Wednesday, April 27, 2011







Antonio Maria de volta

Pedro J. Bondaczuk


A novela “Antonio Maria”, de Geraldo Vietri, que em 1968 constituiu um verdadeiro fenômeno de audiência nacional na extinta TV Tupi, está voltando aos nossos vídeos, passados 17 anos da apresentação original.
Evidentemente, ganha, agora, nova roupagem, com mais recursos técnicos à disposição da equipe responsável por sua produção e, principalmente, com algo que naquele tempo era apenas um sonho e hoje é a coisa mais corriqueira: a cor.
Se ganha em visual, todavia, certamente não deve superar, em termos de elenco, ao de quase duas décadas atrás, quando a figura que conquistou o Brasil, a do motorista português, foi interpretada por um profissional que hoje é autêntica lenda nos meios artísticos: o ator Sérgio Cardoso.
Mesmo assim, não há como negar, foi muito feliz e oportuna a escolha da Rede Manchete desse trabalho para promover o lançamento do seu núcleo de novelas. Para a televisão, para os envolvidos nesse tipo de trabalho e, principalmente, para o telespectador, esse é um acontecimento que merece, sem dúvida, um registro destacado.
Desde quando a Bandeirantes desistiu das telenovelas, a Globo tornou-se absoluta nessa espécie de produção. Mesmo tendo a concorrência (esforçada, é verdade) da TVS que, em termos de potencial de investimentos está, ainda, muitos furos distante da grande líder nacional de audiência, a emissora do Jardim Botânico teve uma espécie de acomodação.
É certo que produziu alguns trabalhos de altíssima qualidade nesse período. E fez isso até por um motivo pragmático, pensando em colocar essas novelas no mercado internacional. Mas ninguém pode negar que muita história sonolenta e mal acabada também foi para o ar. E quem perdeu com isso, foi o telespectador que, sem opção melhor para preencher o horário, teve que acompanhar algumas telelágrimas sensaboronas e maçantes.
Não queremos, com isso, afirmar que a entrada da Rede Manchete na produção de novelas possa vir a assustar a Globo. Mas, certamente, forçará a emissora a pelo menos manter seu inegável padrão de qualidade, como, aliás, ocorreu quanto às minisséries, onde do duelo entre os dois canais, todos nós lucramos, com trabalhos como “Anarquistas Graças a Deus”, “A Marquesa de Santos”, “Rabo de Saia” e “Santa Marta Fabril”, competindo pelo interesse do telespectador.
O enredo de “Antonio Maria”, embora os mais antigos conheçam de sobejo, sempre será novidade em nosso País. Aborda a presença dos imigrantes portugueses, pelos quais temos tanto carinho e admiração (não fossem eles nossos legítimos irmãos de sangue). Mostra a conduta judiciosa e esforçada de um motorista particular, empregado na casa do dono de uma rede de supermercados de São Paulo, o Dr. Adalberto.
Essa novela, no segundo semestre de 1968, foi, inclusive, pivô de uma enorme controvérsia na colônia lusitana. Enquanto algumas pessoas mostravam irritação com o personagem, classificando-o como um estereótipo, a maioria absoluta literalmente “apaixonava-se” por essa figura simples, humana e boa.
Para que o leitor avalie até que ponto ia a audiência da novela naquele tempo, basta dizer que as emissoras concorrentes (entre as quais a Globo) mudavam os horários de seus melhores programas para não coincidirem com o de “Antonio Maria”.
As programações jornalísticas, que então eram, em geral, insípidas e mal editadas, eram quase todas apresentadas após as 22 horas em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Apenas o “Repórter Esso”, da Tupi do Rio, ia ao ar mais cedo. E por motivo óbvio. Sendo da mesma emissora em que era apresentada a novela, não precisava, logicamente, temer sua concorrência. Além de ter, frise-se, na sua apresentação, a figura competente e tarimbada de Gontijo Teodoro, então imbatível quanto à aceitação por parte do telespectador.
Passados esses 17 anos, provavelmente a história de Geraldo Vietri não vai causar mais o mesmo impacto de 1968. Não que o pessoal envolvido nessa nova versão seja inferior, repetimos. É que as condições atuais são bastante diversas das daquele tempo.
A Tupi, onde “Antonio Maria” era apresentada, disputava, então, os primeiros lugares na preferência do público, como a emissora mais antiga do País, por ser a pioneira. A Manchete está, justamente, no pólo oposto. É o canal mais jovem dos que estão em atividade, praticamente em fase de consolidação.
A Rede Globo, por outro lado, que naqueles tempos ainda estava engatinhando, hoje é uma potência, não apenas nacional, mas até em termos mundiais. Conta com recursos de toda a espécie muito maiores do que as concorrentes da Tupi dispunham em 1968.
É evidente, portanto, que se sentir perigar sua liderança de audiência (o que nos parece uma possibilidade bastante remota), é óbvio que vai reagir para manter, ou até mesmo para aumentar, a sua supremacia. Mas que a competição vai ser algo saudável (e quando ela se dá em alto nível, sempre é), disso não temos a mínima dúvida.
Até porque, certamente prevenindo o lançamento de “Antonio Maria”, a Globo antecipou-se e lançou, por seu turno, uma novela, em seu horário mais nobre, de uma autêntica fera em termos de sucesso: Dias Gomes, com o seu “Roque Santeiro”.

(Artigo publicado na coluna semanal “Vídeo”, na página 20, “Arte e Variedades” do Correio Popular, em 5 de julho de 1985).

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