Pedro J. Bondaczuk
O desarmamento nuclear – nenhuma pessoa sensata e inteligente pode negar – é, hoje, uma das maiores, senão a maior das aspirações da humanidade. Livrando-se desse terrível agente de destruição, a espécie humana tem esperanças de poder consertar as coisas erradas que há neste planeta, com o correr do tempo, com a sucessão de gerações, com os tropeços, fracassos e tragédias que, certamente, acabarão ensinando uma importante lição aos homens: a de que a violência não é, nunca foi e jamais será solução para conflitos de interesse.
As negociações que se desenvolvem na Europa, para a eliminação dos mísseis de médio e curto alcance desse continente, portanto, embora estejam longe de ser as ideais, são bastante desejáveis e gratificantes. Afinal, pela primeira vez na história das armas nucleares, os arsenais das superpotências podem ser esvaziados, embora numa quantidade muito aquém do que seria prudente.
No entanto, entre os inúmeros equívocos que os líderes mundiais estão cometendo sobre questão, há um que pode ser imperdoável. A Organização do Tratado do Atlântico Norte, a pretexto de que o Pacto de Varsóvia detém uma vasta superioridade em armamentos convencionais, decidiu investir muito nesse tipo de arma, doravante, decisão que foi “abençoada” e incentivada pelo presidente norte-americano Ronald Reagan.
A desculpara para isso é a de sempre. É a mesma usada, por exemplo, por vários faraós egípcios, há cinco mil anos. É idêntica à dos líderes militares babilônios. É igualzinha `de hititas, assírios, medo-persas, gregos, romanos e dos povos bárbaros: a segurança.
O homem apanhou em todos esses milênios. Civilizações maravilhosas desapareceram por causa de guerras estúpidas e sem sentido. Neste século XX da Era Cristã, os conflitos bélicos constituíram-se na maior tragédia dos povos, tendo ceifado, somadas, mais de cem milhões de preciosas vidas. E, mesmo assim, este ser que se diz inteligente ainda não aprendeu nada a esse propósito.
Jamais se soube que mediante a morte de desafetos (não importa a razão da inimizade), algum problema de longo prazo já tenha sido solucionado, em qualquer tempo ou lugar. Mas se continua a investir o grosso dos escassos recursos do Planeta na arte (ou artimanha?) da destruição, que é muito mais fácil de se fazer do que a construção de qualquer coisa, seja lá o que for.
Fala-se no aumento de armamentos convencionais como se eles fossem brinquedinhos inofensivos, como se representassem conquistas humanas e não servissem, somente, para matar, destruir, arrasar vilas, cidades, países e civilizações.
Os dois conflitos mundiais deste século (à exceção dos bombardeios de Hiroshima e de Nagasaki), foram travados com esse tipo de arma que, cinicamente, se quer dar a entender que não representem grandes perigos. E, no entanto, essas guerras deixaram, atrás delas, uma quantidade estimada em 36 milhões de cadáveres! Isso sem contar a horda de mutilados, abandonada à própria sorte, assim que esse jogo macabro terminou.
Nesta semana, falando em Nairobi, no Quênia, sobre os problemas da infância, um funcionário da Organização das Nações Unidas revelou um dado estarrecedor. Disse que estudos demonstram que apenas nos conflitos ocorridos nos 42 anos que nos separam da Segunda Guerra Mundial, 15 milhões de crianças foram mortas em decorrência da violência política.
Esses menores tinham idades que variavam de 7 a 14 anos. Jogou-se fora, portanto, um fabuloso potencial humano, impossível de dimensionar com exatidão. E todas essas mortes ocorreram em guerras travadas com armas ditas “convencionais”.
Será que há gente achando que praticou algum magnífico ato de heroísmo exterminando tantos meninos e meninas, que sequer tinham ainda consciência do papel que deveriam desempenhar no mundo? É bem possível!
Caso contrário, não se defenderia, nos meios de comunicação, esse acelerado rearmamento dos países, mesmo que os arsenais sejam, todos, de armas convencionais. As bombas de gás paralisante, por exemplo, não são, obviamente, nucleares. E não deixam de ser hediondas. Os ácidos, o agente laranja e o napalm também não são. Nem por isso são menos perigosos ou menos condenáveis. Os supervírus de peste bubônica e da Aids, entre outros, que integram arsenais de guerra bacteriológica, igualmente não são de caráter nuclear. São, pois, considerados armamentos convencionais! Que raio de segurança é essa que mina o próprio solo onde cada ser humano pisa?!!!
(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 6 de junho de 1987).
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