Pedro J. Bondaczuk
A Colômbia protagoniza uma das guerras internas mais estranhas já vistas na história contemporânea. Seu governo, e por extensão sua população, combatem não contra grupos que desejem assumir o poder e implantar alguma ideologia diferente daquela vigente. Os inimigos da sociedade colombiana não têm em mente qualquer solução, diversa da que vem sendo aplicada, para os problemas econômicos, políticos e sociais nacionais e não se preocupam com o futuro do país. O que eles querem é conservar seu nefasto, porém lucrativo negócio, nem que para isso tenham que se voltar contra tudo e contra todos, como de fato vêm fazendo. Como bandidos que são, lançam mão de todos os recursos, principalmente os mais desonestos e perversos. Contratam mercenários internacionais de reconhecida competência para treinar seus pistoleiros, contrabandeiam sofisticadas armas no mercado negro, fazem pacto com organizações terroristas estrangeiras. Enfim, para os chefões da droga tudo é válido.
Para eles, as instituições não importam. Atacam o Exército, a polícia, a imprensa e todos os que se interponham em seu caminho. O jornal "El Espectador", por exemplo, ficou muito tempo sem publicar editoriais, temendo represálias dos criminosos. Inúmeros jornalistas tombaram no cumprimento do seu dever nessa guerra suja, desigual, travada contra um adversário de tamanha perversidade. Ontem, Carlos Pizarro, comandante do ex-grupo guerrilheiro, agora partido legalizado, Movimento 19 de Abril (M-19), tornou-se o quarto candidato presidencial, desde 1987, para as eleições de 27 de maio próximo, que vão apontar o sucessor do presidente Virgílio Barco, a ser assassinado. Um telefonema anônimo atribuiu o crime, ocorrido a bordo de um Boeing 727 da Avianca, ao Cartel de Medellin. Mesmo que não fosse essa poderosa quadrilha a responsável pela morte, as barbaridades que ela cometeu foram tamanhas que a suspeita da população imediatamente recairia sobre ela.
O governo da Colômbia vem usando todos os recursos ao seu dispor nessa guerra. Tem conseguido, é verdade, muitos êxitos, eliminando alguns dos "chefões", extraditando outros para os Estados Unidos (que é o que eles mais temem) e destruindo vários laboratórios de refino. Mas o saldo trágico de vítimas que tombaram nesse confronto, a maioria esmagadora constituída por pessoas inocentes atingidas casualmente pelos atentados, mostra que o que foi feito ainda é muito pouco, diante da dimensão da ameaça que paira sobre esse país. Tomara que a situação se reverta e os colombianos extirpem esse mal, não somente do seu território, mas de todo o continente, impedindo que a infecção corruptora contamine toda a América do Sul. Esse risco é muito mais concreto do que se possa supor.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 27 de abril de 1990)
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