Friday, November 23, 2012

Eleito pela minoria

Pedro J. Bondaczuk

A Coréia do Sul, após as eleições presidenciais da semana passada, retornou àquele estado de rancor latente que havia, antes da votação, entre os opositores do atual regime, após a vitória do candidato governista à Presidência da República, Roh Tae-Woo.

De todas as localidades sul-coreanas, Kwangju parece ter sido a que mais sentiu o revés representado pelo sucesso desse general de quatro estrelas que, durante a campanha eleitoral, procurou usar um tom conciliador, quase tão oposicionista quanto o de qualquer membro da oposição ao presidente Choo-Doo Hwan.

Em primeiro lugar, porque o representante dessa localidade, Kim Dae-Jung, ficou em terceiro em número de votos. Em segundo (e principal) porque o ganhador das eleições foi exatamente aquele que é tido e havido como o principal responsável pelo massacre que vitimou 580 jovens nos distúrbios que lá se verificaram entre 17 e 20 de maio de 1980, em manifestações contra a manutenção da lei marcial no país.

O fato dos que se opõem ao regime terem participado do processo eleitoral divididos trouxe prejuízos tanto a Roh Tae-Woo quanto aos dois principais representantes dos partidos que se opõem à ditadura, embora, em princípio, não pareça ser assim.

As acusações de que a vitória do candidato governista foi fraudulenta se sucedem. Vários setores da sociedade sul-coreana têm vindo a público, nos últimos dias, para manifestar essa opinião, se não ostensiva, pelo menos veladamente.

Mas, suponhamos que a causa do sucesso do general Woo não tenha sido exatamente essa; Que ele tenha, de fato, convencido a maioria dos eleitores que estava sendo sincero ao pregar a reconciliação nacional. Conhecendo, como se conhecem, os seus antecedentes, quem irá acreditar que sua vitória foi limpa? Ainda mais quando se sabe que a diferença de votos que o separou do candidato de oposição melhor colocado, Kim Young-Sam, foi de apenas 3,5%? E, principalmente, quando os partidos oposicionistas reunidos obtiveram 23% a mais de votos do que ele?

Os políticos contrários ao atual regime sul-coreano falharam, e muito. Mostraram-se inaptos no jogo político das alianças. Não apenas partiram desunidos para as eleições, mas, principalmente, erraram num ponto que nos parece tendente a trazer piores conseqüências para o país mais tarde.

Equivocaram-se ao aprovar a nova Constituição não prevendo eleições presidenciais em dois turnos. Se houvesse essa prática, o vencedor saberia que de fato venceu. Teria a certeza de contar com o respaldo da maioria da população.

Mas da forma como aconteceu a vitória de Roh, o general tem somente uma única certeza: a de que, embora tenha (ou possa ter) convencido a maioria a votar nele, tem contra si pelo menos 69% (ou seja, mais de dois terços do país) de eleitores que votaram em outros candidatos.

Algum duvida, portanto, que nessas circunstâncias os distúrbios que vêm agitando a Coréia do Sul nos últimos tempos vão continuar? É até mera questão de lógica prever a sua seqüência, concordam?!

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 22 de dezembro de 1987).

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