Tuesday, April 12, 2011



Projetos ou meros sonhos?


Pedro J. Bondaczuk

Um leitor assíduo e fiel de todos os espaços que participo, que pediu para não ser identificado (e não sei por que), indaga sobre meus projetos literários, tanto para 2011, quanto para mais além. Com isso, força-me a fazer algo que me desagrada sobremaneira, mas que venho fazendo, ultimamente, com irritante (para mim e para muitos) freqüência: escrever a meu próprio respeito. Preferiria que outros escrevessem sobre mim. Enfim...

É complicado para um escritor falar de seus “projetos” literários. E não é porque não os tenha, mas pela própria inconstância da atividade. Tenho, por exemplo, vários livros “fermentando” há anos na cabeça e que teimam em não virem à luz. Isso ocorre ora por causa de atrasos de pesquisa, ora por surgirem temas mais oportunos e imediatos para desenvolver, ora por circunstâncias pessoais e/ou profissionais que me impedem de dar forma e substância àquilo que está apenas esboçado, quando não meramente pensado.

Venho trabalhando, por exemplo, há cinco anos no meu primeiro romance e se tivesse, hoje, de marcar uma data para sua conclusão, não teria a menor condição de fazer isso. Esse livro tanto pode ser concluído nos próximos dias ou semanas, quanto demorar ainda mais alguns anos ou, até mesmo, ser simplesmente “abortado”. O pitoresco é que, aquilo que o leigo julga mais “difícil”, ou seja, a elaboração do enredo, da história em si, já está prontinho. O romance, porém, carece de uma competente “edição”. Isso mesmo. Ficou com cerca de 500 páginas e o ideal é que fique com metade disso.

Só que esse trabalho de “poda”, que reputo fundamental, tem que ser cuidadoso (diria cirúrgico) e é sucessivamente interrompido, ora por novas solicitações que consomem todo o tempo livre da minha agenda, ora pela necessidade de divulgar novos livros meus recém-lançados, como é o caso de “Lance fatal” e “Cronos e Narciso”.

Confesso, e já escrevi isso “n” vezes, que essa divulgação (que sei ser fundamental) é a tarefa que mais detesto. Deixa-me sumamente irritado todas as vezes que preciso fazer isso. Come um tempo danado e é extremamente frustrante. “Amigos” que antes das obras ficarem prontas cobravam com insistência sua publicação, insinuando que moveriam céus e terras para que elas fossem um sucesso, agora tiram o corpo fora, me evitam e, por conseqüência, são suprimidos sumariamente do meu rol de amizades. E eu seria muito ingênuo, senão burro, se não agisse assim. Afinal, eles mostram-se não mais do que “falsos brilhantes” ou aquilo que os mineradores chamam de “ouro de tolo” e jamais amigos de verdade.

Todavia, não ficarei em cima do muro. Um dos meus projetos para 2011, cuja viabilidade está em estudo, é o de escrever uma espécie de biografia sobre um dos jogadores de futebol mais fascinantes de que já tomei conhecimento que existiram (cheguei a ouvir a narração de alguns jogos em que ele atuou). Trata-se do mineiro Heleno de Freitas, que era, simultaneamente, genioso e genial e com quem os biógrafos não foram lá tão generosos. Minha intenção não é abordar passagens de sua vida extracampo, pois isso já foi explorado à exaustão. É ressaltar a sua capacidade técnica e os resultados que obteve nos times pelos quais passou.

Seus biógrafos, por exemplo, exploram demais suas aventuras amorosas. Galã, como era, um gigante para a época, com 1,82 metro de altura, com bom-gosto e apuro no trajar, com tamanho charme que seus colegas de clube o apelidaram de “Gilda”, personagem de Rita Hayworth no famoso filme que leva esse nome, um dos clássicos do cinema de todos os tempos, dizem que, quando esteve na Argentina, jogando pelo Boca Juniors, teria sido amante da legendária Evita Perón. Claro que não há provas a respeito. Mas também ninguém ousou afirmar categoricamente que não fosse verdade.

O que eu gostaria de abordar, e enfatizar, é o Heleno de Freitas craque, comparável aos melhores que o futebol brasileiro já produziu. É o goleador que fez 209 gols em 235 partidas com a camisa do Botafogo. Acham pouco? Pois lhes informo que ainda hoje ele é o quarto artilheiro na história de um clube que já teve Garrincha, Jairzinho, Quarentinha, Paulo Valentim, Túlio Maravilha e tantos outros.

Querem outro feito de Heleno de Freitas nas quatro linhas dos gramados? Em 1948, quando foi vendido para o Boca Juniors da Argentina (e notem que o futebol portenho, na época, era considerado, quase que consensualmente, o melhor do mundo), a transação se constituiu na maior das Américas e levou anos para ser superada.

Seleção Brasileira? Heleno de Freitas vestiu, também, a gloriosa camisa, que então nem era a amarelinha como hoje (era branca), e não fez feio. Até hoje, ele tem uma das melhores médias de gols de todos os que já jogaram pela equipe cinco vezes campeã mundial (contando Pelé, Garrincha, Zico, Ronaldo e vai por aí afora): marcou quinze gols em 16 jogos!! O cara era um craque, mas não no conceito atual, em que qualquer jogadorzinho medíocre ou apenas razoável é tido como tal, mas no que era difícil de igualar, quando não inigualável.

Heleno de Freitas era amado e odiado por colegas de profissão e torcedores. A imprensa cunhou-lhe uma série de adjetivos, como “craque”, “artista da bola”, “mito do futebol”, “atleta das multidões”, “diamante branco”, “craque galã” e vai por aí afora. Esse é o personagem que gostaria de retratar, em sua glória e esplendor, e não o sujeito neurótico, doente e fracassado dos seus anos de decadência. Tomara que eu consiga! Quanto aos outros projetos, querido e curioso leitor, prometo revelar oportunamente, mas só para você, e através de e-mail, ok?


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