Saturday, September 08, 2007

Meu sucessor


Pedro J. Bondaczuk

Quando a exótica flor da miosótis
desabrochou pétalas, de opalinas cores,
e o único olho (mágico) de turmalina
da Esperança voltou-se para o amanhã,
tomei o cetro imperativo dos deuses,
místico cinzel que molda o futuro,
e talhei, na carne, nas vísceras amorfas
com convicção, com afã e com fé,
o concreto esboço da minha imortalidade.

Da remota ancestralidade eslava
burilei profundíssimos sentimentos,
aos sons exóticos, harmônicos e sutis
das balalaikas dos barqueiros do Volga.
Dos antepassados latinos e visigóticos
minha amada, parceira e cúmplice
moldou, em sua nobilíssima estrutura,
a sôfrega voluptuosidade mediterrânea
que há de marcar seus passos no porvir.

Da olímpica, sensata, Palas Atenea,
mãe inspiradora da Helade gloriosa,
você herda, pequenino, a chama do saber
que nem o tempo, jamais, haverá de apagar.

Quando os anos passarem e meu corpo murchar,
quando, afinal, cansado desta andança,
o fogo da vida decrescer e se apagar
e de mim restar não mais do que a lembrança,
Alexei, filho de luz, imortal esperança,
desabroche novas, delicadas, miosótis,
que se reproduzam com fartura sem fim
e, assim como o significado da mística flor,
que jamais venham a se esquecer de mim.

(Poema composto em Campinas, em 18 de agosto de 1981 em homenagem ao meu filho Alexei, que havia nascido em 13 de julho de 1981)

No comments: