Tuesday, December 27, 2011







TV Educativa, uma boa opção

Pedro J. Bondaczuk

O telespectador que sente um vazio cultural na programação das televisões comerciais, tem uma boa opção com as TVs educativas, que embora apresentando falhas estruturais, inerentes, inclusive, ao momento que vivemos e decorrentes de um período muito prolongado de repressão, que afetou todo o panorama cultural do País, têm preenchido razoavelmente as finalidades para as quais foram criadas. No nosso caso, é óbvio, só podemos analisar a programação da Rádio e Televisão Cultura, que é a emissora que sintonizamos.
Houve momentos, inclusive, (como na transmissão direta do comício pró eleições diretas já, realizado em São Paulo, na Praça da Sé), em que o canal 2 (10 para nós de Campinas), chegou a ultrapassar, em termos de audiência, a todopoderosa Rede Globo. Isso mostra que as emissoras ditas educativas têm plena condição de competir com as comerciais, faltando, somente, um pouco mais de promoção junto ao público.
A Culturas possui, por exemplo, um serviço de grande relevância para a população, que é o RTC Serviço. São montadas, semanalmente, “barraquinhas da comunidade” em diversos bairros paulistanos, onde os moradores têm a oportunidade de reclamar e reivindicar das autoridades, providências para os seus núcleos, cujas respostas são dadas no ar, pelos administradores regionais das áreas focalizadas, direto dos estúdios da emissora. Além disso, são destinados intervalos especiais, no correr da programação normal, ao meio-dia, às 13, 14, 15, 17, 18h30, 19h30 e 20h20, onde outros serviços, indispensáveis inclusive ao povo (como informações sobre preços, qualidade, abastecimento e distribuição dos produtos hortifrutigranjeiros) são prestados.
Seria necessário, porém, que essas “barraquinhas da comunidade” fossem também instaladas no interior, para que a população interiorana pudesse cobrar das autoridades as providências indispensáveis para as suas cidades.
Mas não é só de prestação de serviços q2ue a TV Cultura vive. Ela estimula o debate, em torno das grandes questões nacionais, em programas como Vox Populi, apresentado às sextas-feiras, às 22 horas, e produzido por Rita Okamura; “Super Grilo”, apresentado por Júlio Lerner, às quartas-feiras, às 22 horas e o RTC Debate, às quintas-feiras, no mesmo horário, apenas para mencionar alguns. Nesses programas são convidadas figuras representativas de nossa vida política, econômica e social, que criticam, informam e sugerem, mantendo o telespectador perfeitamente ligado nas questões que influem sobre a sua vida.
No plano mais popular, um excelente programa é o “Lira do Povo”. Ele aborda personagens marcantes da nossa música popular, trazendo um pouco da sua história, ao mesmo tempo que aproveita para prestar-lhes homenagens. ´/e o que vai ocorrer, por exemplo, amanhã, quando a figura a ser focalizada será Clementina de Jesus, interpretando canções como “Na Linha do Mar”, de Paulinho da Viola; “Ingenuidade”, de Serafim Adriano e “Coleção de Passarinho”, de Paulo da Portela e Cartola, além de temas do folclore nacional, tais como “Santa Bárbara”, “Taratá”, “Tava Drumindo” e “Saudação”. O “Lira do Povo” vai ao ar aos sábados, às 23 horas, contando com a direção musical de Hermínio Bello de Carvalho, produção de José Schiller e direção geral de Carlos Alberto Loffler, da TV Educativa do Rio de Janeiro. Nessa linha, bem popular (mas com substância, com algo mais, em termos culturais), a Cultura apresenta, ainda, o “Som Pop”, com sucessos internacionais, às sextas-feiras, às 19 horas, sob o comando de Wilson Razzi.
Para os amantes da “Sétima Arte”, o cinema, existe uma excelente opção, nas quintas-feiras, às 23h15, quando Luciano Ramos comenta (estimulando o debate e, portanto, o entendimento) os grandes filmes do presente e do passado, no “Imagem & Ação”.
Como os senhores vêem, as emissoras educativas não veiculam, apenas, temas reservados a pequenas elites. Têm, também, muitos programas bastante populares, abrangendo, praticamente, todas as áreas, do show ao esporte, do cinema à notícia do dia a dia, dos concertos apresentando os grandes clássicos à história da telenovela.
Já que mencionamos este último, convidamos os telespectadores a assistirem ao programa deste domingo, às 20 horas. Ele vai mostrar como terminam as telenovelas, quais são os ingredientes que entram na composição do último capítulo, aquele que vai revelar, a quem teve a paciência de acompanhar o enredo e cada lance da história, o seu desfecho, o tradicional “happy end”!, em que os bonzinhos, que sofreram no correr da trama toda a série de injustiças e agressões, terminam por ser recompensados. E, consequentemente, a punição aos grandes vilões. A “História da Telenovela” desta semana conclui a presente série. Por este motivo, terá um enfoque todo especial. Por exemplo, grandes comunicadores, como Chico de Assis, Décio Pignatari e Arthur da Távola, entre outros, analisam a telenovela como gênero, explicando a sua importância e efeito dentro da televisão.
Por isso, quando os canais comerciais estiverem começando a esgotar a sua paciência, não tenha dúvidas. Ao invés de simplesmente “pichar” as baboseiras que eles apresentam, opte pela TV Educativa.


(Comentário publicado na página 16, Artes, do Correio Popular, em 6 de abril de 1984).


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