Saturday, August 11, 2007

Cento e sete anos de paixão











Pedro J. Bondaczuk

A imensa e apaixonada coletividade da Associação Atlética Ponte Preta – na qual, orgulhosamente, me incluo – está em festas, nesta data, que marca o centésimo sétimo aniversário deste que é o mais tradicional e querido clube de futebol brasileiro, o mais antigo em atividade em todo o território nacional. Ela nasceu do sonho e do idealismo de três rapazes, Miguel do Carmo (o Migué), Luiz Garibaldi Burghi (o Gigette) e Antonio de Oliveira (o Tonico Campeão), sob uma tosca ponte de madeira da Companhia Paulista de Estradas-de-Ferro, onde os fundadores se inspiraram para lhe dar o nome. .
Seu primeiro presidente foi Pedro Vieira da Silva e o clube se consolidou e cresceu graças ao empenho e à competência de dezenas de pessoas ilustres, que aceitaram o desafio de exercer a presidência, alguns em momentos críticos dessa entidade, e que se desdobraram para manter acesa essa chama, que se acendeu num 11 de agosto de 1900. Hoje, a Ponte Preta é a grande paixão de mais da metade da população desta notável metrópole em que Campinas se tornou, de 1,2 milhão de habitantes, com sócios, torcedores ou simplesmente simpatizantes espalhados por todo o Brasil e até no exterior.
A Ponte Preta deve o que é a esses abnegados, que não mediram esforços para conduzir, entre erros e acertos, esse modelar clube. Tem uma dívida imorredoura de gratidão com gente como o Capitão Pedro de Alcântara, João Penido Burnier, Francisco Ursaia (que hoje empresta o nome à avenida em frente ao estádio), Pedro Pinheiro, José Cantúsio, Ralpho Fonseca Ribeiro, Irmante Lucarelli, Antonio Mingone, Sérgio José Abdala, Coronel Rodolfo Pettená (que iluminou o Moisés Lucarelli e possibilitou que o time disputasse o Campeonato Brasileiro), Lauro de Moraes Filho, Sérgio Carnielli e tantos e tantos abnegados que a presidiram ao longo deste mais de um século. O fato de não citar, nominalmente, todos, um a um, não significa, de forma alguma, esvaziar ou deixar de reconhecer sua importância. Ocorre que (felizmente) foram tantos e tantos, que se torna inviável a menção de todos eles, nesta singela e emocionada homenagem.
Raros empreendimentos, sejam de que natureza forem, conseguem a façanha de ter tamanha sobrevida, como é o caso da Ponte Preta. Dá para contar nos dedos quantas empresas, lojas, indústrias, clubes, jornais etc. atingiram essa provecta idade, em meio às inúmeras crises, de toda a sorte, de um país carente e injusto como o Brasil.
Dificuldades nunca faltaram no caminho do clube, sobretudo as financeiras. Afinal, trata-se de uma associação do povo, para o povo e pelo povo e não da elite. É democrática e aberta, sem preconceitos de quaisquer espécies. As dificuldades e carências, em vez de desanimar essa coletividade, sempre a motivaram, para que se mobilizasse, se desdobrasse, fizesse das tripas coração e operasse maravilhas, com seu esforço e sua união.
Um dos momentos marcantes, por exemplo, foi o da construção do Estádio Moisés Lucarelli, que antes de se concretizar, mais parecia missão impossível, um sonho delirante, uma fantasia megalomaníaca de três apaixonados pontepretanos: Moisés Lucarelli (mui justamente homenageado emprestando seu nome a esse nosso palco de glórias), Olímpio Dias Porto e José Cantúsio, que adquiriram o terreno e doaram-no ao clube. Mas, cadê o essencial, ou seja, os recursos necessários para a construção? Não havia nenhum.
Quando em 13 de agosto de 1944 foi lançada a pedra fundamental desse empreendimento, poucos, bem poucos acreditavam que ele sairia do papel. Não havia financiamento, quer público, quer privado, para essa aparente aventura. Ainda assim, seus idealizadores não duvidaram, um só minuto, do sucesso da empreitada. Tanto que, incontinenti, encomendaram o projeto aos engenheiros Alberto Jordano Ribeiro, Eduardo Badaró e Mário Ferraris. E não queriam um campinho qualquer. Teria que ser um estádio majestoso, com a entrada igualzinha à do Pacaembu, na época o maior palco do futebol paulista e um dos maiores do País.
A comunidade pontepretana, porém, se mobilizou. Empreendeu inédito mutirão. Cada simpatizante dava o que podia. Os de maiores posses, entraram com quantias consideráveis. Os humildes (a maioria) com centavos, meros tostões que fossem, não importava. Muitos contribuíram com a única coisa que tinham a oferecer: a força dos seus braços. Doaram a mão de obra. Outros tantos (e não foram poucos), só puderam dar um único e mísero tijolo, nada mais. E sua contribuição, meramente simbólica, também foi bem-vinda. Como de grão em grão se faz um montão, não tardou para que a obra saísse do papel. Era um sonho, que parecia impossível, mas que se materializava aos olhos atônitos desses apaixonados sonhadores.
E, num belo dia, quando menos se esperava, lá estava o maior estádio do interior brasileiro (e um dos mais modernos do País na época) em pé, pronto para a inauguração parcial, que se deu num Dia da Pátria, em 7 de setembro de 1948, com missa campal. E não poderia ser outra a primeira atividade do Majestoso. Afinal, sua construção fora um milagre que se materializava aos olhos dos incrédulos e pessimistas, e, especialmente, dos que, movidos por intensa paixão, não duvidaram um só minuto do sucesso do empreendimento.
Desses abnegados pode-se dizer, sem risco de exagero, que “não sabendo que era impossível, foram lá, e fizeram”. Cinco dias depois da missa campal, eufórica, a comunidade pontepretana inaugurava, oficialmente, a sua casa, o seu templo, o seu cantinho no futebol brasileiro, em 12 de setembro de 1948. Como se vê, esse sim merece ser chamado de “clube da fé”, não é verdade?
Mas os “milagres” não se limitaram à construção do Majestoso, que já se constituiu em façanha inédita, provavelmente no mundo. Repetiu-se com a Unidade Paineiras, que hoje ocupa área de 12 mil metros quadrados, numa das áreas mais valorizadas da cidade, próxima ao Shopping Iguatemi. Esse complexo social conta com parque aquático, salão social, saunas, american-bar, lanchonete, quiosques, playground, quadras de tênis, campos de futebol soçaite, sala de ginástica e musculação.
Mas a comunidade pontepretana achava que ainda era pouco mais esse passo de gigante. Queria mais, muito mais. E surgiu o Centro de Treinamento do Jardim Eulina, um dos CTs mais modernos do País, com dois campos oficiais, sala de musculação, massagens, fisioterapia, fisiologia e nutrição. Ainda era pouco. E veio a Cidade Pontepretana, com área útil de 85 mil metros quadrados, que conta com quadras de esportes olímpicos, campos de futebol, parque aquático, saunas, playground, quiosques, churrasqueiras, amplo salão social e ginásio de esportes, sala de musculação, de jogos, além de muito espaço verde.
Com todas as dificuldades financeiras que a Ponte Preta sempre enfrentou (e ainda enfrenta) graças à paixão que desperta em sua comunidade, o clube foi classificado em 17º lugar no ranking dos mais ricos do País, conforme levantamento feito pela Casual Auditores de São Paulo, divulgado, oficialmente, no mês passado, na sede da Federação Paulista de Futebol, em cerimônia marcada para esse fim.
Todavia, o patrimônio maior desse clube centenário não é seu estádio, orgulho de todo pontepretano. Não são o Complexo das Paineiras, ou o CT do Jardim Eulina ou a Cidade Pontepretana. É sua fidelíssima e apaixonada torcida, que nunca abandonou o time, e nem o clube, até mesmo, e principalmente nas piores situações! Desde que corretamente mobilizada, ela é capaz de mover montanhas. Opera milagres e transforma sonhos em realidade, com a força do seu trabalho. Daí a certeza de dias cada vez melhores para a Associação Atlética Ponte Preta, pela qual tenho, também, esta mesmíssima, irresistível e duradoura paixão que move centenas de milhares de campineiros.
Nestas breves e apaixonadas considerações, não posso deixar de mencionar atletas que vestiram, com honra e com orgulho, a gloriosa camisa pontepretana. Foram tantos, que se fosse citar todos, preencheria páginas e mais páginas e ainda assim muitos nomes ficariam de fora. Mas não posso deixar de citar jogadores como Dicá, Washington e Mineiro. Como Bruninho, Pitico, Carlinhos e Carlito Roberto. Como Ciasca, Damião, Jair Picerni, Nelsinho Baptista e Marco Aurélio Moreira. Como Osvaldo, Humberto, Dadá Maravilha e Raí. Como Oscar, Polozzi, Nenê, Juninho, Pedro Luiz e Osmar Guarnelli. Como Sebastião Lapola, Wanderley Paiva, Odirlei e Vladimir. Como Jair da Rosa Pinto, Roberto Pinto, Teodoro, Manfrini e Adilson. Como Sabará, Átis, Nininho, Bibe, Jansen e Baltazar. Como Carlos, Valdir Perez, Sérgio, João Brigatti, Tuta e Paulinho.
Que os integrantes do atual plantel honrem essa camisa pontepretana que têm o privilégio de vestir e tragam a Ponte Preta de volta à elite, de onde jamais deveria ter saído. Que Denis, Aranha, Vitor, Alexandre Black, Anderson, Emerson, Zacarias, João Paulo, André, Fernando, Alex Silva, Júlio César, Pingo, Dionísio, Ale, Ricardo Conceição, Ezequiel, Heverton, João Marcos, Márcio Guerreiro, Michael, Rafael Fusca, Alex Terra, Anderson Luiz, Wanderley, Léo Mineiro, Beto e Roger inscrevam seus nomes, com letras de ouro, na galeria dos heróis da Ponte Preta. Haverão de inscrever, estou seguro!

Parabéns, Macaca querida! E que esta data se repita por anos, décadas e séculos!

1 comment:

Carlos Burghi said...

Parabéns aos 13 fundadores memoráveis pontepretanos: Alberto Aranha, Dante Pera, Antonio de Oliveira, Luiz Afonso, Luiz Garibaldi Burghi, Miguel do Carmo, Miguel do Carmo o Migue, Nicolau Burghi, Pedro Vieira, Zico Vieira, Theodor Kutter, Joao Vieira da Silva e Hermenegildo Wadt....Parabéns AAPP pelos 114 anos de vida, historia e paixão...