Saturday, April 09, 2011



Canção sem mensagem


Pedro J. Bondaczuk


Massas amorfas, de autômatos

insensíveis, de aço e silício,

controlados por computador,

estridulam senhas repetitivas.

Intimam por mensagens, com

seus mantras eletrônicos

e monótonos.


Escravo do acaso...Escuro

labirinto, de caminhos

confusos, sem referenciais.

Becos sem saída. Confusão...

Diálogo de surdos. Enredos ensandecidos...

Onde o sentido? Não há!


Reflexos, delírios, murmúrios

e, no final, um enorme vazio

e corpos, muitos corpos

empilhados em desordem, repasto

de vermes e de urubus.

Medo...O tempo, com

adaga de aço, cabo de chumbo,

com fio de navalha,

decepa, cegamente, cabeças.

Holocausto sinistro.

"Delenda Cartago!"


Onde o piano de vidro,

sangrando notas de

um Noturno de Chopin?

Pianos de vidro não há!

Cadê a lira de barro,

com sons de cristal,

e a melodia hipnótica das sereias?

Liras de barro não há!

O colibri de diamante

tinha era asas de vidro,

estilhaçadas nas pedras,

num tilintar dissonante.


Louca perseguição no escuro.

Labirinto das circunstâncias.

O verdugo marcha implacável.

Os sons de seus passos

são como sinistro réquiem.

Pode estar no próximo corredor,

ali, na esquina seguinte,

com olhar mortiço e homicida,

à espera que o acaso

promova o fatal encontro:

e então, zás! O nada!


Adeus sonhos perdidos

na mansão dos fantasmas,

empalhados como troféus.

Sem orgulhos, objetos,


honrarias, dignidade...

Só um monte de carne

apodrecendo em esquife,

lamentável, sinistra imagem.


Da vida, o que restou?

Nada! Nem glórias ou lembrança

ou fortuna, ou razão

ou coragem. Só o silêncio

e no fundo, a meio tom,

os mantras eletrônicos

e monótonos de autômatos,

movidos por controle-remoto,

intimando, por senhas,

de mensagens, que não há...


(Poema composto em Campinas, em 8 de julho de 1971).


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