Pedro J. Bondaczuk
A melhor maneira de mostrarmos apreço e veneração pela vida, esse magnífico mistério, que é, ao mesmo tempo, um privilégio e um desafio, é cultivarmos a alegria. É jamais nos deixarmos abater pelo que de ruim nos aconteça, ou ocorra ao nosso redor, mas sempre extrair lições dos sofrimentos e tragédias.
É atentarmos para os pequenos episódios positivos do dia a dia que, somados, se revelam maiúsculos, mas que, muitas vezes, entregues a tolas mágoas e estúpidos rancores, não sabemos valorizar devidamente. Viver é bom, é magnífico, é transcendental, sejam quais forem as circunstâncias. Não há como não concordar com Aléxis Carrel, quando afirma: “A alegria é o sinal pelo qual a vida marca seu triunfo”.
Sejamos, pois, vencedores. E brindemos cada vitória da vida com aquilo que caracteriza com perfeição esse sucesso: a inarredável alegria. Difícil? Sem dúvida! Impossível? Jamais, a menos que sejamos renitentes derrotistas. Este longo preâmbulo (que em jornalismo se convencionou chamar de “nariz de cera”), vem a propósito de uma singela confissão que vou fazer.
Minhas quatro maiores alegrias na vida – e olhem que já tive muitas, tantas que se me torna impossível até de contabilizar – foram os nascimentos dos meus quatro filhos. Foi uma sensação que até hoje, passados 33 anos daquela experiência até então ímpar, não consigo verbalizar. Tudo o que disser (ou escrever) a respeito será pouco, pálido, mesquinho, embora até por dever profissional nunca tive dificuldades em expressar o que quer que fosse.
Talvez a intensidade do primeiro nascimento tenha sido um pouco maior (mas não tenho certeza se de fato foi), por não haver tido antes, claro, essa transcendental experiência. Mas não creio que emoções tão fortes e profundas possam ser medidas ou classificadas. Digamos que, embora diferentes, por inúmeros motivos, essas quatro alegrias tenham sido de igual intensidade ou, no máximo, muito próximas uma da outra.
Vivi, intensamente, cada momento desses “milagres” de multiplicação que ocorreram por quatro vezes, dessa renovação da vida, dessa magia de se ver reproduzido em outros seres – que são partes de você e, ao mesmo tempo, tão diferentes e autônomos em relação à sua pessoa – desde que tomei ciência da gravidez da minha amada, até o nascimento, o primeiro sorriso de cada filho, a primeira palavra, o momento em que cada um deles se sentou pela primeira vez, em que engatinhou, em que andou etc.
O primeiro momento em que tive que aceitar que geramos filhos para o mundo, não para nós mesmos, foi quando a primogênita teve seu primeiro dia na escola. Foi outra emoção intensíssima, que nunca consegui descrever, misto de perda, de ciúme, de preocupação, de temor pelo que lhe pudesse acontecer, e, sobretudo, de frustração por não mais poder proteger essa criança querida dos potenciais perigos do mundo nas 24 horas dos dias. Confesso que chorei nessa ocasião (embora discretissimamente, sem que ninguém percebesse, já que fui criado nos estúpidos princípios machistas de que “homem nunca chora”, ou, pelo menos, não deve chorar).
O interessante foi que essa mesmíssima emoção, com idêntica intensidade, se repetiu mais três vezes, nos primeiros dias de aulas dos outros três filhos. Voltei a ter essa mesma sensação, ainda, em outras circunstâncias. Quando, por exemplo, a minha menininha mais velha (já, então, não tão menina assim), me apresentou seu primeiro namorado. Ou quando anunciou que iria se casar. Ou no dia do seu casamento. Mas... a vida é assim: uma sucessão interminável de perdas e ganhos.
Subitamente, senti-me “órfão” dos filhos. Calma, nenhum deles (felizmente) morreu. Um a um foi crescendo, se formando, definindo seu rumo, deixando nossa casa para formar suas próprias famílias. Subitamente, olho ao redor e não vejo nenhum deles a brincar, a rir, a brigar, a me fazer carinho ou a reclamar da disciplina que procurava impor em “meu castelo”. Nas paredes do casarão – envelhecido, assim como eu – que parece ter multiplicado suas dimensões, ainda ressoa o riso alegre de crianças, ou o choro manhoso, de birra, das garotinhas e do garotão, ou a barulheira das músicas que gostavam. Tudo, agora, é passado. Parece que não passou de um sonho...
O poeta Affonso Romano de Sant’Anna (igualmente exímio cronista) definiu à perfeição, na crônica intitulada “Antes que elas cresçam”, num jornal do Rio de Janeiro (não me lembro se no “O Globo” ou se no “Jornal do Brasil”), essa nossa “orfandade” paterna. Peço licença ao leitor para reproduzir o trecho mais enfático desse texto que diz: “Há um período em que os pais vão ficando órfãos de seus próprios filhos. É que as crianças crescem independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estabanados. Crescem sem pedir licença à vida. Crescem com uma estridência alegre e, às vezes com alardeada arrogância. Mas não crescem todos os dias, de igual maneira, crescem de repente”.
E não é assim que as coisas acontecem?! Pois é, isso ocorreu comigo, e exatamente dessa maneira descrita pelo poeta. O crescimento dos filhos não se deu (ou, pelo menos, não tive essa percepção), lenta e paulatinamente, como seria de se esperar, dando-me tempo para assimilar essa realidade. Pelo contrário, ocorreu de repente, de súbito, de supetão! Quando me dei conta... os quatro já estavam criados, crescidos, educados, encaminhados, casados, vivendo suas próprias vidas, nas quais meu papel diminuiu bastante, para se tornar em (somente) mero referencial. “C’est la vie”, diriam os franceses. “C’est la vie...”, repito, com nostalgia.
A melhor maneira de mostrarmos apreço e veneração pela vida, esse magnífico mistério, que é, ao mesmo tempo, um privilégio e um desafio, é cultivarmos a alegria. É jamais nos deixarmos abater pelo que de ruim nos aconteça, ou ocorra ao nosso redor, mas sempre extrair lições dos sofrimentos e tragédias.
É atentarmos para os pequenos episódios positivos do dia a dia que, somados, se revelam maiúsculos, mas que, muitas vezes, entregues a tolas mágoas e estúpidos rancores, não sabemos valorizar devidamente. Viver é bom, é magnífico, é transcendental, sejam quais forem as circunstâncias. Não há como não concordar com Aléxis Carrel, quando afirma: “A alegria é o sinal pelo qual a vida marca seu triunfo”.
Sejamos, pois, vencedores. E brindemos cada vitória da vida com aquilo que caracteriza com perfeição esse sucesso: a inarredável alegria. Difícil? Sem dúvida! Impossível? Jamais, a menos que sejamos renitentes derrotistas. Este longo preâmbulo (que em jornalismo se convencionou chamar de “nariz de cera”), vem a propósito de uma singela confissão que vou fazer.
Minhas quatro maiores alegrias na vida – e olhem que já tive muitas, tantas que se me torna impossível até de contabilizar – foram os nascimentos dos meus quatro filhos. Foi uma sensação que até hoje, passados 33 anos daquela experiência até então ímpar, não consigo verbalizar. Tudo o que disser (ou escrever) a respeito será pouco, pálido, mesquinho, embora até por dever profissional nunca tive dificuldades em expressar o que quer que fosse.
Talvez a intensidade do primeiro nascimento tenha sido um pouco maior (mas não tenho certeza se de fato foi), por não haver tido antes, claro, essa transcendental experiência. Mas não creio que emoções tão fortes e profundas possam ser medidas ou classificadas. Digamos que, embora diferentes, por inúmeros motivos, essas quatro alegrias tenham sido de igual intensidade ou, no máximo, muito próximas uma da outra.
Vivi, intensamente, cada momento desses “milagres” de multiplicação que ocorreram por quatro vezes, dessa renovação da vida, dessa magia de se ver reproduzido em outros seres – que são partes de você e, ao mesmo tempo, tão diferentes e autônomos em relação à sua pessoa – desde que tomei ciência da gravidez da minha amada, até o nascimento, o primeiro sorriso de cada filho, a primeira palavra, o momento em que cada um deles se sentou pela primeira vez, em que engatinhou, em que andou etc.
O primeiro momento em que tive que aceitar que geramos filhos para o mundo, não para nós mesmos, foi quando a primogênita teve seu primeiro dia na escola. Foi outra emoção intensíssima, que nunca consegui descrever, misto de perda, de ciúme, de preocupação, de temor pelo que lhe pudesse acontecer, e, sobretudo, de frustração por não mais poder proteger essa criança querida dos potenciais perigos do mundo nas 24 horas dos dias. Confesso que chorei nessa ocasião (embora discretissimamente, sem que ninguém percebesse, já que fui criado nos estúpidos princípios machistas de que “homem nunca chora”, ou, pelo menos, não deve chorar).
O interessante foi que essa mesmíssima emoção, com idêntica intensidade, se repetiu mais três vezes, nos primeiros dias de aulas dos outros três filhos. Voltei a ter essa mesma sensação, ainda, em outras circunstâncias. Quando, por exemplo, a minha menininha mais velha (já, então, não tão menina assim), me apresentou seu primeiro namorado. Ou quando anunciou que iria se casar. Ou no dia do seu casamento. Mas... a vida é assim: uma sucessão interminável de perdas e ganhos.
Subitamente, senti-me “órfão” dos filhos. Calma, nenhum deles (felizmente) morreu. Um a um foi crescendo, se formando, definindo seu rumo, deixando nossa casa para formar suas próprias famílias. Subitamente, olho ao redor e não vejo nenhum deles a brincar, a rir, a brigar, a me fazer carinho ou a reclamar da disciplina que procurava impor em “meu castelo”. Nas paredes do casarão – envelhecido, assim como eu – que parece ter multiplicado suas dimensões, ainda ressoa o riso alegre de crianças, ou o choro manhoso, de birra, das garotinhas e do garotão, ou a barulheira das músicas que gostavam. Tudo, agora, é passado. Parece que não passou de um sonho...
O poeta Affonso Romano de Sant’Anna (igualmente exímio cronista) definiu à perfeição, na crônica intitulada “Antes que elas cresçam”, num jornal do Rio de Janeiro (não me lembro se no “O Globo” ou se no “Jornal do Brasil”), essa nossa “orfandade” paterna. Peço licença ao leitor para reproduzir o trecho mais enfático desse texto que diz: “Há um período em que os pais vão ficando órfãos de seus próprios filhos. É que as crianças crescem independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estabanados. Crescem sem pedir licença à vida. Crescem com uma estridência alegre e, às vezes com alardeada arrogância. Mas não crescem todos os dias, de igual maneira, crescem de repente”.
E não é assim que as coisas acontecem?! Pois é, isso ocorreu comigo, e exatamente dessa maneira descrita pelo poeta. O crescimento dos filhos não se deu (ou, pelo menos, não tive essa percepção), lenta e paulatinamente, como seria de se esperar, dando-me tempo para assimilar essa realidade. Pelo contrário, ocorreu de repente, de súbito, de supetão! Quando me dei conta... os quatro já estavam criados, crescidos, educados, encaminhados, casados, vivendo suas próprias vidas, nas quais meu papel diminuiu bastante, para se tornar em (somente) mero referencial. “C’est la vie”, diriam os franceses. “C’est la vie...”, repito, com nostalgia.
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