Pedro J. Bondaczuk
A oposição chilena deu exemplar demonstração de realismo político e, sobretudo, de bom senso, ao escolher o democrata-cristão Patrício Aylwin como candidato às eleições presidenciais de 14 de dezembro próximo, as primeiras a serem realizadas no país em 19 anos. Dessa maneira, salvo algum acidente de percurso, sempre possível quando se trata de uma consulta às urnas, ela já tem virtualmente assegurada a presidência, principalmente se for levada em conta a grande divisão existente nas fileiras governamentais.
Dezessete partidos, dos mais diferentes matizes ideológicos, da esquerda à direita, passando pelo centro, uniram esforços em torno de um ideal comum. Ou seja, o de redemocratizar o Chile, após 16 anos de ditadura militar.
Caso o atual presidente, general Augusto Pinochet, respeite as regras do jogo, que ele próprio instituiu, a América do Sul terá, a partir do fim do ano, a raríssima oportunidade de não contar com uma única ditadura. Uma série de fatores vem contribuindo para que isto se torne possível. O principal deles, sem dúvida, é a atual postura da União Soviética, que parece ter desistido de vez daquela tolice de revolução comunista mundial, para se preocupar com as próprias mazelas domésticas.
Com a reconstrução, por exemplo, de uma economia ineficiente e viciada, que não consegue suprir a própria população dos gêneros básicos, tanto em quantidade quanto, e principalmente, em qualidade.
Mas voltando ao tema do Chile, a oposição desse país demonstrou, sobretudo, muita maturidade ao conseguir passar por cima de diferenças partidárias e chegar a um consenso no lançamento de uma candidatura que tem tudo para ser vitoriosa.
Agiu, portanto, de forma diametralmente oposta à dos oposicionistas sul-coreanos em 1987 que, por vedetismo dos seus dois maiores líderes, permitiram que um postulante que gozava da confiança de menos de um terço do eleitorado, Roh Tae-Woo, chegasse a uma vitória que tende, somente, a agravar os graves problemas políticos da Coréia do Sul.
Aylwin, no entanto, tem tudo para conduzir com moderação e com cautela um perigoso período de transição no Chile, onde as feridas da prolongada ditadura militar ainda permanecem abertas, e sangrando. Este é o momento de todos os chilenos se unirem em torno de uma bandeira comum, sem revanchismos e nem arroubos de valentia. Somente assim esse país voltará a ser o modelo de democracia para os co-irmãos sul-americanos que foi no período de governo do saudoso presidente Eduardo Frei.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 8 de julho de 1989)
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