Sunday, November 18, 2012

Imprudência que custa caro

Pedro J. Bondaczuk

As chuvas voltam a fazer estragos, desta vez nos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, como aliás vem ocorrendo ano após ano, sem que as autoridades "competentes" façam qualquer coisa para evitar tragédias como as acontecidas nos últimos dias em 183 municípios mineiros. "Trata-se de fenômeno climático, impossível de evitar", dirão alguns.

Claro que o homem não pode controlar (ainda) o ciclo das chuvas --- e é bom que não possa, pois se pudesse certamente iria fazer bobagem ---, mas há medidas mínimas, de bom senso, que possibilitam a razoável prevenção dessas catástrofes.

A maioria delas é uma questão até de civilidade, como não jogar lixo nas ruas, para que os bueiros não fiquem entupidos e muito menos em córregos e ribeirões. Nem isso, porém, as pessoas fazem, que é o mínimo a se esperar. Cada qual cuida apenas do seu pedaço e se esquece que a cidade é patrimônio comum, de todos os seus habitantes (pelo menos teoricamente).

Outra temeridade que se comete --- e nunca impunemente --- é a construção de casas em encostas de morros, fato absolutamente corriqueiro em todas as cidades brasileiras. No início do ano passado, quando da ocorrência da tragédia em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, observou-se que bairros inteiros, inclusive condomínios de luxo, estão construídos em locais absolutamente inadequados, insalubres, inseguros e impróprios para o homem viver.

Essas construções, obviamente, foram autorizadas por alguém. A cidade conta com um departamento de urbanismo e um plano diretor, pelo menos em tese. Como se vai deixar, pois, construir casas nesses locais de alto risco, verdadeiras "roletas russas", onde a vida e o patrimônio estão expostos a permanente perigo ao sabor do acaso climático?

Nos deslizamentos ocorridos em cidades mineiras, nos últimos dias, as moradias atingidas foram as erguidas nessas encostas, que sequer são gramadas para reter toneladas de terra praticamente fofa.

É certo que muitas são construções clandestinas, meros barracos construídos por quem não tem onde morar e que se contenta, por causa das circunstâncias, com qualquer teto por sobre a cabeça, mesmo que este possa a qualquer momento desabar. Outras, no entanto, são casas de alvenaria, com bom acabamento e com planta regularizada e tudo.

Como essas obras foram autorizadas? Por quem? Com que autoridade? Perguntas como esta nunca são respondidas. E a cada novo verão, as tragédias se repetem. O cenário algumas vezes muda (ora é Porto Alegre, ora Recife, ora São Paulo, ora Salvador, etc), os personagens são outros, mas o enredo é sempre o mesmo.

Falta uma dose mínima, elementar, de instinto de sobrevivência. Faltam obras de proteção que, por não aparecerem diante dos olhos dos eleitores, são empurradas de uma administração para outra. Falta um planejamento urbano que de fato mereça essa designação. Enquanto isso, vidas continuam sendo perdidas, como se não tivessem o mínimo valor, por negligência, imperícia e imprudência.

(Artigo publicado na página 3, Opinião, do Correio Popular, em 16 de abril de 1997)

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