Sunday, July 31, 2011










A situação de abandono a que são relegados os meninos e meninas brasileiros, em sua grande maioria, embora conhecida sobejamente, através de estatísticas, levantamentos, artigos, denúncias e reportagens, merece ser ressaltada, até que se tome alguma providência prática para, se não eliminar essa distorção, pelo menos minorar o problema. Em nenhuma outra faixa etária as discrepâncias entre o Brasil rico e o miserável ressaltam mais do que nesta. Até porque, embora tenha envelhecido nos últimos anos, este ainda é um país essencialmente jovem. O ideal é que o assunto seja tratado com a seriedade que merece, sem pieguices, mas também sem maquiagens. Sem demagogias e sem exageros. Com realismo, com espírito crítico, com sugestões para a solução desse problema que é uma vergonha nacional. E que as coisas não se limitem a debates, mas se reflitam em ações que sejam, realmente, eficazes.

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Colocando o valor à mostra


Pedro J. Bondaczuk


A temporada, agora, é das grandes feiras e exposições, que deve culminar, de 31 de agosto próximo a 2 de setembro, com a Expomicro’88, no Palácio das Convenções do Anhembi, que vai se constituir num dos maiores eventos sobre informática de todo o mundo, trazendo grandes feras do círculo empresarial internacional para um contato mais direto com o empresário brasileiro.

Tais promoções, além do seu lógico e natural cunho comercial, têm outro mérito. O de propiciar uma saudável troca de experiências e permitir que o público e a grande imprensa vejam o que se produz entre nós nesse seleto e restrito campo industrial.

Não há como negar que, a despeito de equívocos e tropeções, o Brasil evoluiu muito neste setor. Há os que juram que a evolução seria maior sem a reserva de mercado, o que, no mínimo, é contestável. Outros entendem que esse mecanismo (embora reconhecendo que ele não é um primor de perfeição) satisfez o seu principal objetivo.

Estes acham que, sem ele, continuaríamos totalmente à margem desse processo industrial do futuro, dessa tecnologia de ponta, como meros importadores de máquinas e de programas, já que as empresas nacionais não conseguiriam suportar a avalanche da concorrência externa e fatalmente sucumbiriam.

É confortador ver que companhias que surgiram virtualmente do nada, na base da pura “raça” (como costumamos dizer daqueles que vencem exclusivamente em decorrência do seu empenho e dedicação) vão aos poucos se fortalecendo.

Muitas que eram micros, se tornaram pequenas. E as que ocupavam antes essa posição, viraram médias. E algumas já estão, até, ensaiando para entrar no seleto rol das grandes. Essa série de exposições que está acontecendo é uma mostra do poder empreendedor do empresário brasileiro.

Agora, está chegando o momento da saudável concorrência, da “seleção da espécie” no mundo comercial, onde o mais capaz, o mais organizado e o mais criativo, vai, não somente sobreviver, como prosperar bastante. E o que não tiver essas características, ou terá que desenvolver esse “punch”, ou se verá forçado a ceder lugar a quem tenha competência.

(Artigo meu, publicado sob pseudônimo de Alex Bentley, na página 11, Editoria de Informática do Correio Popular, em 19 de agosto de 1988).

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Vitória pela obediência

Pedro J. Bondaczuk

O homem, em seu íntimo, julga-se acima da natureza. Entende que, algum dia, de alguma forma, conseguirá domá-la e colocá-la docilmente a seu serviço. Engana-se, claro. Na verdade, não está acima de nada. Faz parte de um contexto de vida, junto com bilhões de espécies vivas e uma quantidade que ninguém é capaz de quantificar, sequer aproximadamente, de outros tantos que, por uma razão ou outra, se extinguiram e nem deixaram vestígios.
O homem não está acima da natureza (embora julgue que sim). É parte dela, com apenas uma diferença em relação a tantos e tantos outros animais e vegetais: tem consciência. “Entende”, mesmo que não integralmente, o que é, onde está e onde pode chegar. A isso denomina-se de “i8nteligência”, ou seja, a capacidade de entender. É certo que não abarca integralmente a realidade que o cerca, mesmo achando que sim. Não conhece, exatamente, seu papel nessa imensidão de mundos, que é o universo, se é que existe algum.
Todavia, o que não conhece, o homem fantasia. Cria teorias e mais teorias, notadamente a propósito do seu destino individual e, por extensão, o da espécie. Não se conforma com sua transitoriedade e acredita numa “outra vida”, além da vida, incorpórea e imaterial. Consegue demonstrar isso? Claro que não! Alguém já retornou do “mundo dos mortos” para comprovar que ele existe? Pode demonstrar, de forma inquestionável, que o destino humano é mesmo este? Não, não e não. Apenas “acredita” nisso, sem a mínima base factual. Mas muitos põem isso como dogma, que deve ser aceito sem contestação por multidões, como se fosse o suprassumo da verdade.
Por se julgar acima da natureza, o homem não dá a menor importância aos atos de agressão à biosfera que lhe garante a sobrevivência que pratica, achando que no momento certo encontrará solução para deter sua inexorável reação. Age, por exemplo, como se os recursos do único planeta conhecido capaz de abrigar vida fossem inesgotáveis. Não são. Confia cegamente na capacidade de regeneração das florestas que arrasa, dos rios que polui, do ar, que enfumaça e assim por diante.
É até possível (posto que não provável) que a natureza tenha lá seus mecanismos regeneradores. Todavia, mesmo se tiver, essa regeneração demanda tempo, muito tempo, coisa de bilhões de anos. Enquanto isso... A espécie se vê crescentemente ameaçada de extinção. Coloca, contudo, tal ameaça, mesmo que palpável, em dúvida. O homem “acha” que em algum momento conseguirá domar a natureza e colocá-la a seu serviço. Não conseguirá.
E o efeito estufa já é uma realidade. A temperatura global do Planeta vem subindo, subindo, subindo rápida e dramaticamente, de forma acelerada, em especial nas últimas três décadas, quando aumentou em mais de um grau centígrado. Prevê-se que até 2050 suba de dois a seis graus, elevando o nível dos oceanos entre meio metro e um metro e meio.
Geleiras que levaram milhões de anos para se formar e consolidar, começam a derreter aceleradamente, e nos dois pólos. E os líderes políticos mundiais o que fazem? Esbanjam retórica, fazem uma concessão aqui, outra ali, como se estivessem fazendo um favor aos outros, usando como pretexto para não agir a necessidade de manutenção de um desenvolvimento econômico constante. Não se dão conta de que, eles e seus respectivos povos, estão no mesmíssimo barco que todos. E que este está soçobrando.
Ainda há tempo para a detenção do processo? Certeza, certeza mesmo, a esse respeito, ninguém tem. Os otimistas entendem que sim, desde que se aja imediatamente. Os pessimistas (ou seriam realistas?), acham que não, que já é tarde, muito tarde para evitar a catástrofe, de conseqüências imprevisíveis, que tende a conduzir a espécie ao pior: provavelmente à extinção.
A explosão demográfica é uma realidade e em vez de diminuir, se acelera. Há já alguns séculos fala-se dela, mas nenhuma ação efetiva para controlá-la e pelo menos equilibrá-la foi feita. A população mundial levou vários milênios paras atingir o primeiro bilhão. Daí para o segundo, bastaram meras três décadas (ou pouco mais). Hoje já nos aproximamos dos sete bilhões. E a cada minuto nascem mais, e mais, e mais pessoas, qualquer coisa em torno de cinco dezenas de milhar, mesmo as evidências mostrando que essas novas gerações podem não ter futuro. Ou, se tiverem, será pavoroso, perigoso, incerto e catastrófico.
Não é preciso ser nenhum gênio para concluir, por exemplo, que um dia não haverá como prover contingentes tão grandes, absurdamente elevados de pessoas, de alimentos para sua sobrevivência. É mera questão aritmética. Isso pode ocorrer já neste ano (se houver safras desastrosas em decorrência de secas, enchentes, pragas etc) ou em uma década, em cinqüenta anos, ou em cem anos, não importa. Mas um dia vai acontecer. É questão de lógica. Mais gente, requer mais recursos, alguns dos quais já próximos da exaustão. Populações maiores implicam em mais poluição, quer dos solos, quer das águas. E mais, resultam em maior produção de lixo, mais dejetos orgânicos, mais intensa depredação etc.etc.etc.
O filósofo inglês do século XVII, Francis Bacon, declarou, em um de seus tantos escritos, algo que, de tão óbvio, chega a ser redundante. E, no entanto, face à alienação humana, parece idéia revolucionária (e para os super-alienados, oportunista), embora se trate da mais cristalina lógica. Escreveu: “Só se pode vencer a natureza obedecendo-a”. O homem, contudo, tenta o impossível. Arrogante como é, crê que a domará e a colocará a seu serviço. Julga-se acima da natureza, embora seja somente uma parte (e ínfima) dela. Com isso, até aqui, ninguém deteve, ou sequer retardou, a contagem regressiva para a catástrofe. Alguém deterá?

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Saturday, July 30, 2011










Se há um tipo de estabelecimento que não traz vantagem alguma para as cidades que o abrigam, este é uma prisão. Não se trata de investimento que resulte em retorno financeiro, não gera imposto, sequer absorve mão-de-obra e, além de tudo, resulta numa série de problemas que o Poder Municipal não tem condições de tomar qualquer atitude para resolver. Em geral, os que cumprem pena em determinada penitenciária instalada no município, não são sequer dali. São enviados para onde o juiz que os sentencia determina. Não possuem qualquer vínculo com a comunidade. E, quando conseguem fugir, o que não é muito raro, não se vêem obrigados a respeitar o patrimônio e a integridade física de ninguém da cidade. E não respeitam. Afinal, não têm, ali, nem parentes, nem amigos e nem conhecidos. É preciso, isto sim, investir em escolas, para não ter que gastar com presídios! Trata-se do sábio princípio da prevenção.

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Sementes do amanhã

Pedro J. Bondaczuk

Garimpo, diligente e pressuroso, diamantes
(que, como todos sabem, são eternos)
nos riachos translúcidos dos seus olhos,
fontes de enigmas, surpresas e mistérios.

Sacio a sede, insaciável , de afetos
em seus lábios, sensuais e cálidos.
Torno coloridos os cinzentos sonhos
que, longe de você, são sem vida, pálidos.

Sinto o magnetismo mágico das suas mãos.
Esqueço dores e desgostos, todos medos.
Entro em êxtase, pois deliro de paixão
sob o toque magnético dos seus dedos.

Delicio-me com a ambrósia dos deuses
que, sôfrego, sorvo da ânfora da sua boca.
Minha alma vaga pelos paramos infinitos,
longe do mundo, distante desta vida louca.

O sol desponta. Dilui a névoa trevosa.
Sua presença torna a desesperança vã.
Deposito, em seu ventre, terra generosa
as sementes redentoras do amanhã.

Amo-a, querida, sempre amei-a e amarei.
Você é, do meu mundo, a mais brilhante estrela.
Amo-a desde a origem, desde... quando? Nem sei!
Desde antes de conhecer-me e de conhecê-la!

Caminharei ao seu lado, ungido, com devoção,
felicíssimo por encontrar minha verdade,
seguro e convicto, guiado por sua mão,
a vida toda, além da morte, pela eternidade.

(Poema composto em Campinas, em 29 de julho de 2011)


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Sonhos que não envelhecem

Pedro J. Bondaczuk

Os sonhos não envelhecem”. Essa afirmação é excelente para título de um livro, porém, nem sempre é verdadeira. Não, pelo menos, por completo. Alguns envelhecem, sim. E, pior, não raro até morrem. Mas não é desse lado negativo que vou tratar. Aliás, sequer voltarei ao tema “sonhos”, que já abordei em inúmeras ocasiões. O mote, hoje, é outro, e até mais prático.
“Os sonhos não envelhecem – Histórias do Clube da Esquina” é o título de um livro, escrito por Márcio Borges, irmão do cantor e compositor Lô Borges, publicado em 1996 e que está sendo relançado agora, 15 anos depois, com uma tiragem relativamente baixa, de 5 mil exemplares. Estou certo que irá se esgotar em meses, se não em semanas, embora eu saiba, de experiência própria, o quanto o mercado editorial é frustrante e traiçoeiro. As vendas, convenhamos, sequer dependem da qualidade do livro e do interesse do tema. Este lançamento específico, porém, está fadado ao sucesso.
Afinal, em 1996 vendeu 30 mil exemplares. Se está sendo relançado, é porque se detectou um potencial muito grande de pelo menos repetir o que ocorreu há 15 anos. Não há porque não vender, agora, no mínimo a mesma quantidade. Ou esgotar a tiragem de 5 mil e forçar a Editora Geração a rodar mais, e mais e mais volumes.
Esta é a 6ª edição da obra (acompanhada de CD com 10 canções geradas no Clube da Esquina) e, provavelmente, virão na sequência a 7ª, 8ª, 9ª e sabe-se lá mais quantas. Por que tamanha certeza? Por haver muitos e muitos e muitos interessados nos vários aspectos da rica história da Música Popular Brasileira, uma das melhores e mais requisitadas do mundo.
Mas é preciso pôr ordem nestas considerações. Antes de tudo, é indispensável que se informe, aos que não conhecem, o que vem a ser o tal do “Clube da Esquina”. Há quem ache que o “boom” da MPB, de fins dos anos 50 ao início dos 80, se deu, notadamente, no eixo Rio-São Paulo. Em termos de divulgação e consumo, sim. Foi o que de fato aconteceu. Todavia, em termos de produção, não.
Fora desse círculo restrito havia muito jovem talentoso, produzindo obras marcantes, que um dia, finalmente, ganharam seu espaço no mercado fonográfico e estouraram em âmbito nacional. Uma dessas cidades que congregavam compositores, músicos, cantores etc. de muita competência e criatividade, e fora do eixo Rio-São Paulo, era Belo Horizonte.
Para não errar fatos e datas, recorro à enciclopédia eletrônica Wikipédia, que informa que o “Clube da Esquina foi um movimento musical nascido na década de 60 em Minas Gerais”. Até aí, tudo bem. Eu já havia mencionado antes essa vertente mineira, centralizada em Belo Horizonte.
O que se deseja saber é o quê era e como surgiu esse tal clube, que tem tamanha importância a ponto de ganhar um livro contando suas histórias. Reproduzo a referência do Wikipédia a propósito: “O Clube da Esquina surgiu da grande amizade entre Milton Nascimento e os irmãos Borges (Marilton, Márcio e Lô)”. Bem, as coisas começam a ficar mais claras. Pelo menos, já sabemos quais foram os principais personagens do grupo.
Mas... eram somente os quatro? Claro que não! Podemos citar, entre os que se tornaram, com o tempo, célebres e se consagraram na MPB (houve quem não se destacasse e cujos nomes não despertassem tanto interesse), Tavinho Moura, Wagner Tiso, Beto Guedes, Flávio Venturini, Toninho Horta, Fernando Brant e Ronaldo Bastos, entre tantos outros. E, logicamente, os artistas que constituíram o núcleo do Clube da Esquina, ou seja, Milton Nascimento e os irmãos Borges.
E por que essa denominação do movimento? A Wikipédia explica, de forma bastante objetiva: “O nome do grupo foi idéia de Márcio (o autor do livro), que ao ouvir a mãe perguntar dos filhos, ouvia a mesma resposta: ‘Estão lá na esquina cantando e tocando violão”.
Num país, acusado amiúde de falta de memória (e em muitos casos ela falta mesmo), os registros deste movimento desmentem o tal chavão, nem sempre verdadeiro e que, por generalizar, é acima de tudo burro. Afinal, é difícil não se concordar com Nelson Rodrigues quando afirmou que “toda generalização é burra”. O Clube da Esquina foi imortalizado não somente no livro de Márcio Borges, como, até mesmo, ganhou um museu e conta com um site bastante acessado na internet. Oxalá outros movimentos culturais, inclusive literários fossem, ou principalmente sejam, tratados com o mesmo respeito e idêntico capricho.
É até desnecessário ressaltar a importância dessa vertente musical mineira, numa época em que só se falava de Bossa Nova, de Tropicalismo, de Jovem Guarda e de outras tantas, menos famosas, posto que mais divulgadas. Seria fácil, facílimo aos excelentes músicos de Minas Gerais simplesmente aderir a essas ondas, sem tentar inovar ainda mais. Tudo conspirava contra eles e levava a crer que fracassariam, por falta de divulgação e até de espaço no mercado fonográfico. Quem pensou isso, porém, errou de forma contundente. Ainda bem!
Nesse aspecto, o título do livro de Márcio Borges cai como uma luva. “Os sonhos não envelhecem...” Não pelo menos este, que acabou brilhantemente concretizado. Hoje, os integrantes do Clube da Esquina são justamente reconhecidos como magníficos músicos, compositores, cantores etc. e estão definitivamente incorporados à história da MPB.
Há uma outra particularidade interessante (entre tantas) a propósito do grupo. Uma das suas freqüentadoras mais assíduas era, na oportunidade, uma jovem estudante, de apenas 17 anos. O tempo passou, a mocinha inteligente e idealista aderiu à luta contra a ditadura, foi presa, torturada, mas sobreviveu. Completou os estudos, entrou na vida pública e... pasmem, chegou à Presidência da República, tornando-se a primeira mulher na nossa história a conseguir essa façanha. Vocês já adivinharam de quem estou falando. É, sim, de Dilma Roussef, que até hoje é amiga dos músicos do Clube da Esquina. Se quiserem saber, todavia, mais sobre esse movimento musical só resta uma alternativa: comprem o livro. E ganharão, de lambuja, preciosíssimo CD. Não vale a pena? Claro que sim!

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Friday, July 29, 2011











Não faz muito, a questão da violência urbana era restrita apenas às grandes metrópoles, em geral às capitais. Com rápido desenvolvimento da região, ela passou a ser pólo de atração de migrantes e, não somente destes, mas de marginais dos grandes centros, que passaram a vislumbrar facilidades para cometer seus delitos. Em pouco tempo, as cadeias públicas, destinadas, somente, a prisões temporárias, passaram a acolher, também, os já sentenciados, que deveriam cumprir pena em estabelecimentos apropriados para esse fim e não cumprem. As razões desse procedimento são de menos. A prática constitui-se em perigosa aberração e resulta nas sucessivas tentativas de fuga, em rebeliões e motins que ocorrem ciclicamente. E o que a população tem a ver com isso? Nada!

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Por dentro da TV


O Sucesso de Ivete Bonfá em "Casal 80"

A atriz Ivete Bonfá, mesmo tendo uma brilhante carreira no teatro, onde já trabalhou em 30 peças (atualmente está no elenco de "Toalhas Quentes", no Teatro Záccaro) e no cinema, com cerca de 20 filmes, ainda não tinha conseguido deslanchar na televisão. Não tinha, é o termo exato, pois agora, atuando no seriado de Sérgio Jockyman, "Casal 80", da Rede Bandeirantes, está tendo a grande chance que perseguia há muitos anos para mostrar o quanto vale. Ivete vive, na história, o papel de Rita, confidente de Cida (Célia Helena), que com o longo tempo de desemprego do marido, Pantaleão (John Herbert), assumiu a cabeça do casal. Este, por não conseguir se empregar, aceitou cumprir as tarefas domésticas, tomando conta da casa e dos dois filhos.

Mas Pantaleão demonstra, em várias oportunidades, ser um tanto mau caráter. Por essa razão, Cida, freqüentemente, se queixa com Rita, sua confidente, das trapalhadas do marido. Esta, por sua vez, tem a oportunidade que queria para poder criticar tudo o quanto os homens fazem de errado.

Ivete Bonfá afirma sentir-se perfeitamente à vontade vivendo esta personagem. E explica que a Rita, do "Casal 80", tem uma personalidade parecida com a dela. Entretanto, retifica: "é claro que não chego ao ponto de encontrar apenas defeitos nos homens, mas coloco em primeiro lugar a minha carreira. E depois, sou uma mulher independente, e estes são outros motivos para eu desempenhar o meu trabalho com muito mais prazer".

A atuação de Ivete vem sendo notada pelos críticos e até pelos companheiros de trabalho, dando à personagem a característica exata desejada pelo autor, Sérgio Jockyman. Por essa razão, acreditamos que após a sua performance em "Casal 80", as oportunidades na televisão, doravante, serão muito maiores. Afinal, esta era a chance que Ivete Bonfá tanto esperava e que está agarrando com "unhas e dentes".

Manchete nas Olimpíadas

A TV Manchete já está armando o seu esquema para a melhor cobertura do grande evento esportivo de 1984: as Olimpíadas de Los Angeles. A coordenação dos trabalhos está a cargo do novo titular de esportes da emissora, o competente Joseval Peixoto, nome bastante conhecido nos meios esportivos, principalmente no rádio, onde atuou nas maiores equipes do Estado. Além das Olimpíadas, a Manchete pensa em dar cobertura a todos os eventos, nacionais ou internacionais, na área esportiva, que mereçam destaque. A entrada da emissora, nesse tipo de transmissão, certamente vai forçar as concorrentes a melhorarem ainda mais seus desempenhos, garantindo ao telespectador, além de mais opções, "algo mais" em termos de qualidade.

Brasil Olímpico

A Rede Bandeirantes também está dando o devido trato que merece a cobertura das Olimpíadas de Los Angeles. A exemplo da Rede Globo e da Record, criou um boletim diário, o "Brasil Olímpico", com 5 minutos de duração, no horário das 19h30, com a proposta de trazer ao telespectador as informações básicas referentes a esse evento.

(Coluna escrita por mim, sem assinar, publicada na página 22, Tevê, do Correio Popular, em 14 de janeiro de 1984)

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Magia da leitura

Pedro J. Bondaczuk

A invenção da escrita foi, se não o maior, um dos maiores avanços do bicho homem. Possibilitou que descobertas, experiências, conhecimentos e sentimentos de uma geração não se perdessem no tempo quando ela passasse e se extinguisse, mas se perpetuasse e ficasse ao alcance da posteridade, milênios afora. Constitui-se, pois, em fator inigualável de progresso, não apenas o espiritual, mas também o material.
Durante milênios, o acesso à leitura, e consequentemente à escrita, foi privilégio de poucos, pouquíssimos indivíduos mundo afora. Isso retardou, sem dúvida, o progresso da humanidade. Até boa parte do século XX, o número de analfabetos no mundo era imenso, salvo em um ou outro país, não por acaso os mais prósperos. A difusão da leitura, portanto, é fenômeno recente, recentíssimo, coincidindo com a extraordinária evolução humana, notadamente no que diz respeito à ciência e à tecnologia.
Mas o progresso material (e também o espiritual) deixou à margem, ainda, nesta era da comunicação total, que transformou o Planeta na “aldeia global” preconizada pelo canadense Marshall McLuhan, cerca de dois terços da humanidade neste início da segunda década do terceiro milênio da Era Cristã.
Desse contingente enorme, de 3,5 bilhões de seres humanos, perto de um terço vive uma situação muito pior (quase desesperadora) do que os outros. Está com as chances de mudar os rumos de suas vidas virtualmente bloqueadas, por se encontrar imerso nas trevas do desconhecimento quase absoluto.
Sua cabeça ainda permanece numa fase de civilização anterior à invenção dessa maravilha das maravilhas, que é o alfabeto. Referimo-nos ao um bilhão de indivíduos analfabetos, que por falta de um talento maior, que não seja o de utilizar somente a força de seus músculos, estão condenados a uma vida de privações, de incertezas e de angústias, em posição subalterna quer no campo profissional quer na escala social.
Estes, todavia, não sabem ler em decorrência de circunstâncias perversas e aziagas, alheias à sua vontade. Não lêem e não escrevem não por desastrosa decisão pessoal, mas porque não tiveram (e não têm) a oportunidade de aprender. Há, todavia, um tipo de analfabetismo mais estranho e contundente: o dos que, sabendo ler, não lêem. A estes Mário Quintana classifica, numa primorosa crônica, de “os verdadeiros analfabetos”. E não são?
Essa sua opção priva-os de maravilhas imensas, ditadas pela magia da leitura. Por que? É uma constatação tão óbvia, que me recuso a explicitá-la. Recorro, porém, ao romancista chileno Roberto Bolaño, que no romance “2666” (caudaloso livro, de 852 páginas, classificado pelos críticos literários do jornal “Folha de S. Paulo” como um dos dez melhores lançamentos editoriais de 2010), coloca, na boca de um dos personagens, esta pérola, a propósito da leitura: “Ler é como pensar, como rezar, como conversar com um amigo, como expor suas idéias, como ouvir as idéias dos outros, como ouvir música (sim, sim), como contemplar uma paisagem, como dar um passeio pela praia”.
Exagero? Longe disso. Afinal, como acentuou o ensaísta norte-americano Richard Steele, “a leitura é para a mente o que o exercício é para o corpo”. Ou seja, é a maneira de robustecê-la e conservar sua sanidade. É o jeito de ampliar seu potencial. William Wordsworth atribui aos livros papel semelhante ao dos sonhos (a respeito dos quais escrevi recentemente). Mas vê certa vantagem nos segundos. Concordo com ele.
Vocês já imaginaram se, numa dessas catástrofes tão possíveis, fossem destruídos todos os livros já escritos e publicados no Planeta? Pior, e se ocorresse súbita amnésia coletiva, que fizesse com que todos, absolutamente todos os seres humanos, se esquecessem dos respectivos alfabetos, de suas gramáticas e técnicas da escrita? Em questão de dias, a humanidade retroagiria milênios, quem sabe às cavernas primitivas. Não quero nem pensar na mais remota possibilidade desse pesadelo se concretizar. Seria avassalador e catastrófico.
Jorge Luís Borges aventa uma hipótese menos radical do que a minha, mas ainda assim desastrosa: “Fala-se do desaparecimento ou da extinção do livro. Creio que isto é impossível. Dir-se-á: que diferença pode haver entre um livro e um jornal ou um disco? A diferença é que um jornal é lido para ser esquecido; um disco é ouvido, igualmente, para ser esquecido – é algo mecânico e, portanto, frívolo. O livro é lido para eternizar a memória”.
Numa outra citação, esta no prólogo da primeira edição de uma de suas obras mais geniais, a “História universal da infâmia”, Borges acentua: “Ler, além do mais, é uma atividade posterior à de escrever, é mais resignada, mais atenciosa, mais intelectual”. Mais adiante, arremata: “Às vezes acredito que os bons leitores são cisnes ainda mais negros e singulares que os bons autores”. Eu também, mestre, eu também.
Portanto, estimular as pessoas a lerem e a formarem esse saudável (e delicioso) hábito, é prestar-lhes supremo favor. É descortinar-lhes um mundo infinito de maravilhas. É, até, em alguns casos, preencher-lhe a solidão e fazer com que se sintam sempre em excelente e nobre companhia.
Quantas pessoas mundo afora, por exemplo, não se consolam, não com um livro, mas até com uma carta de algum ente querido e distante, lendo-a, relendo-a, tornando a lê-la, a relê-la dezenas, centenas, quiçá milhares de vezes?! Que magnífica magia é esta da leitura! Que privilégio nós, desta geração, temos, de contar com a oportunidade de acesso a este meio tão prático e relativamente barato de nos instruir, sonhar, crescer e evoluir!




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Thursday, July 28, 2011










Em pouco tempo, as cadeias públicas, destinadas, somente, a prisões temporárias, passaram a acolher, também, os já sentenciados, que deveriam cumprir pena em estabelecimentos apropriados para esse fim e não cumprem. As razões desse procedimento são de menos. A prática constitui-se em perigosa aberração e resulta nas sucessivas tentativas de fuga, em rebeliões e motins que ocorrem ciclicamente. E o que a população tem a ver com isso? Nada!

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PERFIL


ROBERTO BATAGLIN


Entre os atores que irão compor o elenco da próxima novela das 19 horas da Rede Globo, "Um Sonho a Mais", escrita por Daniel Más e com supervisão de Lauro César Muniz, está um garoto de 22 anos de idade, "boa pinta", que irá desenvolver seu segundo trabalho no gênero em TV. Trata-se de Roberto Bataglin, que fez sua estréia, e já com grande sucesso, em "Partido Alto".

A carreira desse jovem talento começaria em 1980, pela tradicional escolinha de atores, que é o teatro. E o desejo de seguir a vida artística foi despertado pelo pai, também chamado Roberto Bataglin, um veterano dos palcos. A estréia, aos 18 anos de idade, ocorreu na peça "Maldita Parentela", integrando o Grupo de Lá. Com o sucesso desse trabalho, o garoto tomaria gosto pelo teatro e repetiria a dose, com a atuação que ele julga marcante em sua vida. Seria em "Capitães de Areia", dirigida por Carlos Wilson, uma adaptação do célebre romance de Jorge Amado. Aliás, o escritor assistiu a peça e após a apresentação, foi ao camarim especialmente para cumprimentar Roberto Bataglin. E o ator afirma que esse foi um momento inesquecível de sua carreira, que ele guarda com muito carinho.

No cinema, rodou dois filmes, ambos voltados para a faixa jovem: "Nunca Fomos tão Felizes" e "Garota Dourada" (a continuação de "Menino do Rio").

Roberto Bataglin é de um temperamento calmo, um tanto calado e muito observador, característica que ele atribui ao fato de ser do signo de Escorpião, já que nasceu no dia 4 de novembro de 1962. Com um "pique" incrível e um talento bastante precoce, tem tudo para deslanchar na carreira, que se apresenta das mais promissoras entre as novas caras que apareceram pela primeira vez, neste ano, na televisão.

Segundo Bataglin confessa, embora ache a TV um veículo sensacional, sua predileção é mesmo o teatro que, no seu entender, produz uma "empatia" muito grande com o público. É ali, no palco, sentindo que a mensagem que transmite está sendo recebida pelas pessoas, é que o ator pode sentir o quanto é importante a sua missão cultural.

(Coluna que escrevi, sem assinar, publicada na página 22, de TV, do Correio Popular, em 27 de dezembro de 1984)

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A erosão da autoconfiança

Pedro J. Bondaczuk


O homem pode lutar contra grandes coisas. O que o destrói é a erosão. O fracasso vem aos poucos, e o homem vai ficando amedrontado”. Quem fez essa afirmação foi um dos meus escritores prediletos, que influenciou muito na minha maneira de encarar o mundo e de fazer literatura. Refiro-me ao norte-americano John Steinbeck. O romancista, ganhador do Prêmio Nobel de 1962, é mais conhecido por duas obras principais, clássicos das letras contemporâneas: “A Leste do Éden” e “As vinhas da ira”.

Os desavisados e mal-informados acham que apenas esses dois livros foram sucessos de crítica e de vendas. Estão enganados. Sua obra ficcional ascende a 30 produções, todas do mesmo nível, fascinantes por sua capacidade de induzir reflexões. Para que o leitor tenha uma idéia, informo que 17 dos livros de John Steinbeck foram adaptados para o cinema com sucesso. Um desses roteiros chegou a ser indicado, em 1944, para o Oscar de melhor história. Refiro-me a “Um barco e nove destinos”, cujo título original em inglês é “Lifeboat”, levado às telas sob a direção de um diretor que se tornou mito em Hollywood, Alfred Hitchcock.

Um dos livros de Steinbeck não muito conhecidos, pelo menos no Brasil, mas que tive a oportunidade de ler e reler e analisar com deleite e vagar, é “O inverno dos descontentes”. Aliás, esse romance tem uma peculiaridade que às vezes confunde críticos e analistas. Teve, em edições brasileiras, duas traduções distintas, que fazem com que tenha dois títulos diversos. Muitos acham que se tratem de romances distintos. Não são. Uma das edições circulou no Brasil sob o título de “O inverno de nossa desesperança”. A outra, a que li, foi traduzida como “O inverno dos descontentes”. Foi desse livro que extrai a citação que abre estas minhas reflexões de hoje.

Achei pitoresca a afirmação de Steinbeck, de que os grandes fracassos não vêm subitamente, mas ocorrem aos poucos, num processo de corrosão da autoconfiança, que redunda no colapso. Claro que há exceções. Aliás, todas as regras as têm. De acordo com o romancista, temos como evitar esse desastre, essa ruína de nossos sonhos e ideais. Como? Detectando as falhas de nossa conduta e lutando contra elas. Aproveitando as oportunidades que surgirem. Não considerando, jamais, que o aparente sucesso seja definitivo e à prova de reversão. Prevenindo-nos. Evitando a erosão da confiança. Afinal, como Steinbeck enfatiza, “o homem pode lutar contra grandes coisas”. Mas somente se não se deixar abalar.´

É difícil? Provavelmente, sim. Ou, talvez, nem tanto. Depende da nossa personalidade, capacidade de autocrítica, mas também de perseverança e agilidade para mudar de rumo, quando isso se fizer necessário. É preciso impedir que o insidioso vírus do desânimo invada nosso espírito e inicie o a princípio imperceptível processo de erosão da confiança. É necessário que, em vez de nos sentirmos amedrontados, multipliquemos a coragem e não aceitemos entregar os pontos.

Leio, na enciclopédia eletrônica Wikipédia, uma informação curiosa sobre o bem-sucedido romancista norte-americano, que vem a calhar para ilustrar estas considerações. A referida fonte informa: “John Steinbeck ouviu de um professor uma vez que ele só se tornaria escritor quando os porcos voassem. Desde então, ele passou a publicar a frase ‘ad astra per alia porci’ nos seus livros, que significa ‘às estrelas nas asas de um porco’”. Que previsão mais estúpida, arrogante e furada! A grandeza de Steinbeck como escritor é do conhecimento dos que acompanham o mundo das letras. Ouso dizer que chegou ao patamar maior do sucesso e aí permanece, mais de quarenta anos após sua morte. E o professor, autor do infeliz presságio? É um ilustre desconhecido! Tanto que nem seu nome foi citado pela Wikipédia.

Sempre afirmei, e reitero, que não há nenhuma fórmula infalível para o sucesso. Aliás, para nada, principalmente para a felicidade. O que existe são pistas, indicações, procedimentos, que tendem a ajudar a nos tornarmos bem-sucedidos. Steinbeck, nesse mesmo livro, coloca esta afirmação na boca de um dos personagens: “Que coisa alarmante é o ser humano, um conjunto de arruelas, botões e registradores, dos quais só podemos interpretar alguns, ainda assim sem muita exatidão”.

Por isso, fazer previsões sobre o sucesso ou o fracasso de quem quer que seja é um exercício que, além de antipático, é, sobretudo, inútil. Somos incapazes de prever, com mínimo potencial de precisão, sequer o que pode ocorrer nos próximos cinco minutos, quanto mais nos próximos dias, meses, anos e décadas.

É certo que os sintomas de erosão da autoconfiança, nossa ou alheia, são perfeitamente detectáveis, desde que tenhamos sensibilidade para vê-los e identificá-los. Nem sempre, todavia, se tem. Aliás, isso é mais visível nos outros, do que em nós mesmos.

A insidiosa instalação do medo, que antecede o colapso, o temido fracasso, igualmente não é muito difícil de se perceber. Basta ser bom “!bisbilhoteiro”, se não observador, que não passa de eufemismo. Mas, reitero, que o processo negativo pode ser interrompido e, não somente isso, pode ser revertido. Volto a afirmar que concordo com Steinbeck quando diz que “o homem pode lutar contra grandes coisas”. E como pode!

Destarte, pode vencê-las (como pode ser vencido por elas, claro). Já que iniciei estas reflexões com uma citação, as encerro da mesma forma. E para tanto, recorro a essa manifestação de admiração pelo imenso potencial que temos da parte do ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1962. John Steinbeck coloca, na boca de um dos personagens de “O inverno dos descontentes” a seguinte exclamação: “Que grande homem um homem pode tornar-se!” Há uma condição básica para isso: desde que detenha, claro, o pernicioso processo de erosão da autoconfiança. Afinal, o fracasso, via de regra, “vem aos poucos”.

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Wednesday, July 27, 2011










O problema carcerário no Brasil é muito grande e não há perspectivas a curto prazo – sequer a médio – de solução. Mesmo contando com a quarta população penitenciária do mundo (abaixo, apenas, da China e Estados Unidos, ambos mais populosos do que nós e da Rússia), há sensível falta de vagas, o que faz com que pessoas de extrema periculosidade permaneçam à solta pelas ruas. Isso para não falar do custo de manutenção de um encarcerado, que não é baixo.

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Presente do Dia dos Pais


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O bom e o ruim do festival


Pedro J. Bondaczuk


O "Festival dos Festivais", realização da Rede Globo destinada a marcar o vigésimo aniversário da emissora, chega à sua fase final amanhã, apresentando uma série de coisas boas e ruins. As negativas já tivemos a oportunidade de expor em análises anteriores, neste mesmo espaço, e centralizam-se, sobretudo, numa ênfase exagerada no lado visual da apresentação das concorrentes em detrimento do conteúdo. E em algumas decisões equivocadas dos dois júris, o da fase classificatória e o da semifinal (mais este último) nas diversas etapas da competição.

Sábado passado os jurados cometeram uma outra gafe, ao desclassificarem o único samba incluído no festival, o "Recriando a Criação", da dupla Martinho da Vila e Zé Catimba, colocando em seu lugar o "Vamp Neguinha", outra brincadeira musical do tipo de "Os Metaleiros Também Amam". Mas o erro de escolha, felizmente, ficou restrito apenas a essa composição. As demais classificadas para a final de amanhã, "Novos Rumos", "Verde", "Tempo Certo", "Escrito nas Estrelas" e "Mira Ira" são trabalhos de excelente qualidade (eu diria até, surpreendente) e que passaram um tanto despercebidos nas primeiras fases da competição.

Nesse elenco supracitado estão, inclusive, duas das nossas favoritas (e também do público, a julgar pela sua reação) para vencer o festival. A primeira delas é uma moderna canção de amor composta por Arnaldo Black e Carlos Rennó, defendida com uma garra invulgar por uma das melhores intérpretes da jovem geração de cantores da atualidade, a sensual, trepidante, bonita e afinadíssima Tetê Espínola. Séria candidata, por sinal, ao prêmio de interpretação, ao lado da paraense Leila Pinheiro e de Emílio Santiago. Trata-se de "Escrito nas Estrelas", uma das coisas mais lindas que foram compostas nos últimos tempos.

Mas a grande favorita do festival (se o júri não desejar fazer média) é sem dúvida nenhuma essa empolgante canção de Vanderlei de Castro e Lula Barbosa, "Mira Ira". Empolgante pela letra, explorando um tema de cultura indígena, bem dentro da moderna música latino-americana. Empolgante pelo excelente arranjo musical, um dos melhores de toda a competição. Empolgante por seu refrão, que fez, no sábado passado, a platéia toda, presente ao Maracanãzinho, prorromper no consagrador corinho de "já ganhou". E, sobretudo, empolgante, arrepiante, vibrante na interpretação de Lula Barbosa e do Grupo Tarancón. Dificilmente, portanto, essa composição deixará de ser a ganhadora do "Festival dos Festivais".

Uma terceira favorita, que reúne algumas chances reais, é "Ellis, Ellis", do campineiro Estevam Natolo Júnior, em parceria com o baiano Marcelo Simões, defendida com talento e emoção por Emílio Santiago. Trata-se de uma canção mais para se ouvir do que para se dançar, com uma letra evocando (com muita inteligência e propriedade) trechos de músicas que compuseram o repertório de uma das melhores cantoras brasileiras de todos os tempos.

Em competições dessa natureza, onde as classificadas representam, cada uma delas, um caminho totalmente diferente da moderna MPB, é muito arriscado o crítico fazer qualquer previsão quanto à vencedora. Mas dificilmente haverá qualquer surpresa. Talvez "O Condor", de Oswaldo Montenegro, venha a se constituir na "zebra", mas, se isso ocorrer, estará sendo cometida outra grande gafe. Não que a composição não reúna seus méritos. Ocorre que as três mencionadas anteriormente lhe são muitos furos superiores.

O "Festival dos Festivais", se não foi aquilo que o público e a crítica esperavam, em seu conjunto, em alguns aspectos, deixa um saldo muito bom. Em primeiro lugar, coloca em confronto na finalíssima de amanhã doze tendências diferentes entre si na música brasileira. Inclusive um autêntico chorinho, "Novos Rumos", do veterano compositor pernambucano Rossini Ferreira, em parceria com Ana Ivo e um bumba-meu-boi ribamar, bem no estilo do Maranhão, "Tempo Certo", de Ubiratan de Souza. Mostra excelentes intérpretes, alguns até então desconhecidos do grande público, como Cida Moreira, a paraense Leila Pinheiro, Emílio Santiago, Oswaldo Montenegro, Tetê Espínola e o grupo Tarancón. Sem falar dos sempre eficientes grupos Língua de Trapo e Joelho de Porco. Ou da graça e candura de "Os Abelhudos". Apresenta, sobretudo, arranjos de primeiríssima qualidade.

É evidente que muitos críticos vão discordar de nós, o que é muito saudável. Mas quem entende de verdade de música e não é apenas um curioso sabe que "Mira Ira", ou "Escrito nas Estrelas" não ficam nada a dever, por exemplo, a "Disparada", a "Ponteio", a "Sabiá" e a algumas outras tantas grandes vencedoras de festivais passados. É preciso criticar aquilo que é passivo de crítica. Afinal, nossa função é exatamente esta. Mas esse exercício requer lucidez, conhecimento, objetividade e sobretudo isenção. Afirmar que o festival não trouxe nenhuma contribuição à música popular é a ausência completa de tudo isso. É não querer enxergar o óbvio e tapear a opinião e o bom gosto do telespectador.

(Artigo publicado na página 20, Arte & Variedade, do Correio Popular, em 25 de outubro de 1985)

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Um pouco de tudo

Pedro J. Bondaczuk


A manifestação mínima de racionalidade e inteligência que podemos ter é a de amar: nossos pais, nossos filhos, nossa esposa, uma determinada mulher etc. Há, porém, infelizes e néscios que não cultivam esse sentimento. Amam, apenas, o próprio umbigo e, às vezes, nem isso. Por serem incapazes de amar (sabe-se lá por qual razão) são os mais broncos dos seres humanos, mesmo que sejam pessoas aparentemente cultas, bem-informadas, até detentoras de um bom número de diplomas e de altas condecorações acadêmicas. Na verdade são infelizes por opção.

O poeta indiano, Rabindranath Tagore, considera indivíduos tão insensíveis (e infelizes) como imbecis. Mas ao pé da letra. Não se trata de mero xingamento, que é o que gente assim até merece. Em um inspirado poema, escreveu: “A falta de amor é um grau de imbecilidade, porque o amor é a perfeição da consciência”. E não é?! O irônico é que essa perfeição está tão ao alcance das nossas mãos e não nos apoderamos dela. Amar racionalmente, por livre deliberação, sem a necessidade de motivos, espontaneamente, mesmo sem a devida correspondência, é um sentimento que nos justifica e nos humaniza.

Outro aspecto do comportamento que requer reflexão, por gerar equívocos e falsas interpretações é o da liberdade. Somos, de fato, tão livres quanto desejamos ou pensamos ser? Você é? Eu não me sinto assim. E explico.

Julgamo-nos livres, senhores do nosso destino, mas nossa liberdade é ilusória e, sobretudo, restrita, parcial, limitada. Estamos encerrados em cadeias de servidão, algumas ostensivas, outras tantas sutis, quase imperceptíveis, posto que muito reais e concretas.

Não somos livres na maior parte do tempo, limitados por compromissos e obrigações: com os pais, com os filhos, com o cônjuge, com a sociedade e o país em que vivemos etc. Há, ainda, as leis, algumas nitidamente injustas e perversas, a determinarem o que podemos e o que não podemos fazer. Fôssemos equilibrados e justos e respeitássemos os limites e direitos alheios, elas seriam prescindíveis.

Morris West explicitou essa dependência, essa permanente coação, nestes termos, no romance “O Navegante”: “Todos nós somos prisioneiros. De nossos genes, de nossa história, de nossos velhos sonhos ancestrais”.

Aprisionados à nossa condição humana é como estamos do nascimento à morte. E somos prisioneiros, sobretudo, da nossa efemeridade, pois não temos a menor condição de saber a duração e as circunstâncias de nossas vidas e muito menos de evitar a extinção, quando chega o nosso momento.

Uma terceira questão que trago à reflexão é a da utilidade e do reconhecimento. As pessoas mais úteis, as que são esteios da sociedade, que lançaram os fundamentos da civilização, quase sempre são as que menos aparecem. Não raro não aparecem nada. Ao contrário, permanecem rigorosamente anônimas. Fazem o que fazem espontaneamente, sem que sejam obrigadas a tal e sequer buscam o reconhecimento da autoria de suas obras.

Algumas, raríssimas, são, de fato, reconhecidas por suas comunidades e até reverenciadas. A maioria, porém, não é. Os responsáveis pelos grandes avanços da humanidade são, quase todos, insisto, rigorosamente anônimos. Quem descobriu, por exemplo, como fazer fogo? Quem inventou a roda? Procurem em qualquer fonte que não encontrarão a mais remota referência a esses geniais criadores. E eles, no entanto, óbvio, existiram.

Usufruímos de suas criações, nos beneficiamos delas, sobrevivemos muitas vezes graças à sua genialidade e talento e, no entanto... Raramente sabemos sequer seus nomes, quanto mais as motivações de suas benignas realizações e como viveram, o que sentiram, com quem se relacionaram, como, e coisas do tipo. Desconhecemo-las por completo.

São como raízes de uma planta, de cuja existência e presença não nos damos conta, mas sem as quais vegetal algum tem a mais remota possibilidade de existir. Mesmo sem as identificarmos, devemos reverenciar sua memória e ter por elas profunda gratidão. Rabindranath Tagore ressaltou sua importância nestes magníficos versos em que diz: “A raiz enterrada não pede prêmio algum por encher os galhos de frutos”. Este deveria ser o verdadeiro parâmetro da utilidade.

Finalmente, volto a um tema que, para mim, é recorrente. Sonhar é muito importante, pois, quase sempre, as grandes realizações têm como origem mero sonho. Escrevi “ad náusea” a esse propósito. Planejar, por seu turno, é útil, por organizar nossas ações e tornar nossos esforços racionais e não dispersivos. Informar-se é preciso, porquanto a informação correta nos baliza o caminho, nos situa e mostra onde estamos e a quanto andamos.

Tudo isso é importante, mas cai por terra se nos faltar um fator essencial, sem o qual obra alguma prospera e sequer deixa o mero plano das idealizações ou elucubrações para se transformar em algo concreto: a ação. Só agindo, com rumo, determinação e constância, teremos condições de construir algo, desde um sólido e confortável edifício, a um poema, uma sinfonia, um romance, entre tantas outras coisas. Quando penso nisso (que deveria ser o óbvio para todos, mas que para a maioria não é), vêm-me de imediato à mente os seguintes versos de Rabindranath Tagore (recorro, como se vê, a ele, novamente), que resumem o que quero ressaltar: “Não se pode cruzar o mar apenas olhando a água”. E não se pode mesmo. Para empreender essa travessia é indispensável, pois, agir!

O escritor francês André Malraux observou: "Estamos vivendo a civilização do conhecimento, mas não da sabedoria. A sabedoria é o conhecimento temperado pelo juízo". De que me vale, por exemplo, conhecer nomes de borboletas, de flores ou de pássaros, a classificação de seus grupos e famílias, saber de seus hábitos e distinguir sua morfologia, se eu for incapaz de os identificar quando vir um desses espécimes?

E mais, que valia me trará esse conhecimento se, em contrapartida, eu não souber sequer como chegar ao coração do meu próprio filho, se for incapaz de lhe dar os conselhos de que ele precisar e desconhecer a forma de conquistar a sua amizade? Com as informações, serei considerado culto, sem dúvida. Mas estarei muito longe de ser sábio. Com a aptidão humana da empatia, com a prática espontânea do amor, sabendo converter sonhos em ações e agindo sem esperar recompensa, apenas porque a comunidade precisa das minhas aptidões, poderei não estar revelando cultura. Mas exercitarei a sabedoria. Afinal,só o sábio tem um pouco disso tudo.

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Tuesday, July 26, 2011










A cantiga folclórica “Peixe Vivo”, que tanta emoção me traz sempre que a ouço, desde tenra infância, diz, de maneira simples e ingênua, o que há anos venho tentando dizer, em milhares e milhares de crônicas e em outros tantos de versos, e jamais consegui. Ou seja, expressa o meu apego atávico aos meus pais, aos meus filhos e à minha amada. Declara a necessidade física, psicológica e, sobretudo afetiva, dos amigos, sem que importe o tempo, a característica (se virtual ou presencial) e a intensidade dessas amizades. Sei que ando emotivo demais nos últimos dias. Talvez seja a proximidade de mais um aniversário, na próxima sexta-feira, que tem me deixado assim. Ou, o que é mais provável, sejam as tantas manifestações de afeto que venho recebendo dos amigos do Orkut. E isto faz um bem danado à mente e, sobretudo, ao espírito.

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Boca quente


LEILANE NEUBARTH

No “Jornal da Globo”, apresentado no final de noite de segunda a sexta-feira, ficou evidente para os telespectadores a dificuldade que a apresentadora tem para ler determinados textos, se embaraçando freqüentemente e chegando a ficar, até mesmo, agoniada em certos momentos, como ocorreu anteontem.
Acreditamos, embora não possamos afirmar com segurança, que o problema está na redação e não em Leilane Neubarth, que nos parece suficientemente competente para a tarefa (se não fosse, não a estaria executando). Aliás, esses problemas ocorriam, também, antigamente, com as apresentadoras anteriores, inclusive com a experimentada Belisa Ribeiro, o que nos leva à conclusão de que a falha estaria em outro setor.
Como o acabamento final da notícia, isto é, a locução, é que chega ao telespectador, a impressão que fica é a da incompetência de Leilane (no que não acreditamos, em absoluto). Com isso, corre-se o risco de se queimar uma boa apresentadora, que acima de tudo desperta empatia em quem está assistindo. Um pouquinho mais de cuidado nos textos certamente não faria mal algum. Afinal, estamos certos, toda a equipe desse noticioso está empenhada para que ele saia o melhor possível.

(Coluna escrita por mim, sem assinar, publicada na página 22, editoria TEVÊ, do Correio Popular, em 22 de agosto de 1984).

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Sonhar, sonhar e sonhar

Pedro J. Bondaczuk

Os sonhos, como já escrevi, são pontos de partida, concreta inspiração para realizações, tanto as pequenas e triviais, quanto as maiúsculas e transcendentais. Reitero essa afirmação sempre que posso, com base em experiências pessoais. Já consegui realizar façanhas que me pareciam rigorosamente impossíveis, mas nas quais, nem sei por que, acreditei, e tudo acabou dando certo.

Convém ressaltar que boa parte do que sonhamos (se não a totalidade), envolve, de uma forma ou de outra, terceiros, ou como agentes ou como auxiliares. E estes podem tanto facilitar a concretização desses sonhos, como arruiná-los. Da mesma forma nos colocamos em relação aos outros. Ou seja, podemos ser os artífices, ou no mínimo coadjuvantes, do sucesso de alguém. Ou de seu fracasso, dependendo das ações e circunstâncias.

Quando me refiro a sonhos, não estou pensando naquela descarga emocional que ocorre à nossa revelia durante o sono, tida e havida por especialistas como essencial para nossa saúde mental. Refiro-me aos desejos, das mais variadas naturezas e intensidades, muitos dos quais parecem ser infinitamente distantes das nossas forças e possibilidades. Não raro não são. Por uma razão ou outra, tendemos a superestimá-los, a ver mais obstáculos no caminho do que eles, de fato, existem.

Todos temos, em nossa vida, alguma pessoa especial (ou várias delas, claro), à qual amamos sem reservas (mesmo que não venhamos a nos dar conta) e em quem confiamos sem restrições, por mais desconfiados que possamos ser. Pode ser uma namorada, a esposa, os pais, irmãos ou amigos, não importa. Ninguém é auto-suficiente a ponto de não precisar de ninguém, para nada. Há quem se julgue assim, mas apenas por não valorizar os que tornam sua vida em sociedade possível ou viável.

Em contrapartida, somos importantes, também, e na mesma medida, para alguém, mesmo que não o saibamos. Na maioria das vezes, não sabemos mesmo. Outros, todavia, esperam muito de nós, contam conosco para a realização de seus projetos e sonhos. Por isso, precisamos tomar muito cuidado com nossas palavras e atos, para não sermos agentes de mágoas, tristezas e decepções. E, principalmente, para não espezinhar sonhos de quem confia em nós e nos tem em alta conta.

Da mesma forma que não queremos nos decepcionar com quem nos seja especial, não podemos causar decepções aos que nos têm como referencial de vida. Por isso, entendo a profundidade destes versos do poeta William Butler Yeats, que são muito mais do que meras metáforas, e que contêm profunda sabedoria: “Espalhei meus sonhos aos seus pés. Caminhe devagar, pois você estará pisando neles”. Os poetas... Ah, os poetas!

Mas essa questão de sonhos não está restrita ao campo da poesia. É prática, é verdadeira, é concreta. Não são apenas os poetas que são grandes sonhadores. Homens realistas, acostumados a lidar com fatos, com o que tem que ser comprovado sem sombra de dúvidas, os cientistas, também o são. Um exemplo? O físico Albert Einstein confidenciou, em um trecho do seu livro “Como vejo o mundo”, que suas descobertas tiveram 2% de conhecimento e 98% de imaginação. Ou seja... de sonhos...

Querem outro exemplo? Cito, pois, Auguste Kekulé. O célebre químico e professor alemão, recomendou, em 1890, aos seus alunos: “Vocês devem aprender a sonhar. Então, talvez descubram a verdade”. E isto, ou seja, explorar o mundo dos sonhos e expressar o que “viram”, na linguagem mágica dos anjos, os poetas sabem, e de sobejo. Por isso, antecipam o futuro. Há muito mais verdade na poesia do que podem supor os céticos empedernidos e os que se auto-rotulam de “realistas” .

E os poetas fazem previsões sobre o que pode acontecer no amanhã – embora certeza, certeza mesmo, ninguém tenha e nem possa ter, já que podemos sequer ter um futuro – com mais graça e mais beleza (e, claro, com maior verdade), do que furibundos e enlouquecidos profetas, a nos ameaçar com as mais terríveis desgraças e provações. Abrem-nos as portas do Paraíso e indicam-nos caminhos seguros para chegarmos a ele, para que, pelo menos em sonho, possamos usufruir das suas delícias. Por isso...reinventam a vida..., uma vida com muito mais charme, graça e glamour.

Tenho, como ademais todos os idealistas o têm, sonhos grandiosos, que independem “só” da minha vontade e das minhas ações para se realizarem. Claro que devo fazer a minha parte. Claro que não será pelo caminho covarde da omissão que verei sua concretização. Claro que, mesmo que não acredite, tenho um potencial enorme de convencimento, que tende a fazer (e faz) a diferença.

Sonho, por exemplo, com um mundo de harmonia, paz e felicidade, em que haja absoluta igualdade de direitos e deveres entre as pessoas. Milhões, bilhões antes de mim já sonharam isso e não viram ser concretizado. Porém, se essa utopia ainda não se concretizou é porque não chegou o momento. É porque o fruto ainda não está maduro para ser colhido.

Sonho, também, com um paraíso na Terra em que as contradições que nos dividem e desumanizam hajam sido superadas. Em que não existam excluídos e exclusores, oprimidos e opressores, poderosos e humildes. Sonho com um mundo que prescinda de leis, governos, exércitos e tribunais, em que todos conheçam suas obrigações, sem necessidade de serem fiscalizados.

Sonho com uma sociedade perfeita, em que o amor sem limites seja a única Constituição dos povos, irmanados em um só ideal, sem fronteiras e separações. Sonho com um mundo em que estes versos do poeta Thiago de Mello, no poema “Os Estatutos do Homem”, sejam mais do que mera poesia: “O homem/não precisará nunca mais/duvidar do homem/que o homem confiará no homem/como a palavra confia no vento/como o vento confia no mar/como o ar confia no campo azul do céu...” É possível que tudo isso se torne real? O que você acha, atento leitor? Da minha parte, entendo que sim, embora sequer intua como e quando.

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