Thursday, December 08, 2011







Os sábados que nos esperam após a Copa

Pedro J. Bondaczuk

As emissoras de televisão estão tendo, durante o corrente mês, o seu autêntico "filet-mignon" em termos não somente comerciais, mas de audiência, com as transmissões da Copa do Mundo do México. Para preencher todo o tempo comercializado com os patrocinadores, junto com reportagens interessantes, muita "papagaiada" está sendo, também, passada para o telespectador.

Há momentos em que se torna patente para qualquer um a falta de assunto e quando isso acontece, tome baboseira em cima do indefeso cidadão, que está interessado apenas em saber como anda o moral de sua seleção, como estão os seus possíveis adversários e nada mais do que isso.

Mas pior do que esse "festival de besteiras" é, provavelmente, o que espera o apreciador de TV após a Copa, especialmente nas tardes de sábado. Por enquanto, sempre há algum jogo para distrair a cabeça de quem trabalhou a semana inteira e não está muito disposto a sair de casa, preferindo ficar na companhia da sua família e do seu receptor.

A partir de julho, todavia, esse autêntico herói, com paciência capaz de fazer inveja a Jó (aquele personagem bíblico que se caracterizou por aceitar passivamente os golpes do destino) terá que se satisfazer com seis, notem bem, seis programas de auditório, em praticamente todas as emissoras, cada um mais chato e repetitivo do que o outro! É claro que a tarde de sábado, em tais circunstâncias, vai ficar completamente arruinada. Haja paciência!

O "besteirol" da Copa, dada a euforia nacional com esta autêntica festa que é o futebol, ainda é perfeitamente tolerável. Afinal, dura somente um mês e se repete apenas a cada quatro anos. Mas esses programinhas de fim de semana, valha-nos Deus, são eternos, ou quase isso. Alguns estão no ar anos a fio e se alguém gravar um deles hoje e comparar com o que for apresentado, digamos, daqui a cinco anos, certamente verá que o esquema é absolutamente o mesmo. Auditório ululante quando vê algum galã (ou que considere como tal), piadinhas sem graça do apresentador, jurados julgando calouros horrorosos, seguindo invariavelmente aquele padrão quadrado definido há duas décadas, de um "bonzinho", que sempre atribui a nota máxima e de outro "vilão", a espinafrar os preferidos da platéia e nada mais.

Os responsáveis pela programação das emissoras deveriam perceber que esse tipo de programa já não dá mais Ibope. Se pelo menos houvesse uma ou outra mudança nos esquemas de apresentação, vá lá. Novidade é sempre novidade, mesmo que ruim. Mas eles permanecem sempre e sempre os mesmos, imutáveis, chatos, pesadões, entra sábado, sai sábado, entra mês, sai mês, entra ano, sai ano.

E o crítico (e também o telespectador, pois muito leitor já fez esse tipo de observação) não entende a razão de "todas" as emissoras apresentarem, quase que simultaneamente nesse mesmo dia, tais "atrações". Não é para menos que a tarde de sábado já está se tornando tradicional para a lavagem do automóvel.

E pelo que foi dado a observar, já que nenhum canal está anunciando novidade alguma para julho, finda a Copa do Mundo, todos teremos que dormir mais cedo. Parece, pelo menos à distância, que as emissoras apostaram todo o seu "cacife" nessa única jogada.

Quem faturou alto, em dinheiro e em audiência, tudo bem. Quem não conseguiu sucesso, dificilmente vai investir em algo criativo. E programação por programação, dessa trivial, diária, a Rede Globo é disparadamente ainda a melhor, embora deixando tanto a desejar.

Esta falta de competição, além de nociva para o telespectador, é desestimulante até para esse próprio canal. Quem sabe, agora, alguém se lembre que neste ano teremos eleições para a Assembléia Constituinte e traga, finalmente, o tema a debate no ar. Se nem assim ninguém fizer isso...

(Artigo publicado na página 12, Arte & Variedades do Correio Popular, em 21 de junho de 1986)



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