Saturday, December 24, 2011







Presente de Natal

Pedro J. Bondaczuk

Hoje vamos conversar sobre um assunto que, a rigor, não é propriamente sobre literatura, mas que darei um jeitinho para que o seja. Arguto como é, certamente você já percebeu, pelo título destas considerações, sobre o que vou tratar e porque tenho a convicção de que vou transformar este texto em um papo literário. É isso mesmo. O assunto em pauta, hoje e ao longo deste mês, é sobre presentes. Mais especificamente, sobre presentes de Natal.
Recomendo-lhes que presenteiem às pessoas que vocês gostam com livros e que peçam às que gostam de vocês que façam a mesma coisa. Claro que não com qualquer livro (há muita droga por aí na qual não vale a pena investir nosso sagrado e suado dinheirinho), mas com obras que vocês sintam orgulho de contar em suas bibliotecas. Os presenteados, certamente, sentirão também Não é feio, por exemplo, sugerir aos outros o que queremos ganhar. Isso evita males-entendidos e chateações tão comuns nessa época.
Para serem coerentes, portanto, façam, o mesmo que gostariam que lhes fizessem. Ou seja, dê livros de presente. Antes, especule o gosto literário dos que você pretende presentear. Se não tiverem nenhum (e milhões mundo afora não têm a mínima intimidade ou gosto pela leitura), dêem-lhes obras que lhes despertem esse gosto por esta fascinante e utilíssima atividade.
Por menos que algum sujeito não goste de ler, dificilmente deixará de se empolgar, por exemplo, com “As aventuras de Tom Sawyer”, de Mark Twain (pseudônimo com o qual o escritor norte-americano Samuel Clemens se consagrou) e com sua continuação, “As aventuras de Huckleberry Finn”. Se optar por um autor brasileiro e tiver um pouco mais de din-din para gastar, dê-lhe as obras completas de Monteiro Lobato.
Já consegui “converter” muita gente, que se confessava “inimiga” de livros, a esse doce encanto da leitura. Se lhes estou recomendando, portanto, é porque tenho bem-sucedida experiência pessoal no assunto.
Aliás, nesse aspecto (não sei se em outros também), meus parentes e amigos me consideram um chato renitente e sem salvação. O único presente que me satisfaz (e tenho o péssimo hábito de ser excessivamente franco) é um bom livro. E justo eu que ganho tantos ao longo do ano, por motivos interesseiros por parte dos que mos dão. Explico.
Sou convidado, praticamente todas as semanas do ano, a redigir prefácios (ou textos de orelhas ou contracapas) em livros de escritores que sequer conheço (alguns, claro). Como nunca me recusei a atender tais solicitações (e, estejam certos, por mais “atolado” que estiver de obrigações, jamais deixarei de atender quem quer que seja), ganho, como compensação, essas mesmas obras de que participei de alguma maneira depois de publicadas. Imaginem, pois, a quantidade de livros que recebo pelo correio! É uma enormidade!.
Mas não é só isso. Recebo inúmeros pedidos para tecer comentários sobre lançamentos e mais lançamentos de novidades editoriais, feitos pelos próprios autores ou por suas editoras, e publicá-los nos vários espaços que disponho, quer na mídia escrita, quer na eletrônica.
Nestes casos, sou um tanto rigoroso (e para o bem dos próprios solicitantes). Se o livro é bom, faço o maior carnaval a respeito. Redijo meu comentário e publico-o em “n” lugares diferentes. Se é ruim... Bem, jamais destruí os sonhos de ninguém. Nunca fiz nenhuma crítica azeda ou negativa, por mais que o livro mereça. Nesses casos, sob o risco de ser mal-interpretado (e, de fato, sou), faço de conta que nem recebi a solicitação. Reitero, não serei eu que destruirei o sonho de notoriedade dos outros. Dizem que isso é falta de honestidade da minha parte. Pois que seja.
Para fazer os referidos comentários, claro, recebo em casa os livros a serem comentados. Portanto, são outros tantos e tantos volumes que se vêm juntar à minha já copiosa (mas caótica) biblioteca. Um detalhe: mesmo contando com tempo restritíssimo, jamais deixei de ler qualquer livro que tenha ganhado.
A esta altura, vocês devem estar pensando: “Como esse sujeito é incoerente e nada prático. Se recebe tantos livros o ano todo, como afirma, por que quer que parentes e amigos o presenteiem com mais livros?”. Pois é. Também faço, a todo o momento, a mesmíssima pergunta. Deve ser obsessão, sei lá!

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

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