Sunday, July 10, 2011







Mero bate-papo

Pedro J. Bondaczuk

Hoje venho até você para um mero baste-papo informal, sem nenhum assunto específico e nada de especial a tratar. Pena que se trate de monólogo e apenas eu faça uso da palavra. Pode, claro, se transformar em diálogo, se você quiser. Basta concordar com minhas colocações ou discordar delas no democrático espaço dos comentários deste espaço da internet. Se preferir, porém, se limitar a ler minhas divagações, esteja à vontade.
Puxe a cadeira. Chegue mais perto do computador. Pois é, como uma conversa puxa outra e a gente pula, sem perceber, de um assunto para outro, talvez trate de algumas coisas úteis que sequer estavam programadas. Mas talvez apenas...
Há já um bom par de anos, tenho o privilégio de ser o editor de um espaço voltado exclusivamente à Literatura e que, por isso, tem o nome lógico (e óbvio) de Literário. No exercício dessa função, de grande responsabilidade, tive mais satisfações do que aborrecimentos. Caramba, é um baita privilégio ler tantos bons textos, vindos do Brasil inteiro, e isso todos os dias do ano. Quantos têm essa oportunidade? Pouquíssimos!
O que mais me aborrece, ao contrário do que possa parecer diante de minhas intempestivas manifestações a respeito, não é a ausência, ou a escassez, de comentários nesse espaço, ou seja, de interatividade. Isso me chateia, evidentemente, mas dou essas broncas costumeiras e periódicas para provocar os leitores (no caso, vocês). Afinal, meu papel, além de editor, é também o de “animador” da festa de bom-gosto e de talento. Por isso crio esse “tipo” de mal-humorado e ranzinza, como era um jurado muito antigo do programa do Sílvio Santos que fez fama com seu azedume, o Zé Fernandes.
O que me aborrece muito é quando contestam a minha função. Explico. Há inúmeros casos de textos que recebo em que estes contêm um baita conteúdo, digno dos grandes escritores. Mas... (sempre há um mas), a redação é um deus-nos-acuda! É confusa, cheia de exclamações em lugares errados, de acentuações equivocadas e de fartura de reticências, todas inapropriadas. Isso quando não têm incorreções de grafia.
O que tenho feito nestes casos? Poderia, simplesmente, ignorar esses textos e pronto. Mas não faço isso. Praticamente reescrevo o que está mal-posto, desde que tenha conteúdo, dando-lhe coerência, entendimento e suprimindo toda a ambigüidade, até para ressaltar o que cada um contém de positivo e aproveitável.
E qual é a reação dos autores? A pior possível. Escrevem-me reclamando da interferência e alguns até ameaçam-me de processo judicial (coitados dos juízes que já têm tanto trabalho e ainda têm que agüentar essas abobrinhas de imbecis tão chatos!).
Porém, como eles acham que seriam tratados pelos editores de jornais caso encaminhassem seus textos mambembes para publicação?
Garanto e juro sobre a Bíblia (pois sou editor de jornal há quase meio século) que as providências seriam uma dessas duas: ou decidiriam não publicar a tal colaboração, sem dar a mínima explicação a quem quer que seja (como a imensa maioria faz), ou procederiam (com generosidade) como costumo proceder: ou seja, fariam um bom copydesk no texto e o publicariam (raríssimos, contudo, agiriam assim).
O engraçado é que esses textos “mexidos” são, via de regra, os mais elogiados pelos leitores. O fato deles haverem sido revisados, não tira o mérito dos seus autores. A “essência” é sempre conservada. Em qualquer editora séria esse procedimento é rotina. A reação intempestiva e idiota, portanto, dos que são beneficiados com o meu trabalho, é o que mais me aborrece.
Há casos, também, em que ocorre o oposto. Em que os textos que recebo são extremamente bem escritos, verdadeiras aulas de correção gramatical, de uso adequado de pronomes, verbos, advérbios, de metáforas, enfim, de esbanjamento de estilo. Todavia, quando “coados”, ou seja, submetidos à menor análise lógica, revelam-se absolutamente vazios, sem nenhum conteúdo. São do tipo “bonitinhos, mas ordinários”. O que faço nesses casos? Publico-os na íntegra. Afinal, eles se constituem em excelentes exemplos formais de redação. Ademais, não posso querer que todo o mundo que escreve seja um Henry David Thoreau, ou um Ralph Waldo Emerson, ou um Francis Bacon ou qualquer outro desses geniais pensadores que nos legaram obras marcantes de profundidade, transcendência e sabedoria.
No mais... Apesar do tempo que cada edição do Literário me toma, divirto-me com essa atividade. Curto demais o que faço. Aprendo coisas que faculdade alguma jamais me ensinaria. E, deixando a modéstia de lado, também ensino muito aos que se dão ao trabalho de lerem os meus textos sem nenhuma predisposição, atentando principalmente (ou somente) para o conteúdo.

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

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