Pedro J. Bondaczuk
Os efeitos da visita do líder soviético, Mikhail Gorbachev, a Cuba, certamente não serão visíveis (ou perceptíveis) de imediato. Até por uma questão de orgulho nacional dos cubanos. O dirigente do Cremlin fez algumas concessões econômicas, entre as quais o perdão de uma dívida externa de US$ 10 bilhões. Não se concebe que em troca dela não venha a levar nada.
A observação, feita anteontem, pelo porta-voz da Chancelaria da URSS, Gennady Gerasimov, de que Moscou não é favorável à “exportação” de revoluções, repetida ontem pelo presidente, no Parlamento, foi um recado sutil, mas direto, a Fidel Castro. E a manifestação de que deseja ver resolvido o conflito centro-americano por meios pacíficos foi o corolário dessa mensagem.
Secundando a mudança da estratégia exterior soviética, que passa a adotar a tática da negociação, em lugar do confronto, para as várias zonas conflitivas, está a elaboração da nova política externa norte-americana, que ainda vem sendo esboçada pelo secretário de Estado dos Estados Unidos, James Baker, e que provavelmente será anunciada, pelo presidente George Bush, quando da reunião de cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte, que vai ocorrer em fins do próximo mês, em Bruxelas.
Mas as primeiras indicações dão conta de que ela difere muito da seguida pelo governo de Ronald Reagan, principalmente com relação à América Central. O próprio anúncio dos “contras” nicaragüenses, de que cessaram as hostilidades até as eleições presidenciais na Nicarágua, em 24 de fevereiro de 1990, é um sintoma de que a moderação vai imperar. De que o enfoque será muito mais o do diálogo do que o militar.
A despeito dos desmentidos dos dois interlocutores, Fidel não deve ter ficado sem levar o seu “puxão de orelhas” de Gorbachev. É verdade que dificilmente ele irá aderir à “Perestroika” soviética. Mas terá que agir com muito mais realismo na economia, já que Moscou manifestou, pelo menos nas entrelinhas, que não está disposta a continuar gastando muito por nada.
Os soviéticos querem receber maior quantidade de produtos cubanos, embora esse país não tenha muito a oferecer, a não ser as três mercadorias tradicionais de sempre: açúcar, tabaco e rum. No entanto, quem espera que assim que Gorbachev vire as costas, Cuba inicie um processo liberalizante, terá uma enorme decepção.
O que pode ocorrer é um abrandamento no tom de Fidel em relação aos Estados Unidos. Será um avanço aqui, outro ali, seguido de algum eventual retrocesso. Mas tudo “homeopaticamente”, a longo prazo. A menos que ocorra o impossível e o ditador cubano seja deposto, o que, convenhamos, nas atuais circunstâncias, é algo até mesmo impensável.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 5 de abril de 1989).
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