Thursday, April 23, 2009

Meus amigos de quatro patas


Pedro J. Bondaczuk

O relacionamento do homem com animais classificados como “domésticos”, notadamente cães e gatos, é antiqüíssimo. Remonta, provavelmente, à Idade da Pedra Polida, ou seja, há pelo menos 12 mil anos (se não mais). Atualmente, esse mútuo apego é mais forte do que nunca. Embora não haja estatísticas a respeito, estima-se que as populações canina e felina sejam equivalentes à humana (se não maior). Ou seja, por volta de 6,7 bilhões cada uma.
Pinturas em cavernas da Europa comprovam que nossos remotíssimos ancestrais já nutriam certa amizade (ou pelo menos companheirismo) com esses animais. Alguns desses murais retratam caçadas a bisões e alces em que cães participavam ativamente. As populações caninas e felinas só não são maiores, hoje em dia, porque há povos que ainda os criam (pasmem) para comer. Acho uma crueldade, mas não me admiro e não me assusto tanto quando levo em conta que já houve homens que se deliciavam com carne humana. Argh!!!
Gosto de animais e tive, desde menino, inúmeros cães e gatos com os quais mantive profunda ligação afetiva. Oportunamente, prometo relatar alguns desses casos. Hoje, porém, prefiro tratar dos meus amigos de quatro patas atuais. Embora eles dêem muito trabalho – que, aliás, executo com o maior prazer – minha casa é cheia de vida, porquanto tenho ao meu redor um monte de bichos, cada qual com sua característica e personalidade. E eles se mostram tão inteligentes e cativantes, com sua onipresença, que falta, apenas, falarem.
Sobre o Nick, meu poodle toy, prometo não discorrer tanto. Afinal, já enchi demais a bola dele, abordando suas peripécias em pelo menos dez crônicas. Mas ele merece. É verdade que tem complexo de mastim, ou de pitbull, ou sei lá de que raça, apesar do seu tamanho diminuto. Em 29 de dezembro de 2000, quando minha casa foi invadida por bandidos, que fizeram a família toda de reféns, foi o único que ousou reagir. Atacou os três pilantras, às dentadas e, mesmo levando chutes e coronhadas, não lhes deu trégua, até que se fossem, levando meras quinquilharias sem valor.
Hoje ele está velhinho, velhinho, sem aquela disposição guerreira que sempre o caracterizou. Mas continua carinhoso, vigilante e afável com o pessoal aqui de casa. Recebe o melhor tratamento possível, com direito a banho e tosa quinzenais nos profissionais especializados nessa função. Mas deixemos o Nick sossegado no seu canto.
Tenho sete gatos, de raças diferentes, três dos quais nasceram aqui em casa. O mais velho é o Nego, que tem esse nome por ser negro como uma noite nublada e sem luar. Seus pais são dois amigos que já não estão conosco, a Saninha e o Charlie. Meu filho Alexei ajudou-o a nascer. É um tanto xucro e desconfiado, mas é sempre o primeiro da fila na hora da distribuição da ração (que faço questão que seja de primeiríssima qualidade, de marca tradicional e a mais cara do mercado. Meus amigos merecem do bom e do melhor).
O Nego é pai do Frajola e da Neguinha, num cruzamento com a Raja, gata selvagem que aos poucos estamos conseguindo domesticar e que salvamos de ser arrastada pela enxurrada para um bueiro em frente de casa. Desses dois espertos gatinhos, meu filho também foi “parteiro” e é impressionante a amizade e o apego que ambos têm por ele. Para o resto da família até que não dão muita bola (a não ser na hora da “bóia”, claro, pois os gatos são muito sabidos e individualistas).
A Neguinha, sempre que vê o Alexei, fica à espera que este lhe atire uma bolinha de papel para brincar. Faz isso desde pequena (hoje já está com quatro anos e ainda não perdeu o costume). O Mustafá, um siamês (que estranhamente não cresceu e tem o tamanho de um animal de seis meses, quando, na verdade, já está com três anos), é desconfiado e arredio. Sua principal característica é o fato de ser estrábico. Seu maior prazer é fazer-me companhia em meu gabinete de trabalho, quando estou empenhado em escrever meus textos.
Deixei os dois gatos mais bonitos para serem apresentados por último. Ambos são da raça angorá, só que um, o Putzi, é totalmente negro e o outro, o Mingau, é branco, branco como a neve. São uma festa para os olhos, de tão belos que são e, principalmente quando estão juntos, pelo contraste das suas cores. Todavia não são amigos. Na verdade, odeiam-se.
O Putzi é o gato mais malandro da casa. Conquistou a todos, embora não esconda de ninguém sua preferência por mim. Fura, invariavelmente, a fila da bóia, mas não é agressivo com os companheiros. Ganha o que quer na base da pura simpatia. É, contudo, o maior caçador da casa e não raro aparece com algum pardal por entre os dentes, ocasião em que não admite que ninguém se aproxime, humano ou animal, fazendo cara de poucos amigos e se preparando para briga, caso seja necessário.
O Mingau é manhoso como quê. É um gato enorme e tem pelagem fofa e farta. É outro apegado com o Alexei e, por essa razão, tem um ciúme terrível da Neguinha e do Frajola. Até já andou lhes dando alguns “petelecos”, na disputa pela atenção do meu filho.
Certa feita, dei-o (com o coração partido, claro) ao meu neto, que mora a uns três bairros de distância de mim (seguramente, a uns oito quilômetros). Três dias depois, no entanto, eis que ouço alguém arranhando a porta da frente de casa. Fui ver quem era e... surpresa! Era o Mingau, cansado e faminto, que havia fugido e retornado ao que sempre teve como seu lar. Depois disso, nunca mais quis me desfazer desse manhoso (e briguento) amigão.
Claro que não sou daquele tipo exagerado, que prefere a amizade dos animais à dos homens. Até porque, uma não exclui a outra. Sou egoísta nesse aspecto. Quero, como amigos, todos os que gostarem de mim e se identificarem com meus gostos e pensamentos, não importa se pessoas ou bichos.
Mas não posso negar que tenho um afeto muito especial pelos meus sete gatos e meu heróico cãozinho (ainda com complexo de pitbull). São eles que estão sempre presentes em meus momentos de alegria e de tristeza. Nunca me traíram e duvido que algum dia o façam. Daí a recíproca ser verdadeira em relação a esses fiéis, charmosos e onipresentes amigos de quatro patas.

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