Pedro J. Bondaczuk
O homem, mesmo que não se dê conta, persegue, no decorrer da sua vida útil, (aquele período que sucede à adolescência em que já se sente preparado para mostrar a que veio ao mundo), a imortalidade. Não a física, obviamente. Alguns limitam-se a sonhar com a notoriedade, esquecidos de que ela tem um preço, em geral altíssimo. Para conseguir esse status, precisam fazer algo de excepcional: erigir uma obra, praticar um ato inusitado de heroísmo, ter amor ilimitado por alguém, salvar uma vida etc.
Para ser notável é preciso, antes de tudo, ser notado. Do contrário, de nada valerá sua notoriedade. Mas não por ser alguma aberração, ou por assumir uma postura patética, ou pelo insólito da sua aparência, ou pelo ridículo da sua figura. Nestes casos, a pessoa consegue, de fato, despertar a atenção alheia. Mas por alguns irrisórios instantes. É esquecida pouco tempo depois.
Há os que se aplicam naquilo que fazem somente por gosto. Pintam um quadro, fazem uma escultura, compõem uma sinfonia, escrevem uma reportagem ou um poema, criam um romance, conto ou novela, ou produzem qualquer outra coisa, sem preocupações, pelo menos no momento em que estão executando as obras, com seu resultado. Não pensam no sucesso comercial e no dinheiro que poderiam ganhar. Nem se lembram da possibilidade de que o que fizerem poderá durar anos, décadas, séculos, milênios, através de gerações. No instante em que estão agindo, não lhes passam pela cabeça as questões do lucro e da imortalidade. Querem é fazer o que apreciam: com alegria, com entusiasmo, com prazer.
Depois da obra concluída é que, para muitos, vem o momento dessas ambições, dos resultados, da paga pelo seu esforço ou talento. E este é também o duro instante da frustração. O sucesso ou o fracasso nem sempre dependem da qualidade do que se produziu. Há um fator aleatório, que uns chamam de "sorte" e que prefiro denominar de "acaso", influindo para que se desperte inicialmente a atenção alheia, depois se cause agrado, posteriormente se alcance a notoriedade, a valorização e, quem sabe, a imortalidade. Esta, todavia, nunca é planejada. Quem a planeja, em geral, acaba se frustrando. Ademais nunca irá saber se foi bem-sucedido ou não, pois morrerá antes. O "imortal" não tem consciência dessa condição, pois ela ocorre muito depois da sua extinção física.
Johann Sebastian Bach, por exemplo, quando compôs a maravilhosa melodia de "Jesus alegria dos desejos humanos", certamente não pensou que, passados mais de trezentos anos, essa composição seria conhecida, apreciada, executada, e conservaria uma atualidade sem limites em todas as partes do mundo, através desse tempo. Tratava-se de um homem austero, com muitos filhos para criar e educar e sérias dificuldades econômicas. Sua preocupação lógica era com a sobrevivência, com o dia-a-dia, com o pão na mesa da sua família. Não tinha tempo para sonhar. A música era o seu meio de ganhar dinheiro. Mas não se limitava a fazer o que sabia mecanicamente, de forma rotineira, sem paixão, como tanta gente faz em suas atividades. Compunha, tocava e ensinava com amor, com empenho, com gosto e com alegria. Trabalhava com prazer. Sua enorme criatividade, somada ao fator "acaso" (que fez com que lhe aparecessem as oportunidades), tornaram Bach "imortal".
Outro exemplo? Van Gogh. Alguém pode afirmar que o mestre holandês fosse um mercenário e que pintava para ganhar dinheiro? Quem disser isso não sabe nada da sua vida. Sua pintura era ridicularizada pelos "críticos" (quem conhece um, um único deles, pobres cegos infelizes?!) e rejeitada pelos arrogantes "marchands". Tanto que em vida conseguiu vender um único quadro e para o irmão, Theo.
Van Gogh pintava com paixão, com fúria, com amor, com alegria. O acaso quis que não conhecesse um só instante de glória em vida. Tanto que morreu esquecido e abandonado num hospício (sublime louco!). Mas esse mesmo fator aleatório compensou-o com a imortalidade. Há uma infinidade de outros casos, que poderiam ser mencionados, desse mesmo tipo.
O escritor P. Grimal (pouco conhecido, embora excelente, daí não ser "imortal", no sentido de ser lembrado no mundo todo, ou pelo menos no Ocidente, através de gerações), tem uma citação precisa a esse respeito, no livro "O amor em Roma", referindo-se às cidades, mas que vale para as pessoas. Afirma: "A violência pode fundar cidades; a coragem guerreira pode torná-las prósperas; mas só o amor pode fazê-las imortais". Ter talento, trabalhar com alegria e contar com a sorte: esta é a fórmula (contudo, jamais infalível) para a imortalidade.
O homem, mesmo que não se dê conta, persegue, no decorrer da sua vida útil, (aquele período que sucede à adolescência em que já se sente preparado para mostrar a que veio ao mundo), a imortalidade. Não a física, obviamente. Alguns limitam-se a sonhar com a notoriedade, esquecidos de que ela tem um preço, em geral altíssimo. Para conseguir esse status, precisam fazer algo de excepcional: erigir uma obra, praticar um ato inusitado de heroísmo, ter amor ilimitado por alguém, salvar uma vida etc.
Para ser notável é preciso, antes de tudo, ser notado. Do contrário, de nada valerá sua notoriedade. Mas não por ser alguma aberração, ou por assumir uma postura patética, ou pelo insólito da sua aparência, ou pelo ridículo da sua figura. Nestes casos, a pessoa consegue, de fato, despertar a atenção alheia. Mas por alguns irrisórios instantes. É esquecida pouco tempo depois.
Há os que se aplicam naquilo que fazem somente por gosto. Pintam um quadro, fazem uma escultura, compõem uma sinfonia, escrevem uma reportagem ou um poema, criam um romance, conto ou novela, ou produzem qualquer outra coisa, sem preocupações, pelo menos no momento em que estão executando as obras, com seu resultado. Não pensam no sucesso comercial e no dinheiro que poderiam ganhar. Nem se lembram da possibilidade de que o que fizerem poderá durar anos, décadas, séculos, milênios, através de gerações. No instante em que estão agindo, não lhes passam pela cabeça as questões do lucro e da imortalidade. Querem é fazer o que apreciam: com alegria, com entusiasmo, com prazer.
Depois da obra concluída é que, para muitos, vem o momento dessas ambições, dos resultados, da paga pelo seu esforço ou talento. E este é também o duro instante da frustração. O sucesso ou o fracasso nem sempre dependem da qualidade do que se produziu. Há um fator aleatório, que uns chamam de "sorte" e que prefiro denominar de "acaso", influindo para que se desperte inicialmente a atenção alheia, depois se cause agrado, posteriormente se alcance a notoriedade, a valorização e, quem sabe, a imortalidade. Esta, todavia, nunca é planejada. Quem a planeja, em geral, acaba se frustrando. Ademais nunca irá saber se foi bem-sucedido ou não, pois morrerá antes. O "imortal" não tem consciência dessa condição, pois ela ocorre muito depois da sua extinção física.
Johann Sebastian Bach, por exemplo, quando compôs a maravilhosa melodia de "Jesus alegria dos desejos humanos", certamente não pensou que, passados mais de trezentos anos, essa composição seria conhecida, apreciada, executada, e conservaria uma atualidade sem limites em todas as partes do mundo, através desse tempo. Tratava-se de um homem austero, com muitos filhos para criar e educar e sérias dificuldades econômicas. Sua preocupação lógica era com a sobrevivência, com o dia-a-dia, com o pão na mesa da sua família. Não tinha tempo para sonhar. A música era o seu meio de ganhar dinheiro. Mas não se limitava a fazer o que sabia mecanicamente, de forma rotineira, sem paixão, como tanta gente faz em suas atividades. Compunha, tocava e ensinava com amor, com empenho, com gosto e com alegria. Trabalhava com prazer. Sua enorme criatividade, somada ao fator "acaso" (que fez com que lhe aparecessem as oportunidades), tornaram Bach "imortal".
Outro exemplo? Van Gogh. Alguém pode afirmar que o mestre holandês fosse um mercenário e que pintava para ganhar dinheiro? Quem disser isso não sabe nada da sua vida. Sua pintura era ridicularizada pelos "críticos" (quem conhece um, um único deles, pobres cegos infelizes?!) e rejeitada pelos arrogantes "marchands". Tanto que em vida conseguiu vender um único quadro e para o irmão, Theo.
Van Gogh pintava com paixão, com fúria, com amor, com alegria. O acaso quis que não conhecesse um só instante de glória em vida. Tanto que morreu esquecido e abandonado num hospício (sublime louco!). Mas esse mesmo fator aleatório compensou-o com a imortalidade. Há uma infinidade de outros casos, que poderiam ser mencionados, desse mesmo tipo.
O escritor P. Grimal (pouco conhecido, embora excelente, daí não ser "imortal", no sentido de ser lembrado no mundo todo, ou pelo menos no Ocidente, através de gerações), tem uma citação precisa a esse respeito, no livro "O amor em Roma", referindo-se às cidades, mas que vale para as pessoas. Afirma: "A violência pode fundar cidades; a coragem guerreira pode torná-las prósperas; mas só o amor pode fazê-las imortais". Ter talento, trabalhar com alegria e contar com a sorte: esta é a fórmula (contudo, jamais infalível) para a imortalidade.
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