Pedro J. Bondaczuk
O foco das nossas cogitações tem que ser sempre o momento presente. Sei que estou sendo repetitivo, reiterando, volta e meia, esse ponto. Não se trata, no entanto, de distração da minha parte e nem de falta de assunto. Ocorre que muitas pessoas se refugiam num passado em que entendem (ou em que de fato foram) felizes, achando que a felicidade ocorre apenas uma única vez na vida, ou, quando muito, uma meia dúzia de vezes e assim mesmo em lampejos. Discordo dessa postura. A experiência mostrou-me (e esta é a vantagem do muito viver) que as coisas não ocorrem bem assim.
Antes de tudo, devo reiterar que a felicidade não é nenhuma dádiva de alguém e nem uma “coisa”, ou seja, algo concreto, palpável ou pelo menos audível ou visível. É uma predisposição mental (e, sobretudo, emocional). E está, sim, ao nosso alcance e por “n” vezes.. Claro que não cairá prontinha do céu, sem que tenhamos que fazer coisa alguma para viabilizá-la. As coisas não funcionam assim. Embora muitos neguem e até citem situações em que, no seu entender, a felicidade se torna inviável, se não impossível, sempre pode ser alcançada e usufruída, dependendo, insisto, apenas de nós.
Os que não crêem nessa satisfação íntima, nessa alegria de viver, apontam mil e uma condições em que, no seu entender, é impossível a alguém ser feliz. Mencionam, por exemplo, doenças, agudas ou crônicas, passageiras ou permanentes. A dor, de fato, mesmo se tratando de sintoma, de alerta do organismo de que algo não funciona bem (sendo, portanto, mecanismo positivo e necessário) é angustiante e desesperadora. Quer dizer, então, que uma pessoa doente não pode ser feliz? Pode. Conheci muitas, com doenças terminais, e pior, que tinham consciência de estarem com os dias contados, que confessavam (e expressavam isso no semblante) uma alegria invejável. Assumiam atitude que era como um tapa moral na cara de muito patife choroso e bulhento que por causa de alguma dorzinha a toa ou, não raro, nem isso, ou seja, fazendo mera simulação para chamar a atenção, se desmancha em lamúrias.. Casos como este, é verdade, são raros. Mas existem. Pude testemunhar alguns.
Não perderei tempo analisando ou rebatendo argumentos de pessoas negativas, permanentemente mal humoradas e pessimistas,segundo os quais, no seu entender, a felicidade é impossível. Sua atitude sim fecha-lhe todas as portas. Elas estão condicionadas, por sua própria culpa, para a infelicidade. Alguma coisa em suas mentes faz com que não queiram (e nunca consegui entender essa opção) ser felizes. Por isso... não são.
Quando afirmo que o foco das nossas cogitações deva ser sempre o momento presente, não excluo (e nem poderia excluir) o cultivo de lembranças (as agradáveis, claro). E nem recomendo que não se planeje o futuro e nem se nutra esperanças de sucessos e alegrias. O que é uma tremenda tolice, e enorme perda de tempo, é “estacionar” no passado, ou num futuro que nem mesmo se sabe se existirá, em detrimento das oportunidades do agora. Muitas pessoas agem assim. E, sem que se dêem conta, também fecham as portas para a felicidade, que deveriam “construir” em cada momento vivido, em vez de cultuar “fantasmas”, ou seja, pessoas e acontecimentos que já se foram, sem possibilidade de retorno, ou concentrar toda a atenção e energia num amanhã que pode nem mesmo existir.
A sabedoria consiste em viver um dia de cada vez e da melhor maneira possível, de acordo com as condições que tivermos e as circunstâncias que se nos apresentarem. Se estas forem favoráveis, tanto melhor. O inteligente (e óbvio) neste caso é aproveitá-las ao máximo. E se negativas, o sensato é buscar alternativas para superá-las, sem temores e desespero. Não é saudável e nem prudente reviver angústias e frustrações que já superamos, que já ficaram para trás, que dificilmente voltarão a gerar conseqüências. Muitos, todavia, o fazem e depois se queixam que são infelizes. Pudera!
A memória é importante, não nego, mas somente como balizadora de atos, para impedir que venhamos a reincidir nos mesmos erros cometidos anos (ou dias) atrás. Mas não esperem de mim que lhes revele a “fórmula” da felicidade. Por que? Porque não existe nenhuma. Os problemas da vida não são como os dos livros de matemática. Não é esta a sua lógica, se é que existe alguma. Contudo uma coisa é certa: se você quer ser feliz (e quem não quer?), crie condições favoráveis para isso. Mantenha essa predisposição positiva pelo tempo máximo possível (de preferência, pela vida toda).
Sei que este tema é delicadíssimo e não espero concordância unânime em torno das idéias que expus. Muitos, certamente, irão discordar delas, fundamentando suas discordâncias em argumentos supostamente sólidos. E é bom que isso aconteça. Afinal, como declarou Nelson Rodrigues (com o que concordo), “toda unanimidade é burra”. Mas, cá para nós: existe reflexão mais oportuna, construtiva e útil, por mais polêmica que seja, do que a da busca da felicidade?
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