Eleição é um avanço
Pedro J. Bondaczuk
O eleitorado hondurenho, como em tantas outras oportunidades no correr da sua turbulenta história, mais uma vez viu frustrado o seu veredito político com as eleições presidenciais de domingo passado. Como sempre acontece em regimes que são democráticos apenas na fachada, um casuísmo de última hora modificou o resultado da vontade popular.
Quem teve mais votos, e portanto empolgou o eleitorado, acabou perdendo o pleito. É que, na última hora, o governo hondurenho fez aprovar uma lei que considera vencedor das eleições presidenciais o candidato mais votado do partido que teve mais sufrágios. Complicado, não é mesmo? Mas em Honduras foi implantado, trocando em miúdos, o nosso velho conhecido voto de legenda.
Como o partido do governo participou das eleições com quatro sublegendas e, portanto, com quatro candidatos, conseguiu fazer o sucessor de Roberto Suazo Córdoba, embora José Azcoña Hoyo tenha ficado mais de duzentos mil sufrágios atrás de Rafael Leonardo Callejas, do Partido Nacional.
Ainda se houvesse a chance dos dois turnos, essa mudança das regras seria legítima, embora contestável. Mas considerar ganhador alguém que ficou tão atrás de seu adversário, é não dar a mínima importância ao eleitorado. O novo governo assim constituído não contará com grande respaldo popular e esse é o caminho mais curto para atrair golpes de Estado, principalmente em se tratando de Honduras, país onde nos últimos 52 anos, nenhum presidente eleito conseguiu transmitir o cargo a outro escolhido pelo mesmo processo.
Apesar do Partido Liberal, governista, ter sido o vencedor (e graças a esse casuísmo de última hora) o atual governante, Zuazo Córdoba, pode se considerar derrotado. Afinal, Azcoña Hoyo não era seu candidato. Ao contrário, após ser desligado do ministério, rompeu com ele e fez uma campanha de cunho até mais oposicionista do que Callejas.
Entre outras coisas, prometeu dar cabo da corrupção no país, numa clara referência ao presidente em fim de mandato. E ele pode falar melhor do que ninguém a esse respeito, já que foi membro do governo.
Com todos esses processos casuísticos, típicos de países terceiromundistas, ainda assim as eleições hondurenhas representaram um avanço, pelo simples fato de terem sido realizadas. Se Azcoña Hoyo vai assumir ou não em 27 de janeiro de 1986 é outro assunto.
Não é nada difícil os militares vislumbrarem algum perigo esquerdista ou qualquer coisa deste gênero e tomarem de novo o poder, como vêm fazendo com irritante regularidade, desde que Honduras se tornou independente. Todavia, é grande a esperança de que desta vez a rotina seja mudada e o bom senso prevaleça.
Pode até acontecer uma transmissão pacífica de governo para surpresa dos pessimistas, que é o que todos os democratas desejam. Até para servir de exemplo para esse pequeno, paupérrimo e conturbado continente, que é a América Central. Afinal, a democracia é o único antídoto eficaz contra o esquerdismo que começa a fincar raízes naquela região.
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 29 de novembro de 1985).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
O eleitorado hondurenho, como em tantas outras oportunidades no correr da sua turbulenta história, mais uma vez viu frustrado o seu veredito político com as eleições presidenciais de domingo passado. Como sempre acontece em regimes que são democráticos apenas na fachada, um casuísmo de última hora modificou o resultado da vontade popular.
Quem teve mais votos, e portanto empolgou o eleitorado, acabou perdendo o pleito. É que, na última hora, o governo hondurenho fez aprovar uma lei que considera vencedor das eleições presidenciais o candidato mais votado do partido que teve mais sufrágios. Complicado, não é mesmo? Mas em Honduras foi implantado, trocando em miúdos, o nosso velho conhecido voto de legenda.
Como o partido do governo participou das eleições com quatro sublegendas e, portanto, com quatro candidatos, conseguiu fazer o sucessor de Roberto Suazo Córdoba, embora José Azcoña Hoyo tenha ficado mais de duzentos mil sufrágios atrás de Rafael Leonardo Callejas, do Partido Nacional.
Ainda se houvesse a chance dos dois turnos, essa mudança das regras seria legítima, embora contestável. Mas considerar ganhador alguém que ficou tão atrás de seu adversário, é não dar a mínima importância ao eleitorado. O novo governo assim constituído não contará com grande respaldo popular e esse é o caminho mais curto para atrair golpes de Estado, principalmente em se tratando de Honduras, país onde nos últimos 52 anos, nenhum presidente eleito conseguiu transmitir o cargo a outro escolhido pelo mesmo processo.
Apesar do Partido Liberal, governista, ter sido o vencedor (e graças a esse casuísmo de última hora) o atual governante, Zuazo Córdoba, pode se considerar derrotado. Afinal, Azcoña Hoyo não era seu candidato. Ao contrário, após ser desligado do ministério, rompeu com ele e fez uma campanha de cunho até mais oposicionista do que Callejas.
Entre outras coisas, prometeu dar cabo da corrupção no país, numa clara referência ao presidente em fim de mandato. E ele pode falar melhor do que ninguém a esse respeito, já que foi membro do governo.
Com todos esses processos casuísticos, típicos de países terceiromundistas, ainda assim as eleições hondurenhas representaram um avanço, pelo simples fato de terem sido realizadas. Se Azcoña Hoyo vai assumir ou não em 27 de janeiro de 1986 é outro assunto.
Não é nada difícil os militares vislumbrarem algum perigo esquerdista ou qualquer coisa deste gênero e tomarem de novo o poder, como vêm fazendo com irritante regularidade, desde que Honduras se tornou independente. Todavia, é grande a esperança de que desta vez a rotina seja mudada e o bom senso prevaleça.
Pode até acontecer uma transmissão pacífica de governo para surpresa dos pessimistas, que é o que todos os democratas desejam. Até para servir de exemplo para esse pequeno, paupérrimo e conturbado continente, que é a América Central. Afinal, a democracia é o único antídoto eficaz contra o esquerdismo que começa a fincar raízes naquela região.
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 29 de novembro de 1985).
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