Sunday, April 05, 2009

REFLEXÃO DO DIA


A nossa mente encerra mais mistérios do que possa prever “nossa vã filosofia”. Há coisas que não compreendo e, certamente, jamais irei compreender, por maior que seja a minha evolução mental e intelectual. Você, paciente leitor, já não teve algum dia a estranhíssima sensação de já “ter vivido esse momento” que tem certeza de estar vivendo pela primeira vez? Ao ir a um determinado lugar, em que nunca esteve, não lhe parece que ele é familiar e que já pisou ali, sem se lembrar quando? Eu já passei por essa experiência e mais de uma vez. Não raro cruzo com pessoas que tenho absoluta certeza de já as conhecer, mesmo sem nunca antes haver sequer sabido da sua existência. Algo nelas – a aparência, a voz, os gestos – desperta-me vaga lembrança de um conhecimento prévio que, no entanto, nunca existiu. Com lugares, essa sensação é ainda mais aguda e mais freqüente. Quando estive pela primeira vez em Pernambuco, senti isso em Caruaru, onde jamais estivera antes, ao visitar determinado bosque. Alguma coisa insistia em me dizer: “você já esteve aqui”. E mais, tive a sensação de que, atrás de uma cortina de árvores cerradas, havia um riacho de águas cristalinas. Resolvi conferir e, para o meu pasmo... havia mesmo. Como eu poderia saber, se nunca havia estado naquele lugar?! Até hoje não entendo este e outros tantos episódios semelhantes (ou, pelo menos, parecidos) pelos quais passei. Jorge Luiz Borges escreveu o seguinte sobre esse tipo de situação, no livro “História da Eternidade”: “A sensação ‘de já ter vivido esse momento’ por vezes nos deixa pensativos. Os partidários do eterno regresso nos juram que é assim e buscam uma corroboração de sua fé nesses estados de perplexidade. Esquecem que a lembrança implicaria uma novidade que é a negação da tese e que o tempo a iria aperfeiçoando – o ciclo distante em que o indivíduo já prevê seu destino, e prefere agir de outro modo”.

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