* Pedro J. Bondaczuk
O jornalista, no exercício diário da sua função, é forçado a criar um escudo psicológico indevassável, para não se deixar afetar pela matéria-prima da sua profissão: os fatos, as notícias, os acontecimentos, na sua maioria não apenas ruins, mas trágicos.
Já tratei, em outras oportunidades, desse assunto, aqui, neste espaço nobre do Comunique-se, mas nunca é demais voltar ao assunto, sobretudo em consideração aos futuros profissionais de imprensa, os estudantes de jornalismo, que constituem (ao que presumo) a maior parcela do meu público leitor.
Amiúde sou questionado, nas palestras que profiro, sobre o método que adoto para não me deixar atingir pelo desfile cotidiano de tragédias, de patifarias, de corrupção, de violência, de taras, de ódio e de dor com o qual lido, a cada dia, por anos, já por décadas, no exercício da minha função. Como fazer para não se tornar amargo, não abominar a vida e nem querer que a guerra do Armagedom, a definitiva e final, a travada com armas nucleares, seja deflagrada de vez, para acabar com este mundo?
Se para o destinatário da informação (o leitor, o ouvinte ou o telespectador) já é difícil escapar da amargura, do pessimismo e da depressão que esta enseja, diante de tudo o que se lê, se ouve e se vê, em jornais, emissoras de rádio e televisão e pela internet, da hora em que se acorda até o momento de se deitar, imaginem como é complicado para quem precisa trabalhar com esse material, fruto da realidade gerada pela ação de um ser que se diz “Homo Sapiens”, que tem muito de divino, mas também considerável parcela (e põe considerável nisso!) de diabólico e que, conforme assegura Edgar Morin, é, na verdade, o “Homo Demens”!
Essa criatura arrogante e homicida esquece da sua fragilidade intrínseca, da sua efemeridade, da sua mortalidade, para tentar brincar de Deus, intervindo na natureza, manipulando o desconhecido e exercendo (ou achando que exerce) um poder que, na verdade, nem tem.
Tenho, de fato, alguns escudos, embora, como pessoa emotiva, não consiga me livrar por completo dos efeitos dessa “ciência do bem e do mal”, desse desfile de sofrimentos, sandices e engodos. Em primeiro lugar, refugio-me na fé, não somente no Criador (que certamente sabia o que estava fazendo quando criou este animal que pensa e que é o único que ri), mas na preponderância final da razão sobre o instinto, não importa quando venha a ocorrer.
Certamente não será nesta geração. Talvez nem nas próximas dez, cem ou mil. Mas um dia ocorrerá...Em seguida, busco sempre extrair alguma lição positiva do fato mais negativo que exista. Tudo é uma questão de enfoque, de visão, de ponto de vista.
Jamais seríamos capazes de avaliar (e, sobretudo, valorizar) as coisas boas, se não houvesse um parâmetro de comparação que, no caso, são as ruins. Sobretudo, recuso-me a entregar-me ao pessimismo, ao derrotismo, à amargura.
Minha alegria e minha satisfação não se pautam, especificamente, pelo que me ocorre ou por aquilo que eu consiga possuir. Até porque, dada a minha mortalidade, nada é meu, mas os objetos que obtenho (desde uma casa, a um carro, um computador ou uma razoável conta bancária), ficam de posse transitória comigo, enquanto eu viver, ou até que me decida desfazer deles (a não ser que me sejam roubados, possibilidade impossível de se descartar).
Sei que vim ao mundo com alguma finalidade, embora não saiba com certeza qual seja (e ninguém sabe!). Por isso, tento levar, dentro do possível, e da minha imperfeição humana, a vida de forma altruística, não me sentindo o centro dos acontecimentos ou credor do que quer que seja e, se possível, com o máximo bom-humor que os chatos me permitirem.
Procuro ser o que provavelmente sou (ou penso ser): um simples elo na corrente da razão que vem do surgimento da espécie humana e talvez se estenda à sua extinção ou, quiçá, ao infinito. Ademais, podemos admitir nossas fraquezas e deficiências de forma intimista e bela. Como?
Através de um poema, por exemplo. Como este "Epitáfio", do inglês John Howard: "Tímido demais para vender/honesto demais para ensinar/calado demais para escrever/céptico demais para pregar/altivo demais para subir/cordato demais para lutar/rasteiro demais para cair/e velho demais para mudar.//Como vêem, seria mesmo o cúmulo/eu reivindicar aqui um túmulo;/aquém do elogio, além do ultraje,/fui só o que estava de passagem". Embora sem o talento de John Howard, claro, há muito fiz idêntica descoberta. E bem que poderia, um dia, que espero que esteja ainda muito distante, ter esse enfático epitáfio...
O jornalista, no exercício diário da sua função, é forçado a criar um escudo psicológico indevassável, para não se deixar afetar pela matéria-prima da sua profissão: os fatos, as notícias, os acontecimentos, na sua maioria não apenas ruins, mas trágicos.
Já tratei, em outras oportunidades, desse assunto, aqui, neste espaço nobre do Comunique-se, mas nunca é demais voltar ao assunto, sobretudo em consideração aos futuros profissionais de imprensa, os estudantes de jornalismo, que constituem (ao que presumo) a maior parcela do meu público leitor.
Amiúde sou questionado, nas palestras que profiro, sobre o método que adoto para não me deixar atingir pelo desfile cotidiano de tragédias, de patifarias, de corrupção, de violência, de taras, de ódio e de dor com o qual lido, a cada dia, por anos, já por décadas, no exercício da minha função. Como fazer para não se tornar amargo, não abominar a vida e nem querer que a guerra do Armagedom, a definitiva e final, a travada com armas nucleares, seja deflagrada de vez, para acabar com este mundo?
Se para o destinatário da informação (o leitor, o ouvinte ou o telespectador) já é difícil escapar da amargura, do pessimismo e da depressão que esta enseja, diante de tudo o que se lê, se ouve e se vê, em jornais, emissoras de rádio e televisão e pela internet, da hora em que se acorda até o momento de se deitar, imaginem como é complicado para quem precisa trabalhar com esse material, fruto da realidade gerada pela ação de um ser que se diz “Homo Sapiens”, que tem muito de divino, mas também considerável parcela (e põe considerável nisso!) de diabólico e que, conforme assegura Edgar Morin, é, na verdade, o “Homo Demens”!
Essa criatura arrogante e homicida esquece da sua fragilidade intrínseca, da sua efemeridade, da sua mortalidade, para tentar brincar de Deus, intervindo na natureza, manipulando o desconhecido e exercendo (ou achando que exerce) um poder que, na verdade, nem tem.
Tenho, de fato, alguns escudos, embora, como pessoa emotiva, não consiga me livrar por completo dos efeitos dessa “ciência do bem e do mal”, desse desfile de sofrimentos, sandices e engodos. Em primeiro lugar, refugio-me na fé, não somente no Criador (que certamente sabia o que estava fazendo quando criou este animal que pensa e que é o único que ri), mas na preponderância final da razão sobre o instinto, não importa quando venha a ocorrer.
Certamente não será nesta geração. Talvez nem nas próximas dez, cem ou mil. Mas um dia ocorrerá...Em seguida, busco sempre extrair alguma lição positiva do fato mais negativo que exista. Tudo é uma questão de enfoque, de visão, de ponto de vista.
Jamais seríamos capazes de avaliar (e, sobretudo, valorizar) as coisas boas, se não houvesse um parâmetro de comparação que, no caso, são as ruins. Sobretudo, recuso-me a entregar-me ao pessimismo, ao derrotismo, à amargura.
Minha alegria e minha satisfação não se pautam, especificamente, pelo que me ocorre ou por aquilo que eu consiga possuir. Até porque, dada a minha mortalidade, nada é meu, mas os objetos que obtenho (desde uma casa, a um carro, um computador ou uma razoável conta bancária), ficam de posse transitória comigo, enquanto eu viver, ou até que me decida desfazer deles (a não ser que me sejam roubados, possibilidade impossível de se descartar).
Sei que vim ao mundo com alguma finalidade, embora não saiba com certeza qual seja (e ninguém sabe!). Por isso, tento levar, dentro do possível, e da minha imperfeição humana, a vida de forma altruística, não me sentindo o centro dos acontecimentos ou credor do que quer que seja e, se possível, com o máximo bom-humor que os chatos me permitirem.
Procuro ser o que provavelmente sou (ou penso ser): um simples elo na corrente da razão que vem do surgimento da espécie humana e talvez se estenda à sua extinção ou, quiçá, ao infinito. Ademais, podemos admitir nossas fraquezas e deficiências de forma intimista e bela. Como?
Através de um poema, por exemplo. Como este "Epitáfio", do inglês John Howard: "Tímido demais para vender/honesto demais para ensinar/calado demais para escrever/céptico demais para pregar/altivo demais para subir/cordato demais para lutar/rasteiro demais para cair/e velho demais para mudar.//Como vêem, seria mesmo o cúmulo/eu reivindicar aqui um túmulo;/aquém do elogio, além do ultraje,/fui só o que estava de passagem". Embora sem o talento de John Howard, claro, há muito fiz idêntica descoberta. E bem que poderia, um dia, que espero que esteja ainda muito distante, ter esse enfático epitáfio...
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