Pedro J. Bondaczuk
A crítica tanto pode ser atitude positiva de quem a faz, fator de correção de rumos do criticado, quanto se tratar de uma espécie de agressão, posto que verbal, tendente, por conseqüência, a gerar reação, imprevisível na forma e na intensidade. Antes de criticarmos algo, ou alguém (principalmente) temos que tomar certas cautelas. A principal é: quem (ou o que) pretendemos criticar é, de fato, merecedor desse reparo que nos dispomos a fazer? Sim, porque muitas vezes criticamos, por falta de entendimento da nossa parte, quem sequer merece a crítica que temos engatilhada na ponta da língua (ou, o que é pior, à espera somente de ser escrita na telinha do nosso computador).
Supondo que a resposta a essa primeira pergunta seja positiva, emerge longa série de questões a propósito. Por exemplo, nos dispomos, apenas, a apontar o erro de quem pretendemos criticar (na suposição, claro, que esse alguém esteja, mesmo, errado), o que não requer, convenhamos, qualquer ciência, ou apontar na sequência o que é correto? Temos certeza dessa correção? Com que autoridade pretendemos assumir essa atitude? A pessoa que estamos prestes a criticar é nosso parente? É, pelo menos algum amigo? Conhecemo-la, apenas, de nome, sem nenhuma outra referência a seu respeito? É figura pública, cujo círculo de relacionamentos não freqüentamos?
Claro que há muitas outras considerações a fazer. Aliás, uma infinidade delas. Temos que nos acautelar não apenas com “o que” criticamos (ou seja, com o conteúdo da crítica), mas também com a forma com que a manifestamos (o “como”) e com a sua oportunidade (o “quando”). Não quero, com isso, dizer (e nem sequer insinuar) que não devamos cultivar senso crítico e que o correto seja fazer vistas grossas aos erros e injustiças que testemunharmos, sem que nos manifestemos. Temos, sim, que criticar o criticável e, quando for o caso, tomar partido, sob pena de nos tornarmos omissos. Porquanto a omissão é um dos maiores “pecados”, o rigorosamente “mortal”, que podemos cometer.
Devemos criticar, sim, o criticável. Mas temos que fazê-lo com maturidade e, sobretudo, com responsabilidade. Temos que fugir da tentação da crítica raivosa que tenha o objetivo de diminuir, humilhar e até mesmo destruir o criticado. Nossa atitude, aliás, tem que ser diametralmente oposta a esta. Ou seja, a de melhorar, engrandecer, aperfeiçoar e ajudar a construir o que ou quem (principalmente) criticarmos. Tem que ser um ato de amor, jamais de rancor ou de ostentação. Como fazer isso? Cada um deve buscar em seu íntimo o caminho correto para isso.
Muitos relacionamentos foram arrasados por críticas inconseqüentes e, pior, frequentes, não raro, até diárias. Pais romperam (e rompem a todo o momento) relações com filhos (e vice-versa), por esta causa. Casamentos foram (e são) arrasados por esse motivo. Amizades promissoras e de longa duração foram (e são) desfeitas. Nunca sabemos como os reparos que viermos a fazer serão recebidos pelos que criticamos. Afinal, estamos lidando com seres humanos, iguaizinhos a nós, com escrúpulos, sensibilidade e sentimentos. Tenhamos isso sempre em mente., , . .
Da minha parte, gosto de receber uma boa crítica, quer às minhas ações, quer às idéias que partilho com um sem número de pessoas. Claro, desde que estas sejam pertinentes, respeitosas e que sinta serem construtivas. Prefiro-as, um milhão de vezes, ao silêncio e à indiferença, principalmente em relação ao que escrevo. Muitos não aceitam nem mesmo as desse tipo. A estes, óbvio, não faço nenhuma, até para não arranhar sua monumental vaidade. Caminham em direção do abismo e não querem ser salvos. Paciência.
Tempos atrás tratei desse tema em uma das tantas crônicas que rodam internet afora. Postei um extrato dela no Facebook, para reflexão dos que me dão a honra de me seguir naquela rede social. Reproduzo, abaixo, esse texto, que faço questão de partilhar com vocês:
“Somos, muitas vezes, críticos em demasia dos defeitos e comportamentos alheios, sem atentarmos para o fato de que, não raro, temos as mesmas deficiências que, tão enfaticamente, condenamos nos outros. Cobramos, por exemplo, mais solidariedade, todavia, é comum passarmos indiferentes diante de pessoas carentes, sem dar ouvidos aos seus apelos, agindo como se passássemos diante de algum objeto inanimado, de um poste, por exemplo. Reclamamos, de forma enfática, quando algum pedido nosso (muitas vezes absurdo e exagerado) deixa de ser atendido, mas ignoramos os que nos pedem as coisas mais corriqueiras e triviais, como um sorriso de simpatia. Levantamos o dedo acusador contra os ingratos, mas nos esquecemos de agradecer o tanto que fazem por nós, achando que se trata de obrigação alheia o ato de nos servir. O antropólogo italiano, Paulo Mantegazza, faz essa mesma constatação, mas desta forma original e até metafórica: ‘O homem, em geral, é surdo quando lhe pedem alguma coisa; é eloqüente, quando ele próprio a pede e é mudo quando deve agradecer’”. Pensem nisso.
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