Thursday, September 06, 2007

Ato de amor


Pedro J. Bondaczuk


As obras duradouras, que permanecem anos, séculos, quiçá milênios após a nossa morte e que beneficiam gerações, não importa seu tamanho ou natureza, são atos de amor. Não esse estereotipado, mutilado e distorcido, como é entendido por grande parte das pessoas, ou seja, a mera transação de corpos, almas e interesses, sem nenhum comprometimento profundo e genuíno. Este tipo de sentimento conduz, somente, à frustração, ao desespero e à solidão.
O amor a que me refiro é aquele desprendido, abnegado, altruísta, que move céus e terras para proteger e beneficiar seus destinatários, sem esperar agradecimentos, vantagens e sequer reciprocidade. Por esta emoção, sim, vale a pena viver e, se preciso, vale a pena morrer.
Quem não ama o que faz, jamais conseguirá fazer nada bem feito. Não terá vontade, coragem e disposição de colocar em sua obra corpo, coração e mente. Ou seja, tudo aquilo que é. Estará em atividade errada e esse fato resultará, fatalmente, em frustração, desgosto e fracasso. Temos que amar, sobretudo, a humanidade, a despeito de suas fraquezas, aberrações, patifarias e contradições. Ou seja, devemos agir como recomendam lúcidos pregadores: “abominar o pecado, mas ter compaixão pelo pecador”.
Aquele que não ama os semelhantes e, pior do que isso, que os abomina, jamais dedicará a vida na elaboração de uma obra cujos resultados não irá aproveitar. Nunca podemos perder de vista o fato de que somos efêmeros e que desconhecemos nosso tempo de vida. Quanto menos esperarmos, zás, alguma fatalidade (acidente, doença ou agressão), pode nos atingir e pôr fim à nossa aventura no mundo. E mortos, claro, de nada nos valerão nossos bens ou nossas virtudes ou nossas aptidões. Tudo o que fazemos, portanto, mesmo que não venhamos a nos dar conta, é para usufruto alheio.
Todos temos condições de alcançar nossos objetivos (desde que factíveis, claro), seja qual for a nossa competência, o nosso grau de instrução ou a nossa posição social. Podemos ser vencedores, na atividade que escolhermos, desde que tenhamos talento para ela, nos comprometamos com a mesma e nos empenhemos de verdade para a exercer com o máximo de dedicação. E em que consistiria essa vitória? Para alguns, seria a acumulação de bens. Tolice, claro. Dessas bugigangas, que tanto valorizamos, temos posse apenas transitória, enquanto vivermos. Tão logo dermos nosso derradeiro suspiro...não mais serão nossas.
Vencer na vida, então, consistiria em conquistar prestígio, poder e influência? Quem tiver isso como objetivo terá, certamente, imensas frustrações. Pode até conseguir esse status por algum tempo. Mas quando o castelo de cartas ruir...
O reverendo Norman Vincent Peale dá sua “receita” para uma vida produtiva, equilibrada e feliz: “Quando dizemos que o entusiasmo é o poder que soluciona problemas, queremos dizer que é o próprio Deus quem nos dá a coragem, a habilidade e a fé que necessitamos. Ame as pessoas, ame os céus sob os quais você vive, ame a beleza, ame a Deus. A pessoa que ama – e crê – possui a alegria e a centelha que encherão sua vida de significação”.
Nós não nos conhecemos de verdade. Não temos noção exata, e sequer aproximada, da nossa força, do nosso talento e do nosso potencial. A maioria das pessoas nem tenta chegar ao auto-conhecimento, talvez por medo do que possa descobrir. Embora negue enfaticamente, refugia-se na morna rotina do dia-a-dia, por anos a fio, com medo de se expor às descobertas, às experiências e ao amor. E, portanto, à vida. Vegetam, não vivem.
Ao mínimo fracasso, à menor frustração, essas pessoas entregam-se a um inócuo choramingar, a um exercício inútil e covarde de auto-piedade. No entanto, há um mundo a ser conquistado. Para isso, porém, o medo de se expor tem que ser, necessariamente, deixado de lado. Objetivos claros e definidos precisam ser traçados e seguidos rigorosamente. O resto...
Bem, o resto é colocar no empreendimento tudo de si. Aliar ação à emoção, técnica ao sentimento, conhecimento ao amor pelo que se faz. Há tempos, ouvi de alguém uma citação, cujo autor desconheço, e que nunca mais me saiu do pensamento. Diz: “Quando nascemos, todos ao nosso redor riem e apenas nós choramos. Vivamos uma vida de tal sorte que, ao morrermos, todos chorem nossa partida e somente nós possamos sorrir, com a certeza do dever cumprido”. Isto é o que entendo como colocar amor em todos nossos atos. É viver com alegria e entusiasmo. Ou, simplesmente, é viver!

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