Textos de Natal
Pedro J. Bondaczuk
O assunto que trago à sua apreciação, hoje, é mais ou menos o mesmo de ontem, porém num ângulo bem diferente. Refere-se, igualmente, ao Natal. Contudo, não tem nada a ver com presentes, mas com uma obrigação nossa, redatores, e das mais complicadas, que temos que cumprir todos os anos nessa época. E digo nossa porque a imensa maioria dos colunistas e colaboradores do Literário é constituída por jornalistas, como este Editor, por exemplo.
Todos os anos, neste período, notadamente os jornais médios e pequenos do Interior lançam seus suplementos de Natal. O número de páginas varia, de acordo com a performance dos respectivos Departamentos de Publicidade. O tema, contudo, é invariavelmente o mesmo.
Observe-se que os grandes jornais, que não programam edições especiais, também pautam textos alusivos à data. Ora incumbem jornalistas da casa para escreverem a respeito, ora convidam algum escritor de renome para que o faça. É aí que tem que entrar uma dose até absurda de criatividade. Por que? Por se tratar de um tema batidíssimo, abordado por milhões de escritores mundo afora, há mais de dois mil anos. Como, pois, ser original, não se repetir e nem repetir os outros, mas sem fugir em momento nenhum do assunto?
Analisemos. Qual é a tônica da imensa maioria desses textos natalinos, pelo menos nos últimos tempos? Aborda-se “ad náusea”, por exemplo, o fato do Natal ter adquirido caráter mais profano do que sagrado. Bate-se na tecla que se tornou data propícia ao comércio para vender o que não vendeu o ano todo e fechar seus balanços no azul. Ou aborda-se o aspecto do sofrimento, o dos que não podem festejar a data ou por estarem trabalhando, ou por passarem esse dia num leito de hospital, ou por serem confinados a presídios, asilos etc.
Li milhares de crônicas com essa abordagem, com a diferença, apenas, de estilo entre um e outro cronista, o que é mais do que natural. Essa “trilha”, portanto, já está batidíssima e os redatores que quiserem ser originais têm que fugir dela.
Outra abordagem, na mesma linha, é a de que o Papai Noel (criação, da maneira como conhecemos esse ícone contemporâneo do Natal, da Coca-Cola) substituiu, na maioria dos lares (pelo menos do Ocidente) a figura do verdadeiro homenageado da data, ou seja, Jesus Cristo. E há muitos e muitos e muitos clichês parecidos com estes, que não vou citar por ser do conhecimento de todo o mundo.
É possível ser original num tema tão batido, explorado por tanto e tempo e por tanta gente? Sempre é, embora não seja possível negar as dificuldades em que essa originalidade implica. Sei o quanto isso é difícil, pois escrevo, há quase um ano, diariamente, sobre um único e mesmo assunto (não sobre o Natal, evidentemente), com o desafio de não me repetir, mas de vez em quando (ou de vez em sempre) acabo me repetindo . Refiro-me à Literatura.
Por maior que seja a quantidade de ângulos pelos quais esse (ou qualquer outro) tema possa ser analisado, chega um momento em que não resta mais nenhum que não tenha sido explorado. Ora, se escrevendo sobre um assunto específico por somente menos de um ano já encontro (e qualquer outro redator também encontraria), tamanha dificuldade, imaginem o desafio de tentar, e conseguir, ser original na abordagem de um evento sobre o qual milhões de escritores, das mais variadas origens e formações, vêm se debruçando e há mais de dois mil anos!
Mas é justamente essa dificuldade que torna o desafio mais instigante e atrativo. Em termos de crônicas, duvido que alguém ainda consiga ser original ao escrever sobre o Natal. Mas na poesia isso é possível. E no conto, mais ainda, pois por mais parecidas que duas histórias possam ser, jamais serão iguais.
Foi por isso que o primeiro livro que publiquei foi justamente sobre esse assunto. Não se tratou de nenhuma coletânea de crônicas alusivas à data. Recorri ao conto e creio ter me dado bem. Afinal, essa obra que representou minha “perda da virgindade” editorial esgotou uma edição completa e, por essa razão, já estudo, até, em republicá-la em outra editora, mas ampliada, com o acréscimo de duas ou três histórias novas.
O livro a que me refiro (e não adianta procurar sequer em sebos, pois você não irá encontrar) é “Quadros de Natal”. Para minha surpresa, ele vendeu tanto, que nem eu tenho um reles exemplar em minha biblioteca. E olhem que não sou nenhum Machado de Assis! Atribuo esse sucesso à maneira com que abordei o tema.
São histórias simples, atuais, verossímeis, dessas que poderiam acontecer comigo, com você, com seus colegas, com seus amigos e inimigos e, ainda assim se manterem originais. Só não os desafio a conferirem porque vocês não encontrarão em lugar algum um reles exemplar para isso. Aliás, essa é a razão (lógico), reitero, que me leva a cogitar seriamente na sua republicação.
Embora a intenção não fosse essa, acabei transformando este texto numa peça de propaganda da minha literatura (e vocês, certamente, perceberam isso). Mas... já que está aqui, que fique! Afinal, modéstia nunca foi virtude que me caracterizasse.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
O assunto que trago à sua apreciação, hoje, é mais ou menos o mesmo de ontem, porém num ângulo bem diferente. Refere-se, igualmente, ao Natal. Contudo, não tem nada a ver com presentes, mas com uma obrigação nossa, redatores, e das mais complicadas, que temos que cumprir todos os anos nessa época. E digo nossa porque a imensa maioria dos colunistas e colaboradores do Literário é constituída por jornalistas, como este Editor, por exemplo.
Todos os anos, neste período, notadamente os jornais médios e pequenos do Interior lançam seus suplementos de Natal. O número de páginas varia, de acordo com a performance dos respectivos Departamentos de Publicidade. O tema, contudo, é invariavelmente o mesmo.
Observe-se que os grandes jornais, que não programam edições especiais, também pautam textos alusivos à data. Ora incumbem jornalistas da casa para escreverem a respeito, ora convidam algum escritor de renome para que o faça. É aí que tem que entrar uma dose até absurda de criatividade. Por que? Por se tratar de um tema batidíssimo, abordado por milhões de escritores mundo afora, há mais de dois mil anos. Como, pois, ser original, não se repetir e nem repetir os outros, mas sem fugir em momento nenhum do assunto?
Analisemos. Qual é a tônica da imensa maioria desses textos natalinos, pelo menos nos últimos tempos? Aborda-se “ad náusea”, por exemplo, o fato do Natal ter adquirido caráter mais profano do que sagrado. Bate-se na tecla que se tornou data propícia ao comércio para vender o que não vendeu o ano todo e fechar seus balanços no azul. Ou aborda-se o aspecto do sofrimento, o dos que não podem festejar a data ou por estarem trabalhando, ou por passarem esse dia num leito de hospital, ou por serem confinados a presídios, asilos etc.
Li milhares de crônicas com essa abordagem, com a diferença, apenas, de estilo entre um e outro cronista, o que é mais do que natural. Essa “trilha”, portanto, já está batidíssima e os redatores que quiserem ser originais têm que fugir dela.
Outra abordagem, na mesma linha, é a de que o Papai Noel (criação, da maneira como conhecemos esse ícone contemporâneo do Natal, da Coca-Cola) substituiu, na maioria dos lares (pelo menos do Ocidente) a figura do verdadeiro homenageado da data, ou seja, Jesus Cristo. E há muitos e muitos e muitos clichês parecidos com estes, que não vou citar por ser do conhecimento de todo o mundo.
É possível ser original num tema tão batido, explorado por tanto e tempo e por tanta gente? Sempre é, embora não seja possível negar as dificuldades em que essa originalidade implica. Sei o quanto isso é difícil, pois escrevo, há quase um ano, diariamente, sobre um único e mesmo assunto (não sobre o Natal, evidentemente), com o desafio de não me repetir, mas de vez em quando (ou de vez em sempre) acabo me repetindo . Refiro-me à Literatura.
Por maior que seja a quantidade de ângulos pelos quais esse (ou qualquer outro) tema possa ser analisado, chega um momento em que não resta mais nenhum que não tenha sido explorado. Ora, se escrevendo sobre um assunto específico por somente menos de um ano já encontro (e qualquer outro redator também encontraria), tamanha dificuldade, imaginem o desafio de tentar, e conseguir, ser original na abordagem de um evento sobre o qual milhões de escritores, das mais variadas origens e formações, vêm se debruçando e há mais de dois mil anos!
Mas é justamente essa dificuldade que torna o desafio mais instigante e atrativo. Em termos de crônicas, duvido que alguém ainda consiga ser original ao escrever sobre o Natal. Mas na poesia isso é possível. E no conto, mais ainda, pois por mais parecidas que duas histórias possam ser, jamais serão iguais.
Foi por isso que o primeiro livro que publiquei foi justamente sobre esse assunto. Não se tratou de nenhuma coletânea de crônicas alusivas à data. Recorri ao conto e creio ter me dado bem. Afinal, essa obra que representou minha “perda da virgindade” editorial esgotou uma edição completa e, por essa razão, já estudo, até, em republicá-la em outra editora, mas ampliada, com o acréscimo de duas ou três histórias novas.
O livro a que me refiro (e não adianta procurar sequer em sebos, pois você não irá encontrar) é “Quadros de Natal”. Para minha surpresa, ele vendeu tanto, que nem eu tenho um reles exemplar em minha biblioteca. E olhem que não sou nenhum Machado de Assis! Atribuo esse sucesso à maneira com que abordei o tema.
São histórias simples, atuais, verossímeis, dessas que poderiam acontecer comigo, com você, com seus colegas, com seus amigos e inimigos e, ainda assim se manterem originais. Só não os desafio a conferirem porque vocês não encontrarão em lugar algum um reles exemplar para isso. Aliás, essa é a razão (lógico), reitero, que me leva a cogitar seriamente na sua republicação.
Embora a intenção não fosse essa, acabei transformando este texto numa peça de propaganda da minha literatura (e vocês, certamente, perceberam isso). Mas... já que está aqui, que fique! Afinal, modéstia nunca foi virtude que me caracterizasse.
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