Sunday, April 17, 2011



Xeque-mate em alto estilo na oposição


Pedro J. Bondaczuk


O primeiro-ministro da Espanha, Felipe Gonzalez, é um político sobretudo realista. Aposta, via de regra, as suas fichas sempre na certeza, daí a durabilidade da sua gestão. Agora, ao perceber um fracionamento nas forças de oposição, de centro e de direita, e respaldado pelo sucesso do seu Partido Socialista Operário Espanhol, PSOE, nas eleições para o Parlamento Europeu, realizadas em junho passado, quando obteve 39% dos votos, não teve dúvidas em tentar uma grande cartada.

Está antecipando o pleito geral do país em oito meses, para 29 de outubro próximo, e por diversas razões, além das duas já citadas. Uma delas é a necessidade de dispor de tranqüilidade para a difícil fase de adaptação da Espanha dentro do contexto da Comunidade Econômica Européia.

Como se sabe, a CEE está prestes a abolir as últimas barreiras comerciais existentes entre seus 12 membros, num passo gigantesco para uma futura integração também de ordem política e militar. Para a realização do sonho de diversos homens de grande visão, que vislumbraram o poderio que essa parte do Velho Continente, ou seja, o seu lado ocidental, adquiriria em se tornando uma única federação nacional. A partir de 1992, poderá estar surgindo a terceira superpotência mundial, que seriam os Estados Unidos da Europa.

É verdade que existem ainda muitas resistências para que este objetivo se concretize. Como se diz em linguagem popular, "muita água ainda deverá rolar por baixo da ponte" até que o surgimento desse país forte seja uma realidade. Por exemplo, a abolição das restrições comerciais tende a prejudicar, pelo menos num estágio inicial, as economias dos membros situados no Sul do Velho Mundo. Em especial, a portuguesa e a espanhola. Seus produtos não dispõem da indispensável competitividade para concorrer com os de uma Alemanha Ocidental, de uma Grã-Bretanha ou de uma França, por exemplo. Daí, esperam-se resistências internas.

Gonzalez sabe muito bem disso. Mas também tem ciência das vantagens, a longo prazo, dessa integração. Para poder colocar em prática as medidas de adaptação, nem sempre populares, mas que se farão necessárias, ele não quer correr riscos. Não deseja ficar exposto a eventuais moções de desconfiança ao seu governo por parte de um Parlamento hostil.

Para tanto, tem necessidade de contar com uma cômoda maioria, que o livre de arriscadas e nem sempre estáveis coalizões. Por isso, como um hábil enxadrista, está dando um fulminante "xeque-mate" na oposição, com todas as chances de garantir, até sem muito susto, mais quatro anos no poder, quando as barreiras comerciais já forem irreversíveis. Forem coisas do passado.


(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 2 de setembro de 1989).


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