduos existem e que não lhes correspondem e nunca corresponderão. Há inúmeros desses casos por aí. Mas não é dessas paixões que sou tomado. É de uma que implica em ação da minha parte, que me empolga, que me convence, e da qual, sejam quais forem as circunstâncias, jamais abrirei mão: a da Literatura. A do mundo das letras e das idéias. A que tenho pela leitura e, por conseqüência, pela escrita. Afinal, ela contagia. Mas é um contágio benigno, útil, desejável e compensador. Pelo menos para mim, por força da minha convicção. E, à minha maneira, considero-me vencedor no que sempre busquei.


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Quarenta anos de isolamento



Pedro J. Bondaczuk


A Albânia tem duas características em sua história que a destacam: a resistência ao domínio estrangeiro e o isolacionismo. No primeiro caso, foram quase dois mil anos de dominação por diversos povos.

Independente, o país manteve quatro décadas de absoluto isolamento político e econômico, auto-segregado da comunidade mundial por decisão de seu líder, Enver Hoxha. Além de ser província de Roma e de haver sido incorporada ao Império Bizantino, a Albânia caiu, no século XV, sob o domínio turco.

Mas os albaneses mantiveram permanente estado de beligerância. Nunca se renderam ou se submeteram aos invasores. Ganharam fama de grandes combatentes, em especial em luta nas montanhas.

Independente em 1912, a Albânia foi governada por uma monarquia conservadora, encarnada em Ahmed Bet Zogu, que assumiu o nome de Zog I. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, (e até 1985, quando de sua morte), o país esteve sob a "tutela" de Enver Hoxha, líder da resistência aos nazistas.

O ditador, talvez mais stalinista do que o próprio Joseph Stalin, isolou seu pequeno Estado balcânico do resto do mundo. Esse isolacionismo teve um preço. Manteve a Albânia economicamente estagnada e tecnologicamente atrasada mesmo em relação à constelação comunista.

Em 1948 Hoxha rompeu com a Iugoslávia, de Josip Broz Tito. Em 1961, foi a vez do rompimento com a União Soviética. Finalmente em 1978, cortou os laços com a China, até então sua única e solitária aliada. Todas as rupturas tiveram um único motivo: a defesa do estilo de governo de Stalin.

(Texto publicado em 13 de março de 1995, no Correio Popular).


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Loucura e genialidade

Pedro J. Bondaczuk

A mente humana – entre tantos e tantos e tantos e insondáveis mistérios que caracterizam nossa vida; entre a tentativa de entendimento do  lugar em que estamos; entre o grandioso universo que me parece infinito e eterno embora o conceito de algo que não tenha começo e nem fim extrapole minha compreensão; enfim, entre a natureza de matéria e energia, de frio e calor, de luz e de trevas etc.etc.etc. –  é um dos que mais me intrigam e fascinam. O que a faz funcionar? É somente o cérebro ou é todo o conjunto de órgãos, tecidos e células, em uma interação em que o mau funcionamento de uma única peça dessa magnífica máquina de carne e osso compromete a normalidade do todo? O que é a inteligência? O que é a racionalidade, que nos faz tão diferentes dos demais animais? O que é genialidade? O que é loucura? Mistérios!! Profundos e insondáveis mistérios!

Tudo o que se refere à inteligência sempre me intrigou, fascinou e abismou. Houve um tempo, em minha adolescência, em que cheguei a cogitar a ser médico e quase consegui. E, mais especificamente, sonhei ser psiquiatra, para passar minha vida inteira estudando a mente humana, tanto sua excelência, quanto seus desarranjos. E, principalmente, para aprender a como identificar de verdade estes últimos e tratá-los, devolvendo sanidade aos insanos. Não consegui, infelizmente, ser nem uma coisa e nem outra, embora tenha chegado perto. Nem por isso, perdi o fascínio e o interesse por este “centro de comando” do organismo humano.

Os dois extremos da mente foram os aspectos que mais me intrigaram e fascinaram em particular: a genialidade e a loucura. Confesso que ainda me intrigam e fascinam mais do que nunca. Ambos estão fora do padrão do que é tido e havido como de “normalidade”. Todavia, o que é normal? De acordo com os dicionários é “o que não é diferente”. É “o que é igual à maioria que está ao nosso redor”.Em suma, é “o que não se destaca”, “o que é comum”.  Acho paupérrima essa caracterização, mas por não me ocorrer outra melhor, que seja isso. O parâmetro para a “normalidade”, portanto, é o comportamento da maioria. Não pode, contudo, ocorrer que esta tenha problemas e que apenas uma minoria não seja doentia ou aberrativa? Deixo a pergunta no ar.

Alguns escritores consideram a genialidade como  forma de loucura, por fugir do padrão de normalidade consensualmente estabelecido como parâmetro de aferição. Citam como prova alguns comportamentos bizarros e exóticos de personalidades tidas e havidas como “gênios”, tais como o matemático norte-americano John Nash; o fundador da Microsoft, Bil Gates; o compositor alemão Amadeus Wolfgang Mozart; o pintor holandês Vincent van Gogh; o escritor francês, Gustave Flaubert, o físico alemão Albert Einstein e vai por aí afora, passando pelo romancista russo Fedor Dostoievsky e pelo nosso “Bruxo do Cosme Velho”, Machado de Assis. Todos foram brilhantes em suas atividades. Todos, porém, agiam de maneira bizarra, com suas manias e obsessões, de forma além do padrão de normalidade. Foram loucos? Ora, ora, ora...

Pitoresca é esta observação de Fernando Pessoa – ele, também, genial em seu “métier”, mas exótico no comportamento: “A loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição normal humana. Não ter consciência dela, e ela não ser grande, é ser homem normal. Não ter consciência dela e ela ser grande, é ser louco. Ter consciência dela e ela ser pequena é ser desiludido. Ter consciência dela e ela ser grande é ser gênio”. Em suma, conforme a opinião de Fernando Pessoa, loucura é que é a “normalidade”, variando, somente, em intensidade e formas de manifestação. É, mais ou menos, a conclusão que extraímos do magnífico e intrigante conto de Machado de Assis, “O alienista”. Fossem, todos os tidos por loucos, confinados e segregados do convívio social, o mundo seria enorme hospício. Será? Tenho lá minhas dúvidas.

Estou mais propenso a concordar com a opinião do romancista norte-americano William Faulkner, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1949, que opinou a propósito, num texto intitulado “Na minha morte”: “Às vezes não tenho tanto a certeza de quem tem o direito de dizer quando um homem é louco e quando não é. Às vezes penso que não há ninguém completamente louco tal como não há ninguém completamente são até a opinião geral o considerar assim ou assado. É como se não fosse tanto o que um tipo faz, mas o modo como a maioria das pessoas o encara quando o faz”.

Há quem vá mais longe e garanta que todo escritor é, de certa forma, “louco”. Por que? Por fugir do padrão de normalidade estatuído. Os que pensam assim asseguram que a Literatura não passa de fruto de um tipo de esquizofrenia, de uma espécie de válvula de escape para a “loucura” desses criadores de pessoas que não existem e de cenários e circunstâncias totalmente inventados. Para mim, isso é demais! Prefiro considerá-los “gênios”, posto que com graus diferentes de genialidade, porquanto, ao contrário dos insanos, não fogem da realidade. Mergulham de cabeça nela e vão além, de tal sorte, que criam até uma “hiperrealidade”. O tema, como se vê, é vasto e polêmico e apresenta muitos ângulos, por isso, proponho-me a voltar a ele oportunamente.


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Thursday, May 28, 2015

Não raro, abrimos mão dos nossos mais preciosos sonhos, ao somente desconfiarmos que eles são impossíveis de se concretizar. Ou seja, que são inatingíveis, por serem demasiadamente altos. Trata-se de um erro. Tememos frustrações, quando deveríamos não fugir delas, mas aprender a administrá-las (se e quando acontecerem).  Não há mal algum em ousarmos em nossas pretensões e, principalmente, em lutarmos com todas as nossas forças para atingir o supostamente (ou apenas imaginariamente) impossível. Agindo assim, mesmo que venhamos a nos frustrar (e muitas e muitas vezes nos frustraremos, sem a menor dúvida) teremos, pelo menos, o prazer de uma boa luta, o que, certamente, nos engrandecerá. Mário Quintana abordou, com graça e humor, essa questão, neste poema minimalista, que intitulou “Das utopias”:

“Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
a mágica presença das estrelas!”.


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Já não se fazem mais estadistas como antes



Pedro J. Bondaczuk


A violência e o terrorismo, embora constituam o dia-a-dia mundial nestes últimos tempos, recrudesceram, de sábado para cá, em diversas partes, especialmente naquelas áreas já tradicionais de conflito ao longo dos anos.

A Irlanda do Norte, por exemplo, mais especificamente Belfast, volta às manchetes, após os incidentes de domingo, em que o jovem Sean Downes morreu, atingido por uma bala de plástico, disparada, a curta distância, durante um tumultuado comício. Anteontem, a batalha ocorreu num campo de futebol, na partida em que o Celtic, de Glasgow, realizou na cidade. Mais 47 pessoas foram vítimas da violência. 

No Chile, mais uma vez, os populosos bairros da periferia de Santiago voltaram a se incendiar. E novamente a juventude, pelo seu arrojo e ideal, acaba levando a pior. Um garoto de 17 anos foi baleado e morreu, enquanto mais de 50 pessoas, a maioria adolescentes, tiveram que ser atendidas, com ferimentos.

No Sri Lanka, prosseguem os combates entre os separatistas da etnia tamil, no norte daquela ilha, quatro vezes menor do que o Estado de São Paulo, e os cingaleses e as estatísticas registram números cada vez maiores de vítimas.

O aniversário da Índia também acabou marcado por violência e pancadaria em pelo menos três Estados: Cachemira, Nadu e Punjab. Isso, sem mencionar a tragédia, evitada a tempo, no centro de Jerusalém, quando, por pouco, uma potente bomba, que trazia a inscrição “Sabra e Chatila”, destruía todo um quarteirão (dado o seu imenso potencial) e ceifava um número certamente enorme de vidas.

Conflitos, passeatas, greves, manifestações e repressão: é a dura rotina de um mundo que assiste ao final de uma época, de um perigoso período de transição. O que virá, de tudo isso, ninguém tem condições de sequer imaginar.

Para que se tenha uma idéia, as pequenas guerras têm sido tantas, e em tão variadas partes do mundo, que não há espaço nos noticiários para noticiar todas. Apenas em 1983, aconteceram mais de 40 delas. Menos da metade, contudo, chegaram ao conhecimento público, por falta de recursos para a cobertura de todas.

Num mundo com problemas tão sérios, a desafiarem a inteligência e a boa vontade dos líderes internacionais, o presidente da maior nação do Planeta encontra tempo, e disposição, para gracinhas, envolvendo o destino de, no mínimo, 200 milhões de pessoas.
Estamos ou não estamos vivendo uma era de decadência, o fim de um período de determinado tipo de vida? É, como diriam os saudosistas, “já não se fazem mais estadistas como antigamente...”   

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 16 de agosto de 1984)


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Insatisfação e rebeldia

Pedro J. Bondaczuk

A insatisfação é a mola propulsora das nossas realizações, desde que, claro, não superestimemos nossa capacidade, mas nos empenhemos para ampliá-la, mais e mais. É esse descontentamento que move, entre outras coisas, a economia, gerando necessidades (reais ou imaginárias), que as pessoas empreendedoras e dinâmicas buscam satisfazer e lucrar com isso. Por não estarmos satisfeitos com determinados comportamentos, nos empenhamos (ou deveríamos nos empenhar) em mudá-los, em busca da perfeição. Desde que não exacerbada – e tudo o que é exagerado tende a ser pernicioso – a insatisfação, portanto, nos mobiliza e induz a criar obras materiais e espirituais e propiciar, dessa forma, o que se define como  “progresso”.

Carecemos, no entanto, nos dias atuais, de certa rebeldia, sobretudo face à corrupção, aos desmandos e à violência que campeiam e se multiplicam, arruinando nossas vidas. Onde foram parar os grandes sonhos da juventude? Onde estão os valores éticos (e estéticos) defendidos, há algum tempo, com garra e destemor por jovens determinados e idealistas? Foram substituídos pelo comodismo? Parece que sim! Foram trocados por cômodas posições individuais, sociais e econômicas, mais instáveis e efêmeras, todavia, do que ousamos supor? É bastante provável! Foram abastardados? Sabe-se lá!!!

O pior de tudo é que aqueles idealistas da década de 60 do século passado não só renegaram seus ideais como sequer os transmitiram aos filhos, numa admissão tácita de que estavam errados (embora errassem, apenas, na estratégia e não nos objetivos).. Daí o cínico desalento de hoje. Daí o individualismo inconseqüente. Daí o materialismo exacerbado. Essa frenética busca por meras miragens, estas sim “caretices” de quem não tem rumo e nem sonhos pelos quais batalhar. Como no início da década de 60, temos, hoje, pessoas rebeldes e até em maior número do que naquela ocasião. Mas sua rebeldia é inócua, posto que sem causa. Não se volta (salvo uma ou outra exceção) à conquista de ideais superlativos.

As pessoas estão insatisfeitas mas sequer conseguem definir o foco de suas insatisfações. Sua rebeldia limita-se a mera tentativa de auto-afirmação, de batalha desordenada, muitas vezes, destrutiva, ou, no mínimo, “catatônica”. Caracteriza-se pelo ceticismo generalizado, mas passivo; pelo imobilismo, pela amargura, pelo isolamento. Insisto: há exceções. Estas, contudo, são cada vez mais raras. Bandeiras, convenhamos, não faltam para serem erguidas e defendidas. Existem em muito maior quantidade do que existiam nos anos 60.

A rebeldia (mesmo a com causa) é atitude geralmente mal-interpretada e volta e meia mal direcionada. Rebelamo-nos, amiúde, contra o que não deveríamos nos rebelar: contra normas de conduta saudáveis e necessárias e contra imposições de disciplina e de ordem sem as quais nada e ninguém prosperam. Todavia, o que realmente envenena os relacionamentos, e torna o mundo perigoso e ruim, passa batido e se avoluma, geração após geração. Esse comportamento é mais comum na adolescência, quando nos julgamos poderosos, invulneráveis, indestrutíveis e imortais, sem que, claro, de fato, sejamos. Na minha época de juventude, o título de uma famosa canção transformou-se em lema, em mantra, em palavra de ordem para a minha geração: “não confie em ninguém com mais de trinta anos”. Sequer é necessária maior análise para concluir sobre a estupidez e falta de sentido desse tipo de rebeldia.

Naquela época, pensávamos, até inconscientemente, que o passar dos anos tornava pessoas acomodadas, dóceis, desossadas e, sobretudo, “caretas”. Ou seja, sem criatividade e nem originalidade. Sequer passava pela nossa cabeça que não seríamos jovens para sempre (achávamos que sim) e que um dia seríamos iguaizinhos aos que então ridicularizávamos e pretendíamos segregar. Hoje, as coisas são diferentes? Nossos filhos e netos aprenderam alguma coisa com nossos erros, que foram imensos? Não! Definitivamente não! Com algumas mudanças, aqui e ali, seguem cometendo as mesmíssimas tolices que nós que, certamente, resultarão em idênticas conseqüências. Não é essa, pois, a rebeldia que defendo e que devemos assumir.

Temos que nos rebelar, sim, e muito, e sempre, mas contra injustiças, violência, corrupção, prepotência, exploração do homem pelo homem e outras tantas mazelas, desnecessárias de serem enumeradas. Mas em sentido prático e construtivo e não apenas limitado a um inconseqüente e monótono bla-bla-blá. Precisamos agir, em vez de discursar. Cabe-nos apresentar alternativas, e vivê-las, em vez de nos limitarmos a deblaterar ou a agredir nossos próprios corpos. Compete-nos, sobretudo, preservar e impedir que sigam destruindo o Planeta, nosso único domicílio cósmico, que pede socorro e agoniza, sem que a maioria se dê conta.   

A maior das rebeldias é a de não aceitar nada menos do que a felicidade, para nós e para os que amamos.  Devemos não apenas sonhar com ela, não só lutar por sua concretização, mas “exigi-la”. E não num futuro distante, que provavelmente sequer conheceremos. Sejamos rebeldes, sim, mas inteligentes! Considero as artes, todas elas, como expressões de insatisfação. Todo artista é, no fundo da alma, um rebelde. “Cria” beleza e transcendência, por não estar satisfeito com a realidade que vive. Falta-lhe, porém, imprimir sentido prático a isso. Precisa tentar transpor o que imagina do mundo ideal, refletido em suas criações, para o mundo real.

O conformismo – pregado, até não faz muito, por determinadas religiões como “virtude” – é o caminho mais curto para a acomodação. Daí para a mediocridade é simples passo. A perseverança é o antídoto contra a conformação. A rebeldia natural dos jovens (posto que caótica e sem objetivo) é, insistentemente, combatida pelos encarregados de sua educação (pais, professores etc.). É um erro. Em vez de sufocada, deveria ser direcionada e, óbvio, em sentido construtivo. E, bem orientada, precisa ser estimulada. Manda o bom senso que se aproveite essa tremenda energia dos jovens para criar, construir e modificar para melhor o que esteja errado e seja danoso e inadequado. Ser rebelde não é, pois, “destruir” a si próprio, recorrendo ao álcool e às drogas e, principalmente, não é atacar os outros, mediante atos de violência (como o terrorismo, por exemplo) que, de uma forma ou de outra, retornarão ao violento. Afinal, como acentua famosa lei da Física, “a toda ação corresponde uma reação, de igual intensidade e direção contrária”. 

Contrariando famoso provérbio, no final das contas, “o hábito faz o monge”. E como faz! Isto, apesar de todos os esforços, notadamente dos jovens, para “desmoralizar” esse tipo de comportamento, que só leva em conta a aparência exterior, aqueles sinais visíveis de riqueza ou de pobreza, facilmente disfarçáveis e escamoteáveis, sem atentar para o que a pessoa de fato é. Por paradoxal que possa parecer, a moda conseguiu transformar, até, a “deselegância” em padrão de “elegância”. Cooptou, dessa maneira, a (inútil e mal direcionada) rebeldia da juventude em relação à aparência (cabelos e barba compridos) e ao traje, de movimentos como os dos “beatniks”,  “hippies” e “punks”. Calças jeans, e ainda por cima puídas, que eram vestes características de pessoas não apenas mal vestidas, mas miseráveis, são ostentadas, hoje em dia, com orgulho, como “sumamente elegantes”, por rapazes e moças de classe média e até de famílias abastadas, sem que quase ninguém mais repare e nem estranhe. Isso, contudo, não é rebeldia. É mera distorção dos padrões estéticos. Sinais dos tempos? Acredito que sim.


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