ONU está cada vez mais esvaziada
Pedro J. Bondaczuk
A Organização das Nações Unidas, ONU, está completando 40 anos de existência (com o seu papel cada vez mais esvaziado), crescentemente contestada como organismo útil para a promoção da paz. Embora tais restrições, não se pode negar seu grande feito, que foi o de sobreviver por quatro décadas, em um mundo onde a palavra concórdia perde, cada vez mais, seu significado.
Pelo menos em termos de duração, a ONU superaa, em 14 anos, sua predecessora, a malfadada Liga das Nações, instituída em 1920, como conseqüência do Tratado de Versalhes. Esse acordo internacional, por seu turno, foi um dos responsáveis pelo descontentamento alemão e que acabou dando motivo para a ascensão do nazismo e para a posterior deflagração da Segunda Guerra Mundial.
Ao contrário do órgão anterior, a Organização das Nações Unidas ainda não teve países pedindo o seu desligamento. E apenas promoveu uma expulsão que, aliás, corrigiu uma das mais grotescas e surrealistas falhas ao, virtualmente, ignorar a existência de uma nação que abriga 25% de todos os habitantes do mundo. A correção ocorreu em 25 de outubro de 1971, quando foi aprovado o ingresso da China no organismo, com conseqüente saída de Formosa.
A extinta Liga das Nações também havia expulsado apenas um de seus integrantes, a União Soviética, em 1939. Mas com somente seis anos de criação, começou a sofrer um irreversível processo de esvaziamento, quando o Brasil pediu o seu desligamento, como forma de protesto pelo fato de não ver atendida uma solicitação para fazer parte de determinado conselho. A partir daí, cinco outros países seguiriam (por razões diferentes) os passos brasileiros.
Coincidentemente, todos eles viriam a ser aliados na Segunda Guerra Mundial. Em 1933, Japão e Alemnha desligavam-se da Liga. Em 1937, seria a vez da Itália. E, finalmente, no ano do próprio conflito, em 1939, Hungria e Espanha fariam o mesmo. Nessa altura, o organismo já não tinha mais qualquer papel e era um caricato anacronismo.
A ONU, pelo que tudo indica, está perigosamente caminhando para isso. Sua atuação, por exemplo, durante a Guerra das Malvinas, foi simplesmente deplorável. Na guerra civil libanesa, além de enviar para aquele país conflagrado a ineficiente e sem função Força de Paz, conhecida como Unifil, nada mais obteve de prático que conduzisse aquela sociedade outrora exemplar à reconciliação.
Na questão dos reféns do Irã, durante o transcorrer de 1980, o papel que lhe caberia exercer acabou sendo desempenhado (com muito tirocínio, frise-se) pela diplomacia argelina, que conseguiu uma fórmula para acabar com o impasse e a conseqüente libertação dos então 53 cativos.
No atual incidente, envolvendo cidadãos norte-americanos no Líbano, com o seqüestro do Boeing da TWA, a história repete-se, com todas as letras e vírgulas. Apesar da boa vontade do secretário-geral da ONU, Javier Perez de Cuellar, as soluções possíveis para o impasse, levantadas em vários círculos, não são da lavra desse organismo.
Mas essa ostensiva inefici6ência, em termos de resolução de crises, se deve a quê? À desorganização da ONU? À falta de tirocínio dos que a comandam? À ausência de recursos humanos ou financeiros? Absolutamente não!
Os secretários-gerais que a ONU já teve foram homens simplesmente brilhantes sob todos os aspectos. O organismo reúne técnicos, nas mais variadas áreas em que atua, da mais absoluta competência e credibilidade. A entidade mundial dispõe de farto e ótimo material humano e de razoável disponibilidade financeira.
O que falta é que os signatários de sua carta constitutiva honrem o compromisso assumido há 40 anos. Cumpram o que juraram solenemente respeitar, sem desculpas e tergiversações. Aprendam que somente através da cooperação, sincera e desinteressada, desvinculada de radicalismos ideológicos, será possível se chegar ao pleno respeito dos direitos fundamentais do homem e, por conseqüência, à justiça social e à paz duradoura entre os povos. Como isso parece cada vez mais distante...
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 26 de junho de 1985).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
A Organização das Nações Unidas, ONU, está completando 40 anos de existência (com o seu papel cada vez mais esvaziado), crescentemente contestada como organismo útil para a promoção da paz. Embora tais restrições, não se pode negar seu grande feito, que foi o de sobreviver por quatro décadas, em um mundo onde a palavra concórdia perde, cada vez mais, seu significado.
Pelo menos em termos de duração, a ONU superaa, em 14 anos, sua predecessora, a malfadada Liga das Nações, instituída em 1920, como conseqüência do Tratado de Versalhes. Esse acordo internacional, por seu turno, foi um dos responsáveis pelo descontentamento alemão e que acabou dando motivo para a ascensão do nazismo e para a posterior deflagração da Segunda Guerra Mundial.
Ao contrário do órgão anterior, a Organização das Nações Unidas ainda não teve países pedindo o seu desligamento. E apenas promoveu uma expulsão que, aliás, corrigiu uma das mais grotescas e surrealistas falhas ao, virtualmente, ignorar a existência de uma nação que abriga 25% de todos os habitantes do mundo. A correção ocorreu em 25 de outubro de 1971, quando foi aprovado o ingresso da China no organismo, com conseqüente saída de Formosa.
A extinta Liga das Nações também havia expulsado apenas um de seus integrantes, a União Soviética, em 1939. Mas com somente seis anos de criação, começou a sofrer um irreversível processo de esvaziamento, quando o Brasil pediu o seu desligamento, como forma de protesto pelo fato de não ver atendida uma solicitação para fazer parte de determinado conselho. A partir daí, cinco outros países seguiriam (por razões diferentes) os passos brasileiros.
Coincidentemente, todos eles viriam a ser aliados na Segunda Guerra Mundial. Em 1933, Japão e Alemnha desligavam-se da Liga. Em 1937, seria a vez da Itália. E, finalmente, no ano do próprio conflito, em 1939, Hungria e Espanha fariam o mesmo. Nessa altura, o organismo já não tinha mais qualquer papel e era um caricato anacronismo.
A ONU, pelo que tudo indica, está perigosamente caminhando para isso. Sua atuação, por exemplo, durante a Guerra das Malvinas, foi simplesmente deplorável. Na guerra civil libanesa, além de enviar para aquele país conflagrado a ineficiente e sem função Força de Paz, conhecida como Unifil, nada mais obteve de prático que conduzisse aquela sociedade outrora exemplar à reconciliação.
Na questão dos reféns do Irã, durante o transcorrer de 1980, o papel que lhe caberia exercer acabou sendo desempenhado (com muito tirocínio, frise-se) pela diplomacia argelina, que conseguiu uma fórmula para acabar com o impasse e a conseqüente libertação dos então 53 cativos.
No atual incidente, envolvendo cidadãos norte-americanos no Líbano, com o seqüestro do Boeing da TWA, a história repete-se, com todas as letras e vírgulas. Apesar da boa vontade do secretário-geral da ONU, Javier Perez de Cuellar, as soluções possíveis para o impasse, levantadas em vários círculos, não são da lavra desse organismo.
Mas essa ostensiva inefici6ência, em termos de resolução de crises, se deve a quê? À desorganização da ONU? À falta de tirocínio dos que a comandam? À ausência de recursos humanos ou financeiros? Absolutamente não!
Os secretários-gerais que a ONU já teve foram homens simplesmente brilhantes sob todos os aspectos. O organismo reúne técnicos, nas mais variadas áreas em que atua, da mais absoluta competência e credibilidade. A entidade mundial dispõe de farto e ótimo material humano e de razoável disponibilidade financeira.
O que falta é que os signatários de sua carta constitutiva honrem o compromisso assumido há 40 anos. Cumpram o que juraram solenemente respeitar, sem desculpas e tergiversações. Aprendam que somente através da cooperação, sincera e desinteressada, desvinculada de radicalismos ideológicos, será possível se chegar ao pleno respeito dos direitos fundamentais do homem e, por conseqüência, à justiça social e à paz duradoura entre os povos. Como isso parece cada vez mais distante...
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 26 de junho de 1985).
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