Homens precisam ser educados para a paz
Pedro J. Bondaczuk
O sepultamento do imperador Hirohito, do Japão, que vai ocorrer na sexta-feira próxima, em Tóquio, reunindo representantes de 160 países, incluindo diversos chefes de Estado e de governo, como os presidentes George Bush e José Sarney e o rei Hussein da Jordânia, entre outros, traz à tona, além de amargas recordações de um passado não muito distante, algumas reflexões sobre a realidade de nossos tempos.
O velho monarca, que um dia já foi considerado uma divindade viva pelos japoneses e que morreu de câncer intestinal em 7 de janeiro deste ano, foi o último grande líder da Segunda Guerra Mundial a desaparecer. Nos derradeiros dias, mesmo passados 44 anos desse terrível conflito, foram extravasados muitos ressentimentos contra esse ocupante do trono do Crisântemo, de 2.500 anos de duração.
Britânicos, neozelandeses, australianos, coreanos e outros povos entendem que seus governos não deveriam enviar representantes aos funerais de um dos responsáveis pelas maiores atrocidades cometidas durante a guerra, finda há quase meio século.
Como se vê, o pior das conflagrações acabam sendo as seqüelas que elas deixam. São necessárias várias gerações para que rancores, ressentimentos e mágoas sejam esquecidos. E às vezes eles nunca são. Daí a inutilidade do recurso à violência para a solução de controvérsias. Inutilidade e rematada estupidez.
Todos sabem disso, mas, mesmo assim, novos conflitos estão sendo fermentados aqui, ali e alhures, por razões que os próprios fermentadores não sabem explicar racionalmente. Os homens têm que ser educados para a paz. Bem dizia, a esse propósito, o escritor inglês H. G. Wells, ao observar: “A história da humanidade é uma competição entre a educação e a catástrofe”.
Um outro estadista, não recordamos agora qual, costumava dizer que a guerra é que é a rotina entre os povos. Que a paz não passa de um breve hiato entre dois conflitos. Quem toma em suas mãos um compêndio de história conclui que, embora essa afirmação seja um tanto cínica, não é mais do que a exata expressão da realidade.
Outra reflexão que o sepultamento de Hirohito enseja é sobre a insegurança reinante em nosso planeta na atualidade. Cerca de 30 mil policiais japoneses foram destacados para a proteção das personalidades presentes em Tóquio. E isto ainda é pouco, num mundo em que o decreto emitido por um patriarca no Golfo Pérsico, contra um escritor, faz tremer na base todas as potências. Em que um cidadão pode ser estraçalhado por uma bomba durante uma simples viagem de negócio, sem motivo ou razão. Ou pode morrer estupidamente, vítima de uma explosão, num passeio despreocupado por alguma rua qualquer de uma grande metrópole.
Por isso, é impossível de deixar de dar razão ao escritor Érico Veríssimo, que escreveu, no sei livro “Saga”: “O homem nem sempre é mau. A humanidade quase sempre o é”.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 21 de fevereiro de 1989).
Pedro J. Bondaczuk
O sepultamento do imperador Hirohito, do Japão, que vai ocorrer na sexta-feira próxima, em Tóquio, reunindo representantes de 160 países, incluindo diversos chefes de Estado e de governo, como os presidentes George Bush e José Sarney e o rei Hussein da Jordânia, entre outros, traz à tona, além de amargas recordações de um passado não muito distante, algumas reflexões sobre a realidade de nossos tempos.
O velho monarca, que um dia já foi considerado uma divindade viva pelos japoneses e que morreu de câncer intestinal em 7 de janeiro deste ano, foi o último grande líder da Segunda Guerra Mundial a desaparecer. Nos derradeiros dias, mesmo passados 44 anos desse terrível conflito, foram extravasados muitos ressentimentos contra esse ocupante do trono do Crisântemo, de 2.500 anos de duração.
Britânicos, neozelandeses, australianos, coreanos e outros povos entendem que seus governos não deveriam enviar representantes aos funerais de um dos responsáveis pelas maiores atrocidades cometidas durante a guerra, finda há quase meio século.
Como se vê, o pior das conflagrações acabam sendo as seqüelas que elas deixam. São necessárias várias gerações para que rancores, ressentimentos e mágoas sejam esquecidos. E às vezes eles nunca são. Daí a inutilidade do recurso à violência para a solução de controvérsias. Inutilidade e rematada estupidez.
Todos sabem disso, mas, mesmo assim, novos conflitos estão sendo fermentados aqui, ali e alhures, por razões que os próprios fermentadores não sabem explicar racionalmente. Os homens têm que ser educados para a paz. Bem dizia, a esse propósito, o escritor inglês H. G. Wells, ao observar: “A história da humanidade é uma competição entre a educação e a catástrofe”.
Um outro estadista, não recordamos agora qual, costumava dizer que a guerra é que é a rotina entre os povos. Que a paz não passa de um breve hiato entre dois conflitos. Quem toma em suas mãos um compêndio de história conclui que, embora essa afirmação seja um tanto cínica, não é mais do que a exata expressão da realidade.
Outra reflexão que o sepultamento de Hirohito enseja é sobre a insegurança reinante em nosso planeta na atualidade. Cerca de 30 mil policiais japoneses foram destacados para a proteção das personalidades presentes em Tóquio. E isto ainda é pouco, num mundo em que o decreto emitido por um patriarca no Golfo Pérsico, contra um escritor, faz tremer na base todas as potências. Em que um cidadão pode ser estraçalhado por uma bomba durante uma simples viagem de negócio, sem motivo ou razão. Ou pode morrer estupidamente, vítima de uma explosão, num passeio despreocupado por alguma rua qualquer de uma grande metrópole.
Por isso, é impossível de deixar de dar razão ao escritor Érico Veríssimo, que escreveu, no sei livro “Saga”: “O homem nem sempre é mau. A humanidade quase sempre o é”.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 21 de fevereiro de 1989).
No comments:
Post a Comment