Saturday, April 30, 2011







Soberana saudade

Pedro J. Bondaczuk

Cinco anos,
cinco circunvoluções
da espaçonave Terra
ao redor da fornalha do Sol.
cinco Primaveras... Saudade...

O rio do Tempo (sempre o Tempo)
de águas singulares que fluem
num mesmo leito,
mas que nunca são
as mesmas,
destruiu mundos e vidas,
e cidades e monumentos
e rancores e afetos:
“delenda Cartago”.

A flor azul do nosso afeto,
delicada flor, frágil, fluída
fez-se estéril, sáfara,
mas sobreviveu
a duras penas
sem frutificar.

Milagre improvável:
a frágil flor.
mística flor
estéril e sáfara
fluida e azul
conservou perfume
adocicado e sutil
posto que imperceptível
a olfatos profanos.

O Tempo testemunhou
o nascimento de estrelas
a formação de mundos
explosões de sóis,
o colapso de galáxias
nos vórtices implacáveis
de buracos negros.

Vidas surgiram,
vidas se foram,
civilizações nasceram
civilizações envelheceram
civilizações desmoronaram
e retroagiram à barbárie.
Nada escapa à
corrosão do Tempo.

Mas a frágil flor,
mística flor,
flor azul e fluida,
estéril e sáfara,
sem frutificar
sobreviveu ao caos,
ao colapso
das lembranças

Cinco anos...
Cinco primaveras.
Cinco ciclos universais
e uma só e
soberana saudade...

(Poema composto em Campinas, em 23 de setembro de 1965).


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