Suor do Tempo
Pedro J. Bondaczuk
De Luiz Martins Rodrigues Filho, praticamente não tenho qualquer referência. Só sei que se trata de um professor da região de Campinas, embora desconheça qual a sua especialidade, onde leciona, em que cidade nasceu, onde vive e o que faz atualmente. E não se tratou de falta de empenho minha. Por mais que tenha pesquisado, não encontrei absolutamente nada a seu respeito.
Baseio, portanto, minha análise (compreensivelmente superficial) da sua poética no único livro dele, que me foi presenteado por um amigo, intitulado “Suor do Tempo” (editado pela Canton, Comércio e Indústria Gráfica Ltda). Pelo menos nesta obra, fica patente que a sua preocupação e a matéria-prima dos seus versos é o tempo. Os poemas abrangem um período de 33 anos de produção, que vai de 1946 a 1979.
Um dos que mais me impressionaram foi o que dá título ao livro, “Suor do Tempo”, que diz:
“O tempo imprime sua marca a tudo o que toca com a mão,
tisna o que é alvo e puro,
desarticula as estruturas pesadas.
Água poluída, de salsugem e vasa
vai lentamente roendo as margens
porque arrasta o seu tardo
caminhar de boi pesado e sujo.
O tempo inventa as folhinhas,
os horóscopos e as rugas,
reparte os anos, os séculos, em dias;
retalha-se a si mesmo, aguçada faca.
Povoa de relógios múltiplos
salas, igrejas e hospitais;
nada é eterno e sagrado
para o instrumento que marca tudo com o sinete
do perecível e transitório.
O tempo sua nas festas de aniversário,
nas bodas todas faz escorrer o seu suor.
Suor do tempo que goteja sobre os homens,
empapando-se com sua tinta pegajosa,
mas humana, porque os homens estão jungidos ao tempo,
que os aprisiona e os insere no próprio tempo”.
Este poema, traz-me à memória uma citação que li há algum tempo, do sociólogo norte-americano Melvin Konner, que afirmou: “Um, bom poema de um adulto é uma comunicação de uma pessoa que, como o resto de nós, foi atacada de emboscada pela vida, mas que escapou milagrosamente da perda da graça que veio facilmente da infância – ou talvez, encontrou um meio de habilmente recuperá-la”. Creio que é bem este o caso.
Outro poema de Luiz Martins Rodrigues Filho, que trago à apreciação do leitor de bom-gosto, é este “As pedras”:
“Atrás da muralha do silêncio
as vozes se extenuam quedam mudas como
pedras reduzidas para sempre
à condição de pedras.
Mas como haverá
palavras pássaro como haveria
palavras bênção se as pedras resolvessem
um dia sair de sua postura
e criassem asas,
crispando o silêncio com sua
mensagem nunca ouvida
pelos homens atônicos?”.
Convenhamos, um poeta que escreve como Luiz Martins Rodrigues Filho, mereceria mais, muito mais visibilidade e, por que não, a reverência dos amantes da poesia.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
De Luiz Martins Rodrigues Filho, praticamente não tenho qualquer referência. Só sei que se trata de um professor da região de Campinas, embora desconheça qual a sua especialidade, onde leciona, em que cidade nasceu, onde vive e o que faz atualmente. E não se tratou de falta de empenho minha. Por mais que tenha pesquisado, não encontrei absolutamente nada a seu respeito.
Baseio, portanto, minha análise (compreensivelmente superficial) da sua poética no único livro dele, que me foi presenteado por um amigo, intitulado “Suor do Tempo” (editado pela Canton, Comércio e Indústria Gráfica Ltda). Pelo menos nesta obra, fica patente que a sua preocupação e a matéria-prima dos seus versos é o tempo. Os poemas abrangem um período de 33 anos de produção, que vai de 1946 a 1979.
Um dos que mais me impressionaram foi o que dá título ao livro, “Suor do Tempo”, que diz:
“O tempo imprime sua marca a tudo o que toca com a mão,
tisna o que é alvo e puro,
desarticula as estruturas pesadas.
Água poluída, de salsugem e vasa
vai lentamente roendo as margens
porque arrasta o seu tardo
caminhar de boi pesado e sujo.
O tempo inventa as folhinhas,
os horóscopos e as rugas,
reparte os anos, os séculos, em dias;
retalha-se a si mesmo, aguçada faca.
Povoa de relógios múltiplos
salas, igrejas e hospitais;
nada é eterno e sagrado
para o instrumento que marca tudo com o sinete
do perecível e transitório.
O tempo sua nas festas de aniversário,
nas bodas todas faz escorrer o seu suor.
Suor do tempo que goteja sobre os homens,
empapando-se com sua tinta pegajosa,
mas humana, porque os homens estão jungidos ao tempo,
que os aprisiona e os insere no próprio tempo”.
Este poema, traz-me à memória uma citação que li há algum tempo, do sociólogo norte-americano Melvin Konner, que afirmou: “Um, bom poema de um adulto é uma comunicação de uma pessoa que, como o resto de nós, foi atacada de emboscada pela vida, mas que escapou milagrosamente da perda da graça que veio facilmente da infância – ou talvez, encontrou um meio de habilmente recuperá-la”. Creio que é bem este o caso.
Outro poema de Luiz Martins Rodrigues Filho, que trago à apreciação do leitor de bom-gosto, é este “As pedras”:
“Atrás da muralha do silêncio
as vozes se extenuam quedam mudas como
pedras reduzidas para sempre
à condição de pedras.
Mas como haverá
palavras pássaro como haveria
palavras bênção se as pedras resolvessem
um dia sair de sua postura
e criassem asas,
crispando o silêncio com sua
mensagem nunca ouvida
pelos homens atônicos?”.
Convenhamos, um poeta que escreve como Luiz Martins Rodrigues Filho, mereceria mais, muito mais visibilidade e, por que não, a reverência dos amantes da poesia.
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