Pedro J. Bondaczuk
O professor Sólon Borges dos Reis é uma das tantas personalidades que tive o privilégio de conhecer e que me enriqueceram, cultural e espiritualmente. Confesso-me seu irrestrito admirador, admiração esta que em vez de arrefecer com sua morte (ocorrida em 9 de setembro de 2006), tende a crescer e a se consolidar, à medida que o tempo passa. Considero-o admirável por vários motivos, tanto pelo seu dinamismo, quanto pelo espírito cívico que sempre demonstrou e, sobretudo, pela sabedoria dos simples de que era dotado, virtudes que por anos colocou a serviço do magistério e da categoria profissional que representou: a dos abnegados "apóstolos" da educação.
Nomeá-lo, contudo, apenas como professor (embora isso não o desmereça, mas, pelo contrário, o engrandeça) é pouco. Ele foi mais, muito mais do que docente. Foi, também, advogado, jornalista, político e....sobretudo poeta. E dos bons, dos que merecem reverência e reconhecimento, pela qualidade da sua obra. Foi, sobretudo, homem digno, honesto, sábio e sumamente idealista.
Conheço-o, de nome, há mais de 50 anos, quando era ainda jovem estudante, com a cabeça cheia de planos e com a alma "intoxicada" de ideais. Hoje, confesso, continuo idealista, mas tenho, infelizmente, os pés mais plantados ao chão. Perdi a ousadia dos moços, embora tenha ganhado em experiência. Um pouco daquela chama da juventude arrefeceu, é verdade, mas graças a Deus não se extinguiu. Não se extinguirá jamais!
Acompanhei, nesse meio século que o conheci, as memoráveis campanhas do professor Sólon pela valorização do magistério e, principalmente, das abnegadas pessoas que nele militam. Mas só vim a conhecê-lo, pessoalmente, há pouco mais de quinze anos, na redação do Correio Popular, apresentado pela minha amiga e cronista desse jornal, Célia Siqueira Farjallat.
Na oportunidade, o querido mestre ofertou-me, gentilmente, um dos seus inspirados livros de poesia, "Carrossel", que "devorei" sofregamente. Deliciei-me com seus versos mágicos e líricos e com os temas, sempre oportunos, que abordou. Foi nessa ocasião que descobri sua vinculação com Campinas, onde residiu, mais especificamente na Rua Luzitana, fato perpetuado em memorável poema de sua autoria.
Mesmo sem manter novos contatos, continuei acompanhando sua bem sucedida trajetória na vida pública, revestida de competência, de idealismo e de profundo senso ético. Sólon Borges dos Reis, para quem não sabe, foi várias vezes deputado, tanto estadual quanto federal, representando, e bem, o professorado paulista.
Culminou sua carreira política na função de vice-prefeito de São Paulo, a terceira maior cidade do mundo, na administração de Paulo Maluf. Quando pensei que nunca mais manteria contato pessoal com o nobre professor (dada a minha humilde posição profissional), eis que, para a minha surpresa e enorme privilégio, recebi, há uns dez anos, amável correspondência dele.
Duvido que o mestre pudesse sequer imaginar a satisfação e o orgulho que me deu na oportunidade com a gentil lembrança! Ao abrir, afobado e emocionado como um menino que ganhasse o seu primeiro presente de aniversário, o envelope, dei de cara com uma série de pensamentos de sua lavra, que intitulou "Pontos de Vista". São verdadeiras pérolas para reflexão, a quem, como eu, é dado a esse régio exercício.
Sua memória era simplesmente fenomenal! Conversamos, há quinze anos, não mais do que quinze minutos e Sólon lembrou, tanto tempo depois (cinco anos) não apenas de mim, mas até da minha mania por citações. Foi muita gentileza do mestre e extrema generosidade! Não resisto à tentação de partilhar com vocês algumas dessas reflexões de um homem tão sábio, tão vivido e... tão generoso. São curtas, simples, diretas e sumamente verdadeiras.
Como esta: "Torcer é uma forma leiga de rezar". Ou esta: "Parece-me mais justo sermos mais tolerantes com o próximo e mais exigentes conosco mesmo". Ou esta: "Só o afetivo é efetivo". Ou esta outra: "A convivência faz parte da natureza humana. Se, por uma hipotética catástrofe, só você sobrevivesse, conseguiria suportar a solidão?". Claro que não, mestre!
Aliás, é exatamente graças a essa necessidade vital de convívio, que tive a grata satisfação de receber sua amável correspondência. Contava, então, trocarmos, amiúde, impressões sobre temas que a ambos empolgavam, como educação, solidariedade, justiça social, responsabilidade, honestidade, tolerância, calor humano, arte, cultura, poesia, etc., mas as circunstâncias não permitiram. Uma pena!
Claro que neste meu desejo ía muito de egoísmo da minha parte. Provavelmente, o único beneficiado, nesses nossos potenciais futuros contatos (que, reitero, nunca mais se repetiram, exclusivamente por minha culpa, é justo destacar) seria eu, que só tinha a aprender com um homem desse valor, culto, preparado, inteligente, respaldado por uma sólida obra ao longo de mais de meio século de magistério e outro tanto na vida pública e que, como todo sábio, era, além de tudo, humilde.
Sua trajetória de vida, seus livros (tenho dois, de poesias) e sua postura digna e humana, fazem-me lembrar esta citação do dramaturgo Berthold Brecht (não me recordo em qual de suas peças) que já citei várias vezes, em diversos contextos, sempre que pertinente (como neste caso): "Há homens que lutam um dia e são bons. Há homens que lutam um ano e são muito bons. Há homens que lutam muitos anos e são melhores. Mas há os que lutam toda a vida: esses são imprescindíveis". Foi o caso, sem dúvida alguma, desse querido professor/poeta ou poeta/professor, Sólon Borges dos Reis.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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