Pedro J. Bondaczuk
A maioria das pessoas desconhece qual é o seu verdadeiro potencial. Há quem ache que pode muito e, quando premido pelas circunstâncias a testar esse poder pessoal, se decepciona. Descobre seu limite e, pior, que ele é muito mais estreito do que supunha. Há, também, o outro extremo. O dos que achavam que podiam muito pouco e que, de repente, em emergência extrema, se surpreendem fazendo coisas que jamais lhes passaram pela cabeça fazer. Subitamente, de pessoas comuns e frágeis que sempre acharam que fossem, são alçados à condição de heróis, por salvarem uma vida, arriscando as suas.
O fato é que, salvo em situações especiais, e óbvias, desconhecemos nossos limites. Se não os mentais (e estes são quase sempre os que mais nos surpreendem), pelo menos os físicos. É verdade que estes, em alguns casos, são óbvios e sem possibilidade de enganos. Por exemplo, se sou um sujeito sedentário, obeso e ainda por cima fumante, não devo me meter a praticar determinadas atividades, e muito menos as de alto impacto, como o atletismo ou mesmo o futebol dos finais de semana. Tentar fazê-lo será mais do que imprudência: uma temeridade. As conseqüências podem ser sumamente danosas, quando não fatais. Nosso limite físico será evidente, sem necessidade sequer de consultar o médico.
Claro que nestas condições o recomendável não é conservar o sedentarismo. E muito menos persistir nos maus hábitos, como a glutonaria e o tabagismo. O que é necessásrio, no caso é um saudável regime alimentar, sob a assistência de um nutricionista, o abandono do cigarro ou, se não conseguir essa “façanha”, a drástica redução do consumo e a prática de exercícios compatíveis com nossa condição orgânica, supervisionados por um expert na matéria, como caminhadas leves, por exemplo. O coração dessa pessoa, certamente, irá agradecer.
Há os que, por um motivo ou outro, tentam superar esses limites, contrariando a mais elementar das lógicas e, quase sempre, se dão mal. Há casos em que não se dão? Há, mas são muito raros. Você toparia se arriscar? Eu não. Meu senso de prudência e meu instinto de auto preservação certamente me impediriam de correr esse risco, ademais tolo e desnecessário.
Supondo, porém, que conheçamos, sem margem nenhuma para engano, todos nossos limites, devemos nos conformar com a totalidade deles? No caso dos físicos, sim. No dos mentais, dos intelectuais, dos espirituais e dos de criatividade, todavia, não. Entendo que devamos tentar expandi-los, mesmo que a expansão pareça impossível. Não vejo risco algum, pelo menos não os além de uma certa decepção em caso de fracasso, que pode ser contornada ou pelo menos administrada e absorvida.
Esse assunto veio à baila, neste final de semana, num papo informal com amigos. Consultando meus apontamentos a respeito, encontrei uma crônica do escritor Paulo Mendes Campos, intitulada “De um caderno cinzento”, publicada em 17 de agosto de 1967 na coluna semanal que então assinava na Revista Manchete, Ele escreve em determinado trecho: “Todos os feitos atléticos, como todos os feitos do espírito, nascem da humilhação terrestre. Todo homem deve libertar-se, todo homem deve realizar um grande gesto, todo homem deve conhecer a profundidade e amargura de seu limite”.
Concordo com parte do exposto, mas faço algumas restrições a alguns pontos. É verdade que os feitos atléticos são frutos da tentativa de superação das limitações humanas. Prevalece o desafio que quem compete se dispõe a vencer, resumido pelo ideal olímpico dos três objetivos atléticos: “mais forte, mais rápido e mais alto”. Isso requer sacrifícios a que poucos estão dispostos a se submeter. Exige autodisciplina, técnica, determinação e, sobretudo, convivência permanente com a dor.
Boa parte se frustra e descobre que seu limite é muito aquém do que julgava. E mesmo os bem sucedidos, pagam preço altíssimo pelo sucesso, tendo que conviver, não raro, após o recorde estabelecido, com duras e irreversíveis seqüelas da ousadia dessa superação física. Pergunto? Vale a pena tanto sacrifício, Compensam tamanhos riscos por um prêmio tão pífio? Minha posição a propósito é polêmica e criticada por muita gente. Respeito as opiniões contrárias. Mas eu jamais me disporia a me sacrificar e me arriscar tanto por tão pouco.
Já no caso dos limites mentais, intelectuais, espirituais e de criatividade, caso fosse possível conhecê-los com exatidão (entendo que estes podem ser apenas supostos, mas jamais comprovados), eu moveria céus e terras (como, aliás, há anos venho tentando fazer) para expandi-los ao infinito, mesmo que a expansão pareça (e, quem sabe, seja) impossível. É questão de opção de vida.
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