Thursday, July 07, 2011







Não fechar os olhos

Pedro J. Bondaczuk

O jornalista, via de regra, se dá bem quando assume o papel do escritor. E, é mister dizer, a recíproca é verdadeira. Claro que há condições para quem atua em ambas as atividades, para terem sucesso tanto no mundo das letras, quanto no das notícias. Tanto as linguagens, quanto os objetivos, são diferentes.
O jornalista lida com a realidade, nua e crua e cabe-lhe descrevê-la da forma mais fiel possível, sem acrescentar nem um tiquinho de imaginação. Já o escritor (e aqui refiro-me ao de ficção, romancista, contista etc.) também lida com histórias reais, mas não, necessariamente. “acontecidas”. Quase sempre, elas são inventadas. Por que? Porque dele se exige não a veracidade, mas verossimilhança.
Convém observar que nem todo jornalista se torna bom escritor, e vice-versa. Não é uma coisa automática. Depende do talento de cada um. Há repórteres e editores que são excelentes em seu metier. Contudo, quando se propõem a escrever algum texto literário... se enrolam todos. Nem por isso, todavia, deixam de ser bons profissionais.
Com o escritor acontece a mesma coisa. Há os que criam com imensa facilidade enredos sensacionais, extraídos de sua imaginação, que têm toda a aparência de realidade, mas não tratam de “fatos” e sim de possibilidades. Quando se metem em trabalhos jornalísticos cometem a suprema “heresia” de querer pôr o que não aconteceu em suas reportagens. Assim não dá! Não têm, portanto, vocação para o jornalismo. Ou, pelo menos, não conhecem, ou se conhecem não praticam os princípios e técnicas que norteiam a atividade jornalística.
Esse preâmbulo, um tanto extenso, vem a propósito de um romance, excelente por qualquer aspecto que se o avalie, intitulado “Se eu fechar meus olhos agora”, de autoria de um escritor neófito que todo o mundo conhece, por sua profissão de jornalista. Refiro-me a Edney Silvestre. Como bem-sucedido repórter, tem anos de janela, embora boa parte da sua atuação tenha se dado no Exterior, como correspondente internacional.
Para quem ainda não se ligou de quem se trata, informo que, em 2010, criou, e apresentou, ao lado de Marcelo Canellas e Neide Duarte, o programa “Brasileiros”, da Rede Globo. Ah, agora vocês se ligaram. É ele mesmo! Edney Silvestre foi correspondente internacional por mais de uma década.
Primeiro, exerceu essa função a serviço do jornal “O Globo”. Mas adquiriu visibilidade nacional como “o olho, a voz e o ouvido” da Rede Globo em Nova York. Entre seus trabalhos mais brilhantes (embora todos que fez foram corretos e competentes), está a cobertura do 11 de setembro de 2001. Afinal, acompanhado do repórter cinematográfico Orlando Moreira, foi o primeiro repórter brasileiro a chegar ao local das torres gêmeas do World Trade Center, destruídas por dois aviões a serviço da Al Qaeda. E que cobertura ele fez!
“Tudo bem”, dirá o leitor mais chato, “como repórter, a competência de Edney Silvestre é inquestionável, mas, e como escritor, merece o preâmbulo laudatório feito pelo Editor”? Merece e mais do que isso. Merece que seu romance de estréia seja avaliado por alguém mais competente e moderado do que eu. Mas já que estou com as mãos na massa...
Não estou querendo ser modesto (o que nunca fui) e nem exagerando nos méritos literários de Edney Silvestre. Eles são enormes. Basta informar que seu livro de estréia em ficção conquistou, de cara, dois grandes prêmios nacionais, que muito veterano cobiça, cobiça e cobiça e nunca conseguiu ganhar. O primeiro, foi o Jabuti, como o melhor romance de 2010. O segundo, de idêntica extirpe, foi o “Prêmio São Paulo de Literatura”, na Categoria Estreante.
Seguindo uma linha de conduta que adotei há anos quando trato de livros, não me proponho a fazer (e não farei) nenhuma sinopse. Quem quiser conhecer o enredo, já sabe o que deve fazer: passe na livraria mais próxima e adquira seu exemplar. Certamente a Editora Record e, principalmente o autor, vão agradecer penhoradamente.
Só posso adiantar que “Se eu fechar meus olhos”, classificado por alguns críticos como romance policial, não é bem isso, ou não somente isso. Tem, de fato, um assassinato. Tem um suspeito, que até confessa o crime, mas as coisas param por aí. Os “detetives” (já que são três os que se propõem a descobrir o autor da morte de uma mulher), são duas crianças de 12 anos e um velho, mantido em um asilo. Os meninos até ouviram a confissão do marido da vítima, assumindo a autoria da morte. Por uma espécie de sexto sentido, que prefiro chamar de intuição, eles não acreditam que o desesperado homem seja o criminoso. Sabendo que ninguém iria crer nas descobertas feitas por duas crianças, recorrem aos préstimos do ancião.
E mais não direi a propósito do livro, nem sob tortura. Deixe de comodismo e compre seu exemplar já! Só posso assegurar que, se você gosta mesmo de literatura e entende um pouquinho que seja do “riscado”, vai se deliciar com esse romance. Posso até jurar, com a mão direita sobre a Bíblia, que isso irá acontecer.




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