Wednesday, April 08, 2009

A necessidade de amigos


Pedro J. Bondaczuk

As amizades, via de regra, acontecem como frutos do acaso e das circunstâncias, apesar de muitos negarem essa evidência e tentarem explicações mil, não raro esotéricas, que ao final das contas nada explicam. Ninguém (como também ocorre no amor) escolhe alguém a dedo para ser amigo. Quando escolhe, a coisa não funciona. É inútil tentar racionalizar esse ou qualquer outro sentimento. Eles são produtos de emoção, não da razão.
Discordo, portanto, dos que afirmam, como se fossem supremos juízes, com empáfia e pose de sabedoria: “nada acontece por acaso”. Pelo contrário, pouco, pouquíssimo do que nos ocorre no dia a dia é conseqüência de programação e planejamento. Os fatos são aleatórios, caprichosos, surpreendentes, imponderáveis e raramente estamos preparados para eles (pelo menos para todos eles), daí sermos forçados a reagir, amiúde, na base da pura intuição.
Gosto dos amigos. Quero-os todos ao meu redor. Necessito deles, não tanto no plano material, mas no afetivo. Preciso receber e ofertar afetos. É uma necessidade tão premente como a de dormir, de me alimentar, respirar etc. Tenho, felizmente, amigos em grande quantidade, e sem que tivesse que mover um só dedo para conquistá-los. Essas amizades simplesmente aconteceram, sem previsão ou planejamento.
Tenho dívidas imensas de gratidão por pessoas que não faz muito nem sabia que existiam (o mesmo ocorrendo com elas, evidentemente, em relação a mim). Elas tornaram-me um ser humano melhor, mais confiante, seguro, amável, cortês, modesto e alegre.
Ensinaram-me, tacitamente, a enxergar o mundo sob o olhar do “outro”, a dominar meu instintivo egoísmo e colocá-lo no diapasão, digamos, normal. Ou seja, sem destoar do conjunto, do grupo, do coletivo. Foram inúmeras as lições que aprendi com elas e nenhuma delas eu teria a menor chance de aprender sozinho.
Tenho ouvido, porém amiúde, pessoas amargas e mesquinhas dizerem, com azedume, que não precisam de amigos. À guisa de justificativa, afirmam não acreditar em amizades sinceras. Tenho pena de quem pensa assim. Perde esplendida oportunidade de se tornar mais alegre, objetivo, modesto e cortês.
Além do que, quem abre mão, estupidamente, das amizades, terá que aprender as regras da vida pelo meio pior que possa existir: o do sofrimento. Os amigos são não apenas necessários, como indispensáveis para nos tornar melhores, positivos e felizes.
Raramente valho-me dos préstimos de uma dessas pessoas, nas quais confio sem reservas (se não confiasse não existiria amizade entre nós), em alguma dificuldade que enfrente, notadamente financeira. Nas poucas vezes que recorri, nunca fui deixado na mão. Recorro, quando muito, a seus conselhos e opiniões, que posso acatar ou não, sem que isso cause rusgas ou ressentimentos. E, ao que me lembre, jamais disse não a algum apelo de um amigo. A bem da verdade, foram raríssimas as ocasiões em que fui solicitado a prestar algum tipo de socorro a qualquer dessas pessoas que me são tão caras. Quando fui, nunca falhei.
Os amigos me equilibram, colocam-me no devido lugar, me ajudam a evitar, até, muitas vezes, que eu caia em ridículo publicamente, por causa de alguma idéia estapafúrdia, ou atitude impensada ou por outro motivo qualquer.
Sempre que vou fazer alguma coisa importante, que implique em grande responsabilidade, consulto-os a propósito, já que nem sempre confio em meu julgamento íntimo e, sobretudo, em minha autocrítica.
Ademais, faço-lhes, não raro, confidências que só faria à minha esposa (com a qual mantenho, além de profundos laços de amor, sólida e indestrutível amizade), sem receio de eventuais traições. Quando estas acontecem (às vezes ocorrem, pois nada no mundo é perfeito), os laços de mútua confiança se rompem, sem a mais remota possibilidade de serem reatados. Eles são como a virgindade: uma vez perdida...
Nestas circunstâncias, a tal da amizade “morre” de morte súbita. Mas é raro que isso aconteça. O acontecimento mais freqüente é, a cada dia, acrescentar novos amigos ao meu (felizmente) vasto círculo de relacionamentos afetivos, o que me enriquece e melhora ainda mais. Não tenho como negar (e nem há motivo para tal): preciso dessas amizades, às centenas, aos milhares, aos milhões, tantas e quantas conseguir conquistar.
O filósofo norte-americano Will Durant explica, em seu livro “Filosofia da Vida”, essa necessidade (para mim óbvia): “Os amigos são necessários, não só porque nos ouvem, como porque se riem para nós; através dos amigos conseguimos um pouco de objetividade, um pouco de modéstia, um pouco de cortesia; com eles também aprendemos as regras da vida, tornando-nos melhores jogadores dos jogos que a compõem”. Em suma, amigos tornam-nos, de fato, sobretudo humanos. Salve as amizades!!!!

No comments: