Sunday, September 30, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Há muita gente que se julga mestre na arte de amar. Essas pessoas esmeram-se em conselhos, em regras e teorias, com ares de plena sapiência, como se soubessem tudo sobre o amor. Bobagem! Ninguém sabe. Nessa matéria, ninguém é professor, todos somos eternos aprendizes. É como diz Carlos Drummond de Andrade, num de seus mais inspirados poemas: “Amar se aprende amando”. Isso porque o amor não comporta teorias, nem regras e muito menos lições de quem quer que seja. Existe para ser sentido, cultivado e exercitado e jamais teorizado. Os que amam e, principalmente, os que se sentem amados, estão sempre no paraíso, a despeito da sua condição econômica, cultural ou social. Nenhum mal os aflige, nenhum fracasso os atormenta, nenhum temor os apavora. Sentem-se amparados, protegidos e inspirados. Essa, porém, é uma lição que nenhum mestre pode ensinar, a não ser a mestra das mestras: a vida.

Guerra dos sexos - Introdução 7


Pedro J. Bondaczuk

(CONTINUAÇÃO)

Mutilações sexuais



Uma das práticas mais bárbaras, desumanas e absurdas, vitimando as mulheres, sob diversos pretextos, tanto religiosos quanto culturais, é a da circuncisão feminina. Trata-se da chamada "excisão". Consiste, a grosso modo, na extirpação do clitóris, e em alguns casos dos lábios vaginais, das meninas ainda em tenra idade.

O objetivo, de acordo com seus defensores (líderes religiosos que ditam regras de conduta aos fiéis ou pseudo guardiães de tradições tribais), seria o de "arrefecer o desejo sexual feminino", garantindo, dessa forma, a irrestrita fidelidade das esposas aos seus maridos.

É inconcebível, no entanto, que esse tipo de atitude sobreviva, em pleno século XXI. O assunto, aliás, foi tratado, de passagem, na IV Conferência Mundial da Mulher, realizada em 1995, em Pequim, mas não se definiu, na ocasião, qualquer tipo de estratégia para coibir esse tipo de mutilação.

O tema, levantado por delegações ocidentais, foi prontamente "abafado" por delegados islâmicos e sequer foi mencionado na declaração conjunta, no encerramento daquele encontro. Mas não se trata, como alguns desavisados ou mal informados possam supor, de prática restrita a uma ou outra tribo primitiva, perdida em rincões remotos da África ou da Ásia, catalogável, somente, no rol das curiosidades aberrantes ou dos "costumes exóticos" que resistem ao tempo e à globalização.

Envolve, isto sim, vários milhões de indefesas meninas, condenadas a jamais experimentarem os sadios e instintivos prazeres do sexo, além de se submeterem aos inúteis e cruéis sofrimentos que lhes são infligidos e aos profundos riscos à saúde a que ficam expostas.

No Sudão, por exemplo, quase 80% das mulheres são submetidas regularmente à circuncisão feminina. As 20% restantes, são as que vivem no sul do país, onde predomina o cristianismo e onde a prática foi há muito abolida. Em outros países africanos e asiáticos, no entanto, as taxas (posto que alegadamente menores), são igualmente bastante elevadas, embora não se tenha um levantamento preciso, já que as famílias que praticam a excisão consideram o tema como assunto estritamente particular, e se recusam a falar a respeito.

Oficialmente, esse tipo de mutilação sexual é ilegal, até mesmo no Sudão, submetido às leis islâmicas ("Sharia"), que não prevêem, a bem da verdade (nem no Alcorão e nem em qualquer outro texto religioso), esse absurdo procedimento.

Todavia, a pressão tanto social (tradição), quanto religiosa, mantém mais viva do que nunca essa aberração, para a infelicidade das mulheres, forçadas a se submeter a mais esta (de tantas) violação aos seus direitos fundamentais. E as autoridades, simplesmente, fazem "vistas grossas". A percentagem sudanesa de circuncisão feminina, destaque-se, é uma das mais elevadas da África, pelo menos se forem levados em conta os esparsos dados disponíveis a respeito.

A excisão é, basicamente, de dois tipos: a chamada "faraônica" e a "sunna". No primeiro caso, ocorre o corte dos lábios vaginais e do clitóris. Extirpados estes, a vagina é costurada, deixando-se apenas um estreito canal para a saída do fluxo menstrual.

Trata-se de mutilação genital que é, além de extremamente dolorosa, perigosa à saúde da mulher, pois na maioria dos casos é praticada sem que se respeitem as mais primárias normas cirúrgicas de assepsia. Pode provocar, por isso, graves infecções, agudas ou crônicas, na vítima, além de sérias complicações no parto, levando, não raro, a parturiente à morte. Na circuncisão "sunna", o procedimento é bem menos agressivo, do ponto de vista cirúrgico, pois apenas o clitóris é removido.

Estimativas indicam que a excisão é praticada em 20 milhões de meninas por ano, em 25 países africanos --- entre os quais estão Somália, Egito, Etiópia, Sudão, Djibouti, Benin e Costa do Marfim ---, além de vários outros da Ásia, notadamente o Afeganistão dos temíveis talibans. Por exemplo, cerca de 3.600 garotinhas e adolescentes egípcias, em média, sofrem, a cada dia, o corte do clitóris, geralmente realizado por um cirurgião ou, na ausência deste (o que é muito freqüente), por um barbeiro.

A prática, tolerada pelo governo do Egito --- que prefere não se imiscuir em assuntos dessa natureza, alegando se tratar de questão estritamente particular --- envolve 98% das famílias das regiões rurais e 70% das zonas urbanas, conforme dados do Ministério da Saúde desse país.

Os ulemás (doutores em religião) da prestigiosa mesquita de Al-Azhar, no Cairo, por sua vez, acreditam que Maomé preconizou a excisão, para "impedir que as mulheres fiquem excitadas permanentemente", embora os que conhecem a fundo o islamismo saibam que o profeta jamais escreveu uma só linha dando essa radical e desumana orientação.

Mas não são apenas os povos islâmicos que defendem, incentivam ou toleram a circuncisão feminina. O papa Chenuda III, patriarca da Igreja Copta (cristãos do Egito), por exemplo, nega-se a proibir a excisão aos seus fiéis, ou mesmo a fazer qualquer tipo de comentário a respeito. "Trata-se de assunto particular, no qual eu me recuso a intervir", argumentou, quando questionado, recentemente, por jornalistas ocidentais, sobre a controvertida questão. E na maioria dos países africanos, onde a prática é largamente disseminada, a religião professada é a animista, o que prova que a circuncisão feminina não é nenhum dogma religioso especial.

(CONTINUA)

(Texto do meu livro inédito "Guerra dos Sexos").

Saturday, September 29, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Devemos ter, sempre e a cada momento, uma atitude de celebração face a vida. Mesmo que não venhamos a nos dar conta, ou que questionemos essa idéia, temos muito mais motivos para comemorar pelo fato de estarmos vivos, do que para eventualmente lamentar. Trata-se de oportunidade rara e única, de um privilégio e de uma bênção. Nós é que, em geral, arruinamos nossas vidas com atitudes negativas, pensamentos nefastos e ações desastradas. Leonardo Boff esclarece: “Celebrar implica mais do que saber e refletir. Importa abrir o coração e se alegrar”. A sabedoria, sem dúvida, é importante e devemos nos empenhar para obtê-la. Reflexão é fundamental para conhecermos o nosso íntimo e as pessoas que nos cercam. Mas as emoções sadias e intensas são essenciais para valorizarmos a vida e, sobretudo, nos alegrarmos por esse privilégio, oportunidade e bênção. Celebremo-na, portanto, a cada dia, do amanhecer ao anoitecer.

Libertadores da América


Pedro J. Bondaczuk

A América Latina geme, solitária,
em cárceres infectos e imundos
de covardes e cruéis ditaduras.

O mágico pássaro Quetzocoatl
agita asas de chumbo e fogo
e grasna, agoniado protesto,
que ecoa na noite da história:
sombrio cântico de guerra.

A memória de Montezuma
clama por ancestral vingança
e o sangue de Tupac Amaru
torna fértil a semeadura de ideais
no sagrado solo da América.

O enérgico empenho de Marti,
voz do valente povo de Cuba,
vibra no ar, ecoa no tempo,
inspira milhares de Sandinos,
Guevaras, Peredos e Baytemans.
Gloriosa geração de patriotas!
Sonhadores mártires da liberdade!

Dos abismos continentais,
das masmorras de Stroessner,
infestadas de ratos e piolhos;
das profundezas sombrias
dos calabouços da Argentina;
dos recônditos infernos
das prisões de Pinochet,
num só brado, uníssono grito,
como o das águias dos Andes,
dos condores dos picos nevados,
a voz da América vingadora,
mil trombetas de Jericó,
explode, na abóbada da História,
ecoa nos llanos, planaltos e florestas.
Convoca famintos guerreiros
para a sonhada alvorada de luz!

Nem as celas úmidas, testemunhas
da paranóia de Papa e Baby Doc,
nem os tétricos bichos-papões,
esbirros dos Tonton-Macoutes,
calaram os ousados protestos
dos lídimos descendentes
do libertador Pierre Toussaint.

Até as pedras, santificadas pelo sangue
dos jovens mártires da liberdade,
clamam, na voz sibilina do vento,
pela vida dos estudantes que
foram, covardemente, imolados
na Universidade de El Salvador.

Os picos nevados dos Andes
soluçam emocionadas coplas,
em plangentes réquiens,
por Quiroga Santa Cruz.

Mas a voz genuína da América,
coro incontrolável de heróis,
nem cárceres imundos e cruéis,
nem muralhas, feitas de olhos,
nem celas, de unhas ferinas,
nem o gargalhar das metralhas
ou a ordem imperativa dos fuzis,
haverão de calar ou abafar.

É a voz genuína da América que
a despeito da paranóia dos tiranos
e da injusta servidão da gleba,
há de ecoar no horizonte da História.

É a voz dos aztecas, pipilas,
dos incas, toltecas e maias,
dos aimorés e dos tapuias,
dos gaúchos, dos pampas austrais,
ou a dos bravos guaranis;
é o brado de vingança da América,
clamor de arcanas civilizações,
que seguirá convocando à justiça,
pela noite infindável do tempo,
todos povos amantes da paz!!!

(Poema composto na redação do jornal Diário do Povo, em Campinas, em 21 de novembro de 1980).

Friday, September 28, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Há pessoas que têm potencial imenso de criatividade, mas o desperdiçam por falta de disciplina, método e comprometimento com o que quer que seja. Acham que lhes basta mera “inspiração” para inventarem máquinas, princípios, ideologias ou, até, para comporem simples poema. Estão equivocadas. A capacidade de criar só pode ser plenamente desenvolvida com disciplina, concentração, estudo e trabalho. Requer, além disso, meticuloso planejamento e rigor na execução do que foi planejado. Albert Einstein, tido e havido como gênio, criador, entre outras coisas, da “Teoria da Relatividade”, afirma: “Fazer, criar, inventar exigem uma unidade de concepção, de direção e de responsabilidade”. E, convenhamos, ele sabe o que diz. Não desperdice, pois, seu talento, por mera negligência. Aplique-se, concentre-se, estude e trabalhe, sem esmorecimento ou desânimo. Afinal, a vida é oportunidade única, sem nenhuma chance de reprise.

Volta por cima


Pedro J. Bondaczuk


A maior parte do meu sofrimento advém das aflições alheias. Já fiz essa confidência em outra crônica, publicada neste espaço tempos atrás, mas nunca é demais reiterar. Minha angústia, por exemplo, é proveniente da miséria, da violência, da exclusão social e da desagregação familiar de centenas de pessoas ao meu redor, de milhares um pouco mais distantes de mim, de milhões por todo o País e de bilhões através do mundo. Excluídos, miseráveis e infelizes não faltam. Pelo contrário...
Essa atitude não se trata, como se pode supor, de querer, apenas, parecer "bonzinho". É uma questão de berço, de formação, de educação para a solidariedade. Não são minhas dores físicas, felizmente raras, que me incomodam. Não são minhas carências financeiras, não tão agudas, que preocupam. Não são meus desacertos emocionais que me tiram o sono.
São os sofrimentos alheios que me consomem a alegria e o otimismo. O pior nessa história é a impotência em ajudar esses outros que sofrem, dada a sua enorme quantidade. Qualquer ação nesse sentido que eu tome desaparece, se torna irrisória e invisível. É uma ínfima gota de água num oceano de carências.
Isso não me isenta, claro, da responsabilidade de tentar ajudar a quem caiu, não importa a profundidade do poço em que está. A tendência, quando cruzamos com alguém que fracassou – com um homeless, com um marginal aparentemente irrecuperável, com o viciado em drogas ou álcool, ou com tantos e tantos outros tidos como “perdedores” – é olhar essas pessoas do alto, com ares de superioridade, como se também não estivéssemos sujeitos a esse tipo de queda, ou até de fracassos piores. Mas estamos.
Pincei, a respeito, alhures, uma citação de Gabriel Garcia Márquez, que li não sei se em algum de seus livros (o que é o mais provável) ou em alguma de suas entrevistas. Bem, a fonte não importa. Importa é a sabedoria das palavras do jornalista e escritor colombiano, ganhador de um Prêmio Nobel, quando afirma: “Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se”. Ah, se todos agissem assim, como o mundo seria melhor, mais justo, mais humano e um lugar mais aprazível para se viver! Esse tipo de atitude, porém, é sumamente raro.
Para uns, esse desfile diário de desgraças, violência e loucura que os meios de comunicação nos trazem age como fator de dessensibilização. Estes assimilam tais dramas como o fazem com o enredo dos filmes norte-americanos, da enorme montanha de lixo cultural que assistem na telinha. Encaram-na como se não passasse de ficção.
Mas para quem, por alguma razão – sorte, esforço sobreumano, meios ilícitos etc – conseguiu a acidentada ascensão da miséria para um patamar social mediano, e que sentiu na própria carne os efeitos da exclusão social, esses fatos abrem dolorosas feridas na alma. Tiram a alegria de viver.
O que fazer? Se omitir simplesmente? É o que a maioria faz! Agir como se nada estivesse acontecendo? É uma atitude, convenhamos, rotineira. Fechar os olhos ao drama que se desenrola ao redor? A maioria fecha. Se alienar do mundo e da realidade, se isolando em uma torre de marfim? Alguns artistas fazem isso. Como deixar de olhar tudo isso e ainda continuar sendo humano? Sim, como?
O desencanto que se apossa da maioria das pessoas, nestes tempos loucos de insensatez e de violência, é tão grande, que pequenos (mas de maiúsculo significado) gestos de bondade e de solidariedade, que se praticam no dia-a-dia (e que não são poucos), passam despercebidos. Ou são ignorados, quando divulgados publicamente. Ou são, na melhor das hipóteses, logo depreciados.
Não podemos, porém, nos importar com esse tipo de opinião. Sejamos solidários, sempre, sem esperar retribuição ou sequer gratidão. Ter condições de servir, ao contrário de ser servido, é força, é poder e é uma bênção reservada somente a pessoas muito especiais.
A caridade, tida como uma das virtudes cardeais que os homens deveriam cultivar, está em baixa. Vivemos numa civilização consumista, marcada, sobretudo, pelo individualismo exacerbado, pela tola acumulação de bens materiais, pelo desperdício e ostentação. Tudo funciona na base do "cada um por si". Ou do famigerado desejo de "levar vantagem em tudo".
Felizmente para todos, reitero, há exceções, que merecem ser, quando não exaltadas – para que o bom exemplo possa se reproduzir, multiplicar e frutificar – ao menos imitadas, posto que parcialmente. Por isso, leitor inteligente e sensível, que não perdeu ainda aqueles ideais nobres que acalentou na mocidade, quando solicitado a socorrer alguém que precise, seja quem for, não se omita. Não o olhe de cima para baixo, a menos que seja para ajudá-lo a levantar-se. Faça a sua parte. Diga sim à humanidade. Diga sim à dignidade. Diga sim à vida.

Thursday, September 27, 2007

REFLEXÃO DO DIA


É virtualmente impossível exercermos qualquer influência benéfica no comportamento do mundo, dada nossa fragilidade, pequenez e efemeridade. Mas isso não é pretexto para a omissão. Se não podemos mudar comportamentos viciosos e daninhos da nossa cidade, Estado, país ou de um continente, podemos, e devemos, fazê-lo ao nosso redor: na nossa casa, nossa rua, nosso quarteirão ou nosso bairro. Isso requer, antes e acima de tudo, sinceridade da nossa parte. E, principalmente, ação. Ou seja, atitudes e exemplos. Simples palavras, desacompanhadas de atos, em nada resultam. O pensador japonês Daisaku Ikeda constata: “Quando uma pessoa é sincera na consideração pelos outros, mesmo nos assuntos mais banais, então poderá provocar uma modificação completa no mundo que a cerca”. Isso é, salvo raríssimas exceções, o máximo que podemos fazer. Façamo-lo, no entanto, com constância e diligência. E, sobretudo, com sinceridade.

Descoberta do cotidiano




Pedro J. Bondaczuk


A cada novo amanhecer, descubro o cotidiano. Embora, para os mais desatentos, um dia se pareça rigorosamente com outro (especialmente para os ociosos e os entediados), eles nunca são iguais. Podem, até, ser semelhantes, parecidos ou coisa que o valha. Mas cada um deles tem o seu diferencial, para melhor ou para pior. Basta que atentemos para as diferenças e principalmente para as nuances. Alguns, trazem-nos alegrias surpreendentes. Outros... protagonizam alguma mágoa, algum fracasso, algum tropeço ou até mesmo alguma tragédia. Estas, todavia, (felizmente) também passam, por piores que sejam suas seqüelas e/ou conseqüências.
Tenho um fascínio especial pelo mar. A razão? Não sei explicar. Talvez seja uma ligação atávica, ancestral, adormecida no inconsciente. Afinal, alguns cientistas dizem que a vida surgiu nos oceanos. Claro que é uma especulação. Nenhum deles esteve lá, no princípio dos tempos, para testemunhar essa gênese. De qualquer forma, nascemos em meio líquido, que simula o mar. Passamos nossos primeiros nove meses de vida nadando, na bolsa amniótica que nos protege e possibilita nossa formação e desenvolvimento. Somos pois, na origem, seres marinhos.
É possível, porém, que esse meu fascínio pelo mar tenha sua origem na passagem da infância para a adolescência, na ávida leitura de livros como “Dois anos ao pé do mastro”, “A Ilha do Tesouro”, “Aventura nos Mares do Sul”, “Robinson Crusué”, “O Velho e o Mar” e essa incrível obra-prima de Herman Melville, que é “Moby Dick”. Sempre que posso (o que é cada vez mais raro), desço para o litoral. Quando me é possível, viajo para o Rio de Janeiro, cidade que é a minha paixão e onde passei os seis melhores meses da minha vida, de sonhos e de fantasias, quando lá morei.
A maioria das vezes, no entanto, meu destino são as praias de Caraguatatuba e, principalmente, de Ubatuba. Nestas, inúmeras vezes repeti o gesto do Padre José de Anchieta, de escrever poemas na areia. Alguns, tive o capricho de copiar em papel e tenho-os até hoje. A maioria, contudo, só as ondas testemunharam, absorveram e apagaram. Eram bons? Eram maus? Eram sofríveis? Nunca saberei. Ninguém saberá.
Freqüentei, em tempos menos bicudos, as lindas praias do Nordeste, de Salvador, de Maceió, do Recife e tantas outras. Nunca adotei, nessas ocasiões, o jeitão típico do turista, até para a minha segurança, mas, principalmente, para que pudesse gozar das delícias dessas praias com privacidade, sem ser incomodado por ninguém. Em meus passeios lentos e sem destino, não levo comigo nada de valor, que possa despertar a cobiça de trombadinhas e de trombadões, como máquina fotográfica, celular, Ipod ou qualquer outra coisa do gênero. Nem mesmo relógio de pulso uso nessas oportunidades.
Pude testemunhar, entre aterrorizado e divertido, vários arrastões, no Rio de Janeiro, notadamente em Copacabana, Ipanema e Leblon. Não fui vítima de nenhum, jamais. Os “gafanhotos” nunca viram, comigo, nada que lhes despertasse a atenção e a cobiça: nem máquina fotográfica, nem celular, nem Ipod, nem mesmo um reles e vagabundo relógio de pulso. Mas é assustadora a horda que avança sobre os bens dos incautos banhistas. Nem mesmo toalhas, gorros, bonés e outras quinquilharias de valor ínfimo eles perdoam.
O leitor já presenciou, alguma vez, um ataque de gafanhotos? Eu já! Foi em minha terra natal, em Horizontina, no Rio Grande do Sul. Eu tinha, na ocasião, apenas cinco anos de idade, mas nunca mais esqueci aquele espetáculo assustador. Foi na entrada do verão de 1948. Eu estava na varanda da minha casa, quando, subitamente, o céu escureceu. Pensei que fosse chover. Mas não era chuva. Não tardou para que eu visse centenas de empregados de sítios e fazendas ao redor, portando tochas, batendo panelas, latas e tudo o que fizesse barulho, correndo, esbaforidos, de um lado para o outro, no afã de espantar os milhões (sem nenhum exagero) de insetos que se precipitavam sobre as plantas.
A densa nuvem era proveniente da margem argentina do Rio Uruguai. Em poucos minutos, as lavouras de milho, de trigo, de soja e outras tantas se viram reduzidas a meros restos. Quem tinha alimentos estocados em celeiros se deu bem. Quem não tinha... precisou recorrer a vizinhos e ao governo. Os gafanhotos arrasaram tudo, absolutamente tudo. E, da forma que vieram, se foram, deixando para trás o caos e a desolação. Aquele foi um ano horrível, de privações e de desespero, para os agricultores da região.
Os participantes de arrastões me lembram esses vorazes e daninhos insetos, praga milenar que assola os povos há milênios, sem que haja uma forma eficaz de se defender dela. Os trombadinhas e trombadões surgem, de repente, na praia, vindos de vários lugares diferentes, surrupiam, em questão de minutos, tudo o que podem, de surpresa, sem dar nenhum tempo de reação às vítimas, e se dispersam por becos, vielas, ruas e avenidas, em restaurantes e botecos dos arredores, quando a polícia pelo menos esboça um princípio de ação.
Dei voltas e mais voltas neste meu texto apenas para falar da descoberta do cotidiano. É que um assunto puxa outro e, quando nos damos conta, não falamos nada do tema que queríamos abordar. Afinal, as conversas entre amigos não são sempre assim? Claro que são!
Sim, descubro o cotidiano a cada manhã, atento aos seus detalhes, até na condição de escritor. Explico: é nele que busco os temas sobre os quais vou escrever. É o dia-a-dia, aparentemente rotineiro e banal, que me abastece de assunto, por exemplo, para as dez crônicas semanais que preciso produzir, por força de compromissos contratuais que assumi.
O tema em questão me foi suscitado por um texto de Antonio Cândido, escrito quando eu tinha apenas um ano e meio de idade, em 16 de julho de 1944, publicado no jornal Folha da Manhã, que tive a feliz oportunidade de ler apenas hoje. A palavra escrita tem essa vantagem sobre a comunicação através de outros meios, principalmente a oral: a da permanência. A referida crônica tem o título “Perto do Coração Selvagem”, e consta do livro “Figuras do Brasil – 80 autores em 80 anos de Folha”, comemorativo ao 80º aniversário desse tradicional jornal paulistano.
Em determinado trecho, Antonio Cândido constata: “A descoberta do cotidiano é uma aventura sempre possível, e o seu milagre uma transfiguração que abre caminhos para mundos novos”. E não é?! Entre tantas coisas novas que descobri neste dia, que não foram poucas, (e para cujo enredo dei minha modesta, diria ínfima, contribuição) está a “descoberta” desse instigante texto, que enriqueceu um pouquinho mais meu acervo de conhecimentos. Valeu a pena, portanto. Sempre vale. Tudo vale, “se a alma não é pequena”, diria Fernando Pessoa.

Wednesday, September 26, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Devemos lutar a vida toda, até o último segundo da existência, por causas coletivas, que engrandeçam a coletividade, a espécie, a própria humanidade. As pessoas imprescindíveis são as que, ao morrer, deixam sua tarefa inconclusa. Mas não porque não se empenharam no seu cumprimento, e desperdiçaram o tempo em tolices, lazer ou “descanso”. Para descansar teremos a eternidade. São as que deixaram a tarefa inconclusa pela sua dimensão, por ser maior do que a própria vida. Li, há muitos anos, um pensamento de Berthold Brecht, que coloquei num quadro, em frente à minha escrivaninha de trabalho, que diz: “Há homens que lutam um dia e são bons. Há homens que lutam um ano e são muito bons. Há homens que lutam muitos anos e são melhores. Mas há os que lutam toda a vida: esses são imprescindíveis”. Em qual dessas categorias iremos nos inserir? Na última? Na primeira? Em nenhuma?

Tirania da consciência


Pedro J. Bondaczuk

As tiranias, seja de que natureza forem, são intoleráveis, embora parcela considerável da humanidade ainda esteja, em pleno terceiro milênio da Era Cristã, submetida a várias delas, ao redor do mundo. A História está repleta de relatos de atrocidades de toda a sorte cometidas por tiranos ferozes, cínicos e impiedosos, que deixaram seus rastros de sofrimento e de sangue através dos tempos. Não vai, aí, nenhuma novidade. Nada do que escrevi acima é desconhecido por quem quer que seja.
Há, porém, um “tirano” (um único e solitário tirano) ao qual deveríamos nos submeter sempre, para que nossos atos, pensamentos e sentimentos pudessem ser todos construtivos e nos engrandecessem e exaltassem. Não se trata, já vou adiantando, de nenhum líder político, ou general, ou mentor de qualquer ideologia etc. A bem da verdade, não é, sequer, uma pessoa.
O líder da desobediência civil e resistência pacífica indiana, uma das mentes mais lúcidas e positivas do século passado, pai da independência do seu país, Mohandas Karamanchand Gandhi, conhecido como “Mahatma” (que significa “grande alma”) defendeu com vigor a espontânea submissão a esse “tirano” (ele que se opunha a todas as formas de tiranias) e confessou que esse era o único que aceitava. E quem seria ele? Na verdade, nem é “ele”, mas é “ela”. E o líder indiano a identifica: “...É a voz silenciosa dentro de mim: a consciência”.
Deveríamos todos, em toda e qualquer circunstância, nos submeter a essa “tirania”. Torná-la, até, compulsória, obrigatória, indiscutível e inquestionável. Poucos de nós, na verdade, agimos assim. O filósofo norte-americano Will Durant comentou, no seu clássico “Filosofia da Vida”: "Considere-se a consciência. Que misteriosa faculdade é esta que nos faz cientes do que estamos fazendo, ou do que fizemos, ou do que pretendemos fazer? Que percebe o conflito das nossas próprias idéias e por meio de umas critica outras? Que imagina possíveis reações e prevê resultados prováveis? Que, depois de pacientemente analisada uma situação, a atende com os recursos do pensamento e do desejo coordenados num sentido criador?".
É comum dizer-se, de pessoas maldosas, que utilizam todo o seu tempo para lesar ou aborrecer outras, ou para agredir os mais fracos, ou para burlar as leis e as normas morais e que não se arrependem (pelo menos externamente) dos seus atos, que elas "não têm consciência". Certamente todos já ouvimos, ou até já nos utilizamos, dessa expressão. Mas ela não é verdadeira. Possuir consciência, com certeza, essas pessoas nefastas possuem. O que não fazem é atender aos seus ditames. Não se submetem à sua desejável tirania.
Para melhor entendimento da questão, faz-se necessária uma definição clara e simples a propósito. O que é a consciência? É, grosso modo, o conhecimento objetivo de tudo o que nos cerca e das informações que recebemos de várias fontes, internas ou externas. Ou seja, é o "saber que sabemos que sabemos". É a ciência do bem e do mal, dos atos construtivos e destrutivos, do que devemos e do que não devemos fazer.
Há sensações, reflexões, emoções que integram o nosso patrimônio cultural, mas que ficam escondidas em um dos substratos da nossa mente, no chamado subconsciente. Subitamente, por alguma razão que desconhecemos, emerge, aflora, brota ao consciente, em geral nos momentos de maior necessidade. Por isso é que se diz, e com razão, que o homem ignora seu verdadeiro potencial.
Outros conhecimentos – estes mais impressões dos cinco sentidos – também fazem parte do nosso acervo mental, embora permaneçam encerrados num patamar abaixo ainda do da subconsciência. Trata-se do inconsciente. Em outras palavras, é "não saber que sabemos".
Por mais empedernidas ou alienadas que as pessoas sejam, sempre há um momento em suas vidas em que tomam consciência do que, de fato, são, e sobre qual o seu papel no mundo. Esse instante tão especial acontece, às vezes, à sua revelia, sem que elas se dêem conta. Até os mais insanos, mentalmente, têm (mesmo que num ínfimo momento) esse átimo de plena lucidez. Uns, surpreendem-se, positivamente, com os valores que conseguiram acumular e com a riqueza dos seus sentimentos. Outros, ficam horrorizados ao perceber o quanto são vazios, amorfos e carentes.
Devemos cultivar, pois, nosso espírito, para que esse encontro com o nosso ego seja pacífico e gratificante e nos conduza à plena felicidade. Esta, afinal, está dentro de nós e nunca alhures. Somos seres racionais, com liberdade para escolher entre vários caminhos. O que temos é que exercer plenamente essa racionalidade e optar entre o certo e o errado, entre o bem e o mal, entre a sublimidade e o horror. Ninguém deve, ou pode, fazer isso por nós.
Todos somos, em princípio, senhores da nossa trajetória pelo mundo. Ocorre que muitos abrem mão dessa prerrogativa, por não saberem fazer uso da consciência de que são dotados. Permitem que ela se atrofie, se esclerose, beire a necrose. São guiados, não guiam. São conduzidos, não conduzem. São influenciados, não influenciam. De tanto fazer concessões, abrem mão da vida, em seu sentido mais elevado: o da dignidade. Não se submetem à única “tirania” que deveriam admitir e se dão mal. Nasceram com o estigma dos perdedores.

Tuesday, September 25, 2007

REFLEXÃO DO DIA


A cada dia que passa, torna-se mais difícil passarmos, às novas gerações, princípios de grandeza, beleza, transcendência e sabedoria. Os jovens não se convencem apenas com palavras. Por isso, é muito importante que tenhamos a capacidade de trazê-los para o terreno abstrato, mas racional, das idéias e dos valores, mas tendo em mente que eles detestam sermões e ridicularizam posturas falsamente moralistas. Devemos, isto sim, conduzi-los sem que sequer percebam, com inteligência e respeito, mediante o expediente da sugestão. O sociólogo Konrad Lorenz faz uma indagação bastante pertinente a propósito: “Como despertar num adolescente o sentimento de respeito, se tudo o que ele vê ao seu redor é obra humana, feia e banal?”. O caminho é mostrar-lhe a beleza e a transcendência da natureza, e o poder das grandes idéias, aquelas que, de fato, movem o mundo. Diálogo, é o segredo. Diálogo paciente e inteligente.

Complexidade humana


Pedro J. Bondaczuk


O homem é um ser dotado de uma insaciável curiosidade, que é a "mãe" da sua sabedoria. Procura conhecer de tudo, quer esse conhecimento o conduza a uma evolução, quer lhe traga riscos de sofrer retrocessos ou até mesmo o leve à autodestruição (como são os casos dos segredos do átomo e da estrutura genética, capazes de fazer a espécie humana desaparecer do universo se utilizadas de forma inadequada).

O conhecimento de que mais o indivíduo necessita, no entanto, que é o de si próprio --- das suas potencialidades e fragilidades, dos "demônios" que cria na mente ou que adquire no convívio social --- é relegado a um segundo plano. As pessoas relutam em assumir essa tarefa --- e a maioria não a assume jamais e sequer chega a tentar ---, possivelmente temerosas do que possam vir a descobrir.

Ninguém pode afirmar com segurança que conhece profundamente (ou mesmo superficialmente) alguém, por mais que conviva com ele. Cônjuges que coabitam muitas vezes por quarenta, cinqüenta, sessenta anos ou mais, amiúde se surpreendem com aspectos da personalidade do parceiro com os quais jamais atinaram. Concluem que na verdade se desconhecem. São como que dois mundos hermeticamente fechados, estranhos.

Nem os pais conhecem bem seus filhos, o que sequer é de se estranhar, já que também não se avaliam de maneira isenta, objetiva, realística. Em suma, não se conhecem. Gosto de ler opiniões a meu respeito, embora por uma questão de vaidade, prefira as positivas.

Contudo, as mais úteis são as feitas por meus adversários, pelos que não gostam de mim e só enxergam minhas fraquezas (tantas!), defeitos (ostensivos) e vulnerabilidades (que não revelo para ninguém). A rigor, não sou tão importante assim para que outros opinem a meu respeito.

No meu modo de entender, nenhuma dessas avaliações, de amigos ou de inimigos, sequer chegou perto da imagem que eu faço de mim. Os primeiros superestimam minhas eventuais qualidades, o que não deixa de ser uma satisfação para o ego. Mas trazem o risco de me tirar da realidade e acabam sendo causas indiretas de imensas frustrações.

Para os segundos, sou a verdadeira imagem do mal (nossa!), como erva daninha que tenha que ser extirpada (que exagero!). Se tirarmos os excessos existentes nessas opiniões (muitos) e pinçarmos defeito por defeito dos apontados, teremos diante de nós um excelente parâmetro para que possamos nos tornar melhores. Os inimigos, portanto, são mais úteis do que os amigos para que possamos estabelecer uma imagem nossa mais próxima da real.

Até o aspecto físico que julgamos ter não condiz com a realidade. Não nos enxergamos por inteiro. Não contamos com visão holográfica. Não vemos, por exemplo, nossas costas, o que nos torna incapazes de avaliar a nossa postura. Mesmo vista no espelho, a "retaguarda" não aparece como de fato é.

A visão de conjunto fica comprometida. O parâmetro que os outros adotam para nos julgar (e que nós usamos para o julgamento de terceiros) é o dos atos, das palavras e das expressões. E dos preconceitos, confesse-se. Consegue-se, com material tão precário, não mais do que pálidos e distorcidos reflexos da imagem real.

Pitigrilli traçou um perfil humano genérico, não de alguém específico, mas do tipo médio, no qual a maioria se enquadra. Escreveu, no livro "Lições de Amor": "O homem não é nem anjo, nem fera, ou é ambas as coisas em proporções desiguais. A beneficência, a moral, a caridade não podem fabricar homens e mulheres ideais. Devem servir-se daqueles que encontram".

A dúvida que me fica é: será que as pessoas cuja imagem envolvemos em uma aura de santidade eram ou são verdadeiramente santas? Ou as que julgamos sábias, teriam, de fato, tanta sabedoria? Ou, do lado oposto, será que os monstros humanos foram mesmo tão maus como pintados? Provavelmente há exageros, para o bem ou para o mal, para melhor ou para pior, em todas essas avaliações. Nossos julgamentos, por mais que tentemos, nunca se vêem totalmente expurgados de preconceitos, ou seja, de conceitos previamente fabricados.

E a avaliação histórica, está correta? São exatas as previsões feitas sobre o futuro? O passado foi registrado com exatidão? A humanidade seria, mesmo, tão sanguinária, doentia, egoísta e corrupta quanto os meios de comunicação procuram pintar? Ou como os historiadores dizem que foi? Ou como os estudiosos do comportamento garantem que é? Talvez não! Ou talvez seja até pior, não se sabe com certeza.

O italiano Paolo Rossi, no livro "Os Sinais do Tempo", observou: "Por muitos séculos, o homem concebera-se no centro de um universo limitado no espaço e no tempo e criado em seu benefício". Hoje, sabemos (ou pelo menos as pessoas cultas e instruídas sabem) que não é assim.

E o escritor prossegue: "Imaginara-se habitante, desde a Criação, de uma Terra imutável no tempo. Construíra-se uma história de poucos milhares de anos que identificava a humanidade e a civilização às nações do Oriente Próximo e, depois, à Grécia e Roma. Pensara-se diferente, em essência, dos animais; senhor do mundo e dono de seus próprios pensamentos. Em breve, no novo século, ele terá de defrontar-se com a destruição de todas essas certezas, com uma diversa, menos narcisista mas decerto mais dramática, imagem do homem".

Será a real? Terá, pelo menos, a mais leve das proximidades com a verdade? Ou a subjetividade e o preconceito continuarão determinando os julgamentos? Vai depender de cada um de nós. Ou talvez nem dependa...

Monday, September 24, 2007

TOQUE DE LETRA







Pedro J. Bondaczuk

(Fotos: Arquivo, site oficial da Ponte Preta, Bruno Miani e Marcos Arcoverde/VIPCOMM e Divulgação)

MAU EMPATE DERRUBA NELSINHO

O empate da Ponte Preta, sábado, em Itu, com o Ituano, por 1 a 1, foi um mau resultado? Em circunstâncias normais, a resposta seria: não. Afinal, foi um ponto arrancado fora de casa. Todavia, se considerarmos o adversário, último colocado da tabela e virtualmente rebaixado para a Série C, o resultado tem que ser considerado péssimo, até desastroso. É verdade que houve interferência da arbitragem a dano da Ponte Preta. O juizão, Wellington Abade, que considero um tremendo trapalhão, deixou de marcar um pênalti claríssimo sobre Michel. E o auxiliar de linha, cujo nome me recuso a declinar em sinal de protesto, anulou um gol legítimo do estreante Michel Simplício. E assim não dá! Não bastasse o time estar jogando uma partida horrorosa (a segunda consecutiva), a “mão de gato” da arbitragem tirou toda e qualquer possibilidade da Macaca voltar de Itu com três pontos positivos. Nelsinho Baptista, por seu turno, encheu as medidas, tanto da torcida, quanto da diretoria. E aconteceu o que todos já esperavam, desde aquele empate desastroso contra o Remo, no Majestoso, contra o fraquíssimo Remo, no fechamento do Primeiro Turno. Ou seja, a demissão do treinador. Claro que a mudança de comando, nesta altura do campeonato, é um risco. Mas seja o que Deus quiser. Alguma coisa precisava ser feita, e foi. No papel, o time é bom. No campo é que são elas. Está chegando Paulo Comelli, que fez um brilhante trabalho no Noroeste, no Campeonato Paulista deste ano. Vai dar certo? Vai dar errado? Só o tempo e os resultados poderão dizer.

ATUAÇÃO DECEPCIONANTE

Há tempos, desde o final do Campeonato Paulista, a diretoria da Ponte Preta estava de olho no jogador Chumbinho. Tentou porque tentou sua contratação para o Campeonato Brasileiro da Série B, em vão. Não conseguiu, naquela oportunidade. O meia acabou aportando em Curitiba, para defender o “Coxa Branca” paranaense. Jogou algumas partidas por lá, desentendeu-se com a direção técnica do clube e acabou encostado. A Ponte voltou à carga, insistindo junto ao São Paulo para a sua aquisição. Mais negociações, mais conversas, mais marchas e contramarchas e a novela ganhou inúmeros capítulos. Quando ninguém mais contava com a contratação do jogador, eis que o tricolor concorda com a sua vinda para o Majestoso. Todos esperavam que, já na estréia, o atleta mostrasse trabalho. Afinal, era consenso de que se tratava de um craque. Mas, para decepção geral, não mostrou nada, absolutamente nada contra o Santo André. É verdade que nessa partida ninguém foi bem. A desculpa de Chumbinho era a falta de ritmo de jogo. Veio o confronto de sábado, em Itu, diante do Ituano. “Agora vai, disseram os torcedores”. E... Chumbinho praticamente não tocou na bola. Não armou, não atacou, não defendeu, não fez nada. Foi uma decepção total. Será que é mais um Castor, mais um Márcio Guerreiro, mais um Michel ou mais um de outros tantos medalhões que passaram pelo Majestoso e não deixaram saudade? A torcida espera que não. Vamos dar-lhe um crédito de confiança. Mas, agora, com um pé atrás.

MATADOR COM FARO DE GOL

Não me canso de elogiar o atacante Alex Terra. Não que se trate de um craque, desses de fazer jogadas espetaculares, dar dribles desconcertantes e fazer fileira nas zagas adversárias. Longe disso. Há jogos (a maioria, por sinal) em que o atleta mal pega na bola. Mas quando pega... faz a sua parte. Alex Terra cumpre, com dignidade e eficiência, seu papel, para o qual foi contratado: faz gols, e muitos. Em quinze jogos, já fez treze, dos quais apenas dois de pênaltis. Ele é o principal responsável pelo ataque da Ponte Preta ser o segundo mais eficiente do Campeonato Brasileiro da Série B, com 45 gols, abaixo, apenas, da peça ofensiva do Vitória, que marcou 49. Sábado, Alex Terra repetiu o que já se tornou sua característica. Ou seja, pegou duas ou três vezes na bola. Na última, deu no que deu. Ou seja, o gol de empate, num momento em que a maioria já dava a partida por perdida. Foram poucos os centroavantes da Ponte Preta que fizeram mais de dez gols num mesmo campeonato. Dá para contá-los nos dedos de uma só mão. E olhem que já passaram pelo clube nomes dos mais consagrados, que nem é preciso repetir. Alex Terra, guardadas as devidas proporções, lembra muito Romário. Faz que não quer nada, mas é, de fato, o “rei da grande área”. Como é jovem, tem muito a evoluir. Contudo, em apenas quinze jogos, já escreveu sua história no Moisés Lucarelli.

AGRADÁVEL SURPRESA

De tudo o que de ruim aconteceu com a Ponte Preta neste final de semana – o pífio empate com o Ituano, a péssima arbitragem a dano da Macaca, a demissão de Nelsinho Baptista, etc. – o fiel torcedor (e põe fiel nisso!) teve, pelo menos, uma agradável surpresa. Refiro-me à estréia do centroavante Michel Simplício. Ele foi contratado em cima da hora, no limite do encerramento das inscrições para o Campeonato Brasileiro. Foi regularizado no derradeiro instante para isso, na sexta-feira. Praticamente não treinou com os novos companheiros. Todavia, nos pouco mais de quinze minutos que esteve em campo, fez muito mais do que praticamente o time todo. Inclusive marcou um gol de bela feitura, que o incompetente do auxiliar de linha anulou. Se jogar tudo isso, certamente será o companheiro de área ideal de Alex Terra até o final da competição. Seu retrospecto, no Figueirense, é dos melhores. Disputou uma ótima Copa do Brasil até se machucar. Quando voltou da contusão, Mário Sérgio resolveu deixá-lo no banco. Tomara que ele se conscientize da oportunidade que a Ponte Preta lhe dá nesse momento e faça história, ajudando o clube mais velho do País a conquistar o acesso à elite do futebol brasileiro.

QUESTÃO DE JUSTIÇA

Ao comentar o empate da Ponte Preta, sábado, em Itu, com o Ituano, não posso, por questão de justiça, esquecer a atuação de alguns (poucos) jogadores, que impediram que a má jornada se constituísse em catástrofe. Dentre esses, o principal, sem dúvida, foi o goleiro Dênis. Sem exagero, não fossem suas defesas, sairíamos de Itu com um placar vexatório contra nós, de 4 a 1, 5 a 1 ou mais. O garoto é muito bom! Outro que mostrou serviço foi Alex Silva, tanto na ala, quanto como volante, posição em que atuou em boa parte do Segundo Tempo. Dionísio, enquanto teve fôlego, mostrou-se o mais lúcido dos jogadores de miolo. Se não jogou um futebol exuberante, pelo menos esbanjou vontade e honrou a camisa da Macaca. E Andrezinho evoluiu muito e vem suprindo a falta de um armador. As jogadas mais perigosas do nosso ataque saíram dos seus pés. Espero que Paulo Comelli o fixe na armação, colocando Alex Silva na ala esquerda e Júlio César na direita. É só treinar, que dará certo. Quanto aos demais jogadores (exceção de Alex Terra e do estreante Michel Simplício), mereceriam ser multados pelo que fizeram (ou, na verdade, deixaram de fazer) em Itu.

O QUE FALAR?

O São Paulo esgotou o estoque de elogios da imprensa e da torcida. O que falar ou escrever mais a respeito da campanha são-paulina no Campeonato Brasileiro deste ano? Entra jogo, sai jogo, e o tricolor paulista segue em sua marcha vitoriosa rumo ao título. Nem sempre joga um futebol exuberante, é verdade, como ocorreu, por exemplo, no sábado, especialmente no segundo tempo, contra o Figueirense. O time, nitidamente, se poupou, mas somente depois de fazer o placar, de 2 a 0. Daí em diante, foi só tocar a bola, fazendo o tempo correr. Mesmo pondo o pé no freio, na segunda etapa, o São Paulo, em momento algum, foi ameaçado seriamente pelo adversário. Mesmo quando joga mal, como na quarta-feira, contra o Boca Juniors, em La Bombonera, o time mostra poder de reação. Foi o caso, por exemplo, do gol marcado pelo atacante Borges, em Buenos Aires, no finzinho do jogo, o que possibilita a classificação da equipe para a próxima fase da Copa Sul-Americana com uma vitória simples, por 1 a 0, na próxima quarta-feira, no Morumbi. O que escrever mais sobre o São Paulo, portanto, que já não tenha sido escrito?

SERÁ QUE DÁ TEMPO?

O Vasco da Gama não conseguiu segurar o Cruzeiro, que continua na cola do São Paulo, embora a uma distância considerável. O clube carioca tem oscilado demais, de uma partida para outra, no correr do Campeonato Brasileiro de 2007. Trata-se de um plantel modesto, do qual o treinador Celso Roth “tira água de pedra”. Já o Cruzeiro, nas mãos do competente Dorival Junior, surpreende a tudo e a todos. Começou a competição muito mal, perdendo pontos bobos, principalmente em seus domínios. Aos poucos, porém, seu treinador foi dando um jeitinho, promovendo ótimos jogadores das categorias de base – recorde-se que o Cruzeiro foi o campeão da Copa São Paulo deste ano – e os resultados começaram a aparecer. Na teoria, ainda dá para a equipe estrelada sonhar com o título deste ano. Na prática... bem, a história é um pouco diferente. O Cruzeiro não depende, apenas, de si, mas de tropeços do São Paulo. Estes, claro, são possíveis, contudo, sumamente improváveis. Vai daí...

RESPINGOS...

· Joguinho ruim o clássico de ontem, no Morumbi, entre Palmeiras e Corinthians. Houve muita correria e disposição, mas, técnica mesmo, que é bom, quase nada. O Palmeiras achou um golzinho e foi só. O 1 a 0 garantiu ao time do Parque Antártica 100% de aproveitamento sobre seu tradicional adversário neste ano.
· O Santos perdeu o embalo e, com a derrota, por 1 a 0, diante do Grêmio, vê se tornar cada vez mais difícil a classificação para a Copa Libertadores da América do ano que vem.
· O Náutico está sensacional neste segundo turno. Com a vitória, ontem, sobre o rival Sport, por 2 a 0, deixou a incômoda zona de rebaixamento e já aspira, até, uma vaga para a Copa Sul-Americana do ano que vem.
· O Juventude dificilmente conseguirá escapar da degola. Ontem, empatou com o Flamengo, em Caxias, por 2 a 2, com uma providencial ajuda da arbitragem, que anulou um gol legítimo do rubro-negro carioca.
· Outro técnico da nova geração que vem fazendo um trabalho digno de elogios é Renato Gaúcho, no comando do Fluminense. Ontem, o tricolor carioca venceu, com propriedade, o clássico, contra o Botafogo, por 2 a 0.

· E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.


pedrojbk@hotmail.com

REFLEXÃO DO DIA


Com quantas pessoas cruzamos na rua, no supermercado, no banco, na faculdade e em tantos outros lugares, num dia comum de trabalho? Com dezenas, com centenas e, às vezes, até, com milhares. Da grande maioria, porém, não guardaremos na memória nenhum traço, nenhuma imagem, nenhuma recordação, nada. É como se cruzássemos com sombras, amorfas e sem face. Com poucas delas, temos (ou teremos) relações mais intensas, profissionais, sociais ou até afetivas. Estas, sim, nos marcam e temos condições de marcá-las. Por isso, devemos ser sempre positivos, bem-humorados e corteses, para que essa “marca” que deixarmos nelas seja construtiva. O antropólogo Loren Eiseley disse, a esse propósito: “Somos criaturas de muitas dimensões diferentes, passando pelas vidas uns dos outros como fantasmas passando por portas”. Sejamos, pois, fatores de felicidade e de crescimento na vida dos que tiverem cruzado conosco.

Respeito pelos humildes


Pedro J. Bondaczuk


O poeta José Paulo Paes, falecido (se não me engano) há quatro ou cinco anos, nos legou, entre tantos e tantos textos extraordinários – infelizmente conhecidos apenas por um punhado de eruditos – um curtíssimo, mas enfático poema, que aprecio em particular, em sua vasta e preciosa obra, e que serve de mote para as considerações a seguir.
Intitulado “Auto-epitáfio nº 2”, diz: “Para quem pediu sempre/tão pouco/o nada é positivamente/um exagero”. E, infelizmente, é isso o que recebem, hoje, dois terços dos mais de seis bilhões de habitantes da Terra, que vegetam na mais absoluta miséria (a maioria sobrevive com ínfimo US$ 1 por dia e muitos não têm nem mesmo essa absurda “renda”), apenas para que o um terço restante da humanidade esbanje os já escassos recursos do Planeta. Ou seja: nada!
O mundo, sem dúvida, evoluiu bastante no século XX, em diversos aspectos, notadamente no tecnológico. A ciência hoje opera maravilhas que, em um passado não tão remoto, nem os mais delirantes ficcionistas ousavam prever. As comunicações, por exemplo, se tornaram instantâneas, com sons e imagens de qualquer parte do Planeta chegando até nós em fração de segundos, através do rádio, da televisão, da internet, do telefone celular e do milagre dos satélites, nos mantendo inteirados dos acontecimentos quase que no exato instante em que ocorrem, não importa em que país, continente ou quadrante do globo terrestre se verifiquem.
Os meios de transporte, por seu turno, são cada vez mais rápidos e mais seguros. Transplantes de órgãos já se tornaram tão corriqueiros (para quem pode pagar, é claro), que sequer despertam mais espanto e nem curiosidade em quem quer que seja. A engenharia genética caminha para a erradicação das doenças antes mesmo de uma pessoa nascer. E já é viável (embora insensata e inútil) a clonagem de seres vivos, inclusive os humanos. Claro que as maravilhas da ciência e da tecnologia não são apenas as citadas. E nem sempre são usadas, apenas, em sentido construtivo. Pelo contrário... Está aí a parafernália bélica norte-americana, mais uma vez usada massivamente no Iraque.
Todavia, naquilo que é básico, que é fundamental, que é lógico e inadiável para o homem, ou seja, na garantia de vida e de oportunidades iguais para todos, sem distinção de sexo, raça, credo ou condição social, a situação continua a mesmíssima de séculos e séculos atrás, se não de alguns milênios dos primórdios da história. Há um fosso, virtualmente intransponível, um abismo largo e profundo, separando (talvez irreversivelmente) os que têm infinitamente mais do que precisam e os que não contam sequer com o “pão nosso de cada dia”.
Por que? É o que vivem perguntando os que raciocinam, os que têm sensibilidade, os que são bem informados e os que não se entregam a um egoísmo burro e calhorda e nem a um conformismo repugnante e covarde. Em um artigo que publiquei na página 15, da editoria Internacional do Correio Popular, em 21 de junho de 1991, tentei (também em vão, obviamente) explicar a razão dessa estúpida divisão entre seres privilegiados, sem nenhum motivo fundamental para que tenham esses privilégios, e a maioria condenada a um inferno de incomensuráveis sofrimentos e absurdas privações desde o ventre materno. Atribuí, na ocasião, a existência dessa realidade ao “egoísmo”, à “prepotência” e à “insensibilidade” dessa parcela da humanidade que sequer se dá conta de que é mortal. Escrevi, na oportunidade:
“Embora os homens precisem uns dos outros para sobreviver, a vida individual é a que conta. Ninguém está disposto, pelo menos conscientemente – embora pela educação as pessoas sejam condicionadas a isso – a receber um papel fixo assim que nasce, que não leve em conta suas ambições pessoais. Todo indivíduo saudável e razoavelmente inteligente sonha com notoriedade, conforto e, sobretudo, poder. O operário de uma fábrica, por exemplo, embora nem sempre revele isso ou sequer saiba como expressar tal vontade, tem como objetivo ser o chefe. O executivo de uma empresa luta por conquistar a presidência. E vai por aí afora. Todos, de uma maneira ou de outra, aspiram a chegar ao topo das atividades que escolheram ou que lhes foram impostas por condicionamentos”. A maioria, é claro, ajunta, à miséria em que vegeta, a frustração de jamais concretizar quase nenhuma dessas ambições, mesmo as mais medíocres.
Na impossibilidade de fazer alguma coisa (qualquer coisa), para acabar com essa estúpida, mas cristalizada, divisão da humanidade, em castas irreversíveis, rendo comovidas homenagens aos que sempre pediram “tão pouco” da vida e, para os quais, “o nada, positivamente, é um exagero”. Seu sofrimento (anônimo) e sua humilde resignação (imposta pelas circunstâncias) é que sustentam o mundo em seu eixo. Em troca, seus irmãos de espécie os condenam a privações de toda a sorte, à desumanização e à geração de uma linhagem de sub-homens, na figura de seus descendentes.

Sunday, September 23, 2007

REFLEXÃO DO DIA


É difícil alguém ser original, apresentar alguma idéia nova ou alguma solução viável para os problemas que se repetem e se acumulam, levando em conta a infinidade de pessoas que já passaram pelo mundo nos 11 milênios de civilização. Tudo o que fizermos ou pensarmos, alguém, provavelmente, já fez ou pensou, em algum tempo ou lugar. Novidade, se houver, só iremos encontrar no terreno das emoções. Afinal, cada pessoa reage a determinado estímulo de acordo com sua personalidade e suas experiências pessoais de vida, quase todas originais, nem que seja em nuances. Acho interessante a observação a esse propósito, do filósofo norte-americano Will Durant, no livro “Filosofia da Vida”: “Todas as verdades são velhas e só os poetas e loucos podem ser originais”. São, pelo menos, os que mais nos surpreendem e, à sua maneira, conseguem escapar da mesmice do cotidiano.

Guerra dos sexos - Introdução 7


Pedro J. Bondaczuk



As viúvas da Índia e mortes por dote


Entre as práticas mais arraigadas, historicamente, na Índia, de violência velada, causada pela discriminação à mulher, e negada pelas autoridades, está a da perseguição às viúvas. Em famílias supersticiosas (e estas são em imensa quantidade, num contingente populacional de um bilhão de habitantes, o segundo maior do mundo), a maioria vivendo em estado de absoluta miséria, ignorância e atraso cultural, os parentes dos maridos mortos atribuem a elas os falecimentos em questão, quaisquer que tenham sido as verdadeiras causas.

E, a menos que tenham alguma propriedade em seu nome, o que é muito raro, essas pessoas são tratadas de forma desdenhosa e cruel, na maioria das vezes expulsas da própria casa, tendo, não raro, que mendigar para poder sobreviver. Não são poucas, ressalte-se, as que passam por essa terrível e absurda experiência, tida por parte considerável dos indianos como "coisa normal".

Conforme estatísticas do Banco Mundial, datadas de 1995, 65% das mulheres indianas, maiores de 60 anos, são viúvas. A cifra aumenta para 80% para as maiores de 70. Numa idade, portanto, em que as possibilidades de reiniciar a vida são virtualmente nulas, esse procedimento cruel e desumano equivale, na prática, a uma condenação à morte para essas mulheres.

Até tempos recentes, a expectativa era a de que as viúvas se lançassem nas piras fúnebres onde os corpos dos maridos eram cremados, tradição conhecida como "sati". O costume foi oficialmente proscrito há dezenas de anos, mas se sabe de pelo menos um caso desse tipo ocorrido em 1987. Milhares de outras ocorrências como essa são insinuadas, mas sem comprovação. Sempre que o assunto é levantado, é enfaticamente negado, pois o tema é "tabu" na Índia.

Outro fenômeno de violência contra a mulher na sociedade indiana é o conhecido como "morte por dote". Trata-se de prática bastante comum, em que as jovens indianas casadas, cujos presentes não satisfazem à ganância da família do marido, são assassinadas, em alegados "acidentes de cozinha", ou atormentadas até que venham a cometer suicídio.

As autoridades fazem vistas grossas a esses homicídios, alegando "falta de provas". Claro que os criminosos fazem de tudo para não deixar rastros dos seus crimes. Na maioria dos casos, as coisas são arranjadas de tal maneira, que as mortes são, de fato, atribuídas a infelizes "acidentes".

Subitamente, as recém-casadas, cujos dotes são considerados inferiores àquilo que as famílias dos respectivos maridos acham que deveriam ser, sofrem quedas "acidentais" fatais, ou sérias queimaduras de óleo ou água fervendo, ou fulminantes intoxicações por produtos químicos ou alimentos deteriorados, ou outros "acidentes" de cozinha, dos quais, por mais que tentem, não conseguem escapar.

De acordo com a pesquisadora indiana Usha Nayyar, na Índia, pelo menos 7.300 mulheres foram mortas, apenas no ano de 1995, por seus parentes, por conseguirem dotes inadequados, que são, aliás, oficialmente proibidos. Destes casos, virtualmente nenhum dos criminosos foi punido, contando, portanto, com o beneplácito da polícia, com uma informal, mas autêntica, "licença para matar".

(Texto do meu livro, inédito, "Guerra dos Sexos").

Saturday, September 22, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Atribuímos alto valor ao pensamento e à inteligência. Estas características, porém, posto que importantes, não são essenciais à convivência harmoniosa e sadia entre as pessoas. A elas devem se juntar, necessariamente, virtudes como a humildade, a bondade, a ternura, a solidariedade etc. Ou seja, temos, sim, que cultivar a razão, mas sem jamais abrir mão da emoção. Charles Chaplin, criador do imortal Carlitos, afirmou: “Pensamos demasiadamente e sentimos muito pouco. Necessitamos mais de humildade que de máquinas. Mais de bondade e ternura que de inteligência. Sem isso, a vida se tornará violenta e tudo se perderá”. Temos que cultivar o riso, espontâneo e alegre. A lágrima, de felicidade e encantamento. E, sobretudo, o calor humano. Máquinas? São úteis, mas não essenciais. Inteligência? É desejável, mas não imprescindível. Do que o mundo não prescinde, porém, é de amor, de bondade, de amizade e de solidariedade. O mais...

É Primavera


Pedro J. Bondaczuk
É Primavera
de tardes e manhãs amenas
e de dilúvios de luz.

Os menestréis,
embriagados de aromas,
entoam monocórdias canções,
mantras de sagração da beleza.

Os poetas
descem das torres de marfim
e tecem tapetes de estrelas
para delicados pés não-profanos.

Os jardineiros
apuram mágicos enxertos
no afã de gerar, ansiosos,
insólita rosa azul de sonhos.

Os namorados
depuram paradoxais emoções,
para fundir sentimentos e carne,
na multiplicação da vida.

Os pregoeiros
anunciam quinquilharias
com vozes tonitruantes
que se misturam às brisas.

O mundo adquire cores,
os sentimentos, intensidade,
os jardins multiplicam flores,
e os corações, saudades.

É tempo de ações e urgências,
sem qualquer delonga ou espera,
das memórias e reminiscências,
porquanto... é Primavera!!!

(Poema composto em Campinas, em 25 de agosto de 2007).

Friday, September 21, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Devemos viver com alegria e otimismo cada dia da nossa vida, mesmo (ou principalmente) aqueles momentos de aflição e de dor, que todos temos em nosso caminho quando menos esperamos. Nestes casos, uma postura alegre e positiva torna mais suave a travessia desses instantes ruins que, como tudo na vida, também são passageiros. Não conheço uma única pessoa, por mais amarga e infeliz que seja, que não defenda, pelo menos da boca para fora, a alegria. A diferença é que tais indivíduos consideram que essa condição é para os “outros”, não para eles. Ou seja, não vivem o que pregam. São dos que deixam implícito o célebre “faça o que falo, não o que faço”. Daí serem tão amargos, tão mal-humorados e tão negativos. Apostam na infelicidade e, por conseqüência, são, de fato infelizes. Artur da Távola indaga, com pertinência, a propósito: “Do que adiantará um discurso sobre a alegria se o professor for um triste?”. Sim, de que vai adiantar?!

Porque escrevemos


Pedro J. Bondaczuk


A memória é uma das faculdades mais notáveis do “homo sapiens” – que Edgar Morin, certamente em um momento de azedume face ao comportamento social da maioria, chamou, não sem razão, de “homo demens” – e, simultaneamente, das mais frágeis. Registra, por exemplo, fatos banais, sem qualquer significado especial e deixa de registrar acontecimentos marcantes para a humanidade. Daí a necessidade de registros escritos, de arquivos, de livros, de jornais, etc.
Quando se trata de lembrar méritos alheios, então, é uma tragédia. Escritores e jornalistas, com trajetórias profissionais brilhantes, acabam, invariavelmente, esquecidos, tão logo encerrem a carreira, ou quando, por qualquer razão, deixem o palco principal dos acontecimentos, como se nada do que fizeram tivesse o mínimo valor. Todos, é mister frisar, estamos sujeitos a esse absurdo esquecimento. Da mesma forma que agimos em relação ao próximo, vão agir em relação a nós. Somos “especiais” somente para nós mesmos, por maiores que forem os nossos méritos.
Há intelectuais que nos legam obras impecáveis, sob todos os aspectos (tanto de forma quanto de conteúdo), reconhecidos em vida, mas que, tão logo morrem, passado aquele instante inicial de choque, de comoção, que a notícia de sua morte causa, são ignorados. E nunca mais se fala deles. E, quando se fala, quase sempre, é para citar algum fato que, no entender de muitos críticos “gratuitos”, lhes seja desabonador. Foi o que aconteceu, recentemente, com o escritor e jornalista (posto que não formado em jornalismo, mas que exerceu função jornalística, a de cronista, com muito talento e dignidade), Fernando Tavares Sabino.
Por anos e mais anos, essa magnífica figura humana contou com o reconhecimento quase unânime de crítica e de público, pela simplicidade e profundidade dos seus textos, saborosos e de fino humor. Teve exaltado seu talento ímpar para extrair do cotidiano, aparentemente banal, o lado pitoresco e poético. Quantas lições de vida nos deixou em seus textos coloquiais, quase uma conversa informal e descontraída de fim de tarde entre amigos, tendo por matéria-prima fatos e personagens obscuros do dia-a-dia!
Todavia, irritou os maldosos, os mal-humorados, os amargos, os derrotistas e néscios ao se propor a emprestar sua aptidão a uma ex-ministra da Economia (pasta que voltou a ser rebatizada de Ministério da Fazenda), execrada por milhões de brasileiros desde que tomou a iniciativa de “confiscar” a poupança da população. Subitamente, em determinados círculos, todos os seus méritos pessoais e profissionais foram esquecidos. Como se ele fosse o “confiscador” do dinheiro alheio, o que, evidentemente, não foi.
A partir de então, sempre que o nome de Fernando Sabino vinha à baila, invariavelmente esses infelizes “árbitros do comportamento” – que não vigiam sequer os próprios atos, mas agem com severidade extrema em relação aos dos outros – lembravam, sempre com indisfarçável toque de malícia e de escândalo: “não foi quem escreveu a biografia da Zélia?”. Grande crime que ele cometeu!!! Ora, ora, ora!!!
A morte desse exímio estilista do texto foi, sim, uma perda irreparável para a literatura e para o jornalismo (já que a crônica é uma espécie de ponte entre as duas atividades)! Seus méritos têm, sim, que ser reconhecidos! Seus textos têm, sim, que ser lidos, analisados e (se possível) imitados, por suas virtudes!
Fernando Sabino foi, sobretudo, “cortês” com seus leitores. Afinal, o escritor francês Jules Renard, membro da Academia Goncourt, falecido em 1910, afirmou, em determinada ocasião: “A clareza é a cortesia do homem de letras”. E esta foi sempre uma das maiores virtudes do (já saudoso) escritor mineiro.
Tudo isso me leva de novo a uma indagação, que faço há anos, cuja resposta conclusiva ainda não encontrei: “Por que escrevemos?”. Para ganhar dinheiro? Bobagem. Salvo raros fenômenos editoriais, como Paulo Coelho e Jorge Amado, pouquíssimos intelectuais (dá para contar nos dedos e de uma só mão) conseguem sobreviver apenas de textos. Vaidade? Também não! Há outras formas, mais eficazes e menos cansativas e dispendiosas, de “massagearmos” nosso ego. Estou mais propenso a acreditar que escrevemos por pura generosidade.
Reitero o que afirmei a esse propósito na minha crônica desta semana do portal Planeta News, do qual tenho a honra de ser cronista. Ou seja, que “escrevo para transmitir às outras pessoas as experiências que tive, com a generosidade de alguém disposto a doar algo de pessoal e que lhe é bastante precioso, a indivíduos que não conheço e com os quais provavelmente jamais terei qualquer espécie de contato. O que faço, diariamente, em meus diários e especialmente nas crônicas, é um streaptease emocional. Desnudo-me perante estranhos, apesar do pudor de me mostrar por inteiro, com minhas escassas virtudes e múltiplos defeitos”.
E mais: “O que se esconde por trás desse processo? Vaidade? Ânsia de conquistar a imortalidade e sobreviver na memória dos pósteros? Ingenuidade? Despudor? Talvez um pouco de tudo isso e muito mais”. Milan Kundera, em seu “Livro do Riso e do Esquecimento”, tem outra explicação, igualmente válida, para o ato de escrever: “Nós escrevemos livros porque nossos filhos se desinteressam de nós. Nós nos dirigimos ao mundo anônimo porque nossa mulher tapa os ouvidos quando falamos”.
Pode ser! Prefiro, porém, a versão da generosidade, que é muito mais simpática e mais parecida com a verdade. E, nesse aspecto, raros escritores foram mais generosos do que esse simpático mineiro de Belo Horizonte, que aos 13 anos de idade publicou seu primeiro texto na revista “Argus”, da polícia de Minas Gerais; que aos 18 lançou seu primeiro livro (“Os grilos não cantam mais”), de tamanha qualidade, que impressionou o então já mítico Mário de Andrade, que passou a se corresponder com ele; que nos legou (sem exagero) alguns milhares de crônicas, com inestimáveis lições de vida.
Fernando Sabino “partiu”, na véspera do seu aniversário, num 11 de outubro. Seu legado literário, no entanto, está aí, para deleite de estudantes e profissionais do texto e, sobretudo, das pessoas sensíveis e inteligentes. Quem de fato tiver inteligência, saberá “saborear” o que escreveu. Quem não... que aceite, sem se ofender, o merecido rótulo de “homo demens”, impingido por Edgar Morin.

Thursday, September 20, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Muitos abrem mão de um ideal, para o qual estão devidamente qualificados, a pretexto de que ele lhes exige imensos sacrifícios, aos quais não estão dispostos a se submeter. Argumentam que preferem “viver”, ou seja, gozar das vantagens materiais que seu talento lhes possibilita, a correr riscos por algo que consideram abstrato e imponderável. Entendem que as duas coisas são incompatíveis. Nem sempre são. Mesmo que sejam, os sacrifícios a que somos submetidos, na busca de um ideal de transcendência e de grandeza, são mais do que compensados pelos resultados finais. Os prazeres são efêmeros e passageiros, “tão pouco consistentes como a gota de orvalho, que brilha e morre”, observa o poeta Rabindranath Tagore. Mohandas Karamanchand Gandhi, pai da independência indiana, por sua vez, constata: “O ideal custa uma vida, mas vale a eternidade”. E, afinal, o que é mais importante: a efemeridade do momento presente, ou a eternidade?!

Poesia concreta - IV


Pedro J. Bondaczuk

(CONTINUAÇÃO)

CAMPOS DE INFLUÊNCIA

Alfredo Bosi, professor, por muitos anos, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, um dos mais lúcidos e profícuos críticos literários, desde 2003 membro da Academia Brasileira de Letras (onde ocupa a cadeira de nº 12, desde a morte do seu antecessor, o ex-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Dom Lucas Moreira Neves), ressalta que a poesia concreta revolucionou vários campos da língua portuguesa, como o semântico, sintático, léxico, morfológico, fonético e até mesmo tipográfico.
Sem fazer juízo de valor, declarou, certa feita, que “talvez as vanguardas tenham mais razão no que afirmam do que no que negam”. Reitero o que afirmei no início do presente ensaio: “É certo que movimentos como o concretismo contribuem para renovar a arte de compor. Faço uma analogia com a água. Se esta for corrente, tende sempre a se renovar, a se purificar, a ser potável. Se ficar estagnada, contudo, em pouco tempo se torna doentia, poluída, insalubre, não-utilizável para consumo. Esses movimentos renovadores fornecem, ao artista, alternativas, que são sempre válidas, desde que utilizadas com perícia, com talento e com bom-gosto”.
Mas voltemos a Alfredo Bosi, autor, entre tantos livros, do “Pré-Modernismo” (1966) e “História Concisa da Literatura Brasileira” (1970), que recomendo àqueles que queiram se aprofundar não somente no tema poesia concreta, mas em todas as tendências e vertentes literárias ao longo da nossa história. O eminente mestre enfatiza, de forma sintética, quais foram essas influências do concretismo em nosso idioma.
No campo semântico, por exemplo, aponta o uso de ideogramas (“apelo à comunicação não-verbal, conforme o Plano-Piloto”, definido no artigo de Augusto de Campos na revista “Arquitetura e Decoração). No sintático, destaca o “ilhamento ou atomização das partes do discurso, justaposição, redistribuição de elementos, ruptura com a sintaxe da proposição”.
E Bosi prossegue: “No campo léxico: substantivos concretos, neologismos, tecnicismos, estrangeirismos, siglas, termos plurilíngües. No campo morfológico: desintegração do sintagma (ou seja, da proposição que apresenta o assunto dividido em classe, números etc., expressão emprestada da terminologia militar, pois era a denominação dada a cada uma das divisões de falange constituída de 256 homens, na antiga Macedônia, dos tempos de Alexandre Magno) nos seus morfemas (elementos lingüísticos de significação), separação dos prefixos, dos radicais, dos sufixos, uso intensivo de certos morfemas”.
E conclui: “No campo fonético: figuras de repetição sonora (aliterações, assonâncias, rimas internas, homoteleutons), preferência dada às consoantes e aos grupos consonantais, jogos sonoros. No campo tipográfico: abolição do verso, não-linearidade: uso construtivo dos espaços brancos; ausência dos sinais de pontuação; constelações; sintaxe gráfica”.
No que diz respeito aos temas, a melhor caracterização desse tipo de poesia é a definida pela crítica literária Eunice Ribeiro, que constata: “Os concretos recusam misticismos e subjetivismos, mistérios e nostalgias, metáforas e ornamentos, para manifestarem uma preferência pelo exato, pelo lógico, pelo visível, pelo funcional”. Na canção “Sampa”, Caetano Veloso celebra os fundadores do concretismo, no seguinte trecho: “Quando eu cheguei por aqui/eu nada entendi/da dura poesia concreta de tuas esquinas...”. Está aí a melhor e mais exata caracterização dessa forma revolucionária de poetar. Ou seja, compor a “dura poesia”.

(CONTINUA).

Wednesday, September 19, 2007

REFLEXÃO DO DIA


As amizades, como o amor – do qual são uma das formas mais sublimes e nobres – é um processo: contínuo, constante, infindável. Requerem permanente atenção para que jamais esfriem, definhem e venham a acabar, como uma vela que se consome. Não exigem de nós, convém ressaltar, nenhum gesto grandiloqüente ou qualquer forma de sacrifício que não estejamos dispostos a fazer espontaneamente. Basta estar sempre ao lado do (a) nosso (a) amigo (a), prontos a prestar-lhe socorro, em caso de necessidade, vibrando com seus sucessos, compreendendo suas falhas e nos solidarizando com seus eventuais insucessos. O filósofo alemão Immanuel Kant faz pitoresca (e sábia) comparação a propósito. Afirma: “A amizade é como o café. Uma vez frio nunca mais volta ao sabor original, mesmo aquecido”. Não volta mesmo. Não deixemos, pois, nossa amizade esfriar, para que jamais perca o seu gosto, já que se torna inútil “requentar” um sentimento que esfriou.

Poesia concreta - III


Pedro J. Bondaczuk

(CONTINUAÇÃO)

NOVA VISÃO DE MUNDO

A poesia concreta se propôs a ser uma nova visão, mas, sobretudo, nova expressão de mundo que, quando do lançamento desse movimento, se tornava mais e mais complexo. Estava em pleno andamento, por exemplo, a chamada Guerra Fria, opondo as duas superpotências mundiais, Estados Unidos e União Soviética, e seus respectivos blocos. A Europa estava em plena efervescência de reconstrução, após a enorme destruição deixada pela Segunda Guerra Mundial. As colônias européias da África iniciavam um movimento generalizado pela emancipação, não raro de forma violenta, mediante movimentos guerrilheiros, que se multiplicavam por todo o continente. O gigante chinês, por seu turno, despertava de seu sono milenar, sob o férreo comando do mentor da “Grande Marcha”, Mão Tsé-Tung, constituindo-se em novo elemento de conflito, no já por si só tenso panorama internacional.
No Brasil, emergia uma nova classe média, que reivindicava maior participação na riqueza nacional, concentrada ainda (como, ademais, atualmente) em pouquíssimas mãos. O País havia atravessado um período de grandes turbulências políticas, após a tentativa de deposição de Getúlio Vargas, que o levou a se suicidar, apesar da eleição de Juscelino Kubitschek, que por pouco foi impedido de tomar posse pelos militares, que se rebelaram em Aragarças, o que se repetiria, tempos depois, em Jacareacanga.
O novo presidente, porém, assumiu, com uma plataforma desenvolvimentista, que começou a pôr em prática desde os primeiros dias de sua gestão. Começou a investir pesado na industrialização do País, estabelecendo a indústria automobilística, a naval e todas as outras necessárias para darem suporte a essas duas. Apresentou à Nação um projeto, encarado, então, como delirante, de transferência da Capital Federal do Rio de Janeiro para o coração do Brasil, o Planalto Central, que constava em todas as Constituições brasileiras, mas que, até então, não passava de letra morta, de mero penduricalho, que ninguém acreditava, seriamente, que algum dia sairia do papel.
É verdade que a poesia concreta era, sobretudo, um movimento literário. Tratou-se de um ataque frontal à produção poética da metade do século XX, no País, amplamente dominada, na ocasião, pela segunda geração do Modernismo, a de 1945. Os então jovens paulistas, que propunham essa revolução artística, notadamente Décio Pignatari e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos, acusavam os poetas em evidência na época de falta de capricho na produção de sua obra.
Condenavam, acima de tudo, o seu verbalismo – que acusavam de ser vazio –, e seu subjetivismo – que entendiam ser exacerbado –, além da sua incapacidade de expressar a nova realidade do mundo e, sobretudo, do País, gerada pela revolução industrial, que estava em pleno andamento com o início do governo JK. Augusto de Campos declarou, a esse respeito, na ocasião: “O velho alicerce formal e silogístico-discursivo, fortemente abalado no começo do século, voltou a servir de escora às ruínas de uma poética comprometida, híbrido anacrônico do coração atômico e couraça medieval”.
Claro que a poesia concreta não surgiu assim do nada, como num passe de mágica, da noite para o dia, fruto de súbito estalo mental, em algum eventual e hipotético processo de geração espontânea. Nada disso. Teve um relativamente longo processo de maturação e várias fontes (de épocas e países diversos) de inspiração.
Augusto de Campos declina, explicitamente, quais foram esses embriões do movimento: “Mallarmé (‘Um coup de dés’ – 1897), Joyce (‘Finnegans wake’), Pound (‘Cantos – ideogramas’), Cummings e, num segundo plano, Apollinaire (‘Calligrames’) e as tentativas experimentais futuristasdadaístas estão na raiz do novo procedimento poético, que tende a impor-se à organização convencional cuja unidade formal é o verso (livre inclusive)”.

(CONTINUA).

Tuesday, September 18, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Entendemos o conceito de “civilização” a partir de pressupostos equivocados. Consideramos “civilizados” os que têm acesso a uma boa moradia (com toda a parafernália que a vida moderna proporciona), a um carro potente e de preferência do ano, a uma boa universidade, às informações fartas e múltiplas etc. Mesmo que não digamos, somos tentados a achar que quem não conta com essas facilidades é bárbaro, inculto e vive ainda na “idade da pedra lascada”. Mas os verdadeiros princípios de civilização não são estes. Não estão ligados a bens e/ou facilidades materiais. São o respeito irrestrito ao próximo, a solidariedade, a justiça e a bondade, entre outras virtudes.. Não foi sem razão, pois, que o escultor francês Auguste Rodin, criador da célebre escultura “O Pensador”, constatou: “A civilização não é, em suma, senão uma camada de pintura que qualquer chuvinha lava”. Pelo menos esta, que aí está, é (infelizmente) apenas isso e nada mais.

Poesia concreta - II


Pedro J. Bondaczuk

(CONTINUAÇÃO)

VALORIZAÇÃO DA PALAVRA

O concretismo não desvalorizou a palavra. Não lhe conferiu papel secundário nas composições, como (afoitamente) afirmaram seus detratores. Pelo contrário. Valorizou a palavra ao extremo. Agregou-lhe, entre outras coisas, elementos de outras formas de expressão, como o grafismo, como sons, como recursos audiovisuais e das artes plásticas etc.
Sua influência, pois, extrapolou o mero campo da literatura (notadamente de um de seus principais gêneros, a poesia). Contribuiu, e muito, para a evolução, por exemplo, da publicidade, que teve um salto qualitativo notável ao aderir aos princípios co concretismo. Influiu, também, na música popular brasileira, notadamente na Bossa Nova (pouco) e no Tropicalismo (em profundidade). E apontou novos e originais caminhos inclusive para as artes plásticas.
Conforme Augusto de Campos, um de seus criadores, esclareceu – em um artigo, hoje histórico, publicado, originalmente, na revista “Arquitetura e Decoração” (São Paulo – Edição de novembro/dezembro de 1956 – nº 20) – os poetas concretistas propunham, para a criação de uma nova poesia (enfática, viva, dinâmica e objetiva, sobretudo “concreta”, para fazer jus à designação do movimento), alguns conceitos, que na época, foram considerados transgressores até mesmo dos cânones do nosso idioma.
Por exemplo, aboliram o verso tradicional. Como? Eliminando “seus laços sintáticos” – preposições, conjunções, pronomes etc. – produzindo, dessa forma, uma poesia “feita quase que, apenas, de substantivos e verbos”. Foram mais longe. Passaram a utilizar “uma linguagem necessariamente sintética, dinâmica, como era a característica da sociedade industrial” que então se implantava no País, fruto das ousadas iniciativas do então recém-empossado presidente desenvolvimentista Juscelino Kubitschek, que prometia realizar “50 anos em 5” e, dessa forma, recuperar o tempo perdido e trazer o Brasil da estagnação para a modernidade (sobretudo econômica e social).
A nova poesia dava “destaque para a importância do olho na comunicação mais rápida”, trazendo para o verso recursos característicos de anúncios luminosos, de histórias em quadrinhos e de tudo o que sugerisse movimento, dinamismo e concretude. Quanto à forma verbal de expressão, os concretistas passaram a usar e a abusar de paronomásias (ou seja, o emprego de palavras semelhantes no som, mas diferentes no sentido, os trocadilhos), de neologismos e de estrangeirismos, o que, até então, era considerado heresia para os poetas.
E mais: propunham-se “a separar prefixos e sufixos. Repetir certos morfemas (elementos lingüísticos de significação que servem para relacionar semantemas nas proposições e delimitar a sua função e significação). Valorizar a palavra solta (som, forma visual, carga semântica) que se fragmenta e se recompõe na página”.
A propósito, a título de esclarecimento, lembro que “semantema” é o elemento designativo da palavra, ou seja, seu radical ou raiz. O objetivo maior dessas mudanças, ainda conforme Augusto de Campos, era o de “transformar o poema em objeto visual, valendo-se do espaço gráfico como agente estrutural: uso dos espaços brancos, de recursos tipográficos, etc. Em função dessas propostas, o poema deve, simultaneamente, ser lido e visto”.
Os poetas concretistas, todavia, não se contentavam, apenas, com as inovações referidas. Queriam (e foram) além, muito além disso. Augusto de Campos explica, no citado artigo: “O poema concreto ou ideograma passa a ser um campo relacional de funções. O núcleo poético é posto em evidência não mais pelo encadeamento sucessivo e linear de versos, mas por um sistema de relações e equilíbrios entre quaisquer partes do poema”.
Augusto de Campos, finalmente, sintetiza como seriam os tais poemas concretos: “Funções-relações gráfico-fonéticos (fatores de proximidade e semelhança) e o uso substantivo do espaço como elemento de composição entretêm uma dialética simultânea de olho e fôlego que, aliada à síntese ideogrâmica do significado, cria uma totalidade sensível verbivocovisual, de modo a justapor palavras e experiência num estreito colamento fenomenológico, antes impossível”.

(CONTINUA)

Monday, September 17, 2007

TOQUE DE LETRA











Pedro J. Bondaczuk

(Fotos: Arquivo, site oficial da Ponte Preta, Gaspar Nóbrega e Marcos Arcoverde/VIPCOMM e Divulgação)

MILAGRES EXISTEM

O torcedor pontepretano que duvidava de milagres, a partir da última sexta-feira passou, com certeza, a acreditar neles. O time jogava uma partida horrorosa contra o Santo André, perdia por 1 a 0, e nada de se acertar em campo. Acabou o Primeiro Tempo em desvantagem. Veio o segundo, e a Ponte Preta continuou jogando mal. O meio de campo não funcionava e os atacantes, velozes, só recebiam bola quadrada e, por isso, não levavam perigo algum ao goleiro Neneca. A defesa, confusa, errava a todo o momento e o adversário estava mais próximo do segundo gol do que a Macaca do empate. A única jogada que funcionava era a do ala André, que jogou a sua melhor partida com a camisa pontepretana, mas era muito pouco. Nelsinho Baptista mexeu no time, mas nada dele se acertar em campo. E o tempo continuou passando: 39 minutos, 40 minutos, 42 minutos, 44 minutos do Segundo Tempo. Foi quando, numa jogada do ala pela esquerda, a bola foi alçada para a área e João Paulo fez de cabeça. Ufa! Alívio geral na torcida. O empate não era o ideal, mas para as circunstâncias, caía do céu. Pelo menos a Ponte manteria a invencibilidade no Majestoso. Já nos acréscimos, porém, provavelmente no último lance do jogo (ou um dos últimos), um zagueirão do Santo André cometeu uma bobagem imensa, do tamanho do Maracanã. Desviou a bola, nitidamente, com a mão, lance que todo o estádio (incrédulo àquela altura) viu. Para a felicidade da torcida, o juizão também enxergou. Resultado? Pênalti a favor da Ponte. E, o que parecia impossível, aconteceu. A Macaca, em míseros três minutos, transformou uma melancólica derrota em casa, numa surpreendente vitória, por 2 a 1. Com isso, manteve-se vivíssima na competição e cheia de moral, face ao histórico feito. Este é um jogo daqueles que viram lenda com o passar dos anos. E comprova que, embora raros, os milagres, de fato, existem.

OPERAÇÃO DESMANCHE

O Guarani, eliminado do Campeonato Brasileiro da Série C e disputando, apenas, esse caça-níqueis inventado para manter as equipes do interior de São Paulo em atividade, que é a Copa Federação Paulista, prepara uma verdadeira operação desmanche em seu plantel. O técnico Michael Robin deve divulgar, ainda na tarde de hoje, uma lista de dispensas, para enxugar o grupo, atualmente com 50 jogadores. Vários atletas, que decepcionaram a torcida na disputa da Série C, deverão ganhar o clássico “bilhete azul”. Outros, certamente, através de seus empresários, devem estar mantendo contatos com times das Séries A e B, cujas inscrições se encerram nesta semana, para definirem seus destinos. O assunto do momento, pelos lados do Brinco de Ouro, sequer é futebol. O tema de todas as conversas são as eleições no Guarani, marcadas, oficialmente, para dezembro, mas que muitos querem antecipar. Afinal, a escolha do novo presidente (e da conseqüente diretoria) irá determinar o futuro do clube. É esperar para ver no que vai dar.

NERVOS DE AÇO

O atacante Alex Terra, artilheiro disparado da Ponte Preta no Campeonato Brasileiro, mesmo entrando no time na metade do Primeiro Turno, mostrou, sexta-feira, que além de faro de gol, também tem nervos de aço. Não é qualquer um que se apresenta, como ele se apresentou, para cobrar o pênalti contra o Santo André, aos 48 minutos do Segundo Tempo, num jogo em que sua equipe perdia, e jogando muito mal, até os 44 da etapa final. Já imaginaram o que ocorreria se ele errasse a cobrança? Durante a semana, torcedores deram uma dura (merecida, no meu entender), nos jogadores, exigindo deles mais empenho. Esse era um fator complicador a mais para o cobrador daquele crucial pênalti. Alex Terra, todavia, nem deu bola para nada disso. Pegou a bola, com personalidade, colocou-a na marca da cal, e bateu com categoria e frieza, como se estivesse num treino, garantindo a milagrosa vitória pontepretana. Esse, pode ter a certeza, ficará para sempre na memória da torcida (como Gigena ficou, após marcar três gols num dérbi). Mostrou que, além de matador, é macho pra xuxu!!! Outro destaque dessa histórica virada da Macaca, foi a estréia do meia Chumbinho. Sem ritmo de jogo, tendo treinado, apenas, duas vezes com os companheiros, ainda assim agüentou os 95 minutos (com os acréscimos), mostrando que não é daqueles “jogadores de vidro” que, na hora em que a cuíca ronca, pedem substituição, alegando cansaço. Embora sua atuação tenha sido apenas discreta (o resto do time não ajudou), certamente ganhou crédito com a torcida. Pelo menos, foi um bom começo.

PELO MENOS UM SE SALVOU

Sempre que um time joga mal, como a Ponte Preta jogou, na milagrosa vitória de sexta-feira, contra o Santo André, no Majestoso, por 2 a 1, até quem fez bem a sua parte acaba incluído nas críticas da imprensa e da torcida. Mas é preciso fazer justiça com um jogador, nessa histórica partida, que teve uma atuação soberba. Correu, marcou, armou, cruzou e até chutou uma bola na trave. Refiro-me ao ala André, que, finalmente, mostrou porque foi eleito o melhor da sua posição, no Campeonato Paulista deste ano, com a camisa do Bragantino. Aliás, o atleta passa a ser uma boa opção para o técnico Nelsinho Baptista para o meio de campo, se a diretoria não contratar ninguém para substituir Heverton, que abandonou o barco em plena tempestade e deixou a Ponte Preta na mão, iludido pelo nome do Corinthians (que, na atualidade, só tem isso mesmo, e nada mais, a oferecer). Pequenino, André foi incansável o jogo todo e merece o respeito do torcedor, pela raça e pela vontade que mostrou. Afinal, técnica não lhe falta.

DECISIVO DE NOVO

Mais uma vez, mesmo sem jogar 50% do que sabe e pode, Ronaldinho Gaúcho foi decisivo, na vitória de quarta-feira passada, no Estádio Gilette (que nome!) de Boston, do Brasil, sobre o México, por 3 a 1. Afinal, os três gols brasileiros nasceram de seus pés. O passe que o super-craque deu para Afonso, no finzinho do jogo, foi de cinema. Gostei, sobretudo, da determinação da equipe, que disputou cada lance com intensidade, como se o jogo sequer fosse amistoso. Houve momentos, até, em que os jogadores exageraram na força, como ocorreu com Elano, que acabou expulso, por causa de uma jogada violenta (e desnecessária, pois ocorreu no meio de campo). Com a vitória, a Seleção Brasileira devolveu os 2 a 0 que havia levado dos mexicanos, na Copa América, com uma atuação, para mim, bastante convincente. O grupo, aos poucos, vai adquirindo “a cara” do treinador, o Dunga, aliando a técnica brasileira (que nunca ninguém contestou, a não ser uma meia dúzia de cronistas babacas, doidinhos para aparecer) com a raça que era a característica do técnico, quando ainda jogador. Quem teve uma atuação apenas discreta, para não dizer apagada, foi Robinho. Mas a equipe nem precisou dele para derrotar essa seleção carne de pescoço, que é a mexicana.

FINALMENTE VAZADA

Finalmente a invulnerável defesa do São Paulo foi vazada. Após oito jogos consecutivos sem levar um único gol, sofreu um no sábado, em pleno Morumbi, feito pelo Santos. E o autor da façanha foi o esforçado Rodrigo Tabata, que nem é titular do time de Luxemburgo, mas que há muito vem merecendo a titularidade. Mas se a defesa são-paulina foi, finalmente, vazada, nem por isso sua zaga deixa de ter méritos na vitória do time, por 2 a 1. Afinal, o gol mais bonito da partida foi de um zagueiro, o menino Breno, de apenas 17 anos, que entrou driblando na defesa santista, ao estilo dos melhores atacantes, e soube concluir com maestria uma jogada sensacional. É certo que ainda é muito cedo para proclamar o São Paulo como campeão brasileiro da temporada. Embora distante do tricolor, o Cruzeiro vem fazendo a sua parte e só espera um vacilo são-paulino para encostar de vez na classificação. Mas, pelo que vem jogando, dificilmente o troféu de 2007 deixará o Morumbi. Enfim...

MODESTO, MAS EFICIENTE

O Vasco da Gama, quando começou o Campeonato Brasileiro de 2007, era apontado, por boa parte da crônica esportiva, como sério candidato ao rebaixamento. Todavia, mesmo com um time modesto, sem nenhuma estrela de primeira grandeza (que, ademais, nenhum time tem na atual fase do futebol do País), foi somando pontos, dentro e fora de casa e hoje aparece como um dos destaques da competição. Qual o seu segredo? Está no banco. Trata-se de Celso Roth, que ganhou a injusta fama de retranqueiro, mas que vem mostrando, na prática, ser adepto de um futebol ofensivo, sempre em busca da vitória. Muitos se esquecem que foi ele que teve a coragem de lançar, no time de cima do Santos, a dupla Diego e Robinho, que hoje brilha no futebol europeu e com a camisa da Seleção Brasileira. Na época, muitos acharam que o treinador estava cometendo uma loucura. O tempo, porém, se encarregou de provar que ele é que estava certo. Se o Vasco se classificar para a Libertadores da América, levando em conta o plantel que tem, já estará de bom tamanho. E, se isso acontecer, é justo que os méritos sejam atribuídos a quem, de fato, os tem: o discreto, mas eficiente, Celso Roth.

RESPINGOS...

· Foi lamentável a entrada (criminosa) do lateral Coelho, do Atlético Mineiro, no atacante Kerlon, do Cruzeiro, após um lance de habilidade (que só ele sabe fazer no futebol brasileiro) do jovem atleta cruzeirense, no clássico mineiro de ontem. Lamenta-se, ainda mais, a atitude do treinador Emerson Leão, tentando justificar a burrada do seu atleta. É por isso que o futebol brasileiro está ficando cada vez mais chato e burocrático. Os talentos (cada vez mais raros), em vez de serem protegidos, estão sendo caçados e penalizados. O Cruzeiro venceu o jogo por 4 a 3.
· O clássico, entre Palmeiras e Corinthians, promete! Não tanto pela fase técnica dos dois times, mas pela rivalidade e pelas circunstâncias que cercam esse jogo. Será uma partida imperdível!
· Está cada vez mais sensacional a disputa, na parte de baixo da tabela, do Campeonato Brasileiro. O Náutico, comandado pelo uruguaio Acosta, empreende espetacular reação. Sábado, goleou o Goiás, em pleno Estádio Serra Dourada, por 3 a 0. Só o América de Natal é que parece irremediavelmente perdido.
· O técnico Alexandre Gallo estreou no comando do Figueirense em alto estilo. Seu novo time sapecou uma goleada no Juventude, no Estádio Orlando Scarpelli, em Florianópolis, por 4 a 1.
· Estevão Soares ganhou o “bilhete azul” no Grêmio Barueri. A diretoria do clube da Grande São Paulo não se conformou com o vexame do time, no sábado, em Jundiaí, quando foi goleado (e humilhado) por 7 a 0, com direito a olé.

· E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.


pedrojbk@hotmail.com