Pedro J. Bondaczuk
O homem deste fim de milênio, condicionado a medir os semelhantes pelo que eles “têm” e não pelo que “são”, tem propiciado situações de extrema injustiça, permanecendo apático em relação aos problemas alheios. Palavras como “democracia”, “liberdade”, “esperança” e “amor” foram difundidas, prostituídas e desgastadas a tal ponto, que o seu significado de hoje já é, virtualmente, o oposto do verdadeiro.
Veja o leitor o que ocorreu com o heróico movimento estudantil chinês. Quando do auge das manifestações na Praça da Paz Celestial, em Pequim, com a participação, em determinados momentos, de até dois milhões de pessoas, entre universitários, operários, camponeses e intelectuais, esses atos públicos mereciam manchetes e editoriais de toda a sorte nos meios de comunicação mundiais.
O brutal massacre, protagonizado pelas tropas do 27º Exército, onde alguns milhares de iludidos cidadãos foram trucidados, sem quaisquer possibilidades de defesa, despertou alarido mundial. Protestos choveram de todas as partes, contra o truculento primeiro-ministro chinês Li Peng e sua quadrilha de linha-dura.
No entanto, os dois governos que realmente decidem alguma coisa no mundo, cuja opinião, de fato, pesa em qualquer lugar, os dos Estados Unidos e da União Soviética, optaram por ficar em cima do muro. O primeiro, para não perder um tentador mercado para os seus produtos e um magnífico contrapeso em sua estratégia de defesa. O segundo, por temor de comprometer um instável namoro com Pequim, oficializado quando da visita do presidente Mikhail Gorbachev à China.
Nesta altura, porém, em que situação ficaram os integrantes dos movimentos pró-democracia? Acabaram, virtualmente, (para não dizer literalmente) abandonados (e, portanto, traídos) por toda a comunidade internacional. Alguns partiram para o exílio, sem a mínima possibilidade de retorno. Mas foram poucos.
Centenas acabaram em campos de concentração. Estes, todavia, ainda tiveram sorte. Diversos manifestantes foram julgados, condenados à morte e executados incontinenti, sem a mais remota oportunidade de defesa, de recurso ou de apelação, em um ato que não passou de uma extensão do massacre da Praça da Paz Celestial.
Aos poucos, porém, a opinião pública mundial foi engolindo tamanha truculência das autoridades marxistas chinesas. As notícias sobre prisões e execuções foram deixando as manchetes, caindo para o pé de página dos jornais e desaparecendo, como se fossem “informações velhas”, coisas do passado. Como se não passassem de algo descartável, prêt-à-porter, tipo “use e jogue fora”.
E os milhares de jovens idealistas, que acreditaram que poderiam contar com o apoio sincero e destemido da comunidade internacional, estão tendo que aprender agora, da maneira mais dura possível, a lição de que, no mundo de hoje, as transações comerciais são as únicas coisas que contam. Aprendem, entre outras tantas “verdades”, que a liberdade e a democracia são palavras para serem usadas meramente em discursos de políticos hipócritas e não para serem defendidas com o risco de morrer..
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 28 de julho de 1989)
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